Tá, eu demorei, mas, pft, eu trabalho o dia inteiro, estudo de noite, e, bem, vida anda complicada por aqui. So sue me TT E, ah. Reviews são legais, sabem? TT E sim, essa fanfic anda devagar, então, se você gosta de fanfics onde os personagens se agarram já no segundo capítulo... oh, sorry XD
:Antes que Eu Me Esqueça
:Capítulo II: Conversas Explosivas
:Autora: Cindy "MiWi"
.- Não – veio a voz de falsa calma de Draco ao ouvir o que o velho Weasley tinha a dizer. – Você não pode esperar que eu faça isso.
Do outro lado da sala, veio o suspiro irritado de outro homem da mesma idade de Draco. – Eu falei que era demais pedir que um Malfoy nos ajudasse – ele veio caminhando, saindo do canto mal-iluminado da sala para se aproximar da onde o velho e Draco se encontravam. – Eu falei que eu deveria procurar o Harry e a Hermione, e não esse maldito perdedor.
Draco mordeu o lábio inferior, como se tivesse que se controlar para não pular no pescoço do homem que o provocava. Mas não foi capaz de segurar a própria língua. – Bem, ao menos alguém na sua família tem cérebro suficiente para saber que você não possui capacidade para uma tarefa dessas.
Assim que parou de falar, o lugar ficou levemente mais iluminado, e o mais velho dos Weasley olhou para o outro homem com severidade. Este apenas deu de ombros. – Eu não gosto deste lugar escuro. Aliás, eu não gosto deste lugar.
Draco reclinou-se sobre sua poltrona, cruzando as mãos sobre o peito e olhando para o outro homem com cinismo. – Com medo do escuro, Weasley? Você poderia ir para o circo, fazendo esses truques baratos.
Ao ouvir isso, Rony começou a caminhar na direção de Draco, a fúria estampada em cada sarda sua. – Olha aqui, seu maldito...
E ele parou o que quer que pretendesse fazer quando Arthur levantou a mão, pedindo que ele parasse. – Eu não trouxe meu filho até aqui para que vocês pudessem ficar brigando como dois moleques – sua voz saiu cansada, rígida.
Draco arqueou as sobrancelhas. – Claro que não. Você o trouxe até aqui apenas para me aborrecer. Aliás, o que vocês ainda estão fazendo aqui? Eu já falei que eu não vou fazer isso.
Poderia ser apenas impressão, mas o rosto de Arthur estava muito mais pálido que o de Rony, que parecia prestes a explodir. Até mesmo os cabelos vermelhos e as sardas ao redor de seu nariz não pareciam mais tão vermelhas quanto poderiam ser. Como se a idade começasse a cobrar seu preço, assim como seus inúmeros serviços pelo Ministério da Magia. – Quem foi a última pessoa a ver Harry Potter? – perguntou Arthur, tentando parecer resoluto. Draco abriu a boca para falar, mas Arthur o impediu. – Quem foi a última pessoa a ver Hermione Granger?
.- Isso não quer dizer nada!
O grito veio de duas fontes diferentes, e por isso Arthur não sabia se olhava para o próprio filho ou para Draco Malfoy. Este olhou com irritação na direção de Rony. – Como você ousa falar ao mesmo tempo que eu? Como você ousa invadir o meu lar desse jeito e me fazer uma proposta dessas? – Draco havia se levantado, e começava a caminhar na direção de Rony com uma calma tão extrema e um caminhar tão rígido que até mesmo o velho Arthur chegou a temer por um momento que Draco poderia fazer algo estúpido com Rony. – Eu não vou procurar por um homem que irá me matar assim que me vir – grunhiu ele na direção de Rony, as palavras saindo como bombas silenciosas. – Eu não vou procurar por uma Sangue-Ruim.
E Rony ergueu o braço e fechou o punho para atingir Draco. – Não fale assim da Hermione!
Mas Draco sentiu seu estômago revirar ao ouvir aquele nome e se abaixou, esquivando-se do soco e se preparando para começar a brigar com Rony.
Por um momento, por um brevíssimo momento, Draco se sentiu de novo em Hogwarts, em seus velhos tempos de escola, e tudo lhe pareceu bom e real de novo. E ele teria ficado naquela briga por ainda mais alguns instantes antes de voltar ao normal e perceber que ele não poderia estar brigando daquela maneira com um mero Weasley.
