OS PERGAMINHOS DE NOSSA EXISTÊNCIA

Autora: Angela Miguel

Contato: angela.miguol.com.br e ametistaluahotmail.com

Categoria: Geral/Romance

Shipper: Harry/Hermione

Spoilers: 1 a 5 livros

Sinopse: Pós-Hogwarts. Hermione é uma jornalista famosa do Profeta Diário e é designada para uma reportagem especial com o Departamento de Espionagem e de Aurores do Ministério da Magia. Porém, pior do que pisar onde prometera não mais pisar é reencontrar alguém que não se esquece. Para voltar a ter sua vida de volta, Hermione só precisará realizar esta matéria. Mas, quando o passado reabre feridas e sentimentos, não há vida que volte a ser a mesma.

Disclaimer: Esta história não tem ligação com J.K.Rowling ou qualquer empresa ligada a série e marca Harry Potter. Não há fins lucrativos.

Resumo do capítulo anterior: Hermione recebe uma notícia que abalara sua vida. Como uma ótima jornalista, ela ganha a oportunidade de fazer sua vida: uma matéria especial, reportando as missões de Aurores e Espiões por um mês. Porém, como poderia encarar novamente Harry Potter?

Nota da Autora: Gente, consegui fazer esse capítulo ontem! Hoje tenho que estudar pra uma prova de História, então desculpem, mas só poderei atualizar um capítulo. Espero que vocês gostem! Mandem reviews com suas opiniões! Queria agradecer ao pessoal do Potterish (a Jemione e a MioneGranger) e ao pessoal do FF.NET (a Dani Potter, Mamys, Gabi, Ameria, Madam Spooky e SnakeEye's PK)!!! Valeu mesmo genteeeeeeee!!!! Beijinhooosss!!! J

CAPÍTULO DOIS – O AUROR MAIS FAMOSO DO MUNDO BRUXO

A passos rápidos, o homem procurava ao máximo fugir daqueles holofotes. Os repórteres e fotógrafos procuravam qualquer espaço para ganhar uma foto sua. Também, desde quando aquele tipo de gente não agia daquela forma? "Espero que todos apodreçam no inferno", pensou raivoso, querendo logo em seguida apagar aquela imagem dos costumeiros paparazzi nas suas costas.

- Harry! Harry! – gritou uma voz feminina ofegante não muito longe dele.

Erguendo a mão esquerda, o bruxo ignorou os chamados e adentrou em sua sala, batendo a porta logo depois. Empurrando a cadeira de sua mesa com rudez, notou quando não houve nenhuma batida, e fios avermelhados foram aparecendo lentamente pela fresta da porta. Colocou os braços na cintura e bufou nervosamente.

- Entre de uma vez! – a cabecinha continuou do mesmo jeito. – Eu posso te ver, sabia? – completou Harry, mudando o tom da voz.

Diante da arrogância do homem, os fios vermelhos trouxeram uma face esbranquiçada e um corpo alto e elegante. Em saltos altos e vestimenta escura, Gina Weasley fez um bico de desculpas, fechando a entrada. Observou com atenção o homem. Rolando os olhos ao ver a postura do auror, a mulher ergueu as sobrancelhas e tossiu.

- Sei que não gosta da publicidade...

- Chamarão isso de autopromoção. – interrompeu sarcástico.

Gina rolou os olhos mais uma vez, agora olhando descontente para ele.

- Deixe de ser ranzinza, Harry, pelo amor de Merlin! Desde quando você necessita de autopromoção?! – ralhou a mulher, cruzando os braços e se aproximando dele. – Nem todos aqueles do lado de fora são seus inimigos, quantas vezes terei de lhe dizer isto?! – o auror a encarou secamente. – É pretensão demais falar que eles somente estão aqui para importunar a sua vida, não acha?

O olhar de Harry se intensificou sobre Gina, ficando mais furioso do que já estava.

- E que diabos você quer dizer com isso, Srta. Weasley? – questionou ríspido.

- Quero dizer que você acabou de capturar um dos maiores inimigos do Ministério da Magia! É disso que eles estão atrás, não da sua prepotência!

Ao notar a expressão de surpresa e ódio do homem, Gina exclamou consigo: "Acho que acabei de falar demais... Eu e a minha boca! Droga!" Harry encarou-a com tanta rispidez e impaciência que a mulher não precisou esperar muito para que o ouvisse gritar.

