Os mistérios de Londres

Terceira Parte: Olhos verdes

Capítulo 09 - Bal masqué


O dia do baile amanheceu enevoado, como todos os dias de Londres usualmente amanheciam. Pouco antes do almoço, no aristocrático prédio que sediava os valetes de copas, James, Sirius e Peter conversavam ao redor de uma mesa de apostas.

- Então, vocês não irão comigo ao baile? – James perguntou, enquanto descartava um às de ouros.

- Sinto muito, James, mas eu não quero perder nossa aposta. Seu alvo estará aqui, no baile. Mas o meu ainda está usando o maldito hábito de noviça. - Sirius sorriu - Além disso, encontrei uma casa abandonada perto do convento e pretendo passar o meu final de semana por lá, tentando as pobres freirinhas.

- E você, Peter? - James virou-se para o outro amigo.

- O conde me quer como responsável pela operação de descrédito do novo detetive. Vou encontra hoje outro membro do clube que trabalha na polícia e vai me ajudar a incriminar o tal Lupin.

Sirius sorriu, colocando suas cartas sobre a mesa.

- Bati de novo. Admitam, meus caros, eu sou invencível.

James e Peter se entreolharam enquanto olhavam as cartas do moreno.

- Isso é impossível. É a terceira vez que você ganha! - Peter protestou.

- Bem, eu sinto muito por vocês. - Sirius recolheu o dinheiro sobre a mesa - Isso aqui vai ser revertido para os fundos de assistências das pobres e desvalidas moças de Macnair.

James riu, levantando-se.

- Muito bem então, vamos comer alguma coisa. Creio que Sirius deve sair depois do almoço se quiser chegar ao seu destino antes do anoitecer.

Os outros dois assentiram e o seguiram para o salão de jantar. Almoçaram em silêncio e, logo depois, Sirius despediu-se. Fora do clube, um criado já estava a postos com o cavalo do rapaz, um garanhão negro que apenas Sirius conseguia montar. James e Peter o observaram partir das janelas do clube.

A viagem solitária não demorou mais do que a metade do que havia gastado quando tinham escoltado Lily Evans para Londres. Afinal, não havia uma carruagem para atrasá-lo. A casa abandonada numa curva perto da estrada do convento teria pertencido no passado a algum ferreiro; ainda havia os instrumentos de artífice no lugar.

Sirius depositou na relva sua pequena valise enquanto prendia as rédeas de seu cavalo num poste de madeira próprio para isso, embora já estivesse carcomido pelo tempo. A porta do casebre rangiu terrivelmente quando ele a empurrou, mas isso não fez o rapaz desistir de sua empreitada; se o teto caísse de podre, sempre poderia pedir abrigo no convento, o que, inclusive, tornava as coisas mais fáceis.

Quando a noite chegou, o herdeiro dos Black já estava devidamente instalado, tendo trocado suas roupas caras de aristocrata por simples vestes de camponês, o que não disfarçava, porém, o seu porte elegante. Junto a uma pequena fogueira, Sirius fez sua primeira refeição no campo, antes de tomar o caminho para o convento, a pé.

A lua iluminou todo o seu trajeto, e quando chegou aos muros do lugar, pode ouvir os pesados sinos que soavam na capela. Àquela hora, as freiras estariam provavelmente se recolhendo. O que tornava as coisas um pouco mais difíceis, visto que teria que encontrar a cela da sua noviça. Difícil, mas não impossível.

Com um impulso, ele conseguiu agarrar as beiradas do muro, içando-se para cima antes de pular com agilidade. Estava dentro do convento. Agora, só o que precisava era encontrar a ala residência e depois procurar cela por cela até encontrar quem queria.

Sirius caminhou a passos contidos pelo jardim, sem admirar o efeito da luz difusa do luar sobre as rosas brancas que davam nome ao convento. Porém, antes que pudesse se localizar diante dos vários prédios que pertenciam às freiras, um som fraco lhe chamou a atenção.

