Os Mistérios de Londres
Quinta parte: Vingança
Capítulo 16: O monge eremita
A noite estava calma; no céu, a lua parecia um sorriso frio e irônico. A velha senhora voltou para a salinha segurando pratos de sopa para os dois peregrinos que lhe tinham pedido asilo naquela tarde. O primeiro, que estava em pé, aceitou de bom grado, agradecendo polidamente. O outro, embrulhado em um velho manto de viagem, encolheu-se um pouco mais na escuridão.
- Não se preocupe com ele. - o outro homem falou entre uma colherada e outra - Mais tarde eles sentirá fome. Deixe o prato aí.
O silêncio predominou por alguns instantes, enquanto a velha se balançava numa cadeira já puída pelos anos. Finalmente, o homem terminou sua sopa e virou-se para ela.
- Minha senhora... O que há para além daquela montanha- ele perguntou, apontando para a paisagem que se descortinava à frente deles.
Ela sorriu, fechando os olhos.
- Há muitos anos, um poderoso rei serviu-se desse lugar como Campo de Marte. Aqui ele acampou seus soldados antes de partir para a guerra. E foi atrás daquela montanha que muitos legendários cavaleiros tombaram de suas selas.
- Então aquilo é um cemitério- ele perguntou curioso.
Ela meneou a cabeça.
- Com o fim da guerra, a jovem e piedosa rainha mandou erguer uma capela em memória do falecido rei. Décadas depois, uma nobre família adotou a capela e criou ali um convento. O patriarca deles viveu lá até morrer e hoje é a neta de Albus Dumbledore que administra essas terras.
- Então só há freiras para além da montanha- o peregrino perguntou em um tom levemente irônico, virando-se para encarar seu companheiro.
- Na verdade, numa das cabanas que foram construídas à época da guerra, vive um monge. Ele só recebe as freiras do convento, dizem que ele é um eremita. Quase ninguém o vê, pois ele dificilmente deixa a cabana.
- Creio então que devemos fazer uma visita de cortesia a esse monge. - o outro peregrino finalmente fez-se ouvir, levantando-se das sombras em que se escondera - Ele certamente ficará muito feliz em nos ver...
Dor... Estava doendo tanto... Mas precisava continuar. Precisava chegar... Precisava... de ajuda.
Arrastou-se por mais alguns metros, deixando atrás de si o rastro de sangue. Não faltava muito agora. Já tivera tanta sorte, tinha que continuar. Tinha que lutar.
Finalmente o bosque se abriu em uma clareira. A velha cabana estava às escuras. Pelo menos ali era um lugar escuro. Agora só o que podia fazer era esperar. E, talvez, rezar para que algum deus tivesse clemência dele por aquela noite.
O dia amanheceu quase sem se fazer perceber. O sol o pegou deitado sobre a relva, sobre uma poça de seu próprio sangue. A bala ainda estava làqueimando, rasgando a carne. Mas ele ainda estava vivo.
Vivo... Virou-se para encarar o céu. Sua vista estava embaçada. Perdera sangue demais. Precisava de ajuda.
Foi quando ouviu duas vozes altearem-se em uma conversa. Embora não conseguisse entender o que elas falavam, reconheceu o timbre de ambas. Mas aquelas vozes realmente estariam ali? Não estava ele sob o efeito de alguma alucinação? Das lembranças que sempre perpassam a mente das pessoas minutos antes da morte?
Um grito. Em seguida, mãos delicadas em sua face. E depois, tudo escuro...
Escuro... Ele abriu os olhos, piscando-os com força. Fora só um pesadelo. Mas porque sonhara com aquilo? Porque, três anos depois de tudo o que acontecera, aquelas memórias voltavam a atormentílo?
Virou-se na cama estreita, encontrando um peso sobre seu braço. Os cabelos negros soltos caíam pelos ombros dela e pelos lençóis brancos. Sorrindo, levantou-se com delicadeza. Não queria acordíla. Era ainda cedo demais. Tirou o braço lentamente, deixando a cabeça dela pender sobre o travesseiro. O leve movimento fez com que a mão dela escorregasse de debaixo do travesseiro. No anular, uma grossa aliança de ouro brilhou.
Deixando o leito, ele caminhou até a janela, recebendo os primeiros raios de sol sobre o torso nu. Os olhos azuis observaram toda a pequena clareira com certo orgulho. Aquele lugar era seu lar. Procurara por tantos anos abrigo em braços alheios... Por tantos anos vagara pelos becos da Londres sombria dos valetes... E ali estava ele agora. Finalmente em paz.
Sirius se deixou cair em uma cadeira, observando Susan adormecida. Sua esposa. Um sorriso levemente irônico perpassou por seus lábios. Quem diria que o grande conquistador acabaria por se deixar prender por uma noviça?
Suspirando, ele se deixou novamente envolver pelas lembranças que o sonho tinha ressucitado. Três anos... Não era nem tanto tempo assim. No entanto, parecia muito distante o dia em que ele chegara naquela clareira, quase morto. O tiro que Pettigrew desferira o pegara apenas de raspão, mas fraco como estava, acabara desmaiando dentro do Tâmisa.
