Os mistérios de Londres
Terceira Parte: Olhos verdes
Capítulo 10 - Lábios carmim
Lily trancou a porta, mordendo os lábios. As lembranças do que acontecera há dois dias ainda estavam vívidas em sua mente. Ela se deixou cair no leito, tentando não ouvir a alegre conversa que vinha do andar de baixo, onde seus pais recebiam alguns convidados para jantar.
Sabia que estava fugindo. Desde que James a beijara no prédio abandonado, ela tentava a todo custo se esquivar dos convites dos pais para passeios e festas em Londres. Conseguira, pelo menos até aquela noite. Mas não poderia escapar no dia seguinte de ir ao piquenique da Real Sociedade Histórica, em que seu pai receberia uma homenagem.
E certamente, James estaria lá. Riddle era um dos colaboradores da Real Sociedade. Teria que enfrentar o rapaz. Ela suspirou, fechando os olhos e logo caiu no sono. Apenas quando o sol já estava sobre seu rosto, Lily os reabriu.
A casa já estava cheia de sons, provavelmente dos servos correndo para aprontar a cesta de piquenique dos Evans. Lily meneou a cabeça. Tanta energia desperdiçada em coisas tão fúteis...
Ela se levantou, arrumando-se rapidamente antes de descer. Como pensara, o barulho vinha dos empregados. Geneviéve coordenava o vai-e-vem deles para as carruagens, onde mundos de comida eram colocados. Mundos de comida que seriam desperdiçados.
- Bom dia, querida! Dormiu bem? – Geneviéve perguntou, recebendo a filha com um abraço.
- Mais ou menos, estou com um pouco de dor de cabeça. Alguma possibilidade de eu poder ficar em casa?
- Sozinha? É claro que não! Você não pode perder esse passeio, Lily. Vá tomar um remédio, mas dessa vez você não escapa, mocinha!
Geneviéve concluiu a conversa com um sorriso e voltou sua atenção para os servos. Lily suspirou, desistindo de tentar de novo. Meia hora depois, estava na carruagem com os pais, dirigindo-se ao parque da RSH.
Quando chegaram, havia muitas famílias já dispersas pelo gramado, ouvindo histórias da antiga mitologia grega. Lily não podia se impedir de ficar orgulhosa; se aqueles mitos tinham revivido, era em grande parte fruto do trabalho de seu pai. Sir Arthur John Evans estava escavando as ruínas de Creta e restaurando o palácio de Minos, sob o qual se encontrava o famoso labirinto do minotauro.
A família do arqueólogo encontrou um lugar privilegiado sob uma velha macieira que certamente lhes daria sombra quando o sol chegasse a pino. Enquanto organizavam o piquenique, Lily percebeu que dois casais caminhavam na direção deles; o primeiro deveria ter a idade de seus pais e o outro não seria muito mais velho que ela própria.
- Arthur, os Longbottom estão aqui. – Geneviéve chamou a atenção do marido, levantando-se.
O barão sorriu, caminhando até os amigos.
- Algi, Enid! É uma graça vê-los. – ele estendeu a mão para os dois Longbottom mais velhos – Faz muito tempo que não juntamos a velha turma, não é mesmo?
O velho Algi riu.
- Realmente, muito tempo. Mas, ora vejam quem está de volta. Alice, você se lembra de Lily Evans?
A moça de rosto redondo e sorriso simpático virou-se para Lily e a ruiva teve um lampejo de sua infância. Alice era sua única amiga quando vivia na corte. Ela lembrou-se de uma carta em que Geneviéve falava sobre o casamento dela com Frank Longbottom, o sobrinho dos amigos de seu pai.
- Claro que sim. Mas faz muito tempo que não nos vemos. Como vai no convento, Lily? – logo se sentando e puxando a outra para segui-la.
Lily sorriu. Alice não mudara. Continuava a ser extremamente espontânea. Por isso Petúnia jamais gostara dela. A irmã sempre fora artificial demais e elas nunca tinham se dado bem. Graças aos céus, ela tinha viajado com Dursley no dia anterior e não poderia ir ao piquenique.