Vinha da pequena capela do jardim. Uma pessoa estava ajoelhada diante do altar onde uma estátua de Nossa Senhora escutava muda as súplicas de suas irmãs. Os cabelos negros soltos, caindo em cachos sobre os ombros, o corpo pequeno, as mãos delicadas postas em oração... Sirius sorriu. Aparentemente, a sorte estava ao seu lado.

Susan não se mexeu nem mesmo quando ele sentou-se ao seu lado, no único banco da capelinha. Sirius observou os olhos fechados dela, enquanto os lábios se moviam numa prece baixinha.

- Glória et patri, et filli, et spiritu sanctu. Amen. – ela fez o sinal da cruz e levantou-se, encarando Sirius longamente – O que está fazendo aqui?

- Eu vim te ver. – ele respondeu simplesmente.

Susan sorriu de leve, meneando a cabeça.

- Receio que esteja perdendo o seu tempo, meu senhor. Os que vêm aqui, vêm para visitá-la. – ela respondeu, apontando a imagem – Não a mim.

Sirius levantou-se, segurando a mão da morena.

- E se eu disser que estou...

Susan se livrou do toque dele com um movimento suave e virou-se para a saída da capela.

- Fique com Deus, meu senhor.

Ela deixou a capela em silêncio e Sirius não teve forças para segui-la. Alguma coisa estranha parecia sussurrar a ele que não seria daquela maneira que conquistaria a noviça. Precisava de um pouco mais de sutileza. Ela não era como as outras. O rapaz virou-se para a estátua.

- Um desafio um pouco maior... Acho que vou gostar dessa temporada no campo...

Enquanto isso, em Londres, James refletia enquanto a carruagem que o levava para o baile se aproximava de seu destino: a mansão dos Evans. Podia ouvir Tom lhe fazendo recomendações e mais recomendações até que ele perdera a paciência e começaram a discutir.

"- Se o senhor acha então que não sou capaz de fazer tudo sozinho, porque não vai você mesmo ao baile e consegue as respostas que deseja com Geneviéve Evans?

- James, você sabe perfeitamente bem que não duvido de você. Apenas estou alertando sobre as possíveis falhas de seu plano. Você age como se todas as mulheres não lhe pudessem resistir. Pense bem no que está fazendo. Talvez seja mais fácil conquistar a outra, a filha mais velha. Lily Evans cresceu em um convento e, acredite-me, as freiras são, muitas vezes, mulheres inflexíveis, prisioneiras de suas próprias devoções. Além disso, eu duvido muito que essa moça possa nos dar alguma resposta.

- Você erra em subestimá-la, Tom.

Tom meneou a cabeça.

- É você quem está errado em super estimar essa menina. Afinal de contas, James, ela é só uma mulher!"

- Só uma mulher... – James sorriu, lembrando-se da face séria da jovem noviça – Você está muito errado, Tom. Creio ter mais medo dela do que do seu "querido" padrasto Dumbledore.

A carruagem finalmente parou e o rapaz observou os jardins do casarão, cheios de gente e de música. Estaria a ruivinha naquele meio, apesar de ser uma noviça? Bem, era isso que ele ia descobrir em alguns instantes...

Ele desceu da carruagem e adentrou o salão nobre da residência dos Evans enquanto colocava uma máscara negra sobre o rosto. Felizmente, conseguira que o artesão colocasse lentes na peça, ou acabaria por ficar cego na festa.

Havia muita gente no salão, e uma orquestra tocava um minueto num palco improvisado. Ele observou com interesse os pares que dançavam, procurando uma cabeça vermelha. Foi nesse instante que um braço delicado enlaçou o seu. Imediatamente, James virou-se.

A mascarada tinha um sorriso doce e olhos azuis, iguais às safiras de Alvo Dumbledore. A cabeleira vermelha não deixava dúvidas; estava diante da baronesa, Geneviéve Evans.

- James Potter. – ela sorriu – Faz muito tempo que não o vejo. Tio Tom disse que você tinha viajado para estudar. Como foi sua temporada fora de Londres?

- Muito agradável. – ele respondeu, também sorrindo – Fico surpreso que tenha me reconhecido.

- Eu vi você crescer, James. Além disso... – ela acrescentou rindo - Seus cabelos são inconfundíveis, meu caro. E onde está nosso tio? Porque ele também não veio?

