Os Mistérios de Londres
Quinta Parte: Vingança
Capítulo 17: Reencontro
Tchaikóvski.
Ela fechou os olhos, dedilhando suavemente as teclas do velho piano de cauda que fora de seu bisavô. Tchaikóvski sempre fora seu compositor preferido entre os clássicos. E era sempre a ele que recorria quando se sentia solitária.
Aos poucos, os acordes iniciais de "Romeu e Julieta" deram lugar a batidas mais rápidas, que na ópera costumavam acompanhar as cenas de luta entre os Capuleto e os Montecchio. Lily mordeu os lábios, sentindo cada fibra de seu ser se retesar junto com a melodia antes de relaxar-se por completo aos últimos movimentos da ária.
Lily reabriu os olhos aos poucos, notando um vulto parado a sua frente. Ela continuou tocando, fazendo com que a madre superiora McGonagall deixasse escapar um sorriso. À última nota, a velha senhora aproximou-se da ruiva.
- Você toca divinamente, Lily. É uma pena que tanto talento tenha ficado confinado ao nosso humilde convento.
- É o convento que me inspira, madre. - ela sorriu - Eu não tocaria tão bem fora daqui.
McGonagall apenas assentiu e Lily levantou-se, cobrindo o piano negro com uma capa de veludo. A madre observou-a por alguns instantes, um meio sorriso nos lábios. Apesar de não ter feito os votos, Lily continuava a se vestir como uma noviça, não permitindo que ninguém a tratasse com maior deferência do que às suas outras irmãs.
- Lily, você continua decidida a ir ao povoado hoje- a freira perguntou após alguns instantes de silêncio.
- É necessário. A enchente da semana passada acabou com muitas das plantações e deixou várias pessoas desabrigadas. Aqueles que tiveram maior sorte estão recolhendo os peregrinos. Mas é necessário verificar em que pé as coisas estão, pois talvez precisemos abrir o velho celeiro e distribuir o que tinha sido armazenado para situações como essa.
A madre assentiu.
- Ainda assim, não me agrada a idéia de que você vá sozinha. Além disso, sinto cheiro de chuva no ar. Uma tempestade terróvel se aproxima. Teremos uma noite gelada hoje.
Lily riu.
- O dia amanheceu com um sol radiante, madre. Sinto descordar da senhora, portanto.
Madre Minerva suspirou.
- Muito bem então. Vá fazer suas verificações. Mas não volte muito tarde, Lily.
Lily assentiu, sorrindo com carinho. Embora seu bisavô tivesse sido toda sua família por muitos anos, fora na madre que ela encontrara uma figura materna para preencher sua infância, toda passada no velho convento.
- Não voltarei, madre.
Ela deixou o pequeno escritório que fora de Dumbledore, encontrando na entrada do convento um belo alazão já selado. Com um pequeno impulso, ela montou o animal.
- Vamos, Piótr. - ela sussurrou para o cavalo - Até mais tarde, madre McGonagall.
Logo ela deixou o convento para trás. Estava perto da entrada do bosque quando pensou em visitar Sirius e Susan. Mas era cedo demais para isso. Não queria incomodar os amigos. Esporeou o cavalo com um pouco mais de força, até parar diante de um pequeno mausoléu de mármore.
Ela desmontou, fazendo um breve sinal da cruz e murmurando uma oração. Foi nesse instante que Lily teve uma estranha sensação. Ela parecia estar sendo... observada?
Não, aquilo era impossível. Ninguém vinha para o convento por aquele caminho, era difícil encontrar qualquer passante por aqueles lados.
Forçando-se a manter a calma, ela terminou de rezar e voltou a montar no cavalo. Precisava chegar o mais cedo possível ao povoado e não seria um calafrio de susto que a faria recuar. Esporeando Piótr novamente, ela rapidamente desapareceu entre as árvores do bosque.
O céu, que amanhecera radiante, aos poucos se enegrecia. Através das vidraças de seu luxuoso escritório, Tom Riddle observava as nuvens avolumarem-se, indiferentes à tudo que se passava na terra. Logo começaria a chover.
Ele deixou a cortina encobrir a visão que tinha do céu e voltou a sentar-se na poltrona de couro negro. Sobre a mesa, papéis se empilhavam em cuidadosa desordem. O velho conde suspirou, levantando os olhos para deparar-se com o quadro de uma bela dama.
Seus olhos se detiveram na jóia que adornava o pescoço da jovem. O grande rubi parecia faiscar, chamando-o. Entretanto... Entretanto, aquilo era só uma pintura.
Com a morte de Dumbledore, o caminho para o lorde dos valetes ficou livre de qualquer impedimento. A Scotland Yard parecia ter sossegado depois da morte de James. Talvez pensassem que ele, Tom Riddle, não estivesse mais no leme do clube. Pobres idiotas.
Era realmente uma pena que tivesse perdido o jovem Potter. Não havia ninguém que se comparasse ele em inteligência e ousadia. Ou melhor, havia. Mas o herdeiro dos Black agora descansava no fundo do Tâmisa. Perdera seus melhores homens. E, apesar disso, ele era agora mais poderoso do que nunca.