.- Você tem falado com seu pai, Malfoy? – veio a pergunta do outro Weasley.
Não, claro que não, eu não tenho tido contato algum com ele há mais de dezessete anos. Não, eu não sinto falta alguma dele.
Draco Malfoy fechou os olhos por um momento mais do que deveria, pensando com raiva que sua aparência denunciava contra ele, o perfil parecidíssimo com o do pai, os mesmos cabelos longos sempre presos.
Ao sentir o punho de Rony arrastar-se sobre seu rosto, Draco abriu os olhos com fúria e deu um passo para trás. Preparou-se para revidar, mas novamente Arthur interrompeu. – Parem agora mesmo! Malfoy, eu tenho um assunto ligeiramente mais importante do que essa briga ridícula de vocês dois para tratar com você.
Pararam de brigar, mas não sem antes trocarem um último olhar furioso que dizia Você ainda vai se arrepender disso.
Sem se dar ao trabalho de voltar a se sentar em sua poltrona, Draco olhou na direção de Arthur. Esperou. Bufou. – E que assunto seria esse?
.- Você não quer dizer para ele, Rony? O motivo de você estar aqui? – disse Arthur, lançando um olhar significativo na direção de Rony.
O ruivo deu um pesado suspiro, e foi até Draco, como se tencionasse socá-lo de novo. Mas, ao invés disso, apenas o segurou pelos ombros com força. Draco ainda tentou se livrar, mas Rony era pelo quinze centímetros mais alto do que ele, e mais forte, e não lhe pareceu uma boa idéia se desvencilhar naquele momento. – Você vai achar a Hermione e o Harry, seu merda, antes que alguma coisa de ruim aconteça com a minha irmã – Rony o apertou com mais força, mas Draco não expressou coisa alguma em relação a isso. – Se alguma coisa de ruim acontecer com a Gina, a culpa vai ser sua e de seu maldito pai, e eu vou fazer com que você se arrependa disso.
Draco tentou fazer a expressão de alguém que sabia perfeitamente do que Rony estava falando, mas não conseguiu evitar que suas sobrancelhas se arqueassem, a expressão fechada. – Do que raios você está falando, Weasley? Por acaso você vendeu os últimos resquícios de cérebro que você tinha para comprar roupas novas? – fez uma pausa. – Oh, espere, vocês Weasleys não têm crédito suficiente para venderem algo que não possuem, não é mesmo? Eu apenas tinha me acostumado a não ter de conviver com Weasleys durante tanto tempo que eu tinha me esquecido como era isso.
Sentindo que outra briga iria surgir dali, Arthur Weasley se levantou depressa. Rony, que se preparava para avançar sobre Draco, se virou na direção do pai. – Eu perguntei se você havia visto o seu pai recentemente, Malfoy, porque o pessoal da equipe que investiga criminosos foragidos acha que Lúcio Malfoy está se preparando para voltar à Inglaterra. E com força total.
Draco quis ter bolsos onde pudesse colocar as mãos, ou um copo de whisky que pudesse girar entre seus dedos com descaso, ou até mesmo um cigarro na ponta de seus dedos. Mas ele não tinha nada disso, e por isso apenas deu de ombros. – E eu com isso?
.- Ele raptou a Gina! – gritou Rony por fim, e ficou a respirar com força, como se ele estivesse se controlando para dizer aquilo desde que chegara ali.
.- Se você a quer tanto de volta – veio a voz baixa de Draco, quase ameaçadora. – Não seria melhor eu procurar por... meu pai? Ao invés de sair por aí procurando pelo Potter e pela Sangue-Ruim?
.- Não, claro que não – veio a voz controlada de Arthur Weasley. Draco o olhou, percebendo que aquele tipo de autocontrole consumia todas as energias do homem. E isso era óbvio para Malfoy; Weasleys sempre foram pessoas incapazes de se controlar, mesmo em situações críticas como aquela. – A última coisa que eu quero é ver um homem que tem estado bem durante mais de dezesseis anos ter uma recaída por ter reencontrado o pai – ao dizer isso, lançou um novo olhar significativo na direção de Draco. Ao ver que Draco apenas devolveu seu olhar, ele suspirou e continuou. – Além do mais, nós já temos bastante gente atrás de Lúcio Malfoy, mas ninguém ousa procurar por Harry Potter e Hermione Granger. O primeiro é considerado uma lenda por muitos, a segunda, uma mulher melancólica e inteligente demais para seu próprio bem.
