Os mistérios de Londres

Terceira Parte: Olhos verdes

Capítulo 07 - O convento das rosas brancas

A viagem foi cansativa para os dois rapazes, que viajavam em companhia apenas de seus cavalos. O convento que Albus Dumbledore escolhera por refúgio era uma região montanhosa de difícil acesso.

A idéia era, na verdade, muito simples. Perto do convento existia uma estação de caça muito popular entre os jovens aristocratas de Londres. Eles fingiriam ter se perdido a caminho da estação e pediriam abrigo às freiras, que certamente os acolheriam. Riddle dissera que Albus sempre se misturava a elas nos horários de refeições, de modo que não teriam que inventar alguma coisa para serem apresentados ao velho.

Como eles tinham previsto, as freiras os tinham acolhido sem pedir muitas explicações. Mesmo porque, quando chegaram ao convento, pouco depois do almoço, caía uma forte tempestade. Elas alojaram os dois rapazes em um mesmo quarto, com vista para o jardim cheio de roseiras.

- Os senhores podem se sentir à vontade. – a velha freira sorriu – Só não devem entrar na ala-residência das noviças.

Sirius sorriu para James antes de se virar para ela.

- Isso sequer nos passou pela cabeça, irmã Arabella.

- Bem, se precisarem de alguma coisa, estamos na capela. E se quiserem conversar com alguém, procurem a companhia do velho Albus; tenho certeza que ele adoraria conversar com vocês.

- O velho Albus? – James perguntou usando um tom inocente para mascarar sua ansiedade.

- É o nobre senhor que mantém nosso lar. Ele perdeu a esposa e o filho, por isso vive aqui conosco, o único lugar em que encontra paz, segundo ele.

- E onde podemos encontrá-lo? – foi a vez de Sirius perguntar.

- Ele deve estar dormindo agora. Mas sempre ao pôr-do-sol ele caminha pelo jardim com a bisneta, que é também uma de nossas noviças. A chuva deve passar logo, vocês o verão quando ele vir.

James sorriu internamente. Seria exatamente como imaginara. A velha senhora se despediu e os dois ficaram sozinhos.

- Então você estava certo, o velho tem um agradável ponto fraco. – Sirius observou enquanto se sentava em sua cama – Vai mesmo tentar seduzir a menina?

James sorriu.

- Na verdade, eu tive uma idéia melhor. Que tal uma aposta?

- Aposta? – Sirius inclinou-se ligeiramente, demonstrando interesse.

- A mãe da garota é muito bonita. Ela também deve ser. Assim, acho que não será nenhum sacrifício tentarmos flertar com ela. Mas vamos deixar as coisas mais interessantes. Quem conseguir conquistar a freirinha ganha uma noite completa no bordel da Macnair.

Sirius pareceu meditativo por alguns instantes. Macnair era dona do bordel mais luxuoso de Londres; uma noite completa em seu estabelecimento daria acesso a algumas das mulheres mais belas do império. O moreno sorriu.

- James, eu não preciso apostar nada com você para ter livre acesso ao bordel.

Foi a vez de James se sentar.

- Você tem uma idéia melhor?

O outro rapaz permaneceu pensativo antes de um sorriso malicioso dominar sua face.

- Se eu ganhar, além de pagar minha estadia, você vai ter que participar de um dos "números" do bordel.

James ajeitou os óculos no rosto antes de estender a mão.

- Feito. Mal posso esperar para ver você dançando cancã, Sirius.

- Quem vai dançar é você, meu caro amigo. E com direito a cinta-larga e espartilho.

Sirius se deitou e os dois ficaram em silêncio. Aos poucos a chuva foi passando e, ao pôr-do-sol, o céu já estava novamente limpo. Como irmã Arabella tinha dito, àquela hora, um casal adentrou o jardim. Não foi preciso trocarem palavras para saberem o que fazer. Ambos se levantaram, saindo do quarto para encontrar seus alvos em meio às roseiras brancas.

Albus Dumbledore era alto e tinha um porte elegante que, em sua juventude, certamente chamara a atenção das senhoras. Os olhos azuis brilhavam argutos por trás de frágeis óculos de meia-lua.

