OS PERGAMINHOS DE NOSSA EXISTÊNCIA
Autora: Angela Miguel
Contato: angela.miguol.com.br e ametistaluahotmail.com
Categoria: Geral/Romance
Shipper: Harry/Hermione
Spoilers: 1 a 5 livros
Sinopse: Pós-Hogwarts. Hermione é uma jornalista famosa do Profeta Diário e é designada para uma reportagem especial com o Departamento de Espionagem e de Aurores do Ministério da Magia. Porém, pior do que pisar onde prometera não mais pisar é reencontrar alguém que não se esquece. Para voltar a ter sua vida de volta, Hermione só precisará realizar esta matéria. Mas, quando o passado reabre feridas e sentimentos, não há vida que volte a ser a mesma.
Disclaimer: Esta história não tem ligação com J.K.Rowling ou qualquer empresa ligada a série e marca Harry Potter. Não há fins lucrativos.
Resumo do capítulo anterior: Harry é o chefe do Departamento de Espionagem do Ministério da Magia e recebe a terrível notícia de que sua ex-melhor amiga o acompanharia por um mês em seu trabalho. Como sua vida poderia ficar pior do que reencontrar seu passado desesperador e que a todo custo tenta esquecer?
Nota da Autora: De novo, capítulo sem betagem e sem segunda leitura. Estou com tanta pressa de colocar esse capítulo, preciso de um ânimo pessoal! Vamos lá! (hihihihihi!!) Beijinhos pra todos e obrigada pelas reviews e comentários do Potterish e do FF.NET (especialmente à Fernanda, que deixou sua primeira review aki no ff.net). Valeu galera e divirtam-se!
CAPÍTULO TRÊS – SEM VOCÊ E EU, SEM EU E VOCÊ.
Por mais que quisesse desfazer aquele nó em sua garganta, Hermione não conseguia. Toda aquela idéia estava profundamente engasgada ainda. Nicholls e Lupin resolveram ficar amigos e meteram-na nessa enrascada. Por que ela? Certamente as matérias da desprezível Rita Skeeter fariam mais sucesso do que as dela – mesmo que fosse sensacionalismo puro, logicamente.
Aquele era seu último domingo de folga antes que novembro chegasse ao final e seu pesadelo se iniciasse na manhã seguinte. Com uma revista entre os dedos, Hermione tinha o olhar fixo em sua janela da sala, pensando quanto um mês poderia ser longo. Antigamente, acharia que trinta dias não seriam nada. Bons eram aqueles tempos!
A campainha de seu apartamento tocou de repente, e ela pulou instintivamente. Olhando pelo olho mágico, a mulher pôde observar um monte ruivo. Curiosamente, não recordava de ter chamado Gina para um chá.
- Mione! Que saudades! – exclamou a jovem, abrindo os braços e envolvendo a melhor amiga.
Hermione retribui a afeição da Weasley e sorriu, querendo esconder levemente o desânimo. Gina não tinha idéia do motivo pelo qual Harry e ela não se falavam mais, e também não pretendia encher sua cabeça com montes de abobrinhas. Convidando-a para entrar, a ruiva agradeceu e largou o casaco sobre o sofá da amiga, dando um suspiro em retorno. Notou uma bolsa relativamente espaçosa no pé de uma das cadeiras de sua mesa de jantar.
- Preparando-se para amanhã? – indagou, dando um risinho sem jeito.
As sobrancelhas de Hermione ergueram-se e Gina diminuiu o sorriso. Era visível que o último desejo dela era pisar naquele Ministério novamente.
- Oh! Vamos lá Mione! – agitou Gina. – Lupin disse que esse poderia ser o emprego de sua vida.
- Você sabe que não preciso de dinheiro, Gi – respondeu, indicando o sofá para a amiga sentar-se. – Vivo bem com o meu cargo no Profeta, essa história de Ministério da Magia é um exagero, se me permite dizer – Gina escondeu o riso. – Nicholls e Lupin definitivamente perderam suas cabeças quando tiveram essa idéia.
Hermione trouxe um copo de água para a ruiva e ajeitou uma almofada do sofá antes de acomodar-se. Gina encarou o copo cristalino e mordeu o lábio inferior.