Draco murmurou algo que poderia ter sido um xingamento, ou apenas um murmúrio sem significado. – Ou seja, sobrou para mim. Mas, que mal eu me pergunte – Draco se jogou para trás em sua poltrona, fazendo-a gemer sob seu peso. – O que Potter e a Sangue-Ruim têm a ver com Lúcio Malfoy e o sumiço de Virgínia Weasley?
.- Ginevra – corrigiu Rony, antes que pudesse se conter. Quando Draco o olhou procurando por um explicação, ele apenas deu de ombros, emburrado. – Ginevra Weasley.
Draco piscou uma, duas, três vezes antes de voltar a falar, o olhar ainda fixo em Rony e levemente estarrecido. – Nossa, e eu estive enganado durante todos esses anos. Vão, vão embora! Eu preciso me recuperar por ter descoberto que tudo no que eu acreditava era mentira! – e fez a voz de falsete, levando as costas da mão até sua cabeça, o olhar levemente virado e fixo no teto.
Rony ainda o encarou por um momento, mas foi Arthur Weasley que resolveu acabar com o sarcasmo de Draco. – Senhor Malfoy, nós realmente não temos tempo para esse tipo de brincadeira. Você vai procurar por Harry Potter e Hermione Granger e reportar o que quer que seja a nós. Deixe que minha equipe procure por seu pai.
Mas Draco riu. De início, parecia um riso forçado, mas que logo se transformou num eco terrível e sombrio através da sala. Jogou a cabeça para trás, a mão sobre a cabeça. E dessa vez não foi interrompido uma única vez em seus delírios, senão quando ele próprio parou para olhar para os dois Weasleys que se encontravam ali. – Eu vou? E como vocês poderiam me obrigar? Vocês não podem mais me ameaçar com Santo Mungo; já se passou tempo demais.
Os olhos de Rony adquiriram um brilho estranho, flamejante, que quase fez Draco engolir em seco. – Tempo demais? Oh, mas eu acredito que existe alguém lá que discorda disso – fez um pausa, dando tempo para que suas palavras ecoassem na mente de Draco. – Você sabe quem é o atual diretor de St. Mungo, Malfoy? Neville Longbottom. Eu não sei se você se lembra dele – nova pausa, e Rony não continuou até ver, através do olhar espantado de Draco, que o mesmo se lembrava. E muito bem. – Quer dizer, que importância ele teve na sua vida, não é mesmo? Você ainda se lembra de quando matou Trevor diante dos olhos de Neville? Você ao menos se lembra de quando lançou a maldição Cruciatus nele, seu maldito filho da puta? – a voz de Rony foi se elevando, e ele estava cada vez mais próximo de Draco; tão próximo que ele logo o ergueu através da gola de sua camisa de gola alta negra para fuzilá-lo com o olhar. Parou, e voltou a largar Draco em sua poltrona. – Ele com certeza se lembra – sua voz agora se encontrava pouco acima de um murmúrio. – Foi a primeira vez que ele recebeu um dos Imperdoáveis. Eu me pergunto se foi a primeira vez que você lançou um – como Draco não respondeu, Rony apenas acrescentou como um último aviso: - O Neville é um cara legal, sabe? Não quer dizer que ele não esteja louco para deixar você trancafiado lá dentro e jogar a chave fora. É só o Ministério dar carta branca para ele. E adivinha quem trabalha no Ministério... ?
Draco o encarou por um momento, enquanto o ruivo se afastava lentamente, as sardas voltando ao seu vermelho natural, os olhos readquirindo um brilho apenas azul. – Seus malditos.
Rony sorriu, indo se sentar ao lado do pai. – Vindo de você, isso é um elogio.