- Receio que ele não venha. Os negócios o impediram. Por isso eu vim, representando ele.

Geneviéve assentiu.

- E quanto a você... Minha filha me contou que foi escoltada pelo filho de Archibald Black e por você. Devo agradecer por isso; se não o tivesse feito, talvez minha filha não estivesse aqui para receber o pai. – a mulher suspirou – Gostaria que ela não fosse tão teimosa e viesse morar conosco definitivamente.

- Mas se ela quer ser uma devota... – James ponderou.

- Lily? Uma freira? Vê-se logo que não a conhece. Lily só mora naquele lugar por causa do avô. Se ela tivesse verdadeira vocação para isso, eu não colocaria oposição, mas ela não nasceu para a santidade e o silêncio. Há vida demais nela, energia demais. Ela é devota, mas não aos santos. – Geneviéve calou-se, olhando para a escadaria – Falando nela...

Um casal estava no alto da escadaria. O homem devia ser um pouco mais velho que Geneviéve e seus olhos verdes faiscavam em desafio por trás da máscara, exatamente como os de sua jovem companheira. Aquele devia ser Sir Evans, o pai de Lily.

Eles desceram em silêncio, sem notar os vários pares de olhos que tinham se erguido em sua direção. Em seguida, pai e filha aproximaram-se de James. A ruiva tirou a máscara, observando o rapaz com atenção. Antes, no entanto, que ela pudesse dizer alguma coisa, Geneviéve trocou os pares, enlaçando o braço do marido após fazer James segurar o de sua filha.

- Espero que não se importe em pajear minha filha por essa noite, querido. Há muito que Lily não vem para a corte e você também deve estar meio enferrujado. Nada melhor então que ficarem juntos. Tenho certeza que aproveitarão a companhia.

Piscando um olho, Geneviéve levou o marido para a pista de dança. Lily retirou o braço do dele, começando a se afastar. James estreitou os olhos, seguindo-a.

- Boa noite, Lily.

- Não me lembro de ter permitido que me tratasse pelo primeiro nome, senhor Potter. – ela respondeu sem voltar-se para trás.

- Você talvez não tenha permitido, mas seu avô e sua mãe parecem gostar da idéia de que tenhamos algum tipo de amizade.

Eles chegaram ao jardim dos fundos do casarão, onde não havia convidados e a música quase não chegava, já que os barulhos da noite a assustavam. Lily parou e finalmente ele pode dar uma boa olhada nela.

Os cabelos estavam presos por presilhas douradas, formando pequenos cachos que caíam sobre os ombros nus. O vestido de veludo era de um verde quase negro, justo até a cintura, onde se avolumava numa saia rodada. As delicadas mangas com detalhes em dourado estavam caídas nos braços, formando um decote que valorizava o colo alvo dela. Ela jogou a máscara no chão, finalmente voltando-se para ele.

- Amizade, James Potter? – ela cruzou os braços – Não é o que seus olhos dizem.

Ele sorriu.

- Então meus olhos já me traíram para a senhorita. O que quer mais que eu faça?

Lily se sentiu desarmar diante do sorriso dele.

- Apenas... – ela abaixou a cabeça, forçando-se a concluir – Apenas seja sincero. Detesto que mintam para mim.

Ele se aproximou a passos leves.

- Eu prometo que nunca vou mentir para você. Agora posso chamá-la de Lily?

- Se eu disser que não, você vai respeitar minha vontade?

- Não.

Lily suspirou e voltou a caminhar. Em sua mente, ela voltou a uma noite muito longe daquela, quando ainda era uma criança... A noite em que chegara ao convento e fora apresentada a seu bisavô. Afeiçoara-se a ele quase que imediatamente. E quem não se afeiçoaria ao bondoso senhor de olhos de safira?

Ela levou a mão ao pescoço como se sentisse o peso dele. O peso do coração de dragão. No dia seguinte ao da sua chegada ao convento, Albus lhe contara a história da jóia e mostrara a o rubi a ela. E a convidara para, seguindo várias gerações que os tinham antecedido, guardar o colar para os descendentes de Isabelle, filha bastarda de uma rainha. E Lily aceitara. Que criança não aceitaria participar de uma aventura? Empenharia a vida em qualquer missão que o bom velho lhe desse.