- Pois eu acho que foi uma idéia estupenda, se me permite – disse a auror, ainda encarando o líquido. – Acho ótimo ter você trabalhando perto de mim, ao menos não preciso ficar agüentando o Malfoy me torrando o tempo todo...
- Com o Malfoy precisa ter tato, tato para quebrar seu belo nariz – resmungou a jornalista, deixando Gina imaginando a cena que Rony contara uma vez, em que Hermione socara Malfoy. – Ninguém acredita que eles estejam fazendo acordos com o pessoal de Mistérios, não sei como Lupin se deixou abater por isso.
- Lupin não se abateu, na verdade – defendeu Gina, torcendo os lábios. – Ainda desconfio que seja uma vontade pessoal de promover os acontecimentos de Espiões e Aurores para o mundo, já que todos andam criticando tanto a Grã-Bretanha.
A jornalista deu de ombros e apoiou os pés sobre o sofá.
- Promovendo ou não, minha presença pode muito bem ser substituída – reclamou novamente. – Aliás, foi extremamente ridícula a idéia do Malfoy mandar aquelas flores, todos do Profeta ficaram achando que eu tenho um caso com ele ou algo parecido.
Gina riu com gosto e olhou duvidosamente para Hermione.
- Oh, eu fui testemunha dos pedidos de Lupin para que ele não mandasse um vaso tão exagerado para você. Mas a quem o Malfoy realmente dá ouvidos?
A jornalista balbuciou algo bastante descontente e depois soltou um suspiro.
- Você fica aí rindo da minha vida, mas não foi você que teve de agüentar o senhor Williams por mais de três horas no meu pé...
Lentamente, o rosto de Gina ia ficando rosado, avermelhado, e finalmente arroxeado. Hermione tomou as dores da melhor amigo por um breve segundo e então caiu na risada fortemente. A auror do Ministério cruzou os braços, logo depois de deixar o copo de água sobre a mesinha de Hermione, procurando desviar da centena de pergaminhos que ali estavam. As gargalhadas da mulher cresciam conforme Gina tornava-se mais impassível.
- Não tem graça, Hermione! – protestou a jovem enfim, irritada com a reação da melhor amiga.
Tentando articular alguma resposta em meio aos seus soluços, Hermione limpou as lágrimas de seus olhos e fixou Gina em seu campo de visão.
- Oh! Gi! Conte-me! Conte-me! Eu esqueci completamente!
O semblante ainda bastante aborrecido, Gina colocou sua língua para fora e procurou ignorar os olhares da jornalista em sua direção.
- Sabe qual o pior de tudo? – instigou a auror, cerrando os olhos. – É o panaca fingir que estava completamente surpreso de me encontrar casualmente no Madame Cartingans!
Hermione colocou a mão direita em seu peito e arregalou os olhos, deixando que uma face inocente tomasse seu rosto.
- Eu não falei nadinha para ele, se é isso que está insinuando!
"Sim, sim acredito plenamente no que você está dizendo para mim", pensou Gina, e Hermione notou que ela realmente estava pensando nisso ao detalhar o olhar em seu rosto.
- Ok, eu disse – confessou a mulher, ajeitando as pernas. – Mas me conte como foi! Isso é apenas um detalhe, Gi!
Ainda olhando torto para ela, Gina pigarreou e começou o discurso sobre seu acidental encontro com Justin Williams.
- Bem, o que posso dizer, não é mesmo? – brincou, dando um sorrisinho malicioso para a mulher diante dela. – O Williams certamente tem um desvio mental e um belo apetite sexual, mas eu realmente não ando no clima para esse tipo de maníaco – Hermione e ela caíram na risada, sabendo como Justin era ligado em assuntos relacionados a uma cama e dois sobre ela, nus. – Ele é muito simpático e tem uma ótima lábia, concordo, mas só têm quatro meses que eu e o Harry realmente acabamos, não pretendo acelerar nada...
Os olhos de Hermione diminuíram a intensidade por um ligeiro segundo e ela olhou para longe. Sabia que o namoro de Gina e Harry terminara oficialmente há quatro meses, mas eles não tinham um relacionamento "correto" e não moravam mais juntos há pouco mais de um ano.
- Se eu conseguir segurar aquele homem sem envolver aquilo no meio, provavelmente posso até tentar dar uns beijinhos. – riu Gina, piscando levemente para a amiga.