Mas o Coração do Dragão permanecia perdido. E depois de tantos anos atrás da jóia, Tom se perguntava se aquilo tudo não era uma lenda. Apenas uma peça que o velho Albus pregara nele para que esquecesse Geneviéve.
Bem, fosse qual fosse o intuito de Albus, ele conseguira. O Coração do Dragão tornara-se por muitos anos a grande obsessão do Conde Riddle. E agora que ele percebia que perdera tempo demais com uma mera ilusão, Geneviéve estava velha demais para que ainda lhe despertasse paixão.
Ele suspirou novamente, puxando para si um mapa amassado. Linhas vermelhas sinalizavam os caminhos subterrâneos. O caminho para as jóias da coroa. Seu mais audacioso plano. Entretanto, nunca saíra do papel. Archibald Black não queria saber de correr riscos, mas de ganhar dinheiro. E o contrabando era mais do que suficiente para isso.
Os olhos de Tom deixaram o mapa e vagaram sobre a mesa de mogno até uma outra correspondência aberta que lhe despertara muitos risos. Um convite para participar do Ministério Real. Ministro das Finanças. Queriam colocar a raposa dentro do galinheiro, para usar um dos velhos chavões que ouvira em sua infância no maldito orfanato em que vivera.
Recostando-se à poltrona, ele fechou os olhos. Tinha mais riquezas do que jamais imaginara em toda sua vida. Talvez agora fosse hora de usufruir de seu poder.
Sorrindo, ele puxou uma folha de papel para si e começou a escrever uma carta. Se Vossa Majestade o queria dentro do palácio...
Nada mais justo do que obedecê-lo...
Remus observou Sirius puxar a capa para junto do corpo, escondendo o rosto nas sombras. Uma garoa fina começava a encharc�-los.
- Quanto tempo teremos que ficar aqui- o ex-detetive perguntou, observando o casarão mais à frente.
- O tempo que for necessário. - Sirius resmungou - Temos que descobrir se Riddle está tramando algo.
Remus suspirou, encostando-se a uma pilastra, imitando o gesto do colega de puxar a capa. A última semana se passara toda na velha cabana próxima ao convento. Ele ainda podia ver a forma esguia da esposa do moreno colocando a mesa, deixando que, pela primeira vez em anos, ele e James tivessem uma refeição decente, sob o olhar curioso de Sirius.
Quase podia ouvir as vozes alteradas, murmurando na escuridão um pedido de vingança. O desejo secreto dos três homens. Desejo sufocado por anos de prisão.
O pacto. Planejar, executar... matar. Remus quase podia sentir seu sangue pulsar ante o simples pensamento de esganar Tom Riddle com as próprias mãos.
- O traidor. - ele ouviu a voz de Sirius sussurrar com uma raiva contida.
Subindo as escadarias do palacete de Riddle, estava um homem encurvado. Usava roupas elegantes, embora parecesse um tanto quanto desleixado. Provavelmente fora tirado da farra para atender uma ordem de seu lorde. Remus observou o homem tirar a cartola da cabeça, revelando os cabelos claros, antes de entrar no casarão, conduzido por uma criada.
Aquele era Peter Pettigrew. O homem que traíra Sirius e James para o conde.
- Vamos. - Sirius o puxou com certa urgência.
- Vamos para onde- Remus perguntou quase atarantado.
- Nós vamos entrar no covil da serpente. Precisamos ouvir o que eles vão dizer.
- Você enlouqueceu? Como vamos entrar sem que nos percebam?
Sirius respondeu com um olhar zombeteiro, puxando uma tampa de esgoto para dar passagem a eles.
- Nós vamos entrar pelas paredes. Acredite em mim, Remus Lupin. Não foi à toa que meu pai chamava a mim e James de marauders. Os saqueadores. Ninguém era mais furtivo do que a gente. Conhecemos todas as passagens secretas desse palacete e de muitos outros lugares que você poderia pensar que são totalmente imunes a nós. Agora vamos logo.
Remus apenas assentiu, observando Sirius pular pela boca de lobo pouco antes dele mesmo fazê-lo.
Tom Riddle nunca saberia de onde viera o golpe...
Lily segurou a rédea de Piótr suspirando. De nada adiantaria correr, não conseguiria escapar da tempestade que começava cair. Exatamente como Madre McGonagall previra. Tinha que aprender a ser menos impulsiva e ouvir aqueles que tinham um pouco mais de experiência do que ela.
Em questão de segundos, as roupas de noviça encharcaram-se, grudando em seu corpo. Agora que a chuva começara, era com esforço que ela guiava o cavalo; uma verdadeira neblina baixara sobre o bosque.
- Shhh... Quieto, Piótr. - ela resmungou, fazendo o animal parar para que ela pudesse se orientar.
Jamais chegaria ao convento sob aquelas condições. Mesmo distinguir o que estava diante do seu nariz tornara-se tarefa quase sobre-humana. Finalmente, Lily deparou-se com uma construção conhecida. Um dos velhos celeiros que o rei mandara construir quando as terras do convento ainda eram campos de guerra.