A ruiva se deixou perder na alegre conversa de Alice, percebendo o olhar afetuoso de Frank na direção da esposa. Ela voltou a sorrir. Há muito tempo que não se sentia tão bem... tão livre. Mas essa sensação foi duramente quebrada por uma voz logo atrás dela.
- Bem se diz que quem é vivo sempre aparece. Eu estive na sua casa várias vezes e sempre me diziam que você estava com alguma dor diferente. – James sentou-se ao lado dela sem esperar por convite – Mas parece que já está melhor, não é verdade?
Ela se virou, disposta a dar uma resposta grosseira, mas se refreou a ver nos olhos dele um legítimo brilho de preocupação. Eles se encararam por alguns instantes até Frank apertar a mão do recém-chegado.
- Eu soube que você estava em Londres, James, mas não pensei que o veria tão cedo. – Frank virou-se para as duas mulheres – Nós estudamos e nos formamos juntos, não é verdade, James?
O outro assentiu.
- Realmente, faz muito tempo, Frank. Vejo que se casou. E muito bem, devo acrescentar. Alice sempre foi uma pessoa encantadora.
Lily se levantou, observando seus pais conversando com Tom Riddle perto do prédio da Real Sociedade.
- Com licença, eu vou ver se meus pais estão precisando de mim.
Ela respirou fundo enquanto se distanciava, tentando se controlar para não começar a correr. Mas antes que chegasse ao seu destino, uma mão se fechou em seu pulso e James aproximou-se o suficiente para que ela o pudesse ouvir sussurrar.
- Aconselho não ter uma crise histérica para não prejudicar seu pai. Agora venha comigo como uma menina bem comportada ou eu vou colocar você no ombro. Afinal, precisamos conversar.
James se afastou, relutante, tentando imprimir na memória o perfume suave que ela emanava. Sem escolha, a ruiva o seguiu até um caramanchão afastado da balbúrdia do parque. Com um impulso violento, Lily retirou o pulso da mão dele, não se importando com o vergão vermelho que logo apareceu.
- O que quer afinal? – ela perguntou mal humorada.
- Acho que é um tanto óbvio o que eu quero. – ele respondeu, divertindo-se com a irritação dela.
- Está perdendo o seu tempo, James. – ela respondeu, tentando não se deixar intimidar pelo fato de que ele estava se aproximando perigosamente – Apenas mulheres, lembra?
Ele abaixou o rosto, deixando-o a milímetros da face dela.
- Você não é apenas uma mulher, Lily. Eu seria louco se pensasse assim. E todos os que acham isso não sabem o risco que correm.
Lily não conseguiu reprimir um suspiro ao sentir o corpo dele tão próximo ao seu. James sorriu ao perceber que ela fechara os olhos, como se esperasse um beijo. Estava conseguindo afinal afetar a ruivinha. Mas em vez de beijá-la, ele mordicou o lóbulo da orelha dela.
- Esteja hoje à noite na taverna. Eu vou estar esperando você. Se não hoje, amanhã. Ou depois. Eu sei que mais dia, menos dia, você vai aparecer. – ele sussurrou com voz rouca, aprumando-se para em seguida afastar-se.
A ruiva reabriu os olhos, cruzando os braços, irritada consigo mesma.
- Vai ter que esperar sentado, James Potter.
Lily se revirou na cama, tentando ignorar o corpo quente e o suor que começava a brotar em seu rosto. Ela fechou os olhos, concentrando-se na própria respiração. Geralmente isso era suficiente para fazê-la dormir. Mas há quase uma semana essa técnica de nada servia para acalmá-la e ela se debatia até a madrugada, quando finalmente caía em um sono cheio de sobressaltos.