- Ao menos, o Justin vale a pena – Gina encarou-a confusa. – Digo, ele é uma boa pessoa, se é que você me entende o "boa".
A auror sorriu. Hermione adorava fazer piadinhas relacionadas a Justin, talvez porque ele praticamente substituiu Rony e Harry em sua vida.
- Melhor do que ser paquerada pelo Malfoy, por exemplo...
Gina fez um som de enjôo para Hermione e ambos riram novamente. Flertes com Malfoy realmente eram assustadores. Em seguida, o olhar da ruiva se desviou para alguns papéis sobre a mesinha da sala de estar. Os pergaminhos estavam todos espalhados.
- Trabalho?
Hermione não entendeu primeiramente, mas então seu olhar caiu sobre os pergaminhos. Suas bochechas surpreendentemente coraram e ela não pôde evitar.
- Na verdade, é uma coisinha boba que eu venho fazendo há quase dois anos...
- DOIS ANOS?! – gritou Gina, completamente chocada. – Que raio de coisa você anda fazendo há quase dois anos e não tenha me contado?!
Sua face ruborizava cada vez mais e, sem mais nem menos, ela ergueu de seu assento e iniciou uma frenética união de todos os papéis ali localizados.
- Já disse, é só uma bobagem! – respondeu, sua respiração descompassada. – Não ligue...
A auror notou como já estava ficando tarde. Ao perceber que Hermione realmente estava perturbada, resolveu deixar o apartamento e esperar até as sete horas da manhã daquele primeiro de dezembro. Nada poderia faze-la ficar em casa. Não perderia aquele encontro por nada.
Hermione, por sua vez, ficou ainda bastante desconcertada pelos olhares de Gina em suas anotações. Sua bobagem já tinha duzentas de cinqüenta páginas. Nada poderia ser mais divertido que ler aquelas passagens de seu passado glorioso e futuro promissor. Hogwarts e todos a sua volta nunca seriam a mesma depois daquela sua bobagem, certamente.
"Isso não será nada, Hermione, contenha-se!", disse para si mesma, ao paralisar a frente do elevador. O Ministério da Magia trazia boas e terríveis lembranças a ela. A porta do elevador abriu-se e adentrou lentamente, carregando sua mala na mão direita e empinando-se em seu melhor sapato. Havia escolhido sua melhor roupa, um conjunto de blazer e saia reta com uma ligeira fenda, muito elegante. Pressionando os lábios, procurou espalhar o batom mais uma vez neles.
Inúmeros aviões de papéis entraram junto com ela no elevador e ela distraiu-se por um segundo. A coloração arroxeada dos papeizinhos contrastou bem com sua roupa. Então, o barulho da porta de abrindo e uma voz suave anunciando o Nível Dois despertou-a de seus devaneios. Alguns aviõezinhos saíram junto com ela.
Seguindo as orientações de sua cabeça, recordando muito bem o caminho, Hermione paralisou a frente de um letreiro. Aquele era o Quartel-General dos Aurores e Espiões. Suspirando, querendo pegar o máximo de ar que conseguia, Hermione deu um passo à frente.
Nunca imaginou que houvesse tantas pessoas ali. No passado, logicamente, aquela sessão do Ministério era muito mais movimentada, porém ainda chamava atenção. Erguendo o rosto, num tom superior, começou sua caminhada entre as mesas daquele enorme âmbito. Corriam pessoas de todos os lados. Nas paredes, a foto de Charles Hale por todos os lados, circulando o grande mapa ali presente, repleto de luzes vermelhas, era retirada com cuidado.
No fundo da sala havia três salas, as duas primeiras do lado esquerdo e a maior e mais afastada no direito. Seria melhor se dirigisse a sala de Lupin antes de ser apresentada a todos dali. Procurando passar despercebida em meio à curiosa multidão, Hermione ia correndo pela lateral direita do âmbito. Estranhos burburinhos e sussurros chegavam aos seus ouvidos e ela tentava a todo custo fingir que não a incomodava ou mesmo que não era com ela.
- Perdida? – ouviu um pouco mais alto que os outros e então se aborreceu.
Hermione tornou-se para a direção da voz e segurou um soluço de desespero. Os mesmos olhos ameaçadores, o mesmo sorriso nos lábios, a mesma prepotência. Draco Malfoy cruzou os braços e lançou um olhar malicioso e perspicaz para a jovem jornalista.
