Os mistérios de Londres

Terceira Parte: Olhos verdes

Capítulo 08 - As filhas da baronesa


O dia seguinte amanheceu nublado, mas a estrada havia secado. Sirius e James se preparavam para partir após o almoço em companhia da carruagem que levaria Lily Evans a Londres. Ou pelo menos era o que Dumbledore queria, mas a ruiva não parecia querer concordar com isso.

- Vovô, eu posso perfeitamente ir cavalgando, não é preciso arrumar uma carruagem só para mim.

- Lily, eu já disse que não. Não vou arriscar que você se machuque. Você vai de carruagem.

Estavam novamente no escritório de Dumbledore e os dois rapazes assistiam à discussão com sorrisos idênticos. Lily estava novamente em seus trajes de noviça e os cabelos vermelhos pendiam numa trança. James cruzou os braços, em apreciação.

A ruiva decididamente não parecia pertencer àquele lugar. Se tivesse encontrado Lily em qualquer outro ambiente, certamente não diria que ela era uma noviça. Ela parecia ter um fogo, um viço, que jamais encontrara em mulher alguma. Se todas as freiras eram daquele jeito, ele perdera muito tempo no mundo profano... Talvez devesse se tornar padre...

- Escute... – ele aproximou-se, tomando a moça pela mão – Será que não podemos fazer alguma coisa pela senhorita?

Lily sorriu, como se considerasse a proposta atentamente.

- Claro! Por favor, você me daria a honra de ir ao Inferno?

Ela se soltou dele e saiu do escritório sem voltar-se para mais ninguém. Sirius mordeu os lábios para não rir, enquanto James piscava os olhos várias vezes, confuso. Nenhuma mulher resistira ao seu toque.

- Bem, acho que devo pedir perdão por Lily. Ela não está muito feliz com a perspectiva de deixar o convento e por isso se torna um tanto quanto violenta. Geralmente ela é muito doce. – o velho abaixou-se para a escrivaninha, observando alguns papéis – Gostaria que entregassem essas cartas à minha neta, a Baronesa, Lady Geneviéve Evans.

Os dois rapazes assentiram e Dumbledore lhes entregou os envelopes.

- Acho que é tudo. Sua neta vai aceitar ir na carruagem?

- Não se preocupem, Lily sempre foi muito obediente, não será agora que começará a me desafiar. Façam uma boa viagem, rapazes.

Albus abriu a porta e saiu com eles até a entrada do convento. Susan acabara de fechar a porta da pequena carruagem que levaria Lily. Sirius aproximou-se.

- E a senhorita, será que também não gostaria de abandonar o convento por algum tempo? – ele perguntou com um sorriso.

- Meu coração pertence a esse lugar, senhor Black. – ela respondeu simplesmente – Não há outro no mundo em que eu possa ser feliz.

Albus enfiou a cabeça pela pequena janela do carro e despediu-se da neta em silêncio, entregando a ela um pequeno volume. James e Sirius montaram seus cavalos e o cocheiro subiu na caleça, logo estalando o chicote.

Eles começaram a viagem em silêncio e, em pouco mais de dez minutos, o convento sumiu por trás das árvores do bosque que o circundava. Os dois rapazes cavalgavam juntos, um pouco mais atrás do coche. O quadro que Riddle desejava ia à garupa de James, juntamente com as cartas de Albus Dumbledore.

- E então, o que achou disso tudo? – Sirius perguntou, quebrando o silêncio depois de se internarem no bosque.

- Aquele velho não fez isso tudo inocentemente. Tom me alertou sobre ele e não consigo acreditar que tudo o que ele falou seja apenas uma mentira.

- Você já pensou na possibilidade de que Riddle está apenas testando você? Talvez devêssemos voltar lá e matar Dumbledore.

James meneou a cabeça.

- Não, Sirius. Não agora. Há alguma coisa nessa história que me atrai. Se acabarmos com ele, tudo o mais se perde.

Sirius riu maliciosamente.

- E o que o atrai nessa história seria uma certa ruiva?

Os olhos de James brilharam por trás das lentes.

- Talvez. Eu sinto que não devo subestimar essa garota. Ela não é igual àquelas que conhecemos.