- FORA! Saia da minha sala, Gina! AGORA!

Assim que reabriu a mente para o acontecido, Harry Potter notou que Gina havia desaparecido completamente do âmbito. Respirando profundamente, pegou um dos copos que estavam empilhados sobre uma mesinha e arremessou-o contra a parede. O estalo provocou uma intensa dor em seus tímpanos e ele fechou os olhos fortemente. Vinte e sete anos, nada parecia ter mudado. Só que na realidade, tudo era diferente.

Seus cabelos ainda eram tão desalinhados quanto na sua infância e adolescência. Sua figura crescera muitos centímetros e seu corpo havia definido incrivelmente bem durante anos de luta e prática. Os olhos permaneciam tão verdes quanto pedras de esmeraldas, envolvidos por redondos óculos de grau. A cicatriz no mesmo lugar, no centro de sua testa, ardendo, atualmente, apenas quando exagerasse no banho de sol.

Porém, seu temperamento não era mais como o de anos atrás. A vida lhe ensinara que nada se ganha quando somente tomam-se atitudes corretas – mesmo que ele continuasse sendo totalmente correto. A vida lhe ensinara que ninguém irá respeitá-lo enquanto fazer apenas o bom – ainda que permanecesse atuando com a bondade ao seu lado. A vida lhe ensinara que somente os sábios mentalmente resistem às provações que ela posta. E era aqui que residia seu erro maior.

Durante toda sua vida procurou encontrar resquícios de uma família, ou do sentido familiar. Primeiro, seus tios, os Dursley, tremendamente cruéis. E então veio Hogwarts, lugar em que encontrou tantos tipos de gente que não conseguiria mais recordar. Todavia, alguns ficaram marcados, como seus dois melhores amigos e seu padrinho, Sirius Black, assassinado por uma Comensal da Morte de Voldemort. Rony havia se tornado um renomado goleiro de quadribol profissional, conquistando a vaga titular da seleção inglesa. Continuavam em contato toda semana ou até mais. Todas as novidades de suas vidas eram alimentadas por suas longas conversas ou encontros rápidos no almoço.

Não queria lembrar o quanto àquela outra pessoa importava a ele. Não depois de tudo. Até pronunciar seu nome não era algo aconselhável perto de seus ouvidos. Porém, lutar contra a presença marcante e o talento da melhor jornalista da Inglaterra era demais, até mesmo para Harry James Potter.

Despertando de sua fúria, Harry somente ouviu o som da maçaneta e a entrada de alguém em seu escritório. Erguendo o olhar, os olhos acinzentados de Draco Malfoy tomaram lugar em seus pensamentos.

- Potter! Nós somos os maiorais! Somos os reis dessa espelunca! Ninguém pode conosco! – e dando uma rápida olhada para o auror, Draco completou. – Não, na verdade eu sou o cara aqui!

A euforia de Malfoy esvaiu-se assim que notou o estado da sala do companheiro de trabalho com maior atenção. No chão perto da janela estava a cadeira da mesa tombada, suas rodinhas ainda agitadas. Do outro lado, inúmeros brilhos no piso – os cacos do resto do copo quebrado anteriormente.

- Está com algum problema, Potter? – indagou, acentuando seu tom de voz irônico.

Harry ignorou-o, dando as costas e olhando o céu azul daquela tarde de final de novembro. Odiava Malfoy por ser tão histérico quanto era. Tudo era motivo para estardalhaço. Seu sonho divagava por um dia de trabalho sem ele. Porém, o que se podia fazer quando duas pessoas, mesmo que se odiassem, tivessem uma química infalível de inteligência e força?

- Eu dei uma...

- Já sei Malfoy! – cortou Harry imediatamente, coçando a testa. – Dispensou aqueles vermes?

Erguendo uma sobrancelha, Draco sorriu. Parando ao lado do homem, iniciou seu monólogo:

- Sabe Potter, sou realmente bom com o público – admirou-se Malfoy. – Meu carisma parece transpor os limites do imaginável, as câmeras daqueles fotógrafos me amam! – ele passou os dedos entre os fios de seu cabelo louro. – Talvez seja minha beleza ou minha voz e cuidado com as palavras, mas realmente estou surpreso como poderia me encaixar como um relações públicas perfeito! – Harry abriu os olhos e fitou Draco com certo nojo. – Só que já estou ficando cansado de sempre ser quem explica os dados para todos eles.

