Os Mistérios de Londres

Quinta Parte: Vingança

Capítulo 19: Fim de linha


O cavalo parou diante da cabana do eremita, como era conhecida, e a ruiva apeou, limpando o traje de montaria antes de passar pela porta aberta. Da cozinha vinha o barulho de passos. Lily sorriu, seguindo para lá.

Susan? - ela chamou em voz baixa.

A morena apareceu com uma enorme colher de pau e a face vermelha afogueada.

OlàLily.

O que está fazendo?

A sopa que será distribuída no povoado. - Susan respondeu, tirando uma mecha do cabelo do rosto suado.

A ruiva suspirou.

Essas enchentes estão acabando com as plantações... Dois meses de chuva... E o inverno já está quase chegando...

Eu imagino como não estará em Londres. - Susan observou, voltando para a cozinha por breves instantes para tirar a sopa do fogo.

Lily virou-se para a janela à menção da capital inglesa, observando o céu escuro e nublado.

Su... Você tem tido notícias deles?

Susan sentou-se no sofàobservando a amiga.

Você sabe que não. As estradas estão intransitáveis para londres.

E como você não se revolta com isso? - Lily perguntou exasperada.

A italianinha apenas sorriu.

Sirius pediu que eu confiasse nele. E eu confio, Lily. Como você deveria confiar em James.

Ele também contou o que ia fazer em londres? - lily continuou - Contou os planos malucos deles?

Susan assentiu.

Ele sabe que eu não concordo com isso. E tentei dissuadi-lo. Mas, apesar de não concordar, eu entendo o que eles sentem. Riddle destruiu a vida deles, Lily. - a morena levantou-se, tocando a amiga nos ombros - Você também já pensou em se vingar dos valetes. Você os culpa pela morte do seu avô. E já fez coisas muito piores que Sirius, James e Remus no tempo em que seguia as ordens dele.

E esse Remus? Será que eles podem realmente confiar nesse homem? O que eles sabem afinal dele?

Você sabe quem Remus Lupin é. Você me contou, lembra? Depois que Dumbledore morreu, você me contou tudo o que tinha acontecido antes de Sirius aparecer aqui, ferido, quase morto.

Lily afastou-se da amiga de modo a poder encará-la.

Meus pais estão no canadàSusan. Minha mãe está doente e... Eu vou embora. Minhas passagens já estão compradas. Amanhã mesmo eu parto.

Mas as estradas? Como você...

Eu não vou embarcar em Londres. Vou viajar pelo Norte. Vim aqui me despedir.

Susan sentiu os olhos marejarem.

Você tem certeza do que está fazendo?

A ruiva assentiu antes de abraçar Susan.

Prometa... Prometa que não dirá nada ao James.

Você tem certeza disso, Lily? - Susan perguntou, acariciando os cabelos soltos da amiga - Tem certeza de que é isso que deseja?

Tenho.

A mulher suspirou resignada.

Muito bem então... Eu prometo.

Lily afastou-se dela, com um sorriso triste a brincar nos lábios.

Até algum dia, Su.

A morena apenas assentiu, observando em silêncio a amiga sumir pela porta.


Hestia prendeu o cabelo escuro, escondendo-o por baixo da boina larga. Ajeitou cuidadosamente os suspensórios, observando no espelho improvisado as curvas femininas sumirem atrás do velho e grande sobretudo negro.

Mordeu os lábios de leve antes de passar um pouco de fuligem no rosto, escondendo o fato de não possuir nem um único fio de cabelo que pudesse chamar de barba ou bigode. estava pronta. Com cautela, ela deixou a pequena sala, desembocando em um grande corredor. Suspirou de alívio. Ninguém à vista.

Jones!

A moça deu um pulo para a frente antes de se virar para dar de cara com Alastor Moody.

Hum... Boa noite, detetive Moody. - ela cumprimentou, tentando engrossar a voz.

Ele a observou com as sobrancelhas arqueadas, desconfiado.

O que está fazendo aqui embaixo?

Apenas algumas pesquisas nos arquivos.

E os arquivos ficam na sala de calefação, senhor Jones? - outra voz soou logo atrás dela.