O outro rapaz assentiu com a cabeça, enquanto se espreguiçava.

- Uma pena que a morena realmente pareça ser devota. Acho que vou voltar aqui mais vezes... Nossa aposta ainda está de pé?

- Com toda a certeza. – James respondeu e eles voltaram a caminhar em silêncio.

Duas das sete horas de viagem se passaram sem que nada de novo acontecesse. Até que o barulho de um galope fez o cocheiro frear. Sirius e James foram para frente do carro, tirando suas pistolas do coldre. Havia muitos ladrões pelas montanhas e eles pareciam excitados com a possibilidade de um pouco de ação.

Mas foi um cavaleiro sozinho que apareceu. Devia ser um pouco mais baixo que os dois; tinha olhos azulados e cabelos da cor da palha. Ele segurou as rédeas ao ver as armas apontadas para si e seus olhos brilharam com medo antes que ele reconhecesse um dos rapazes.

- James! Pelos céus, abaixe isso! – ele pediu, descendo do cavalo.

James estreitou os olhos e guardou a arma no coldre, sorrindo, ao mesmo tempo em que pulava de sua montaria.

- Peter! Há quanto tempo! Cara, eu estava com saudades!

Os dois se abraçaram ao mesmo tempo em que Sirius desmontava. James aproximou-se, abraçando o recém-chegado pelos ombros.

- Sirius, esse é Peter Pettigrew. Ele é meu amigo desde que éramos crianças. Tom é amigo dos pais dele e sempre que eu escapava das minhas lições, era para a casa dele que eu corria.

Peter estendeu a mão sorrindo.

- Pontas me falou muito sobre você, Sirius Black.

- Pontas? – Sirius perguntou, apertando a mão de Peter.

- Era o apelido dele quando brincávamos. Ele vivia caindo e sempre tinha um galo na cabeça. Acabou virando o Pontas... Embora hoje esse apelido possa render um outro sentido, não é verdade, James?

James sorriu, meneando a cabeça.

- Você não tem mesmo jeito, não é, Rabicho? Já chega me entregando...

- E porque o Peter é Rabicho?

Peter corou enquanto o amigo ria.

- Peter é um medroso. Ou pelo menos era... Sempre que estava assustado, corria como um rato, com o rabinho entre as pernas. E eu acabei chamando ele de Rabicho.

Sirius ficou pensativo.

- Eu também quero um apelido...

Antes que alguém pudesse dar alguma sugestão, a porta do coche se abriu e Lily apareceu. Ela tirara o hábito e estava agora com um vestido preto, justo na cintura, com um decote que realçava o colo. O cabelo continuava preso numa trança e caía até o meio das costas dela.

- Porque paramos? – ela perguntou com curiosidade.

Peter tirou o chapéu, cumprimentando a ruiva.

- Lily Evans. Nunca me passaria pela cabeça encontrá-la aqui.

Ela sorriu, assentindo. James olhou para Peter como se perguntasse algo, mas foi Lily quem respondeu.

- Nos conhecemos dos bailes de minha irmã. Peter cortejou Petúnia por muito tempo antes que ela se decidisse por Venon Dursley.

- Bem, eu estava indo atrás desses dois. – Peter pareceu nervoso ao se lembrar de sua missão – James, seu tio quer vê-lo com urgência.

- O que Tom pode querer agora?

- Ele falou alguma coisa sobre um quadro e...

Lily estreitou os olhos e Sirius puxou Peter para perto do cavalo, deixando para James a tarefa de enrolar a moça.

- Vocês não se perderam a caminho da estação de caça. – aquilo não era uma pergunta, mas uma afirmação – Queriam o quadro.

- Na verdade...

Ela fez um movimento com a mão, como se o mandasse se calar.

- Você não precisa me explicar nada. Muitos foram ao convento tentar comprar aquele quadro de meu bisavô. E ele o deu a vocês por livre e espontânea vontade. Não me deve respostas. Só o que receio é que talvez não merecessem a confiança que ele depositou em vocês.