O auror riu alto em resposta, desconcertando o modesto Malfoy. Harry deu a volta em sua mesa e endireitou sua cadeira, um sorriso malicioso dançando em seus lábios.

- Não sonhe alto demais, Malfoy – disse, um dedo estendendo-se na direção do homem. – Nunca me darei o luxo de falar com aquele tipo de ser humano, esqueça. E também temos Gina para isso, não acha? Ela é a porta-voz do meu departamento, mesmo que ela seja uma auror como eu.

- A Weasley é a melhor do seu departamento, deveria dar mais valor, Potter – corrigiu Draco, agora tomando uma quase postura séria. – Quero dizer, mais do que vinha dando. Presumo que foi por isso que acabaram, certo?

Harry lançou um olhar azedo para o espião.

- Cuide de seus problemas enquanto pode, não venha meter seu nariz nos meus, Malfoy – avisou, sentando-se na cadeira. – E se está interessado na Gina, tire o cavalinho da chuva porque ela não é para o seu bico.

- Uh! Agora você destruiu meus sonhos, Potter – zombou. – Pena que esse não é meu objetivo de vida – respondeu o espião sorrindo. – Nunca mulher alguma me prenderá como ela fez com você, não sou homem de uma, sou de todas.

Antes que Harry pudesse responder algo para a afirmação egocêntrica de Draco Malfoy, a cabecinha de Gina voltou a aparecer atrás da porta de seu escritório. Harry cruzou os braços.

- O Chefe quer ver vocês – disse ela, carregando alguns papéis nos braços. Harry e Draco não se moveram. Gina bufou. – Agora, na verdade.

Malfoy esticou-se e passou por Gina, piscando charmoso. A mulher simulou a expressão de vômito e sorriu assim que ele respondeu o mesmo a ela. Caminhando até a mesa de Harry, ela deixou os papéis sobre a mesa e deu meia-volta.

- Esses são os relatórios do Caso Chipre, como tinha pedido – explanou, ainda sem olhar para o homem. – Gostaria que pudesse me contar por que o interesse nesse caso...

- Gina, por favor... – sussurrou Harry, concentrando seu olhar nela.

A auror tornou-se para ele e fixou seus olhos castanhos nos dele.

- Entenda uma coisa, Harry – sua voz veio carregada de lição de moral. – Dentro das paredes deste Departamento, eu respondo pelo meu chefe Harry Potter. Assim que saio das dependências deste Ministério costumava responder pelo meu namorado Harry, e agora meu grande amigo. Então espero que também aja como um chefe e um amigo.

Harry ergueu-se de sua cadeira e andou até a mulher, passando as mãos pelo quadril da jovem e murmurando um pedido de desculpas. Gina conhecia o lado nervoso de Harry, após longos quatro anos de namoro. Entretanto, sabia como este último caso havia tirado seu sono por noites intermináveis há mais de três anos. Não entendia sua reação.

Contudo, nada o prepararia para a nova peripécia do chefe. Seria um mês no mínimo interessante.

A grande sala de seu chefe era bastante iluminada. Naquele final de tarde, Harry e Draco apressaram-se para conversar e contar todos os detalhes do ocorrido para ele. O sucesso daquela recente união de espiões e aurores era em grande parte provocada pela belíssima atuação daquele homem. Superar obstáculos era sua maior qualidade, esta que Harry admirava intensamente.

O corpo reclinado em seu assento, Remo Lupin encarou seus dois líderes. Um sorriso contente e orgulhoso despertou em seus lábios. Eles eram realmente espetaculares.

- Meus melhores homens! – exclamou, abrindo um dos braços e demonstrando o tamanho de sua satisfação. – Vamos lá! Quero saber de tudo! Adorei assisti-los daqui!

Harry riu, e Draco e ele sentaram nas duas cadeiras restantes. Fitando o braço enfaixado de Lupin, imaginou como tudo seria mais fácil se o melhor estrategista do Ministério pudesse ajudá-los mais.

- Não foi tão difícil quanto pensávamos depois que descobrimos seu paradeiro – comentou Harry, ouvindo Malfoy pigarrear ao seu lado. – O importante é que ele está agora em nossas mãos. Certamente as coisas ficarão mais difíceis de acontecer daqui para frente.

- Provavelmente, mas não podemos descartar o fato de que isto está infectado nas bases deles. Garanto que pedirão uma vingança. – respondeu o chefe, passando os dedos pelo rosto.