Rapidamente ela virou o cavalo na direção do celeiro. Mas assim que atravessou os restos de cerca, herança de tempos remotos, a sensação que a perseguira durante o início de sua pequena viagem, voltou.
Estava sendo observada.
- Agora chega! Quem está aí? Saia agora- ela gritou, tentando competir com o vento.
Lily piscou os olhos surpresa ao ouvir uma gargalhada fria. No instante seguinte, uma sombra destacou-se das névoas, parando alguns metros diante dela.
O cavalo pateou o chão, impaciente, enquanto ela tirava uma mecha de cabelo que insistia em atrapalhar sua já pouca visão.
- Então finalmente nos reencontramos. - a voz da sombra soou, quase nostálgica, e embora o assobio do vento quisesse sumir com qualquer outro som, Lily ouviu-o muito bem.
Mas aquela voz... Era impossível...
Ela desmontou sem cuidado, metendo as botas na lama. Aproximou-se quase receosa, parando ao divisar o rosto da sombra.
Seus olhos estreitaram-se por alguns instantes antes de ela reconhecer o homem que tinha diante de si. Os cabelos estavam maiores e mais bagunçados que o normal; havia inclusive alguns fios brancos destacando-se contra o negro. O rosto, sempre impecavelmente limpo, tinha a barba por fazer. Ele mudara muito... Mas ainda havia algo de familiar nele, algo de especial que a remetia a lembranças que deveriam ter sido enterradas junto ao túmulo de Albus Dumbledore.
- Seus olhos... - ela murmurou, aproximando-se - James?
Ele sorriu, dando mais alguns passos, de modo a extingüir a distância entre eles. Lily fechou os olhos quando ele estendeu a mão, contornando o rosto dela com terna delicadeza.
A chuva continuava a se derramar sobre eles, encharcando-os até a alma, tentando limpar toda a mágoa e amargura do passado. James levantou os olhos para o céu numa prece silenciosa, sem se importar com as gotas frias que embaçavam as lentes de seus óculos. Em seguida, inclinou-se para Lily, que mantinha os olhos fechados, como se temesse acordar de um longo sonho.
Ela sentiu os lábios quentes dele encostarem-se aos seus, enquanto sua cintura era abraçada quase com desespero. James a estreitou enquanto aprofundava o beijo, sentindo o gosto de chuva e o pergume suave que emanava dela.
Em instantes estavam no celeiro, deitados sobre o feno. Ele afastou-se ligeiramente dela, começando febrilmente a abrir os botões da blusa branca. Lily deixou escapar um suspiro quando ele escorregou com os lábios do pescoço para seu colo.
Mexendo a cabeça, num súbito acesso de racionalidade, ela tentou afasta-lo. Como aquilo podia estar acontecendo? James estava morto, e como tal, só poderia aparecer a ela se fosse um fantasma. Mas aquele homem definitivamente não era um fantasma.
- James... Como você...
Ele colocou um dedo sobre os lábios dela, enquanto com o olhar pedia compreensão.
- Mais tarde eu darei todas as explicações que você quiser. - ele sussurrou, inclinando-se novamente sobre o corpo dela - Mas agora, eu preciso de você.
Lily apenas assentiu, incapaz de lutar contra o próprio desejo. Como sempre, era tarde demais para tentar ser racional.
E aí, pessoal? Ventiladores ligdos? A temperatura aumentou um pouquinho nesse capítulo, não?
Bem, está na hora de um pouco de interatividade... De início, como as pessoas que se lembram do prólogo podem dizer, eu tinha prometido terminar essa fic em vinte capítulos. E, realmente, dependendo da decisão de vocês, vou acabar nessa faixa.
Acontece que eu tive uma idéia de última hora. A história está chegando em 1935, quando começa a Segunda Guerra Mundial. E eu pensei com meus botões em adicionar mais uma parte em meio à guerra.
Antes que vocês se animem, para fazer essa sétima parte, eu teria que separar o nosso "casal vinte". É, eu sei que já separei eles várias e várias vezes (em Hades eu fiz isso e aqui mesmo eles só se reencontraram nesse capítulo), mas não resisto a fazê-los sofrer um pouquinho mais.
Assim, deixo a decisão para vocês. Preferem que eu acabe a fic no prazo que me pré-fixei e que não haja mais surpresas desagradáveis (a não ser para os vilões) ou preferem sofrer um pouquinho mais?
Bem, antes de me despedir, devo agradecer a Mylla Evans, Helena Black, Lisa Black, Pandora, ThatPotter, Lily Dragon, Ameria A. Black, Flávia, Xianya, Dynha Black, Jé Black, Mechanical Bride, o VIP, Juliana, Sarah-Lupin-Black, Sarita, Bia Black, Mariana-fan-sister, Lele Potter Black, Keshi, Mah Clarinha, Witches, Marcellinha Madden, Nanda Rosadas e todos que continuam tendo paciência comigo e lendo todas as loucuras que me passam pela cabeça.
Não deixem de participar de nossa interatividade, só depende de vocês os rumos que MdL vai tomar. Afinal, aqui, VOCÊ DECIDE. (huahuahuahuahuahuahua...)
Beijos a todos!
Silverghost.