A ruiva voltou para o coche, fechando a portinhola. James olhou-a por alguns instantes antes de se juntar aos amigos, voltando a subir no cavalo. Peter aproximou-se, arrependido.

- Desculpe, eu não pensei no que estava falando...

- Esqueça isso, Peter. Vamos logo. Temos que levar a moça até os pais e depois ir para o palacete dos Riddle. Não temos tempo a perder.

Os dois obedeceram e pouco depois estavam novamente na estrada. Sirius e Peter logo começaram uma animada conversa sobre os valetes de copas. Aparentemente, Peter também era um membro agora. Suspirando, James isolou-se em seus pensamentos.

Gostaria de conhecer a irmã de Lily. Com alguma sorte, ela seria tão bela quanto a ruiva e teria um gênio um pouco mais fácil. Meneando a cabeça, ele tentou se concentrar nas palavras dos amigos.

Já era noite quando afinal chegaram a Londres. James dispensou os dois amigos, mandando-os para o palacete dos Riddle, enquanto escoltava a carruagem de Lily até seu destino.

A mansão dos pais dela era muito maior que a de Tom e ficava um pouco mais afastada de Londres, perto do Tâmisa que, por não ter entrado ainda na cidade, era ainda bem límpido. Eles atravessaram grandes portões de ferro e, diante do casarão às escuras, Lily desembarcou.

O cocheiro tirou a pequena valise de Lily do carro e deixou-a dentro do casarão, indo em seguida para a estrebaria. A ruiva ficou parada diante de James, que desmontara, observando-o em silêncio até ficar sozinha com ele.

- Acho que devo agradecê-lo, senhor Potter. – ela disse numa voz doce.

Ele sorriu, pensando que talvez ela estivesse começando a se render aos seus encantos.

- Foi um prazer, senhorita. Espero poder vê-la mais vezes.

- E eu espero não vê-lo nunca mais. – ela respondeu, sorrindo também e adentrando o casarão – Adeus, Potter.

Ela entrou, fechando as maciças portas de carvalho. James riu sozinho na noite, balançando a cabeça enquanto puxava seu cavalo pelas rédeas.

- Felizmente, minha cara, você terá que me agüentar por um bom tempo...

Ele voltou a montar e, dessa vez, saiu a galope. Em meia hora estava diante de sua casa. Pulou do cavalo antes mesmo que ele parasse totalmente, jogando as rédeas para um dos empregados que apareceu correndo. Caminhando a passos largos, ele logo chegou ao escritório do tio, onde Tom, Sirius, Peter e Archibald Black já o esperavam.

- Então, o que foi que aconteceu enquanto estávamos fora?

- Desmascararam um dos esquemas do clube. A Scotland Yard interceptou um carregamento de sedas e jóias vindas do Oriente. – Tom começou, cruzando os braços – Um maldito detetive está conseguindo reunir provas contra nós.

- Um detetive?

- Ele se chama Remus Lupin. Ele é novo na organização e parece incorruptível. – Archibald continuou – Apesar de ter se juntado recentemente a eles, já é muito respeitado.

James se sentou e logo estava inteiramente informado do problema. Estavam discutindo idéias de como se livrar do incômodo detetive, mas até agora, nenhuma surgira. Ele sorriu, observando Tom. Dessa vez, definitivamente,estava sendo testado.

- Não é tão difícil assim. Só o que temos que fazer é desacreditá-lo.

Tom também sorriu.

- Qual a sua idéia exatamente, James?

- Se acham que ele é tão honrado e incorruptível, só o que temos que fazer é manchar esse histórico. Matá-lo é muito óbvio. Vamos fazer a própria Scotland cuidar dele para nós. O que acham?

- Ele seria levado para as galés sem piedade. É o que fazem com "traidores". – Sirius concordou.

- Ótimo. Amanhã nos encontraremos no clube para acertarmos tudo. – Tom levantou-se – Agora, se não se importam, eu gostaria de ficar sozinho com meu sobrinho.

Peter e Sirius se despediram do amigo.

- Você vai acabar com a vida do pobre detetive. – Peter sorriu antes de deixar o escritório.

Sirius abraçou o amigo, aproveitando que seu pai e o conde conversavam.