Fora muita sorte não ter morrido afogado. Não fosse a pequena balsa de vigias que passava não muito longe da doca em que os valetes estavam concentrados, certamente não teria sobrevivido. E depois a fuga. Das mãos dos vigias, certamente seria levado a Scotland Yard. Assim, apesar de ferido, fugira. Roubou um cavalo e nele seguiu pelos caminhos que levavam ao convento das rosas brancas.
Porque o convento? Talvez fosse esperança. Esperança de que James ainda estivesse vivo e fora se esconder com a ruivinha. Ou talvez fosse inexplicável. Não tinha como explicar porque, entre tantos outros lugares, fora escolher o convento. Podia ter ido para casa. Archibald Black, mesmo odiando o filho, teria tratado dele. Afinal, não se tratava apenas da vida de um maldito herdeiro, mas da própria honra da família.
Mas não. Ele fugira para onde Black algum poderia encontrílo. Dariam-no como morto, certamente. E Régulo poderia ascender a futuro patriarca do clã.
No bosque, acabara por perder as rédeas do cavalo e caíra no chão. Os últimos metros que o separavam da cabana foram arrastando-se. Por sorte, ou destino, Lily e Susan tinham-no encontrado tão logo o dia amanhecera. A morena tinha escapado do convento na esperança de encontrílo e Lily tentava dissuadi-la quando o encontraram estendido no chão.
Susan depositara a cabeça dele sobre seu colo, enquanto Lily corria de volta para o convento, de onde voltou acompanhada do bisavô, de outra freira e de muitas toalhas limpas. Levaram-no para a cabana, onde Albus Dumbledore, que fora médico antes de se isolar naquele lugar, o operou às pressas, tirando a bala que se alojara na coxa.
Aqueles dias tinham se passado de maneira estranha para ele. Lembrava-se apenas de flashs, dos poucos momentos em que a febre baixava e ele recuperava a consciência. Susan sempre à sua cabeceira... Lily chorando ao descobrir a morte de James... Dumbledore conversando em voz baixa com a outra freira que ele descobrira chamar-se McGonagall...
Finalmente, quase dois meses após tudo o que acontecera, ele começou a recuperar a saúde. Foi quando Dumbledore conversara com ele. O velho senhor sabia de tudo o que acontecera e acreditava que Sirius e James realmente tinham saído dos valetes. Infelizmente, ele veio descobrir isso tarde demais.
Dumbledore arquitetara a idéia do monge eremita, mandando espalhar o boato por todas as comunidades da montanha. Era a única maneira de manter Sirius seguro. Se Riddle descobrisse que ele sobrevivera, certamente mandaria matílo.
Um ano depois, com as várias idas e vindas de Susan à cabana, a madre McGonagall decidiu mandar celebrar o casamento às escondidas antes que acontecesse mais alguma coisa na paz de seu tão conturbado convento. Susan Timms tornou-se Susan Timms Black, mas para todo o resto do povo, ela continuava a ser uma devotada noviça; afinal, era preciso manter as aparências.
Com a morte de Dumbledore, Lily assumiu a administração do lugar. Embora não fosse mais uma noviça, pois desligara-se dos votos pouco antes da morte do bisavô por pedido dele, ela morava no convento e, assim como Susan, todos supunham que ela logo tomaria o hábito.
A vida seguia. Espreguiçando-se, ele levantou, decidido a ir procurar alguma coisa de comer na cozinha. Nesse momento, ele viu dois vultos aproximarem-se da clareira. Agindo por instinto, ele deixou a janela antes que eles pudessem vê-lo e saiu do quarto, cerrando a porta cuidadosamente enquanto vestia uma camisa.
Na sala, tirou de um velho baú um revólver. E aproximou-se da porta no instante em que, do lado de fora, os dois peregrinos batiam palmas, pedindo abrigo. Sirius escondeu o revólver dentro da camisa e abriu a porta, deparando-se com um par de olhos castanhos que brilhavam por trás das lentes de um óculos de aro negro.
- Sirius Black. - o peregrino murmurou com um meio sorriso.
Os olhos azuis de Sirius se estreitaram. Não podia ser, ele estava... ele estava morto...
- James?
Eu sei, eu sei, sou màuma carrasca, o ser mais cruel que pisou por essa plagas. Mas vejam pelo lado bom, apesar de ter terminado desse jeito, pelo menos arranjei um tempinho para escrever e vocês não ficaram sem capítulo por essa semana.
Bem, quero me desculpar por não ter respondido suas reviews nos capítulos passados, não foi um lapso, mas sim, falta absoluta de tempo. Já foi quase um milagre eu ter conseguido escrever os capítulos...
Bem, quero agradecer a Rafaela Black, Babi Black, Dynha Black, Bia Black, Mah Clarinha, Lilica Soneghet, Juliana, MaryKota, Lisa Black, Mylla Evans, Marília, Mirtes, Flávia, Mechanical Bride, Marcellinha Madden, Thaisinha, Belle, Babbi, Carol, Mari, Bia, Cris, Jéssy, Juliana Montez, Keshi Toshimasa, Patty Felix, Jé Black, Sarah-Lupin-Black, Helena Black, Witches, Joanne D´learc, Ameria, Mari-Buffy, Pandora, Tathi, Deby e todos que estão lendo a fic. Se não fossem vocês, eu certamente não me desdobraria tanto para estudar e escrever, escrever e estudar... Vocês sabem que fazem a minha felicidade, não?
No próximo capítulo, o grande reencontro...
Beijos,
Silverghost.