Mas, ao invés de se concentrar em Rony, Draco se virou na direção de Arthur. O patriarca dos Weasley parecia muito mais velho e cansado do que seria considerado normal. Não que ele não tivesse motivos para aparentar preocupação e extremo cansaço; estivera trabalhando no Ministério da Magia por mais de vinte anos, chegando a ser Ministro da Magia, e agora sua filha, a caçula e a única mulher, estava desaparecida. Talvez Rony tivesse vindo junto apenas por se preocupar demais com o pai e por não querer deixar o pai vulnerável e sozinho na mansão de um Malfoy. Draco apenas deu um sorriso torto. Era como se Rony o enxergasse como um lobo mau.
Não que isso fosse necessariamente ruim, é claro. Draco fechou os olhos por um momento, mas logo voltou a abri-los para fitar os Weasley. – Tudo bem. Eu posso procurar por esses dois.
Arthur suspirou, aliviado. Rony arqueou ambas as sobrancelhas. – Harry tinha razão. Você não passa de um covarde. Uma ameaça, e você faz qualquer coisa.
Draco se levantou tão depressa e retirou a varinha de seu bolso com tamanha determinação que alguém poderia pensar que ele tencionava lançar um dos Imperdoáveis sobre Rony. Talvez até fosse essa sua intenção, mas ele parou no meio do caminho, voltando a guardar sua varinha em seu bolso de forma lenta e com calculado desprendimento. Deu um sorriso torto na direção de Rony. – Oh, mas, sabe... eu não sei porque você quer tanto que a Sangue-Ruim e o Garoto que Desapareceu voltem. Quer dizer, a sua vida melhorou muito depois do fim da guerra, não é mesmo? Sem a inteligência da Sangue-Ruim ou a bravura de Potter para lhe fazerem sombra, você foi capaz de construir sua vida medíocre da melhor maneira possível. Ouvi dizer que você ajudou a resolver muitos casos estranhos envolvendo magia com a ajuda de suas Ilusões. Eu me pergunto como você faz isso. Você confunde os bandidos fazendo eles acharem que estão rodeados por chuva de purpurina? – ao ver a expressão furiosa e confusa de Rony, Draco se sentiu encorajado a continuar. – Oras, não pense que eu não sei sobre você, sua bicha ruiva. Às vezes eu acho que a Granger sumiu de vergonha de algum dia ter dormido com uma bicha como você – fez uma pausa dramática, dando alguns passos para trás e arregalando os próprios olhos propositadamente. – Oh, além de ter minha mansão invadida por Weasleys, eu ainda fui tocado por uma bicha! Isso é desprezível. Vocês deveriam sair logo daqui antes que eu morra de nojo – e, ao dizer isso, deu de costas para ambos e foi até a lareira, fazendo sinal com a mão para que eles se retirassem. Ouviu alguém se levantar, alguns passos rígidos sobre o chão, mas não se virou.
.- Rony, pare. Você não percebe que ele está fazendo isso porque é a única coisa que pode fazer? Já que ele não pode deixar de nos obedecer, ele está tentando deixar seu orgulho tão abalado quanto o dele – pausa, e o som de alguém se levantando. – Orgulho. Que criatura patética é o ser humano, para ser dominado por sentimento tão ridículo.
Draco começou a se virar na direção de ambos, a resposta na ponta de sua língua. – Ao menos eu tenho algo do que me orgulhar.
Mal terminou de dizer isso, percebeu que Rony se encontrava a menos de dois palmos de distância de si. Como se ainda considerasse essa distância grande, Rony se curvou sobre Draco para quase murmurar em seu ouvido. – Você insiste em me chamar de bicha, mas quem de nós dois é casado, com dois filhos legítimos? E quem de nós dois possui uma filha adotiva somente? – ao dizer isso, saiu de perto de Draco e foi para perto de seu pai, e os dois foram até a porta da sala.
Arthur já se encontrava com a mão sobre a maçaneta quando se virou para trás, como se tivesse se esquecido de algo muito importante. – Ah, e Malfoy, eu quero relatórios sobre o que você está pesquisando. Se eu achar que você não está levando isso a sério, eu irei providenciar para que Rony venha ajudá-lo.
.- Ei!
Ambos rejeitaram a idéia, olhando para o velho Arthur Weasley com indignação. Após um primeiro momento de espanto, porém, Draco se recompôs. – Pode deixar, Weasley. A última coisa que eu quero é voltar a ver seu filho.