- Veja lá o que vai fazer, Pontas. Será que vale à pena acabar com a vida de uma pessoa por causa do contrabando deles?

- O que está querendo dizer, Sirius?

O moreno deu de ombros.

- Você sabe que eu vou apoiá-lo. Mas talvez a morte seria preferível nesse caso. Não há nada pior que a desonra. – Sirius ficou pensativo por alguns instantes – Veja quem fala... Para meu pai, eu sou um homem desonrado.

Sirius e Archibald deixaram o recinto e James voltou a se sentar diante do tio.

- E então, o que conseguiu?

- O quadro está na sala. Dumbledore nos deu antes mesmo que pudéssemos planejar como roubá-lo.

Tom estreitou os olhos.

- Ele deu o quadro? Só o que falta você me dizer é que ele disse onde está a jóia!

- Não. Mas eu tenho um plano para conseguir isso. Na verdade, acho que o velho está brincando conosco. Mas dois podem jogar esse jogo.

O conde encostou-se na cadeira.

- E o que tem em mente?

- Eu alcançarei Dumbledore pelo coração. Vou conseguir suas respostas, meu tio, através da bisneta dele. Lily Evans.

O homem sorriu.

- Está tentando seduzir uma noviça, James?

- Ela está em Londres. Dumbledore pediu que a trouxéssemos.

- Eu sei. Sirius e Peter já me disseram. Creio então que tenho alguma coisa aqui que vai ajudá-lo em seus planos.

Tom abriu a gaveta, tirando dela um envelope e entregando-o para o sobrinho.

- O que é isso?

- Recebi hoje à tarde. Geneviéve dará um grande baile de máscaras esse final de semana para comemorar a volta do marido. E da filha.

James sorriu. Ela não conseguiria se livrar dele tão cedo.


Esse capítulo é uma espécie de preparação para a relação de James e Lily. No próximo capítulo, os olhos verdes da cerimônia de inciação do nosso querido Pontas aparecerá novamente.

"Claro! Por favor, você me daria a honra de ir ao inferno?"

Que noviça, não? E, para os fãs de Susan, não se preocupem, ela não vai para Londres. Mas não esqueçam do ditado "Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé".

Hoje estou cheia de recadinhos... Vejamos... Está confirmada a data de estréia de Doze Anos: 15 de janeiro, o primeiro capítulo. Graças a Merlin, minhas provas acabam essa quinta feira e eu poderei me dedicar às histórias.

Segundo recado... A partir da semana que vem, Silverghost escreverá uma coluna semanal no blog Lílian e Tiago (o endereço na página do profile); vocês poderão escolher os assuntos sobre os quais querem ler. Estou esperando sugestões.

Agradecimentos a Tathi (eu já mandei sei e-mail. Você recebeu?), Lisa Black, Helena Black, Patty Felix, Dynha Black (Feliz Aniversário de novo!), Witches, Jéssy, Mah Clarinha, Sarah-Lupin-Black, Xianya, Maíra, Lily Potter Black, Marcellinha Madden (olha, você não precisa ler Hades para entender Doze Anos... Mas se quiser encarar a maratona...), Je Black, G-Lily P, Juliana (o Remus foi citado nesse capítulo... Mas ainda vai demorar um pouquinho para ele aparecer...), Lilian e Lavínia Black, Ameria A. Black (eu só usei a idéia geral do livro, mesmo porque, "Mistérios de Londres" é um livro muito difícil de ser achado... Eu nunca tive a sorte de ler...), BabI BlacK, Isabelle Potter Demonangels (sim, aquilo foi uma homenagem à você), Babbi, Marmaduke Scarlet, LuH, Lily Dany Potter, Juliana Montez e todos que estão acompanhando a fic.

Hum... Eu tenho uma pergunta... Alguém por aí gostaria de fazer uma capa para as minhas historinhas? Hehehehehe...

Sobre as referências, esses capítulos agora entraram realmente na história, então estou tendo certas dificuldades em trazer referências para dentro deles... Acho que, pelo menos por enquanto, nada de aulas de adivinhação...

Certo, acho que por hoje é só. Alguma pergunta?

Silverghost.