- Ora, ora! Estava ansioso para esse encontro Granger! Não recebo abraços?
Segurando seu ímpeto de xingar Malfoy ou simplesmente enfiar outro soco em seu nariz, Hermione mordeu o lábio inferior e sorriu cinicamente. Estendendo uma mão para ele, a qual Draco apertou, a mulher engoliu em seco e perguntou onde era localizada a sala de Lupin. Malfoy riu e ofereceu a guiá-la até ela.
Com uma mão discretamente postada em suas costas, Hermione notou como Malfoy continuava o mesmo idiota de sempre. Presunçoso, acima de tudo. E confiante demais. Ou seria...
A sala de Remo John Lupin era ampla e bastante iluminada. O homem estava falando por um transmissor, ou coisa parecida, acoplado à sua mesa, freneticamente. Parecia bastante irritado. "Oh, meu dia começará bem", ironizou a mulher para si.
- Louco lobo Lupin! – gritou Malfoy, chamando a atenção do chefe, assim como Pirraça costumava chamar o homem em Hogwarts.
O bruxo deu um pulo de sua cadeira e encarou Malfoy incrivelmente furioso. Assim que sua boca abriu-se para soltar um belo palavrão, seus olhos focaram Hermione. Imediatamente, sua ira foi substituída por um intenso e largo sorriso. O homem ergueu-se de sua cadeira e dirigiu-se até a mulher, os braços abertos e as bochechas coradas.
Rindo levemente, Hermione aceitou o conforto de seu ex-professor e distanciou-se por um momento. Malfoy gemeu desgostoso. Voltando a abraçar o homem que a tratara com tanto respeito e atenção durante aqueles anos, Hermione ouviu Draco perguntar:
- Devo trazer o Potter aqui para ele participar dessa reunião super sentimental?
Não houve como esconder, já que seu corpo estava completamente envolvido pelo de Lupin. Ele rapidamente congelou, endureceu, e sua pele esfriou de uma maneira que calafrios subiam e desciam pela sua espinha. "Não, não!", Hermione fechou os olhos, procurando disfarçar o nervosismo. "Chame-o daqui a pouco, agora não, por favor!".
Estranhamente, Lupin pareceu ter notado isso.
- Daqui a pouco, Malfoy. – respondeu, indicando a porta para o espião.
Assim que Draco deixou o âmbito e fechou a porta, Hermione soltou-se de Lupin e o homem sorriu mais ainda para ela. Estava escrito em seu rosto o tamanho da gratidão que sentia pela mulher ter aceitado aquela sua proposta. "Não que eu tivesse muita escolha", pensou sarcasticamente, recordando a pressão de Nicholls.
Apontando para a cadeira, Lupin esperou que Hermione sentasse e depois fez o mesmo.
- Você não imagina como é bom revê-la, Hermione. – disse Remo sorrindo.
Hermione sorriu e por um momento, ambos conversando sobre suas vidas e sobre como Hermione estava lidando com o novo cargo e tudo mais. Ligeiramente o assunto do relacionamento de Lupin com Tonks veio à tona, mas logo ambos deixaram as histórias amorosas de lado.
- Mas então, Lupin – disse Hermione, pigarreando seguidamente. – Por que eu? Temos tantos outros jornalistas no Profeta que dariam a vida para exercer essa minha função!
Lupin cruzou as pernas e riu com os lábios cerrados.
- Sabe, Hermione, você não mudou nada em relação àquela menininha do terceiro ano que descobriu há muito tempo que eu era um lobisomem – disse Lupin, escondendo um elogio ali. – Não me venha com essa, você sabe que é a melhor jornalista de toda a Inglaterra e eu preciso do que temos de melhor.
As bochechas coraram, assim que acompanhavam o contorno do sorriso tímido de Hermione.
- É só que... – ela murmurou, e depois aumentou a voz, notando Lupin inclinando-se em sua direção. – Todos sabem que a minha relação com Malfoy nunca fora das melhores, especialmente depois das tentativas dele em tentar me subornar – Remo ergueu uma sobrancelha, tentando não demonstrar a agonia que Malfoy trazia de vez em quando. – E, bem, o que posso dizer da minha com...