E James era sua missão. O discípulo de Tom Riddle, o grande inimigo de Dumbledore, aquele que queria roubar a jóia. Albus não se deixara enganar pela história de que ele e Sirius tinham se perdido a caminho da estação de caça. Afinal, ele sabia quem realmente eram os dois. Por isso ele pedira a ela que aceitasse o convite da mãe e voltasse à corte. Mais do que isso... Ela devia seduzir James.

Seduzi-lo e matá-lo. Era para isso que seu avô lhe entregara a pistola de cabo de marfim na hora das despedidas. Ele a criara para isso afinal. Ela devia proteger a honra e a herança de sua família de canalhas como Riddle. O fato de ter crescido em um convento não era empecilho para isso. Mas algo estava afligindo a jovem. Algo bem diferente do que simples escrúpulos.

- Lily? – James a segurou pelo ombro, tirando-a de seus devaneios.

Ela se virou, tentando entender porque seu coração disparara ao sentir a pele dele.

- O que você quer?

- Me concede essa dança? – ele perguntou com um meneio cômico.

A ruiva não conseguiu reprimir um sorriso, apurando os ouvidos para os acordes de uma valsa que vinha do salão. O canto das corujas e das cigarras se sobrepunha à música, tornando a atmosfera quase irreal. Ela fez um leve cumprimento, oferecendo a mão a ele. James sorriu, passando um braço pela cintura de Lily, enquanto envolvia a mão dela com a sua.

Ela se deixou conduzir por ele, voltando a se perder em seus pensamentos. Seduzir James Potter... Conseguiria passar por isso sem se deixar também seduzir? Enquanto isso, ele observava os lábios dela. Eles eram delicadamente rosados. Que gosto teriam?

Um farfalhar de folhas fê-la separar-se dele intempestivamente. Geneviéve apareceu na clareira.

- Eu tinha certeza que ia encontrá-la aqui. Antes de ir para o convento, sempre vinha brincar sozinha nesse lugar. – Geneviéve deu um sorriso triste para o rapaz – Devo agradecê-lo novamente por ter feito companhia a minha filha. Mas agora, infelizmente, temos que voltar ao salão. Petúnia chegou.

James percebeu que Lily empalidecera. Ele aproximou-se, oferecendo o braço.

- Vamos?

Ela o observou por alguns instantes antes de aceitá-lo e os dois seguiram a mãe da ruiva de volta ao salão. Uma moça loira, com um vestido vermelho espalhafatoso, aproximou-se, parando diante de Lily.

- Então você veio nos brindar com a sua presença, querida irmãzinha. – Petúnia sorriu, tirando a máscara, revelando os olhos raivosos.

Aquela voz estridente desagradou James profundamente. Petúnia pouco parecia com o que ele imaginara a partir de Lily; o que a ruiva tinha de agradável, a loira tinha de irritante. Ele percebeu que ela agora olhava para o seu braço enlaçado ao de Lily, estreitando as orbes azuladas com desagrado.

- E você é o bastardo de Mattie Potter.

- Petúnia! – Geneviéve exclamou com censura, segurando o braço da filha mais velha com força.

Vernon Dursley, o marido de Petúnia, aproximou-se nesse instante. Para James, ele também não passou uma primeira impressão muito boa, especialmente por causa do sorriso claramente hipócrita e pela intimidade que ele tentou demonstrar segurando-o pelo ombro e separando-o de Lily.

- Não se preocupe, baronesa, tenho certeza que o senhor Potter não deu atenção a uma coisa tão pequena; afinal, são apenas tolices femininas.

James forçou um sorriso, lembrando-se de Tom.

- Apenas mulheres...

Lily deu um passo para trás.

- Espero que não se importem por eu ter de deixá-los, mas estou acostumada a dormir muito cedo no convento. Com licença.

Ela não esperou os murmúrios de aprovação da mão ou os resmungos da irmã para se retirar, logo se juntando ao pai antes de subir sob o olhar atento de James.