Ao seu lado caminhava uma garota vestida como noviça. Os cabelos caíam sobre os ombros delicados em cachos negros, e negros eram também os olhos dela. Caminhava de braços dados com Dumbledore e sorria com doce inocência. Sirius adiantou-se, sorrindo, mas foi o velho senhor quem primeiro falou.

- Vocês devem ser os hóspedes de quem a irmã Arabella me avisou. É um prazer receber jovens como vocês aqui. Meu nome é Albus Dumbledore e essa jovem...

- ... é sua bisneta. – Sirius completou sorrindo – É um prazer conhecê-los e, devo acrescentar, uma pena que ela tenha escolhido o hábito.

A morena corou enquanto James parava ao Aldo do amigo. Albus começou a rir.

- Devo concordar em parte com o que diz, meu jovem. É realmente uma pena que Susan tenha vindo se esconder aqui, mas ela não é minha bisneta.

James segurou-se para não rir enquanto Sirius tentava manter a pose, obviamente surpreso com a gafe que cometera. Albus ia falar mais alguma coisa, mas seus olhos desviaram-se dos dois rapazes e um sorriso doce se formou em seus lábios.

Por trás de seus óculos, o olhar de James seguiu o de Dumbledore e ele viu uma roseira mexer-se perto dos portões do jardim. Uma outra jovem noviça surgira. Ligeiramente mais baixa que Susan, ela tinha o mesmo porte elegante que Albus, cabelos ruivos balançando em um rabo de cavalo e olhos incrivelmente verdes, que pareciam evocar mistérios. O rapaz sentiu um calafrio ao perceber que já conhecia aqueles olhos de algum lugar.

- Lily! – Albus chamou alegremente, desviando a atenção de Sirius, que ainda encarava a morena.

A ruiva aproximou-se com passos leves. James sorriu ao perceber que estava certo, a garota era de uma beleza quase hipnótica. Excelente. Ia unir o útil ao agradável.

- Boa tarde, vovô. Desculpe pela demora, eu estava acabando de arrumar minhas malas.

- Não se preocupe, Lily; Susan me acompanhou. Bem, senhores, essa é minha bisneta, Lily Evans. E essa outra senhorita cujo braço eu tenho o prazer de enlaçar e que é como se fosse também de meu próprio sangue é Susan Timms. Estamos todos apresentados... Ou melhor, os senhores ainda não se apresentaram. – Dumbledore concluiu com um sorriso.

- James Potter e Sirius Black. – James respondeu sem desviar os olhos da filha de Geneviéve – Nós íamos para ma caçada com uns amigos, mas nos perdemos por causa da tempestade. Eles voltaram e ficamos... E, bem, aqui estamos nós.

Dumbledore olhou para o rapaz com certo saudosismo.

- Eu também gostava de caçadas nos meus tempos de juventude... Espero que não tenham nada para fazer na cidade, porque depois dessa chuva, a estrada vai estar intransponível até amanhã.

- Não vai ser um sacrifício muito grande ficar aqui, meu senhor. – Sirius respondeu, parecendo indeciso em se concentrar numa das duas noviças.

James continuava encarando Lily e, para sua surpresa, ela não desviara o rosto como Susan fizera. Na verdade, ela parecia querer desafiá-lo abertamente. Dumbledore pareceu perceber isso, pois soltou o braço de Susan e trouxe a neta para o seu lado.

- Espero que me perdoem por deixá-los, mas creio que entenderão as necessidades de um velho. Minha neta e eu precisamos conversar já que em breve ela vai ir passar uma temporada com a mãe. Espero reencontrá-los mais tarde em meu escritório para um chá.

Os dois assentiram. Lily puxou Susan para seu lado e começou a caminhar com Dumbledore, deixando os dois rapazes para trás. Sirius se virou para James.

- Que situação, não?

- Foi engraçada a cara que você fez, como se não soubesse mais o que dizer... Mas e então, o que achou delas?

Sirius fechou os olhos por alguns instantes.

- Se não fosse pela aposta, eu preferiria a morena.

James sorriu. Tinha percebido isso.

- Isso pode ser facilmente resolvido. Não ouviu ele dizer que tinha a outra como se fosse também parente? Creio que ele ficaria igualmente abalado se usássemos Susan. Mudemos os termos da aposta. Eu fico com a ruiva e você com a morena. A que cair primeiro...