- Hermione, talvez isso seja um ótimo motivo para você e Harry voltarem a...
Antes que a boca de Hermione pudesse articular uma resposta, o som da porta sendo aberta soou e ela abaixou a cabeça, fechando os olhos levemente. Lupin encarou a entrada e um total silêncio tomou conta do lugar. Por um instante, ela ainda tentou desviar a curiosidade e permanecer séria. Todavia, o anseio de ver seu grande amigo foi maior.
Erguendo os olhos, Hermione pôde assistir como em câmera lenta aquela visão. Os pés. As pernas. O quadril. O tronco. O pescoço. A cabeça. O cabelo. Os olhos. A cicatriz.
Assim que seus olhos castanhos encontraram os verdes dele, Hermione segurou fortemente os dedos no braço da cadeira onde estava sentada. Mordendo o lábio inferior, tentando esconder a emoção, Hermione encarou Harry Potter pela primeira vez após um ano e meio. Sua respiração paralisou em seus pulmões.
Suas mãos tremiam e ele somente notou quando as colocou na maçaneta da porta de Lupin. Malfoy estava logo atrás, espreitando para observar aquele momento em puro êxtase. Harry respirou fundo e sua respiração paralisou em seus pulmões. Nem imaginava que tinha parado exatamente como a de Hermione paralisaria alguns instantes depois.
Ao tempo que tomou consciência da sua presença naquela sala, Harry correu os olhos à procura de Hermione. A mulher estava sentada à frente de Remo, belíssima. Sem conseguir controlar, seus olhos percorreram suas formas adultas. Pés, pernas cruzadas, tronco sem demonstrar movimento de respiração, cabelos ondulados, mas ainda formosos, os olhos chocolates.
Hermione Granger conseguiu com incrível êxito trancar seu olhar com o dele. Ambos ficaram impassíveis, imóveis, incapazes de falar qualquer coisa. Ela mordeu o lábio inferior e finalmente encarou-o com totalidade. Ensaiou por três longos dias como reagiria assim que a encontrasse, mas nada veio a sua cabeça naqueles segundos preciosos em que o contato era tão íntimo, mesmo que fosse apenas uma simples troca de olhares. O verde encontrando o castanho, o chocolate, dela.
Então, o som da risada de Draco encheu a sala. Lupin olhou profundamente nervoso para Malfoy uma segunda vez e, ainda assim, não provocou a paralisação do chefe do Departamento de Espionagem. Harry e Hermione quebraram o contato visual e ambos olharam para longe, especialmente Draco. O homem continuava em sua gargalhada triunfal, descontrolado. Lupin ergueu-se de sua cadeira e enfiou um tapa na cabeça do bruxo.
- Cale a boca, seu doente! – ralhou o chefe raivoso.
Tossindo loucamente de súbito, Malfoy ainda conseguiu manejar uma resposta.
- Oh, falem sério, por favor... Is-isso fo-foi ridíc-ridículo! – gaguejou, tentando acalmar seu peito.
Aquilo fora o bastante. Lupin soltou o ar num acesso de ira e pegou Malfoy pelo colarinho de sua camisa negra, jogando-o para fora de sua sala e fechando a porta as suas costas.
Remo voltou batendo uma mão contra a outra, o semblante extremamente aborrecido. "Preciso me lembrar de depois agradecer o Lupin por isso!", pensou Harry, ainda disfarçando o olhar.
- Uff! Pronto – murmurou Lupin, colocando as mãos na cintura. – Então, acho que não preciso apresentá-los, certo? – sua piada não surtiu efeito, porque tanto Hermione quanto Harry permaneciam quietos. – Ok! Quando aquele ensebado acalmar-se, reunirei os três para passar as instruções e dizer como isso vai funcionar.
Sem esperar mais um segundo, Lupin deixou a sala para trás. Hermione engoliu, tremendo da cabeça aos pés. Harry suspirou baixinho, tomado por um sentimento de temor. Ambos continuaram em silêncio, e quando tentaram dizer algo, foi uníssono:
- Eu queria...!