Ao ouvir Draco, Rony também se recompôs, voltando sua atenção para a porta de saída. – Ao menos nisso nós concordamos – e se virou para abrir a porta.
Draco fechou os olhos, respirou fundo. Alívio. Pelo menos já havia se livrado dos... voltou a abrir os olhos ao perceber que não ouvira o som do abrir e fechar da porta, e que Weasley algum teria classe suficiente para fazer tão pouco barulho para entrar e sair dali. Viu que Rony ainda se encontrava ali, como se algo o tivesse prendido ao chão.
Caramba. Essa gente nunca vai embora?
Extremamente contrariado, Rony se virou na direção de Draco. – Ah, e diga para a sua filha que James, Sirius e Vitória Weasley mandaram um abraço. Eles insistiram muito nisso quando souberam que eu viria aqui – após dizer isso, abriu a porta para deixar seu pai sair e saiu logo atrás dele, fechando a porta atrás de si antes que Draco esboçasse qualquer tipo de reação ao seu comentário.
Os filhos dos Weasley mandaram lembranças? Raios. Então eles são realmente amigos.
Pensar nisso era extremamente desanimador, assim como o era pensar em sua missão. Ele odiava o Ministério por isso. Por acaso o achavam algum tipo de herói para gostar de fazer aquele tipo de coisa?
Ele pensou nas possibilidades. Se ele resolvesse encontrar Potter, teria de se esforçar, voltar a falar com alguns de seus antigos contatos e, caso o encontrasse, o homem provavelmente o mataria primeiro e faria perguntas depois. Não era exatamente um prospecto animador. Procurar Granger...
Draco sentiu um calafrio percorrer sua espinha e chegar até regiões nem um pouco sagradas. Sentou-se na poltrona com desânimo, jogando todo o peso de seu corpo e de sua alma sobre a mesma.
Não, ele certamente não queria encontrar nenhum dos dois. Se não queria encontrar ambos e ainda enganar o Ministério, só havia uma coisa a fazer: procurar por informações sobre ambos, ter uma vaga idéia sobre o paradeiro de um e de outro, e partir na direção oposta.
Uma voz surgiu no fundo de sua mente, a qual ele logo reconheceu como sendo a de seu pai. Se for fazer alguma coisa, filho, faça-o com classe. Se não puder fazê-lo com classe... faça-o rápido, apague as evidências, e vá comer em um restaurante chique.
É, claro.
Voltou sua atenção para o copo de bebida abandonado sobre a mesinha ao lado da poltrona. Pegou-o em suas mãos, girando-o lentamente. Na realidade, ele preferia se lembrar de algo que Granger havia lhe dito. Você nem sempre vai estar por cima, Malfoy. Mas, enquanto você está embaixo, você pode aproveitar a visão, rir de quem está em cima, relaxar, e esperar o melhor momento para virar o jogo.
A conotação quase sexual da frase fez Draco se perguntar se Hermione realmente havia lhe dito isso ou se este era apenas mais um de seus sonhos. Perguntou-se como ela havia lhe dito aquilo – se seus cabelos estavam quase sobre a face de Draco, as mãos sobre as mãos de Draco...
Antes que ele próprio percebesse, suas mãos já estavam descendo, procurando uma maneira de chegar nas suas regiões baixas. Quando ele se deu conta disso, tirou as mãos dali como se tivesse recebido um choque.
Ele precisava dar um jeito nisso, e logo. Tentou imaginar outra coisa, mas a única imagem que lhe veio foi a de Hermione em sua cama, nua, adormecida... não, ela não estava adormecida... estava... morta. O pescoço virado num ângulo impossível, sangue saindo de seus mamilos, de sua...
... e havia algo branco sobre ela, e Draco não pôde deixar de se surpreender com o que era aquele estranho líquido...
Abriu os olhos de súbito, como se tivesse acordado de um pesadelo. Não, aquela cena definitivamente não o estava ajudando.
Olhou para baixo, percebendo que mesmo aquilo havia o deixado excitado.
Por Merlin, ele estava desesperadamente precisando de ajuda.
Fechou os olhos com força e tentou se afundar na poltrona.
Tudo o que conseguiu foi quebrar o copo de cristal que ainda se encontrava seus dedos. Sabia que deveria fazer um feitiço rápido para curar aqueles pequenos ferimentos, mas...