Apenas mulheres...


- Você sabe o que vão dizer nessa reunião? – Sirius perguntou enquanto acabava de vestir sua túnica.

Sirius tinha voltado no dia anterior, três dias após o baile. E só voltara por causa do recado de James, sobre mais uma reunião nos subterrâneos do clube, uma reunião dos verdadeiros valetes de copas.

- Novos membros, alguns avisos... E o relatório de Rabicho sobre o tal detetive Lupin. – James respondeu, colocando sua máscara – Vamos logo. Ainda quero passar na Macnair hoje. Aliás, falando nela, como foi com a sua noviça?

O outro moreno suspirou.

- Bem, acredito que tenha feito alguns avanços... Ela sempre vai me esperar na capela do jardim e ficamos conversando até a lua estar alta no céu. Mas creio que as conversas que tenho tido com ela não sejam exatamente as que eu gostaria de ter.

- Deixe-me adivinhar... Ela está tentando catequizar você? – James perguntou rindo.

- Por aí. Meu único consolo é que, pelo que me contou, você também não está indo muito bem com seu alvo. Susan pelo menos aceita me receber; já Lily não quer sequer vê-lo.

O rapaz franziu a testa por trás da máscara. Os dois saíram para o salão, onde grande parte dos sócios da estranha confraria já se encontravam. Eles ocuparam seus lugares, próximos à tribuna onde Tom conferenciava com Archibald, Rabicho e mais outra pessoa.

James passou os olhos pela assembléia, como se tentasse adivinhar quem estaria por trás de cada uma daquelas máscaras. Foi quando alguém lhe chamou a atenção. Alguém que tentava se esgueirar para mais perto de Riddle. Alguém de brilhantes olhos verdes.

Ele meneou a cabeça, tentando espantar as sensações e idéias absurdas que estavam passando por ela. Aquela não podia ser Lily Evans. Ela não era o único ser de olhos verdes da face da terra. Podia ser o pai dela.

Mas não. Era um corpo pequeno demais, com estranhas formas sob as túnicas. James se virou para Sirius. O amigo não parecia ter percebido o que ele via.

- Sirius... Eu preciso sair daqui.

- Como? Mas a reunião...

James apontou para o vulto, que parara nas sombras de uma coluna de pedra.

- Aquela é Lily Evans. – ele sussurrou em um tom urgente.

Sirius virou-se para ele sem acreditar.

- Você enlouqueceu, James? Uma mulher não poderia entrar aqui.

- Ela entrou. E eu preciso tirá-la antes que alguém descubra.

Sirius forçou os olhos na direção do vulto e finalmente concordou.

- Vá. Eu invento uma desculpa se alguém perceber que você não estava aqui.

James assentiu e esgueirou-se da mesma maneira que o outro vulto fizera a alguns instantes atrás.

Lily comprimiu o corpo contra a coluna de pedra, tentando, ao máximo, confundir-se com as sombras. Sob a túnica, panos e mais panos escondiam sua feminilidade. Estava se sentindo quase sufocada, como em todas as outras vezes em que entrara naquele maldito lugar.

Ela tentou esquecer o desconforto focalizando a mente nas quatro pessoas que atraíam quase todos os olhares do salão. Peter Pettigrew, que cortejara sua irmã, foi o primeiro que ela reconheceu. Os olhos covardes eram inconfundíveis. O outro, que pelo porte, era o mais velho, tinha os mesmos olhos de Sirius. Era Archibald Black. O terceiro, pelo olhar frio, só podia ser o homem que entrara com Peter no clube, o detetive da Scotland Yard, Severus Snape.

Tinha uma boa idéia do assunto que eles conversavam com sir Riddle, o último dos quatro. Os informantes de seu avô, os mesmos que a ajudavam a entrar naquele inferno, tinham falado sobre a última pedra no sapato dos valetes: o detetive Lupin.

Ela tentara alertar Remus para os planos de Tom Riddle e companhia. Mas Remus Lupin tinha sido preso na noite do baile por corrupção. E fora Snape o responsável pela prisão. Pena que ninguém na Scotland Yard acreditaria no que ela poderia ter a falar sobre o caso. Por algum motivo, a voz fraca de James no baile ressoou em sua mente. Apenas mulheres.