Sem mais suportar aquela tortura, ela levantou-se da cama, começando a caminhar de um lado para o outro. Aquilo não estava certo. Não podia ser traída pelo próprio corpo. Travava aquela luta todas as noites desde o maldito piquenique. Todas as noites, quando se deitava, a imagem de James diante dos janelões da taverna fazia cada célula de seu ser reclamar por ele.
Ela se deixou cair em uma cadeira, exausta demais até para pensar. O mais certo seria voltar para o convento e dizer a Albus que não conseguira fazer o que devia e que pensassem em outra maneira de afastar Riddle e seus asseclas da família e da jóia. Mas nem disso era capaz. Passara a semana trancada naquele quarto, sentindo-se como uma fera enjaulada em vez de tomar alguma providência.
Talvez fosse hora de agir afinal. Se matasse James, toda aquela confusão terminaria. E ele estaria sozinho na taverna, esperando por ela. Finalmente, Lily levantou-se, determinada. Colocou o primeiro vestido que encontrou no guarda-roupa, fechando os laços enquanto se encaminhava para sua penteadeira. Na primeira gaveta, envolvida por um lenço de seda, estava a pistola prateada de seu bisavô.
Ela colocou a pistola no bolso da capa ao mesmo tempo em que a vestia e saiu do quarto tentando fazer o mínimo de barulho possível para não acordar seus pais. Não precisava se preocupar com os empregados; todos estavam a serviço de Dumbledore e a ajudariam se necessário.
Lily penetrou na cocheira e sorriu ao perceber que o velho Watson estava lá, cuidando dos cavalos.
- Senhorita Lily? – ele a observou um tanto confuso – Perdão, eu não sabia que precisaria do coche hoje, a senhorita não disse que sairia essa noite.
Ela meneou a cabeça.
- Eu só decidi agora. Mas não vamos para o clube hoje. Pode me levar?
- Claro. Eu só preciso arrumar a carruagem. Me dê apenas um minuto.
Pouco depois eles estavam nas ruas de Londres. Seguindo as orientações de Lily, logo estavam diante da velha taverna. A ruiva deixou a carruagem, protegendo a cabeça com um capuz.
- Quer que espere, senhorita?
- Não, Watson. Não sei quanto tempo posso demorar, mas não se preocupe, eu pego um coche de aluguel. Apenas deixe o portão do jardim aberto.
Ele assentiu e Lily esperou a carruagem desaparecer na esquina antes de começar a caminhar na direção do prédio abandonado. A porta da frente estava aberta e, assim que os olhos dela se acostumaram com a escuridão, pode perceber que a do quarto também estava. Respirando fundo, ela adentrou o aposento, cerrando a porta e encostando-se a ela. Um vulto recortado contra as vidraças virou-se, e os olhos de James brilharam por trás das lentes de seus óculos quando ela deixou o capuz cair para trás.
- Você demorou muito. – ele observou, dando um passo na direção dela.
Lily colocou a mão no bolso da capa, apertando o cabo de marfim da arma. James caminhou mais um pouco, parando bem diante dela.
- Isso é um erro... Eu não deveria ter vindo. – ela respondeu após um suspiro e afrouxou a mão. Não conseguiria matar o rapaz. Sabia disso mesmo antes de colocar o nariz para fora de casa – É melhor... é melhor eu ir embora.
Ela virou-se para a porta, mas James apoiou as duas mãos sobre a madeira, sem tocar na ruiva, mas impedindo-a de abrir. Lily voltou-se lentamente para o rapaz.
- Por favor, James, deixe-me ir.
Ele meneou a cabeça.
- Eu não te obriguei a vir. Agora você fica.
Eles se encararam por alguns instantes e James sorriu, abaixando-se na direção do pescoço dela. Lily fechou os olhos ao sentir a respiração quente dele sobre sua pele.
- James... – ela tentou pedir mais uma vez.
Ele escorregou os lábios pelo contorno do rosto dela, roçando de leve na pele quente, e afastando-se antes de tocar a boca da jovem, ao mesmo tempo em que envolvia a cintura dela com seus braços.