Malfoy ergueu-se de sua cadeira e mirou Lupin, franzindo o rosto em dúvida.

- Mas se você disse que viu tudo, porque quer os dados?

Lupin suspirou e esticou-se na cadeira. Harry fechou a cara e cruzou os braços, assim como Draco. Sabiam que coisa boa não viria dali.

- Ok, isso foi uma desculpa. Não sei se comentei com um de vocês sobre as últimas notícias que a imprensa vem divulgando sobre as nossas atuações... – Harry e Draco trocaram um olhar, gostando menos ainda. – O problema é que eles estão criando problemas a todos nós. Parte da imprensa anda publicando envolvimentos nossos com os outros departamentos da sessão de Mistérios.

- Mistérios? – surpreendeu-se Malfoy. – Mas não temos nada com Mistérios! Eles não tem nada com ninguém!

- Eu sei disso, Malfoy – concordou Lupin, erguendo a mão não fraturada. – Exatamente por isso decidi tomar uma atitude. Resolvi convidar um jornalista do Profeta Diário para nos acompanhar em missões por um mês.

Harry franziu a testa, sentindo o coração acelerar levemente.

- O importante é que conseguimos prender as pessoas que são uma ameaça ao povo, porque dar satisfações à imprensa?!

Lupin engoliu em seco e ergueu as sobrancelhas.

- Harry, conheço sua relação de desafeto com a imprensa – "É o segundo que me diz isso hoje", pensou Harry. – Mas são eles que informam a população. Se os bruxos lerem em algum veículo que andamos fazendo acordo com o Departamento de Mistérios, estaremos fritos.

Draco apoiou os braços na cadeira e curvou-se insatisfeito.

- Detesto ter de fazer isso, mas concordo com o Cicatriz aqui – Harry olhou feio para o homem. – Não precisamos de alguém seguindo todos os nossos passos.

- Entendo perfeitamente a posição de vocês dois, mas é necessário – disse Remo, aumentando a força na voz. – Não faria algo como isso se não fosse extremamente necessário. Espero que confiem em mim, ao menos.

Após alguns instantes em silêncio, Harry bufou e dirigiu-se ao chefe:

- Ok, nós aceitamos – declarou, com Malfoy ainda resmungando algo atrás dele. – Ao menos podemos saber quem é o jornalista escolhido?

Neste momento, Remo elevou-se da cadeira e lançou um olhar particularmente brilhante para Harry e Draco. Respirando fundo, respondeu:

- O melhor deles. Hermione Granger.

Por um rápido instante, Harry pensou que alguém havia o levitado até seu escritório novamente. Não recordava como havia parado ali. Se aquilo pareceu passar em alguns minutos, espantou-se quando assistiu o relógio denunciar que já tinha passado mais de meia hora desde o comunicado de Lupin. "Eu realmente estou ferrado! Do que adiantou me afastar? Do que adiantou ela se afastar? Agora tudo vai voltar!", sua cabeça gritava sem parar, sem fim, deixando evidente seu desespero.

Tudo acontecera há cerca de um ano e meio. Se Harry pudesse apagar de suas memórias aquela noite provavelmente não apagaria, pois não se arrependia. O problema era a conseqüência de algo como aquilo. O ato dele e de Hermione simplesmente destruíra a amizade tão verdadeira que existira entre eles. Uma taça, um toque, um grito. Anos e anos de trocas de segredos, de conversas intermináveis, de aventuras mil, foram jogados pela janela. Uma briga e tudo acabara.

Todavia, como se tudo que fizeram e disseram não fosse o bastante, Harry conseguira estragar tudo que poderia acontecer dali para frente. Hermione nunca o perdoara, e assim ele também não perdoava a si mesmo. Tentara por seis meses reatar a amizade, mas nada fora certo. Hermione estava irredutível. Naqueles meses de tentativa, Hermione já não estava mais com Rony, então natural achar que o vínculo se desfizera por completo. Bom seria se tudo continuasse como naquele um ano e meio. Apenas sabiam notícias um do outro pelos jornais, por mais nenhum outro lugar.

- Potter, posso colocar seu nome?

Harry encarou Draco segurando um pergaminho entre os dedos, a face pálida e o nariz vermelho. "Ah não! Era só isso que me faltava!", lamentou-se.

- Não me diga que vai mandar flores novamente, Malfoy?