Se eles soubessem que ela, uma mulher, melhor ainda, uma noviça, passara os últimos cinco anos penetrando em reuniões dos valetes de copas... Se soubessem que ela era a responsável por várias das denúncias que tinham desbaratado os esquemas de Riddle...

Uma mão tapou sua boca enquanto a outra a envolvia pela cintura, começando a arrastá-la. Ela tentou se debater, mas, quem quer que fosse a pessoa que a descobrira, era muito mais forte do que ela. Assim, só o que pode fazer foi segui-la por um túnel até uma das saídas secretas do salão de pedra. À pouca luz da noite, ela pode perceber que estava perto do Tâmisa, junto a um velho prédio abandonado.

Ela foi empurrada até o prédio. Quando finalmente foi solta, percebeu que estava numa velha taverna. Havia poeira por todos os lados. A pessoa que a trouxera moveu-se na escuridão, abrindo à chave uma porta, arrancando dela um terrível rangido.

- Entre. – a voz masculina ordenou.

Lily não demorou a reconhecê-la.

- James?

Os passos dele soaram, mostrando a ela que ele passara pela porta. Pouco depois, pequenos núcleos de luz vieram do lugar. Vencida pela curiosidade, Lily entrou, assistindo James acender alguns castiçais antes de abrir os janelões que davam para o rio. Aquele aposento, ao contrário do bar, estava limpo; havia uma cama no centro dele, além de um armário meio quebrado e uma velha banheira.

- Eu vivi nessa taverna antes de ser adotado por Tom. – ela ouviu a voz de James logo atrás dela – A passagem do subterrâneo existia muito antes de ele virar conde. Depois que Rosmerta morreu, eu comprei o prédio. Digamos que desde então esse lugar seja meu refúgio quando preciso ficar sozinho.

Ela se virou.

- Porque me trouxe aqui? Porque não me denunciou lá embaixo?

James sorriu, aproximando-se dela. Antes que Lily pudesse entender o que estava acontecendo, ele a abraçou pela cintura, trazendo o corpo dela para junto do seu e colando seus lábios nos dela. A ruiva levou alguns segundos para conseguir reagir e separar-se dele bruscamente.

- O que pensa que está fazendo?

James sorriu, tentando segurá-la, já que ela voltara a se debater.

- Você sabe porque, Lily. Você me deseja tanto quanto eu te desejo.

A ruiva ergueu a mão, furiosa, mas ele foi mais rápido do que ela. Mas o ato de aparar o braço de Lily fez James deixar escapar a jovem, que marchou a passos rápidos para a porta.

- Você está errado, James Potter.

Ela saiu do quarto batendo a porta com força. James sorriu, cruzando os braços e se encostando à parede.

- Morangos... O gosto dela é de morangos...


Ai, meu Merlin... A tendinite está voltando. Estou com o ombro que não agüento e só estou postando hoje porque esse capítulo já estava pronto. Acho que essa semana não poderei atualizar "Quem com ferro fere" ou vou ter um problema sério no braço...

Bem, beijos para Luná-tica, Lílian e Lavinia Black, Ameria A. Black (eu adoraria ver como você faria a capa!), Lisa Black, Witches, Helena Blac, ang, Sarah-Lupin-Black, Belle e Babbi, Dynha Black, Lele Potter Black, Marcellinha Madden, Lily Dragon, Juliana Montez, G-Lily P, Patty Felix, Patricia Granger (também vou adorar que você fizesse uma capa para essa fic!), BabI BlacK e todos que estão acompanhando a fic.

E o Remo ainda vai demorar um pouco para aparecer. Sinto muito, pessoal... Bem... Se eu não puder atualizar antes do natal, queele seja maravilhoso de excelente colheita. Quanto aos visgos (respondendo à pergunta por aqui mesmo), é uma espécie de pinha. Nas tradições natalinas, quando um casal está sob um visgo, tem que se beijar.

Hum... Acho que é só. Beijos para todos!

Silverghost.