- Você não vê que não adianta lutar, Lily? Caímos no mesmo feitiço. Não há mais volta. Para nenhum de nós.
O rapaz voltou a abaixar a cabeça, encontrando seu novo alvo. E, dessa vez, não encontrou nenhuma resistência ao beijá-la. Ao contrário. Lily ergueu os braços, completamente esquecida de sua "missão", envolvendo o pescoço dele enquanto sua capa escorregava para o chão.
Segundos depois, sem que nenhum dos dois se desse conta do que faziam, estavam deitados. James afastou-se para respirar e sorriu para ela, ao mesmo tempo em que desabotoava os primeiros botões da casaca.
- Você resistiu durante uma semana. Quase pensei que fosse indiferente a mim.
- É impossível ficar indiferente a você. – ela respondeu, sem se importar com a posição em que estavam ou sobre qualquer outra coisa – Ou as pessoas te adoram ou te odeiam. Não há meio termo.
Ele a observou divertido.
- Devo presumir então que você me ama?
Lily virou-se na cama, invertendo as posições, sentando-se sobre a barriga dele. Lentamente, ela começou a desfazer os laços do corpete do vestido, fazendo o tecido escorregar por seus ombros. James sorriu ao ver o contraste dos cabelos vermelhos que caíam como uma elegante manta sobre a pele branca.
- Resposta errada. Você é o único homem que conheci, fora meu avô,que não me subestimou; o único que foi um adversário a altura. Eu o admiro, mas isso não me impede de odiá-lo.
James se sentou na cama, encostando o corpo ao dela, sorrindo marotamente.
- Aquele que subestimá-la vai perder a cabeça, ruivinha. - ele sussurrou enquanto a deitava novamente, prensando o corpo dela contra a cama.
- E se me chamar de ruivinha de novo, você será o primeiro a perdê-la. - ela respondeu, envolvendo o pescoço dele com os braços.
Ele estava certo. Não havia como fugir. Não havia mais volta para eles. Talvez pudesse se arrepender depois por estar se entregando tão completamente para James Potter, aquele que devia ser seu inimigo... Mas não naquele momento.
- Eu já a perdi, Lily. – ele respondeu antes de voltar a beijá-la.
E aí, a temperatura aumentou perto de vocês? Pois é, a Lily não conseguiu resistir muito tempo. Parece que o Sirius vai ter que dançar cancã... Seja como for, esse é apenas o início do romance entre a noviça rebelde e o herdeiro criminoso... Esperem muito mais. Hehehehe...
Bem, eu quero agradecer a Lily Dragon, Patty Felix, Luná-tica, Witches, Xianya, Juliana, Natália, MariBuffy, Eowin Symbelmine (sim, é esse livro mesmo... Só que eu nunca encontrei aqui no Recife...), Dynha Black (tentarei atender suas reivindicações muito em breve), Je Black, Juliana Montez, Helena Black, Lílian e Lavínia Black, MaH ClArInHa, Ameria A. Black (deixa eu encontrar uma imagem que eu te mando. A propósito, você tem MSN?), Sarah-Lupin-Black, G-Lily P, Marcellinha Madden, Lily Dany Potter, Jéssy e todos que estão lendo a fic.
Antes que eu me esqueça, se passarem pelo blog T/L, tem uma coluna escrita por mim lá. Eu sei que tinha prometido para semana passada, mas infelizmente, não deu. Estou agora normalizando minha vida´, já que meu braço está bem melhor. Só preciso não fazer nenhuma loucura e até 2005 estarei com o bracinho curado. Obrigada a todos que me mandaram melhoras e se preocuparam comigo. Adoro todos vocês!
Bem (alguém já percebeu que sou viciada em começar frases com esse "bem"?), acho que por hoje é só. Vou ver se agora me dedico a escrever mais um capítulo de "Quem com ferro fere". Com alguma sorte, até amanhã tenho ele pronto.
Beijos para todos! Happy new year!
Silverghost.