O rosto de Malfoy se contorceu e ele xingou Harry. O companheiro de trabalho não respondeu, sempre ignorando as falas de Draco. Eram insuportáveis.

- Só porque você não fala mais com a Granger, não quer dizer que eu também não vou – disse Malfoy, ainda mostrando uma certa careta. – Apesar dela ser uma sangue-ruim, a Granger é gata!

Harry apenas ergueu o olhar para Malfoy, e ele soube que havia falado demais. Sangue-ruim era uma expressão que Malfoy apenas usava com Hermione, e isso de uma certa forma, permanecia irritando Harry.

- Ela vai pensar que está tentando suborná-la outra vez. – murmurou Harry, desistindo de discutir com o espião.

Draco deu de ombros.

- Pense o que quiser, a verdade é que a Granger vai passar uma bela temporada de trinta dias conosco, então acho melhor dar as boas-vindas, por mais indesejada que ela seja aqui. – explicou Malfoy, estendendo o pergaminho até Harry.

O auror encarou-o, leu-o rapidamente, e disse que não queria seu nome ali. Malfoy aconselhou que Harry começasse a ser um pouco mais simpático com Hermione assim que ela chegasse. Usando o argumento de que era simpático com todos, Harry tentou fugir das perguntas de Draco. Por fim, o espião dissera que somente mandaria as flores no dia seguinte, deixando-o pensar na possibilidade de colocar seu nome.

Antes que Harry pudesse deixar seu escritório, Gina adentrou novamente. A ruiva estava bastante arrumada, num belo conjunto vermelho. Harry recordou os tempos em que namoravam. Fora muito feliz com Gina, mas definitivamente aquilo um dia acabaria. Mesmo que Rony continuasse a insistir o contrário.

- Lupin já deu a notícia? – perguntou ela, paralisando a frente de seu amigo.

Harry, ainda encarando Gina com certa indiscrição, afirmou com a cabeça, e disse em seguida:

- Então até você já sabia que eu vou ter de enfrentar um mês com a Hermione aqui.

Gina não sabia o que acontecera entre Harry e Hermione. Nos últimos meses de namoro, Harry andava levemente estranho, avoado. Assim que ela começara a reparar, pouco depois, Harry parara de falar com Hermione. Sempre perguntava o que teria acontecido entre os dois grandes amigos, fosse para seu namorado ou para sua melhor amiga. Entretanto, nenhum dos dois parecia justificar ou mesmo querer explicar qualquer coisa relacionada àquele assunto. Gina resolvera, então, desistir.

Nada a preparara para o telefonema do diretor do Profeta Diário na manhã anterior. Quando Lupin contara sobre a idéia dele e de Nicholls, Gina quase caíra desmaiada. Hermione passaria um mês inteiro junto dos departamentos de Aurores e de Espionagem. Como ela e Harry poderia sobreviver àquela situação? Por trinta longos dias? Manhã, tarde, noite?

- Na verdade, fui eu que recebi o Sr. Nicholls aqui – Harry ergueu as sobrancelhas, querendo perguntar quem era o homem citado. – Ele é o editor-chefe da Mione – continuou ela, notando a palidez que se aumentava no rosto do bruxo. – Lupin e Nicholls ficaram horas naquela sala, ontem à tarde, enquanto você e o Malfoy estavam atrás do paradeiro do Hale – Harry quis socar-se por não ter estado lá. – Lupin tinha que contar a alguém. Por acaso, eu só me juntei a você e Malfoy depois da reunião de ambos.

Procurando não pensar demais naquele assunto, Harry indagou, mudando completamente o rumo da conversa, sem muita animação:

- Você vai sair? – admirando as vestimentas da mulher.

- Oh sim! – e ela abriu um sorriso enorme. – Com a Mione, na verdade – Harry continuou pálido. – Faz semanas que não consigo vê-la! Hoje é o dia! Só vou confirmar agora.

Harry entreabriu os lábios, sem coragem de consumar seus pensamentos, quando Gina tomou a dianteira e respondeu, como se pudesse ler a sua mente.

- A Hermione anda trabalhando demais, especialmente depois que ganhou o cargo da editoria de política – contou a auror, agitado suas madeixas avermelhadas. – Estou aproveitando que ela tem algumas horinhas para sua melhor amiga.