Snape. - Hestia resmungou entre dentes - Eu estava com frio. Agora, se não se importa, eu tenho que ir. Detetive Moody?

Ele apenas assentiu com a cabeça, ao que ela rapidamente afastou-se dos dois. Bufou assim que se viu distante o suficiente. Apesar de ser uma das melhores investigadores da Scotland Yard, se alguém descobrisse que Jones não era ele e sim ela... Ora bolas, porque o mundo tinha que ser tão machista?

Assim que deixou o prédio da instituição, sua mente se voltou para questões mais imediatas. Cada vez mais, suas desconfianças de que Snape conhecia seu segredo tornavam-se em certezas. Tinha que desmascará-lo antes que ele pudesse denunciá-la. Só precisava de alguma prova concreta que ligasse Snape aos Valetes. Mas como poderia conseguir isso? Snape era por demais esperto!

Passos ecoaram às costas dela. "Vigilância constante" - as palavras de Moody ecoaram em sua mente e ela se voltou, desconfiada. Estava em uma ruela quase vazia. Havia apenas um outro homem caminhando por ali, a cabeça baixa, as mãos nos bolsos.

Ele passou direto por ela e, com um suspiro de alívio, Hestia também voltou a caminhar. O homem sumiu na esquina e ela apressou o passo, sonhando em chegar ao seu pequeno apartamento e aquecer-se sob suas cobertas.

Hestia Jones?

Inconscientemente ela se virou, encontrando o homem que passara por ela encostado displicentemente à parede de um muro. Ele sorriu, tirando o chapéu de feltro, revelando os cabelos claros. Ela mordeu os lábios, voltando-se novamente para a rua, tentando fingir que não era com ela.

Srta. Hestia, não adianta fingir. Eu sei quem é você e o que você faz. Não me forçe a dar um jeito de que seu segredo seja descoberto. Seria uma pena ter de perder sua genialidade. Além disso, eu posso ajudá-la com aquilo que você pretende.

Eu não pretendo nada, você é um louco. - ela resmungou, tentando não se desesperar.

Pense bem, detetive... Eu posso ajudá-la a desmascarar Severo Snape.

Hestia não conseguiu ignorá-lo dessa vez.

Quem é você? - ela perguntou com a voz rouca.

O homem estendeu a mão.

Um dos dois prisioneiros foragidos de Azkaban... Remus Lupin.


Peter mordeu os lábios, sentindo o gosto de sangue na língua. Aquilo não podia estar acontecendo.

Já chega. - uma voz veio do alto das escadarias que levavam ao porão em que ele se encontrava.

O homem levantou a cabeça, tentando enxergar através da névoa que se sobrepusera sobre seus olhos. Aquela voz lhe era estranhamente conhecida.

Deixem-nos a sós. - a sombra que acabara de descer as escadas sussurrou para os dois capangas.

Peter e a sombra ouviram em silêncio os passos deles se afastarem.

Porque está fazendo isso? - Peter atraveu-se a perguntar, em tom vacilante - Se é dinheiro que você quer, eu posso lhe dar muito, eu posso...

Porque eu ia querer dinheiro? Não há dinheiro no mundo que apague o que você nos fez, Rabicho.

Os olhos de Peter se estreitaram em pavor.

Você não pode... Você está morto... Isso é um pesadelo, não pode...

O que é agora, Rabicho? vai chamar pela mamãe? - Sirius perguntou, dando um passo a frente e entrando no campo de visão do outro homem.

O que você... O que você vai fazer comigo? Você vai... me matar? - essas últimas palavras foram ditas a um fio de voz.

A morte não seria suficiente para fazê-lo pagar sua traição. - Sirius respondeu - Levante-se agora, Pettigrew. Nós vamos fazer um passeio.

Peter se encolheu.

Eu não vou a lugar nenhum.

Sirius sorriu.

Sim, você vai. E vamos logo que tenho alguns amigos que estão nos esperando para o jantar.


Moody atravessou o portão de sua casa, num modesto subúrbio de Londres. Antes, entretanto, que pudesse colocar a chave na fechadura, uma mão fechou-se sobre sua boca.

OlàMoody. - uma voz sombria cumprimentou-o junto a sua orelha - Quanto tempo, não?

Alastor virou-se, os olhos estreitos.