Sirius assentiu, mas cruzou os braços e observou o amigo por alguns instantes.

- Pelo visto, você claramente preferiu a ruivinha. Está até tentando me tirar do caminho...

O outro rapaz riu.

- Oras, Sirius, eu não preciso tirar você do caminho. É óbvio que ela ia me preferir.

Sirius apenas meneou a cabeça em discordância e os dois voltaram para o quarto. Eram quase sete horas quando alguém bateu suavemente à porta dos dois. James foi quem abriu e, para sua surpresa, deparou-se com Lily.

Mas a ruiva não estava mais vestida de noviça. Embora o vestido fosse muito simples, ajustava-se ao corpo dela muito mais que o hábito negro. O cabelo agora estava solto, caindo como uma manta sobre os ombros. Perfeita. Pelo menos para ele.

- Desculpe incomodá-los, mas meu avô pediu que eu viesse convidá-los para jantar conosco nos aposentos dele.

Ela falou isso num tom seguro, muito diferente da calma de Arabella. Susan, ele sequer ouvira a voz da garota. Definitivamente, a ruiva não era uma noviça incauta como todas as outras daquele convento. Isso tornava as coisas infinitamente mais interessantes.

- Obrigado pelo convite. – ele ouviu a voz de Sirius por cima de seu ombro – A senhorita pode nos guiar até lá?

Lily apenas assentiu com a cabeça e esperou os dois vestirem suas casacas antes de guiá-los até uma ala perto do jardim. Albus Dumbledore já os esperava em seu escritório, tendo por companhia a superiora do convento, irmã McGonagall.

A freira se despediu assim que os três entraram. Lançando um olhar severo para os dois rapazes antes de sorrir bondosamente para Lily. A ruiva sorriu de volta e deu passagem aos convidados, enquanto seu avô os convidava para sentarem-se junto a ele.

- Boa noite, meus caros. Espero que tenham tido uma boa tarde.

Sirius apenas assentiu, enquanto James observava Lily e o quadro na frente do qual ela parara. A semelhança era espantosa. Os mesmos cabelos, os mesmos olhos brilhantes... Albus notou o olhar do rapaz.

- O nome dela era Isabelle.

- Perdão? – Sirius perguntou, observando o velho.

- A mulher do quadro. – Albus respondeu – Ela foi a matriarca da minha família.

James sorriu ao perceber a jóia que Isabelle ostentava em seu pescoço. O coração de dragão. Lily virou-se para o quadro, observando-o por alguns instantes antes de se sentar e servir-se de chá.

- O senhor tem alguma coisa com jóias, senhor Potter? – ela perguntou, olhando diretamente para ele.

- Não. Mas a família de meu amigo é especializada em joalherias. – James respondeu, olhando para Sirius antes de voltar-se para ela – O colar que sua antepassada está usando... Ele é muito bonito.

- Ele é uma maldição. – ela respondeu simplesmente – Chama-se "coração de dragão". Por causa dele, amantes foram separados, irmãos se mataram, enfim, só o que ele trouxe foi uma infinidade de tristezas.

- E onde está essa jóia hoje em dia? – foi Sirius quem perguntou – Se ela trouxe tantas desgraças, minha família bem que poderia comprá-la. Somos um clã de amaldiçoados, dizem os mais antigos.

- Essas histórias de maldições não passam de besteiras, meu jovem. – Dumbledore sorriu, encostando-se à sua cadeira – E essa jóia perdeu-se há muito tempo por conta da ambição desmedida de nossos antepassados. O quadro de Isabelle é a única lembrança que conservamos dele.

James estreitou os olhos. Dumbledore certamente não estava falando a verdade. Mas não tinha como arrancar nada dele por hora. Como dissera Riddle, primeiro ganharia a amizade do velho. Depois seduziria a ruiva. E, através dela, chegaria à jóia.

- Como ela se perdeu? – James perguntou, sorridente.

- Meu tataravô foi assassinado pelo irmão, que fugiu em posse da jóia para a Índia. – foi Lily quem respondeu – Com alguma sorte, o rubi voltou às mãos dos rajás que o deram para o império.