Não sentiu vontade alguma de fazê-lo.
.- Você tem certeza... – murmurou Rony para o pai quando percebeu que já se encontravam fora do alcance dos ouvidos de Malfoy. – De que isso foi o melhor a ser feito?
Arthur parou de andar e pousou uma mão sobre o ombro de Rony, apertando-o levemente. Olhou para ele com gravidade, e tentou sorrir. – Eu não sei, Rony. Mas, nas atuais condições, era o melhor que poderíamos fazer.
Rony suspirou, deu alguns passos, pegou um pouco do pó de Flu que se encontrava sobre a lareira numa sala não muito longe daquela onde Draco se encontrava. – Você não quis mostrar as anotações para ele. Você quis contar tanta coisa que eu achei que ele não deveria saber, e hesita em mostrar as anotações.
O velho balançou a cabeça com severidade. – Justamente, meu filho. Eu já contei mais do que deveria. Eu não poderia deixar o filho do Malfoy ver essas anotações.
Rony estendeu a mão sobre o fogo para jogar o pó, mas não abriu a mão. – Você tem medo de que ele poderia compreender o significado daquelas estranhas anotações?
.- Ou de que ele poderia não compreender? Quer dizer, o nome dele está escrito dezenas de vezes naquele papel, assim como o endereço da Mansão Malfoy – suspirou com pesar. – Se ele não souber o que é aquilo, eu temo que a situação possa ser muito pior do que nós inicialmente achamos. Quer dizer, nós nos preparamos para mais um golpe de Lúcio Malfoy, algo como conseguir seu dinheiro e seu status de volta. Mas aquele papel...
Rony balançou a cabeça com veemência. – Eu não quero pensar nisso agora, pai. Lúcio Malfoy pode estar louco, aquele papel pode ser falso, e nós aqui, fazendo teorias absurdas.
Arthur estendeu a mão para pegar seu punhado de pó de Flu. – O papel não é falso. Eu fiz os testes necessários. Aquele papel foi escrito por Lúcio Malfoy.
Rony deixou que um calafrio percorresse sua espinha por completo antes de voltar a falar. – Mas por que ele escreveu os nomes de Harry e Hermione dezenas de vezes naquele papel? E o nome do próprio filho apenas uma ou duas vezes... e se ele fez aquele papel apenas para nos enganar?
Arthur virou o pó lentamente sobre a lareira, vendo o fogo mudar levemente de cor, crepitar e crepitar como se aguardasse por alguma ordem. – A Toca – e entrou no fogo.
Rony ainda fingiu brincar com o pó em suas mãos. Um leve sorriso irônico quis aparecer em seus lábios, mas ele não deixou que isso acontecesse. – Você não quer dizer que a Gina pode ter se arriscado por muito pouco, não é mesmo? – fez uma pausa, como se esperasse que o ar parado da sala respondesse sua pergunta retórica. – Mas o que raios ela estava fazendo, pesquisando sobre um Malfoy? – grunhiu antes de jogar o pó na lareira. – A Toca.
Draco ainda estava com os olhos fechados, o dedo indicador e o polegar pressionando seus olhos com força – como se isso pudesse afastar aquelas pequeninas vozes arrepiando sua nuca, ou os pequenos pontos claros em meio à escuridão.
.- Aparentemente, ele sempre tinha essas crises quando se encontrava nervoso – ou melhor, depois de passar por algo que o deixou nervoso. Ótimo. Ele já tinha um ótimo argumento caso decidissem levá-lo para St. Mungo por causa disso: ele tinha uma estranha doença, que o deixava mentalmente instável e perturbado, mas, não se preocupem, senhores! Pois essa doença só se manifesta após momentos de grande preocupação ou nervosismo.
Ótimo.
Pensar que Longbottom provavelmente encontraria uma maneira de acorrentá-lo em St. Mungo para sempre por qualquer motivo se o Ministério lhe desse carta branca não era nem um pouco animador.
