Os Mistérios de Londres
Sexta Parte: O último amanhecer
Capítulo 25: O último amanhecer
Lily fechou os olhos ao ver o corpo do pai tombar aos seus pés. A neve branca tingiu-se de vermelho enquanto ela mordia os lábios para não chorar. Não podia demonstrar sua fraqueza ou tristeza. Não podia demonstrar nada que não fosse a frieza com a qual aqueles soldados estavam acostumados.
'- Porque demorou tanto para atirar? – um oficial perguntou aproximando-se dela.
'- Estava esperando que ele entrasse na mira. – ela respondeu simplesmente, dando as costas a ele e entrando no carro.
James observou a ruiva partir. Assistira tudo ao lado do tenente. Seu coração batia rápido. Tinha que ir atrás dela antes que Lily pudesse fazer alguma besteira.
'- Ela nunca tinha matado alguém... Acho que ela está abalada, não, Sir Potter? - Klaus sorriu – Mesmo as mulheres mais fortes sempre têm alguma fraqueza.
James assentiu e murmurou um boa noite, indo até outro carro que Wenticht cedera a ele enquanto estivesse por ali. Por sorte o jipe de Lily deixara seu rastro na neve. Só esperava poder encontrá-la na estrada.
Para sua surpresa, não muito longe do campo, ele encontrou a ruiva, sentada na viatura parada, olhando para o nada. James estacionou, saindo do carro.
'- Lily? – ele chamou, aproximando-se dela.
Ela não respondeu e James percebeu que os olhos dela estavam marejados. Mas nenhuma lágrima escorrera pelo rosto de porcelana.
'- Lily, por favor... – ele insistiu, puxando-a de leve.
Lily levantou-se, saindo do carro ainda em silêncio, parando de frente a ele. Os dois se encararam enquanto um vento frio soprava. O moreno suspirou, percebendo que não conseguiria arrancar nenhuma palavra de Lily, pelo menos por hora. Assim, ele simplesmente a guiou para seu automóvel, voltando à estrada.
A viagem durou quase toda a noite. Já amanhecia quando James voltou a parar, dessa vez em frente a um chalé de onde já se podiam ver os Alpes suíços. Lily adormecera e ele a tirou do carro no colo, tomando cuidado para não acordá-la.
Deitou-a sobre um tapete no chão, próximo à lareira. Enquanto preparava-se para acender o fogo, ele observou a face enregelada dela. Logo um calor reconfortante invadiu o chalé e ele sentou-se junto a ela. Sirius só conseguira um avião para dali a mais uma semana.
Como ela reagiria quando acordasse? Ele suspirou. Aqueles próximos dias eram sua única chance de reconquistar a ruiva. A última chance de convencê-la a ficar com ele. Nunca imaginara que um dia ele tentaria lutar por uma família. Mas não queria mais imaginar sua vida longe dela.
E nem de Harry. Se ela fosse embora novamente, provavelmente levaria o garoto. Como mãe, a guarda da criança era dela. Mordendo os lábios, ele percebeu que os olhos dela estavam se abrindo.
'- Lily? Você está bem?
A ruiva sequer se voltou para ele. Os olhos estavam fixos no fogo, cujos reflexos brincavam em seus cabelos. Ele respirou fundo.
'- Você quer conversar? – perguntou, tentando quebrar o silêncio.
'- Conversar sobre o quê? – ela voltou-se para ele, perguntando de volta com uma pontada de raiva na voz.
'- Seu pai, ele...
'- Ele está morto. Morreu em meus braços, pedindo perdão por ter nascido. – ela respondeu com frieza – Como eu poderia estar bem?
Ela se levantou, observando a pequena sala. Além da lareira havia apenas um catre forrado com uma pele de ovelha e uma pequena mesa alquebrada. James observou-a dar as costas e sair do chalé. Suspirou. Aquela ia ser uma longa semana.
Os dias se passaram sem que eles quase trocassem palavras. Lily parecia se afundar cada vez mais na culpa que sentia. Ela definhava a olhos vistos, recusava-se a comer e até mesmo ao calor da lareira, passando o dia em meio à neve, voltando apenas à noite.
Finalmente James percebeu que tinha que dar um basta naquela situação ou ela morreria. Ele fizera uma promessa a Harry. E pretendia cumpri-la, custasse o que custasse.
Quando tomou essa decisão, Lily estava novamente em uma de suas caminhadas pela neve. Ela voltou apenas com a noite já alta. Sentado junto à lareira, ele levantou o rosto, assim que ouviu a porta bater.
'- Onde estava? – ele perguntou nervoso.
Lily passou direto por ele, sem olhá-lo. A paciência de James esgotou-se e ele se levantou, tomando o braço dela com violência.
'- Lily!
Ela murmurou alguma coisa desconexa e o homem percebeu que ela estava febril. Chamou novamente pelo nome dela, trazendo-a para perto de si.
'- Lily, o que está tentando fazer com você? Por favor, fale comigo...
Por alguns instantes ela manteve-se em silêncio até que um soluço irrompesse de seu peito.
'- Aquele lugar é o inferno. E eu fui conivente com aqueles malditos. – ela sussurrou, já sem conter as lágrimas – E-eu permiti que fuzilassem dezenas de homens na minha frente. Assisti impassível levarem os velhos e as crianças às câmaras de gás. Eu matei... Eu matei meu pai...
'- Lily...
'- Eu não queria. Eu não queria matá-lo. Não me importa que ele fosse judeu, cristão, que ele fosse o próprio diabo. Ele era meu pai. Eu não queria...