O bruxo nada respondeu, apenas permaneceu ali, profundamente chocado. Gina aproximou-se dele e agachou a sua frente. Quando Harry se deu conta de sua presença, Gina beijou-o ternamente em sua bochecha esquerda e sussurrou:

- Harry, agora que você e Hermione irão conviver juntos por um mês, que tal esquecer os problemas que tiveram no passado? Realmente confio em seu senso, sei que é uma pessoa de coração grande e bondoso. Dê uma chance à sua amizade. Por favor.

Por um momento, Harry não soube se arriscaria aceitar o que Gina falar, mas a ruiva ergueu-se e seus pensamentos se esvaíram, deixando-o naquele estado de indiferença. O choque era grande demais, porém fugir já não era mais a solução de seus problemas. Não mais.

Assim que chegou em seu lar, Harry ouviu Edwiges piar enlouquecida em seu quarto. Largou a mala do trabalho e correu para o andar superior de sua casa. Harry morava num dos bairros mais famosos da Londres bruxa, num terreno mais alto que os outros, parecendo ficar numa colina ou coisa parecida, mesmo que aquela região fosse repleta de gente.

Chegando em seu dormitório, Edwiges pareceu gritar quando seu dono aparecera, indicando com o bico a janela. Rapidamente, Harry apressou-se e abriu a entrada, permitindo que Píchi, a velha coruja de Rony, invadisse seu aposento. Assim que a coruja pousou ao lado da gaiola de Edwiges, Harry aproximou-se e deu-lhe algum resto de ração que era de seu animal. Seguidamente, esgueirou-se até conseguir retirar o pergaminho que envolvia a perna de Píchi.

Sentando na beirada de sua cama, Harry chutou os sapatos de seu pé e desafogou a gravata de sua vestimenta. Já não dormia há mais de 24 horas, então jogou seu corpo sobre a cama e desenrolou o pergaminho. A letra de Rony revelou-se.

Harry,

Como andam as coisas? Não nos falamos há quase duas semanas! Fiquei sabendo hoje que você e o Malfoy conseguiram capturar o Hale, é verdade? Cara, isso é demais! Bem que você tinha me falado que pegaria o velho de qualquer jeito! Lupin deve estar feliz!

As coisas aqui no Cannons vão indo bem. Não sei se chegou a ler, mas sofri uma contusão no meu ombro direito, só que os medi-bruxos já curaram quase completamente. Lilá fica me torrando para que eu me cuide mais. Você sabe como as mulheres são!

Mas o que eu queria dizer é outra coisa. Preciso urgentemente falar com você! Tive uma idéia e preciso da sua ajuda. Sabe como eu sou desajeitado com essas coisas, não é mesmo? Posso te garantir que é boa. Ou ao menos eu espero que seja.

Entre em contato e veja se Píchi está bem. Essa coruja exibida me fez passar um papelão tão grande na semana passada que eu até me recuso a contar, sinceramente.

Rony

"Agora era só o que me faltava!", pensou Harry, imaginando qual seria o plano mirabolante de seu melhor amigo. Coisa boa não poderia ser, certamente. A imagem de Rony reencontrando Hermione ia e vinha em sua mente. Sabia que ambos já tinham se encontrado algumas vezes após o rompimento do namoro, mas nunca imaginou como seria agora o seu próprio reencontro com ela.

"Por mais que eu quisesse, sabia que um dia isso aconteceria. Afinal, estamos falando de Hermione. Ela vai até o fim quando quer alguma coisa, é obstinada, é correta, é invejada, é persistente, uma ótima profissional, ética, carregada de valores e de uma força de vontade inacreditável. Por que não vi isso chegando?".

Caso abrisse seu guarda-roupa, daria de cara com uma foto sua e de seus dois melhores amigos no lago de Hogwarts. Nunca pensou no quanto aquilo o influenciava em seus atos todos os dias. Pensando no quanto seus amigos foram importantes para sua vida até aquele ponto, Harry procurou fechar os olhos e encolher-se como uma criança naquela enorme e vazia cama. Os perfumes ainda estavam lá. Por toda à parte. E agora teria de conviver com aqueles aromas por um mês. Seu sonho havia se tornado um pesadelo, pesadelo que teria de aprender a viver e tentar sobreviver.

N/A: Espero que tenham gostado! No próximo capítulo, dezembro se inicia!!!! Vamos ver o reencontro de Harry e Hermione após um ano e meio! Como eles reagirão?! Beijinhooosss e mandem suas opiniões hein!