Uma mão sobre o rosto, a outra, ainda ensangüentada, caída sobre o braço da poltrona, a cabeça levemente caída para trás, os cotovelos sobre a poltrona – Chris provavelmente levaria um susto se o visse assim. Ao ouvir o som de uma porta se fechando e dos passos descalços de alguém sobre o tapete, Draco percebeu que era tarde para pensar nisso. – Seus amiguinhos Weasley mandaram lembranças – disse Draco, ainda sem se dar ao trabalho de erguer a cabeça. Ao perceber que Chris não esboçara reação alguma, resolveu tirar a mão de cima do rosto para poder encarar. Ela apenas deu de ombros, e assentiu com a cabeça, como se esperasse que ele continuasse.
Ele nunca teria continuado se estivesse falando com outra pessoa. Aquele tipo de assunto desagradável lhe dizia respeito, e a mais ninguém. Draco não fazia exatamente o tipo aberto e conversador, especialmente sobre assuntos que lhe desagradavam. E este, em especial, o desagradava imensamente. Mas aquela não era uma pessoa qualquer, era Chris. Suspirou, vencido. – Eu vou ter de encontrar aquelas pessoas. Aparentemente, elas têm alguma estranha ligação com o desaparecimento de uma Weasley, mãe de uma amiguinha sua. Um rapto, que eles dizem ser culpa de meu pai, desaparecido há mais de quinze anos – disse isso quase lentamente; aprendera com Hermione que, caso fizesse isso ao dizer algo que o deixava nervoso, ele trairia menos suas emoções a respeito do assunto.
Chris balançou a cabeça, cruzando os braços antes de responder. Ela havia aprendido a esconder suas emoções muito antes de Draco, embora nem sempre desejasse fazê-lo. – Rapto? Uma Weasley? Então é por isso que a Vitória estava tão... transtornada nas últimas semanas de aula. Isso explica muita coisa – a aparente frieza foi desfeita ao começar a falar, dando lugar a um nervosismo crescente. Fúria. – E ela não me falou. Ela sempre disse que amigas devem contar tudo para suas amigas, e ela também disse que eu era sua amiga. Era esperado que ela me contasse sobre isso. Mas ela não me contou – sua voz estava visivelmente transtornada agora. – Não me contou – parou de falar por um momento, cruzando e descruzando os braços com impaciência. Olhou para Draco. – Você vai procurá-los?
Qualquer outra pessoa diria que era certo que Draco iria procurar pelas duas pessoas, mas não Chris. Ela sempre perguntava. Apesar de já esperar a pergunta, Draco parou por um momento antes de responder. – Não. Eles me matariam assim que me vissem.
Chris arqueou as sobrancelhas. – E por que eles fariam isso?
Foi a vez de Draco dar de ombros. – Nós nunca nos demos muito bem.
Fechando os punhos com força, Chris cerrou sua expressão. – Não importa – disse ela, virando-se devagar na direção da porta. – Eu tenho de sair – e começou a caminhar na direção da porta.
.- Aonde você vai?
Ela parou, e olhou uma última vez na direção de Draco. – Chutar o traseiro da Vitória por não ter me dito antes o que havia acontecido. Mas não se preocupe. Eu volto logo, para nós começarmos a procurar a tal de Granger e o tal Potter.
Draco abriu a boca para perguntar se ela não havia ouvido uma única palavra do que ele havia dito sobre 'eles vão me matar assim que me virem' mas algo atingiu seu cérebro antes. – Ouvir atrás da porta é feio, Chris. Você não tem o mínimo respeito pela privacidade alheia?
.- Não. Especialmente quando diz respeito a você – disse Chris, o olhar voltado na direção da porta; sua mão se encontrava sobre a maçaneta, prestes a abrir a porta. Abriu a boca, olhou na direção de Draco com nervosismo. – Eu não quero que você volte para Santo Mungo, Draco.
E saiu correndo, fechando a porta atrás de si antes que Draco pudesse tentar dizer qualquer coisa a respeito daquilo. Mas ela não precisava ter tido tanta pressa – Draco demorou alguns instantes inteiros antes de conseguir se afundar com cansaço da poltrona e piscar algumas vezes. – Ela tem sentimentos. Aos dezessete anos, e ainda tem sentimentos. Uma sonserina! – sorriu-se consigo. – Que bela filha Chris está me saindo... – sorriu novamente, mas desta vez não demorou até que sua expressão se fechasse de vez, ao se lembrar que não havia a repreendido devidamente por ficar ouvindo atrás da porta. Bela Sonserina!
:: Continua
