Os Mistérios de Londres
Quarta parte: Galés
Capítulo 15: A lâmina da guilhotina
- Lupin, você tem certeza que não bateu a cabeça forte demais- James perguntou após ouvir o plano do ex-detetive.
- Estou espantado que esteja tão reticente. - Remus respondeu - É uma chance de deixar esse inferno. E eu prefiro morrer tentando a apodrecer aqui.
James suspirou, observando Hagrid, que apenas os olhava em silêncio.
- Porque você decidiu fugir só agora? Está aqui há quase o mesmo tempo que eu e nunca ouvi falar sobre qualquer tentativa de rebelião. Porque, Lupin?
- Porque agora há um motivo. - Remus levantou-se - Há uma maneira de limpar meu nome. Se você testemunhar, vão me declarar inocente!
- E o que te faz pensar que eu testemunharia a seu favor?
Remus engoliu em seco.
- Você...
- O que eu ganharia com isso- foi a vez de James se levantar - Ninguém virá nos ouvir aqui, afinal, esse campo serve para despejar aqueles que devem simplesmente ser esquecidos. E se eu fugisse com você e testemunhasse a seu favor... Primeiro, quem acreditaria na minha palavra? Oficialmente, eu estou morto.
- Moody certamente...
- Além disso... - interrompeu-o James - Mesmo que eu te inocentasse... No segundo seguinte me jogariam de volta aqui. Ou pior. Talvez Riddle descobrisse que estou vivo e mandasse me executar. Em resumo; eu não ganho nada deixando Azkaban.
- Há algo que você ganharia, sim.
Remus e James voltaram-se para Hagrid, que pela primeira vez se manifestara desde que aquela conversa tivera início.
- E o que seria- James perguntou em tom sarcástico - Liberdade? E o que eu faria com essa liberdade se não existo mais? Eu fugiria daqui para viver me escondendo em esgotos.
Hagrid meneou a cabeça.
- Vingança.
Os olhos do rapaz se estreitaram.
- Vocês estão loucos. É isso. Loucos.
Ele deu as costas aos dois, disposto a voltar ao seu trabalho, mas Hagrid o segurou pelo ombro.
- Meu pai me deixou apenas um legado. E eu lhe digo, meu jovem, que não há bem maior que essa herança. A honra é algo que não se pode substituir. E você é um homem desonrado.
James riu irônico.
- E você, o que é? Se é tão honrado, o que está fazendo aqui?
- Eu a perdi. - Hagrid confessou, rouco - E é por isso que estou aqui. Mas não existe mais volta para mim. Quanto a vocês... Vocês são jovens. São inteligentes. Ainda têm chance de recuperar sua honra.
O moreno apenas balançou a cabeça, retirando bruscamente o braço das mãos de Hagrid. Remus e o gigante observaram-no se afastar decidido.
- Você acha que ele vai mudar de idéia- Remus perguntou tristemente.
- Não se preocupe, Remus. Ele vai reconsiderar. Basta olhar o brilho dos olhos dele. - hagrid cruzou os braços - Dia e noite, ele deseja vingança. A verdade é que ele tem o coração de um homem do mar...
Os lábios doces...
- Morangos... O gosto dela é de morangos...
A pele suave...
- Talvez, ao final das contas, eu não o odeie como deveria... - ela sussurrou, beijando-o.
A voz fria...
- Creio então que até lá o senhor não se importará que eu me divirta com a filha da sua amada Geneviéve. - o rapaz retorquiu de forma irônica.
- Creio que não, James. - Tom sorriu - Seu amigo Peter Pettigrew está responsável por assassinar sua encantadora amante. Com alguma sorte, até amanhã, ela já estará morta. Isso abalará Dumbledore o suficiente para que eu possa lançar meu próximo movimento.
Traição. Dor. Tristeza.
Solidão...
- Lily, abaixe isso. Você está cometendo um erro. – ele pediu com a voz cansada.
- Eu cometi um erro ao aceitar essa loucura. – ela respondeu – Saia daqui, James. SAIA JÁ DAQUI!
James acordou sobressaltado. Mais um pesadelo. Ele suspirou, limpando o suor da fronte.
Porque sempre tinha que se lembrar bdela/b?
Ele levantou-se, observando o céu escuro através da única janela no alto do galpão que servia de dormitório. A voz de Hagrid soou em sua mente.
Vingança...
Talvez... Talvez houvesse uma possibilidade. Não da maneira de Lupin. Ele era ingênuo demais em pensar que teriam ajuda dos outros prisioneiros para encobrir sua fuga. Eles precisavam de uma distração.
Sorrateiramente, ele atravessou o dormitório, vasculhando os pertences dos colegas, que dormiam profundamente. Além de alguns objetos de pouco valor, ele roubou papel e um velho cotoco de lápis.