Ela parecia estar delirando. James levantou a cabeça dela, de modo que pudesse mirar os olhos verdes brilhantes de lágrimas.
'- Lily, não foi você que o matou. Eu vi tudo. Vi quando o oficial ordenou que você atirasse. Vi quando seu pai puxou sua mão e atirou contra o próprio peito. Ele fez aquilo para salvá-la. Ele sabia que se você se recusasse a matá-lo, iam descobrir a verdade.
'- Você não entende, eu atirei nele, eu...
'- Chega, Lily! Chega de se afundar nessa auto-piedade. - James a impediu de continuar - Não importa mais, Lily. Eles estão mortos, não havia NADA que você pudesse fazer. Se não tivesse obedecido, seria você que estaria numa vala agora.
'- Não diga que não importa! Eu nunca vou me perdoar por ter feito o que fiz. Eu preferia estar morta a ter que envergar isso! - ela gritou, apontando para o braço, onde o emblema da cruz suástica destacava-se contra o uniforme negro.
'- Foi necessário, Lily. Ninguém pode culpá-la pelo que fez. Você... - ele deu mais um passo a frente – Ele atirou. Não você. Ele morreu para que você pudesse viver. E é exatamente isso que você precisa fazer. Não por mim, nem por você, nem por qualquer outra pessoa. Mas por ele. Você deve isso ao seu pai.
Ele tentou tocá-la, mas a ruiva deu um passo para trás, fechando os olhos, limpando as lágrimas.
'- Não preciso que tenha pena de mim, Potter.
Ela reabriu os olhos com surpresa ao ouvir o som de algo sendo chutado pra longe. James observou-a com exasperação.
Lily, eu sei que você não é burra. Então, por favor, não finja que não sabe o que eu sinto por você. Eu não sinto pena; o que aconteceu naquele campo foi necessário. Eu sei que você está sofrendo, mas quanto você acha que eu sofri quando voltei naquele convento e você não estava l�?
'- Eu jamais soube o que você sentia por mim, James. - ela respondeu, abaixando a cabeça - Jamais entendi o que você...
'- Eu te desejo, Lily, te desejo tão desesperadamente quanto quando pela primeira vez coloquei os olhos em você. Te desejo tanto que às vezes chega a doer... Que às vezes me pergunto se você não é uma daquelas bruxas de contos de fadas que me enfeitiçou para que eu não fosse capaz de sentir coisa alguma por outra mulher que não seja você.
Lily reabriu os olhos, deixando afinal que ele tocasse seu rosto.
'- James...
'- Por favor, Lily. Eu não suporto mais despedidas. Eu quero você e eu quero agora e para todos os outros dias da minha vida. Eu quero poder gritar para todos que você é minha, só minha; que posso cuidar de você... A verdade é que eu preciso de você.
Os olhos dela brilharam febris enquanto ele a despia do uniforme negro que tivera de usar para fugir do inferno. Com sofreguidão, ele capturou os lábios dela enquanto, impaciente, ela desabotoava a casaca dele. Lentamente, James afastou-se para que pudesse admirar o corpo da mulher que o enlouquecera em todas as fases de sua vida.
Quando a última peça de roupa caiu sobre o chão, Lily enlaçou-o pelo pescoço, fazendo desaparecer a distância que existia entre seus corpos. James abraçou-a, suspendendo o corpo franzino até o velho catre coberto de pele de ovelha.
Lá fora, a neve caía pesada sobre os picos dos Alpes.
Era janeiro de 1942 quando Sirius Black recebeu o casal de amigos no aeroporto de Londres. Ao lado dele estavam Susan, Lyncis e Órion, além de Harry Potter. Poucos dias depois, Lily Evans voltou ao Canadá com o filho para visitar o túmulo da mão, Geneviéve Evans, que morrera um ano após sua partida.
Dois meses depois, Alastor Moody aposentou-se da Scotland Yard e Remus Lupin tornou-se o chefe da corporação. Em julho a legislação da Scotland foi mudada, permitindo a participação de mulheres no trabalho de detetive.
Em março de 1943, Remus Lupin casou-se com Hestia Jones. Pouco tempo depois nasceram as gêmeas Leda e Ariadne. Em setembro do mesmo ano, Lily Evans e James Potter subiram afinal ao altar na Suíça.
Finalmente, do dia 08 de maio de 1945, a Alemanha se rendeu. Era o fim do III Reich e do pesadelo nazista.
E aí está o útimo capítulo. Eu ia postá-lo amanhã, mas aconteceram alguns problemas que eu terei de resolver na faculdade e não sei se terei tempo. Assim, aqui está o último capítulo para vocês.
O epílogo virá na quarta feira. E como ele, o fim definitivo de "Os Mistérios de Londres". Espero que tenham se divertido tanto quanto eu com essa fic.
Agradecimentos a Belle e Babbi Potter, Xharah, Mirtes, Jé Black, Marmaduke Scarlet, Lily Dragon, Gaby-fdj-Black, Dynha Black, Thaisinha, Juliana Montez, Lele Potter Black, Juliana e todos que continuam acompanhando MdL ou as outras loucuras que escrevo.
Deve ser alguma espécie de recorde... Eu tenho duas fics com mais de 500 comentários. Estou emocionada... É por isso que eu não pretendo me aposentar das fanfics tão cedo. Só espero não começar a me repetir e sempre ter histórias novas que possam divertir vocês.
Beijos,
Silverghost.
