Os Mistérios de Londres
Quarta parte: Galés
Capítulo 13: Trabalhos forçados
Escócia - 1925
O sol quente do verão castigava a velha pedreira. De longe ouvia-se o eco seco dos martelos que os prisioneiros empunhavam em mais um dia de jornada de suas penas. O chão absorvia o suor daqueles homens condenados, e junto com ele, a força, a coragem e a vida. Os dias se passavam lentos em Azkaban, a prisão secreta do Império, lugar mítico sussurrado com medo em conversas tenebrosas nas cidades da velha Inglaterra.
Mal sabiam os confabulantes que Azkaban realmente existia. E essa era a idéia da Scotland Yard. Era melhor que ninguém acreditasse. Era mais fácil assim tornar esquecidos aqueles que prestavam trabalhos forçados dia após dia nas pedreiras de Azkaban.
Um homem se destacava no meio de todos os outros colegas. Mais alto que qualquer um de seus colegas, a barba negra cerrada, a pele bronzeada pelo sol carrasco, Rúbeo Hagrid era um dos prisioneiros mais velhos, ainda da época das galés vitorianas. Quando chegara a era do vapor, e com ela, o fim dos barcos de prisioneiros de sua majestade, os prisioneiros que tinham sobrevivido àquela época acabaram sendo libertos.
Exceto Hagrid.
Ninguém saberia dizer porque o gigante estava preso. Rúbeo era o prisioneiro mais pacífico, embora tivesse força suficiente para acabar com todos os guardas. Era benquisto por todos, e considerando a companhia que tinha, isso era algo a ser valorizado. Ser respeitado no meio de alguns dos maiores inimigos do Império era certamente algo importante.
Apenas uma pessoa conseguia ser mais respeitada que Hagrid. Talvez fosse porque era amigo do gigante. Quem sabe, por conta da personalidade envolvente que sempre acabava por impôr-se? Ou ainda pela maneira sempre prestativa com que socorria a todos? Ou talvez... É talvez fosse pelo olhar sempre triste. Qualquer que fosse o motivo, aquilo era o que menos importava a Remus Lupin.
O rapaz de cabelos e olhos claros sentou-se por alguns instantes numa das pedras maiores, junto a Hagrid. Limpando o suor, voltou-se para o céu. Ao longe, um pássaro abriu as grandes asas, saudando sua liberdade. Hagrid também descansou sua marreta para acompanhar o olhar do amigo.
- Provavelmente é um abutre. Esperando que um de nós caia para banquetear-se com a carniça. - Hagrid observou.
- Ou apenas uma gaivota trazendo notícias do mar. - o jovem respondeu, tentando acompanhar com os olhos o vôo de sua "gaivota".
- Não creio, Lupin. - Hagrid observou com uma risada - A não ser que o mar dela seja os esgotos de Azkaban.
Remus virou-se para Hagrid com um meio sorriso.
- Você está parecendo meu pai, tentando me acordar para a realidade.
- Ser aluado não vai ajudar a sobreviver por aqui.
Os olhos de Remus dilataram-se à menção da lua. Hagrid mordeu os lábios, mas antes que pudesse se desculpar, o rapaz levantou-se.
- Sei que não foi intencional. Não se preocupe com isso até chegar a noite. vamos voltar ao trabalho.
O gigante assentiu. Remus logo pôs-se novamente de pé e os dois puseram-se a quebrar e recolher as pedras que serviriam para fazer os casarões de nobres senhores aristocratas.
Começara a anoitecer. Ao longe, os nuvens cobriam todo o séquito de estrelas, prenunciando tempestade. À luz de uma fraca lamparina, Remus levantou-se de seu catre, chamando a atenção de Hagrid.
O gigante olhou de lado para o rapaz, observando a fina cicatriz sobre o supercílio. Remus fechou os olhos, sentindo a brisa noturna. Como sentia falta do mar, do brilho fraco das estrelas no espelho das ondas...
Lentamente, o vento abriu caminho pelas nuvens, revelando o céu escuro. Remus fechou os olhos e um calafrio percorreu sua espinha. Lá fora, a lua cheia despia-se de seu cortejo tenebroso, trazendo à tona uma série de lembranças que o rapaz preferia esquecer.
"- Mas... Senhor... Eu juro... Não fui eu...
- Sinto muito, Lupin, mas você não está mais em minhas mãos.
- Snape, ísso é mentira! Diga a Moody! Diga a verdade, seu desgraçado!
- A verdade é que você nos trau. Você é uma vergonha para a corporação.
- Você se vendeu para os valetes! Não é isso? Vamos, Snape, diga de uma vez que se bandeou para a corja de Riddle!
Passos pesados... um eco seco... gritos... E sangue..."
Hagrid arregalou os olhos quando Remus bateu-se violentamente contra a parede, escorregando para o chão, o corpo tremendo em convulsões cada vez mais dolorosas.
"- Vamos, confesse!
- Eu não tenho nada para confessar.
À pancada seguiu-se o som de algo se quebrando. Remus fechous os olhos, mordendo os lábios até sentir o gosto amargo de sangue. Ele não gritaria.