Dumbledore e a neta se entreolharam e ela levantou-se, trazendo um carrinho cheio de iguarias para perto da mesa. Jantaram em silêncio e Lily os deixou sozinhos. Conversaram por algum tempo sobre amenidades até que Dumbledore se levantou, um estranho sorriso no rosto.

- Escutem, eu gostaria de fazer um trato com vocês, meus jovens cavalheiros. Minha neta vai passar uma temporada em casa, o pai dela chegou recentemente de viagem. Eu ia levá-la até Londres, mas, já que estão aqui, poderiam acompanhá-la? Não gosto muito de deixar meu tranqüilo refúgio. Em troca, eu lhes daria o quadro que tanto chamou a vossa atenção.

Sirius estreitou os olhos e percebeu que James também fazia o mesmo. O que o velho planejava? Seria tão ingênuo àquele ponto? Então porque Riddle não conseguira nada com ele? Alguma coisa estava muito estranha naquela história.

- Será um prazer, senhor, escoltar sua neta. – foi James quem começou – Mas não é preciso que se desfaça de algo de tanto valor para sua família.

Dumbledore riu.

- Não... O quadro ficará melhor numa sala elegante de Londres do que escondido aqui nesse convento. E não tem assim tanto valor. É uma coisa antiga que retrata alguém que jamais conheci. Fiquem com ele como prova de minha gratidão.

O velho somou atos às palavras e retirou o quadro da moldura, enrolando-o para entregar a James.

- Bem, só o que posso fazer agora é agradecer... – James sorriu.

- Leve minha neta em segurança. É tudo o que peço. Lily pode parecer arredia de início, mas é uma garota muito doce. Apesar de adorar a companhia dela, eu preferiria que ela se divertisse um pouco, como jovens da idade dela. Inclusive gostaria de pedir para que... a tentassem um pouco. – o velho riu, enquanto os dois rapazes entreolhavam-se, agora ligeiramente assustados – Lily vive aqui comigo desde que era muito pequena. Eu a criei e temo que seja uma formação incompleta a que dou se não deixar que ela aproveite um pouco dos prazeres da vida.

Eles assentiram e o resto da noite foi passado em conversas vãs. Quando voltaram a seu quarto, Sirius e James conversaram sobre as estranhas ocorrências do jantar.

- Ou ele é mais esperto do que aparenta ou é um completo idiota. – Sirius observou, enquanto abria o quadro – Acha que ele nos deu uma pintura falsa?

James meneou a cabeça.

- Não. Sirius, acho que temos que ter cuidado com esse velho. E com a neta também. – ele observou, enquanto lembrava-se da ocasião em que vira aqueles olhos verdes.

A cerimônia de iniciação. Ele vira os olhos verdes de Lily na noite em que fora iniciado nos valetes de copas. Mas isso era impossível, o clube não admitia mulheres e, além disso, ela era uma noviça!

Dumbledore dissera que o pai da ruiva estava em Londres. E se fosse ele? A quem quer que aqueles olhos verdes pertencessem, era bom ele tomar cuidado. Não deveria subestimar a ruivinha.

- Bem, nossa missão aqui está completa. – Sirius respondeu, deixando-se cair na cama – Amanhã voltamos para Londres. E, junto conosco, Lily Evans.

James assentiu. E fez uma nota mental para si mesmo. Jamais subestimaria aquela família. Nem o avô, nem a neta.

Pessoal, aqui está capítulo novo e bem maior do que os outros, certo? Espero que tenham gostado...

Beijos para Helena Black, G-Lily P, Mah Clarinha, Flávia Fernandes, Mirtes, Juliana Montez, Lisa Black, Evenstar, , Patty Felix, Ameria A. Black, Engely-Dark, Mimi Granger, Marmaduke Scarlet, Xianya, Juliana, Lily Dragon, BabI BlacK, Dynha Black, Lily Potter Black, Witches, Lilli-Evans, Isabelle Potter Demonangels, Lilian e Lavinia Black, Tathi (eu vi seu e-mail, assim que eu tiver tempo eu falo contigo sobre a faculdade), Ewan Potter e todo mundo que está lendo a fic.

A propósito, entrem no tiagoelilian bigblogger com br (substituam os espaços por pontos) e leiam o primeirissimo parágrafo de Doze Anos. Sim, eu comecei a escrever!

Então, até a próxima.

Silverghost.