Quando o sol começou a nascer no horizonte, James tinha em mãos um tosco mapa de Azkaban com as posições dos guardas e outros detalhes que os poderiam ajudar na fuga.
O céu tingiu-se de vermelho enquanto o toque de acordar soava na prisão, ordenando que todos se levantassem para mais um dia de trabalho. James apressou-se. Precisava falar com Remus e Hagrid antes que seus pequenos futos fossem descobertos.
- Lupin- ele chamou, tão logo o parco café-da-manhã foi servido.
- O que quer, Potter?
- Prepare suas coisas. Coloque o quw tiver de valor em algum recipiente que os proteja da água. Quando começar a anoitecer...
Não muito longe dos dois, uma pequena confusão tivera início. James interrompeu-se, sorrindo. Os ânimos na prisão eram sempre exaltados. Bastava uma pequena centelha para que tudo explodisse. E era exatamente essa centelha que ele providenciara.
- O que quer dizer? Potter, o que você...
- Só esteja pronto, sim- James respondeu com certa impaciência, afastando-se em seguida.
O dia se passou em muda expectativa. remus obedecera James e instruíra Hagrid com as mesmas palavras que ouvira naquela manhã, arrancando apenas um misterioso sorriso do gigante.
Após o jantar e o toque de recolher, remus pode finalmente aproximar-se do outro homem.
- O que está pretendendo afinal- ele perguntou em voz baixa.
- Nós vamos fugir pelo rio.
- Você enlouqueceu? Quer que mergulhemos naquele esgoto?
- Vamos morrer no deserto se seguirmos dua idéia original. - James respondeu simplesmente - Além disso, o rio começa a limpar tão logo deixa o descampado. Os detritos são o de menos, Lupin. Mas não quero pensar agora no que vai acontecer quando finalmente voltarmos a Londres.
Remus suspirou.
- E como pretende chegar até as fronteiras do campo para seu "mergulho"?
- Apenas avise Hagrid de que, tão logo comece a confusão, ele deverá abrir espaço para nós e depois seguir para a parte mais antiga do campo.
- Confusão?
Como que para responder a pergunta de Remus, gritos começaram a ser ouvidos. James tirou um estilete do bolso da camisa.
- Parece que eles descobriram mais cedo do que eu esperava. Vamos.
- Mas...
Antes que mais alguma pergunta fosse feita. James puxou Remus pelo braço.
- Vamos logo. O alarido vai distrair os guardas. Temos que aproveitar!
- E Hagrid?
- Não há tempo! Ele vai ter que se virar!
Remus parou de segui-lo.
- Eu não vou deixar o Hagrid.
- Então fique. - James respondeu, irritado - Eu não vou perder essa chance.
A descoberta dos roubos provocara enorme confusão. Os prisioneiros brigavam entre si e os guardas tinham dificuldade em controlílos. Afinal, nunca houvera uma rebelião em Azkaban.
James esgueirou-se pelas sombras, evitando os postos em que sabia existir guardas. Não estava muito distante do rio que cercava a prisão quando ouviu uma respiração ofegante logo atrás dele. Parou, sacando o estilete.
- Rápido, Hagrid- a voz de Remus sibilou na escuridão.
- Lupin- James chamou em tempo de urgência.
- Potter, Hagrid está ferido. Eles investiram contra os prisioneiros.
James observou Hagrid sentou-se ofegante ao lado dele. Havia um ferimento feio na batata da perna esquerda e o gigante perdia muito sangue.
- Droga- o moreno abaixou-se para observar o ferimento - Não vamos conseguir com ele assim.
Os gritos dos guardas começavam a se aproximar. Já estavam procurando por eles.
- Temos que desistir. - Remus suspirou após alguns momentos de silêncio.
- Não- Hagrid cortou-o, levantando-se com uma careta de dor - Vocês não vão desistir.
- Mas, Hagrid...
- Escute, Aluado. Siga o Potter. Vocês ainda têm muito o que fazer lá fora. Eu já estou velho.
James mordeu os lábios. Hagrid notou a hesitação no rosto dele.
- Vá. E que meu sacrifício possa lavar um pouco da minha desonra. Agora vão! Rápido!
James assentiu e correu, logo sumindo na noite. Remus observou o campo. Era a parte mais antiga da prisão e ainda havia ali uma guilhotinha, herança dos tempos em que os reis mandavam cortar a cabeça de seus inimigos.
- Hagrid... Eu vou sentir sua falta.
O gigante apenas assentiu.
- Eu também, Remus. Agora VÁ!
Remus correu na mesma direção em que James sumira. Parou uma última vez às margens do rio de águas pútridas. Um clarão de luar incidiu sobre a lâmina enferrujada da guilhotina. Antes de mergulhar atrás de James, Remus ouviu o som de tiros e os gritos que indicavam o último arroubo de fúria de Rúbeo Hagrid em vida.
Fim da quarta parte