- Desde quando está com os valetes, Lupin? Desde quando tem dado a eles informações da Scotland Yard?
- Eu jamais...
Mais um estalo. Ele duvidava que conseguisse sobreviver até a aurora. Ergueu os olhos cansados para as grades da cela. Lá fora, a lua cheia reinava soberana nos céus com todo o seu resplendor.
- Ele não vai confessar.
- Ele vai. Tirem a roupa dele. E tragam meu chicote."
- Ele está possuído pelo demônio! - um dos prisioneiros insistiu com Hagrid - Temos que matá-lo antes que...
- Se der mais um passo, Crouch, quem vai morrer aqui é você.
O gigante nunca parecera tão ameaçador. Enquanto isso, encostado molemente à parede, Remus observava o nada com os olhos esbugalhados, um fio de saliva escorrendo pelo canto dos lábios enquanto o corpo se contraía espamodicamente.
Hagrid mordeu os lábios, virando-se para o amigo. Não sabia o que fazer para ajudar. Remus só pedia que se mantivesse distante quando estivesse tendo uma crise. Uma vez por mês, quando a lua cheia surgia radiante, o rapaz caía naquele estado de loucura, como se revivendo alguma grande dor do passado.
"- Você não merece a sorte que teve. Tinha tudo para tornar-se o melhor e, no entanto...
- Ele não consegue ouvi-lo, senhor. Está num estado de semi-inconsciência.
Um suspiro. Em seguida, a voz de Moody, sussurrada.
- Eu confiava tanto em você... E, no entanto, você se vendeu a eles. Adeus, Lupin. Espero que possa viver com a dor de sua consciência até o fim de seus dias."
Hagrid sentiu uma mão pousar sobre seu ombro. Virando-se, o moreno encontrou um rapaz que, provavelmente, tinha a mesma idade de remus. Os olhos dele brilharam febris por trás das lentes dos óculos de aros negros.
Aquele era o prisioneiro mais sombrio de Azkaban. Chegara carregado numa maca há três anos, numa madrugada fria de outono. Estava à beira da morte e todos esperavam que ele expirasse para seu corpo ser enterrado em uma vala comum e seu nome esquecido por todos.
Mas, contrariando todas as possibilidades, ele sobrevivera. E desde então vivia naquela prisão, sem jamais conversar com ninguém, recolhendo-se todos os dias em seu silencioso inferno pessoal.
- Saia da frente. - ele pediu com a voz rouca.
Hagrid sentiu-se tentado a responder que não, mas havia tal magnetismo no olhar do Sombrio que ele não conseguiu se interpôr em seu caminho, abrindo passagem para que ele passasse e se ajoelhasse ao lado de Remus. Ele forçou o rapaz no chão a abrir a boca, fazendo-o morder a ponta de um lençol, enquanto tentava abrir as mãos do rapaz, cujas unhas já começavam a enterrar-se na carne.
- Coloque-o na cama. E alguém arranje água quente e alguns trapos limpos.
Hagrid obedeceu e pouco depois o prisioneiro tinha junto ao catre de Remus aquilo que pedira. Aos poucos, sob o cuidado dele, Remus foi deixando o corpo relaxar e acabou por adormecer. Mas, somente após a aurora, o sombrio deixou a cabeceira de Remus.
O dormitório inteiro ressonava tranqüilo após a intervenção dele. Apenas Hagrid permanceia acordado e aproximou-se tão logo o rapaz se levantou.
- Obrigado. - ele murmurou.
- Não agradeça. Se eu não tivesse feito isso, ninguém conseguiria dormir. Eu não fiz por solidariedade.
Hagrid piscou os olhos, surpreso.
- Bem... Obrigado mesmo assim.
O rapaz apenas assentiu e voltou a se recolher a sua própria solidão.
- Ele é inocente. - foi a última coisa que disse - Deixe-o dormir...
É isso, pessoal... Postei o capítulo mais cedo porque amanhã vou estar meio ocupada e não poderei aparecer... Ficou pequeno, mas é melhor do que nada, não?
Além disso... Temos uma dúvida no ar... Creio que algumas pessoas (se não a maioria) já perceberam que... Hum, deixa quieto, eu revelo isso no próximo capítulo.
A todas as pessoas que me enviaram ameças de morte, eu peço apenas mais algum tempo para poder consertar o que eu fiz com Sirius e James.
Beijos para BabI black, Patty Feliz, Mari-Buffy, Mirtes, Helena Black, Mah Clarinha, Juliana, Witches, Sarah-Lupin-Black, Xianya, Sarita, Mari-Almeidinha, Juliana Montez, G-Lily P, Lisa Black, Jé Black, Jéssy, Dynha Black, Lily Dragon, Thaisinha, Flávia Fernandes, Lílian Black, Bia Black, Nina, Almië Black, Lily dany Potter, Belle, Babbi, Carol, Mylla-chan, Ameria, Rafaela Black e todos que estão acompanhando a fic.
Segunda feira que vem, a identidade do sombrio será revelada. Não percam o capítulo "Ouvindo histórias".
Beijos,
Silverghost.