Remus virou-se para sua acompanhante.

Abra a porta.

Hestia obedeceu resmungando.

Isso não vai dar certo! Você está tentando matar o chefe dos detetives de susto?

Com a porta aberta, Remus empurrou Moody o mais delicadamente possível para dentro da vasta sala de estar. Livros se amontavam em todos os cantos, assim como os mais estranhos objetos.

Remus Lupin? Mas com todos os diabos, o que significa isso? E quem é essa mocinha?

Nós conversamos sobre isso depois, Moody. - Remus observou enquanto Hestia parecia claramente não estar muito à vontade - Fiquei sabendo que teve uma noite cheia hoje... Conseguiram pegar os valetes recebendo uma carga de contrabando, não? É uma pena que Tom Riddle tenha conseguido fugir.

E eu suponho que você tenha ajudado? - Moddy perguntou com uma carranca.

Remus sorriu.

Não, Moody. Eu não o ajudei. Mas como você não acreditaria no que pretendo contar, ou sequer me ouviria se eu tentasse chegar à Scotland Yard para termos uma conversa social, tivemos que adotar medidas drásticas.

E que medidas seriam essas? Me sequestrar?

Alguém bateu pesadamente à porta. Remus abriu ainda mais seu sorriso.

Parece que temos visita. Hestia, por favor...

A moça bufou antes de seguir para a porta, deixando passar duas pessoas por ela. Mas quando os dois homens se revelaram à luz, tanto ela quanto Alastor deixaram escapar uma exclamação.

Hestia, por conta de Pettigrew, que ela já perseguia a meses e que certamente seria capaz de comprovar o envolvimento de Snape com os Valetes. E Moody, por ver diante de si um fantasma.

Sirius Black.


James desviou de mais um golpe de Riddle com maestria. As aulas de esgrima tinham servido de alguma coisa afinal. O moreno sorriu, enquanto seu velho "tio" arquejava.

Fora fácil demais desarmar Riddle da pistola que o conde carregara. Depois, para tornar as coisas um pouco mais empolgantes, acabara por sugerir um duelo de espadas. Agora que já brincara o suficiente com o conde, só o que precisava fazer é levá-lo para a casa do chefe dos detetives da Scotland Yard e se entregar, contando com a promessa de Remus de conseguir liberá-lo por "serviços prestados à sociedade".

Muito bem, Tom, a brincadeira acabou. Está na hora de irmos.

Tom apenas levantou a cabeça para ele, os olhos faiscando de desprezo.

Eu não vou a lugar nenhum com você.

Você não tem escolha, tio. - James afirmou em tom jocoso - Aqui é o fim da linha para os Valetes de Copas.

E para onde pretende me levar então?

James sorriu.

Vou deixar que prove um pouco daquilo que tive nos últimos três anos. Acredito que uma temporada em Azkaban servirá como excelentes férias para você, não é mesmo, tio?

Tom estreitou os olhos, mas em seguida abriu um sorriso.

Você precisa de mim, não é? Se me entregar, poderá ficar em liberdade e voltar para os braços da pequena vadia, não é mesmo? - ele perguntou com um sorriso maquiavélico - Não pretendo dar esse gostinho a você.

Eu já disse, você não tem escolha.

Tem certeza, James Potter? - ele perguntou, ainda sorrindo.

Um trovão ressoou nos céus e ante os olhos atônitos de James, Tom ergueu a espada.

Você não vai fazer isso, você...

Não se preocupe, meu querido sobrinho. - Tom fechou os olhos, aproximando a espada da garganta - Esse é o fim da linha, James. Para mim... E para você.

A espada de James caiu com estrépito no chão enquanto o Conde Riddle, o famoso líder do Clube dos Valetes de Copas, cortava a própria garganta. O corpo de Tom tombou no chão enquanto a chuva fria começava a cair. James sentiu os olhos arderem de ódio.

Não havia mais qualquer esperança.


Pessoal, infelizmente, hoje não vai dar para responder seus comentários... Já perdi metade da aula de comunicação escrevendo esse capítulo. Mas como logo estarei de férias na Federal, estou mais do que feliz. Tudo vai se normalizar agora...

Beijos,

Silverghost.