Os dois riram levemente e desviaram mais uma vez o olhar. Hermione pigarreou e franziu a testa rapidamente. Encarando Harry com coragem, notou como ele havia mudado em um ano e meio. As fotos dos jornais não faziam jus a seu visível desgaste. Talvez fosse apenas a missão Charles Hale, mas ainda assim era profundamente perceptível a ela, que o conhecia tão bem.
Infelizmente, o que ia indo muito bem, começou a enfraquecer. A imagem da última conversa que tiveram, numa manhã ensolarada, foi tomando conta da mente da mulher. Como a amizade de tantos anos havia chegado ao ponto final. Um longo caminho destruído em algumas palavras e em uma séria ação. O som da taça quebrando no piso do apartamento de Harry, seus pés tropeçando nos dele em desespero, as lágrimas de sofrimento caindo de seus olhos.
O mesmo passava pela mente de Harry. Como poderia pensar que tudo mudaria? As palavras ainda continuavam ali, as expressões de raiva e de ódio permaneciam gritando no fundo de suas lembranças, o calor da discussão e a incoerência de suas ações. Nunca poderia sonhar em esquecer o final daquela amizade. O conforto que tentara passar a ela, as palavras confusas se misturando às lágrimas, o despertar da realidade.
A face de ambos endureceu. O leve sorriso que havia em seus lábios desapareceram. O olhar faminto de saudosismo esvaiu-se. Hermione levantou o queixo, Harry cerrou os olhos.
- Não acredito que tenha aceitado a idéia maluca de Lupin! – protestou Hermione repentinamente, sua voz saindo mais alta do que esperava.
- Eu não aceitei! Você realmente achou que eu ia poder concordar com uma insanidade dessa?! – retrucou nervosamente, notando a estupidez com que Hermione se dirigira a ele após um ano e meio.
A bruxa cruzou os braços e ergueu-se da cadeira, o corpo demonstrando estranheza diante dele.
- O negócio é o seguinte, Potter – o sobrenome de Harry soou como um balde d'água nele. – Não irei tratá-lo bem só porque é o Chefe dos Aurores, e muito menos lamberei seu pé nos meus relatórios ao meu chefe, entendeu? Pode esquecer, porque não faço promoção sua e nunca farei de depender de mim!
- Nunca quis sua promoção, Granger – no mesmo tom que Hermione dissera, Harry jogou a frieza de volta. – Aliás, se dependesse de mim, nunca mais pisaria no mesmo lugar que eu ou conviveria com as pessoas que estão à minha volta. Eles não te conhecem como eu te conheço.
- Honestamente! Quem eles não conhecem é o senhor! – exaltou-se Hermione, ficando realmente furiosa. – O grande Harry Potter não passa de um aproveitador e um mentiroso! Isso certamente eles não têm conhecimento!
- E o que você diria de si mesma, Granger?! A santa do pau oco?! A Miss Perfeitinha que nunca tirou uma nota vermelha em Hogwarts e nunca desafiou o chefe no Profeta?! – gritou Harry em resposta. – Não! Eles não sabem como essa mulher poder ser manipuladora e falsa!
- EU NUNCA DEVERIA TER ACEITADO ESSE EMPREGO!
- E EU NUNCA DEVERIA TER ACEITADO VOCÊ AQUI!
Repentinamente, ambos calaram-se. Era bastante provável que as pessoas estivessem encostadas na porta da sala de Lupin, tentando ouvir o máximo que podiam. Porém, no tom em que suas vozes se propagavam, todos deveriam ter entendido a discussão por completo.
Hermione suspirou e colocou as mãos sobre o rosto, escondendo as ligeiras lágrimas de desespero que se formavam em seus olhos. Harry tentava segurar a fúria de jogar um feitiço naquela que fora sua melhor amiga, apenas para fazê-la calar a boca.
Após alguns minutos em total silêncio, Hermione retirou as mãos do rosto e cruzou o olhar com o do auror. Se os tempos fossem outros? Ela que tivera a oportunidade de aprender pelos erros alheios, resolveu errar por conta própria. E pior, errar com o melhor amigo.
- Acho que teremos de nos entender por um mês. – disse Harry, completamente certo de suas palavras, após tanto tempo calados.
Hermione assentiu com a cabeça.
- Concordo – respondeu, a voz soando fria e indiferente. – Apenas trinta dias e nunca mais precisaremos nos encontrar novamente. O que acha?
Harry engoliu em seco diante da proposta seca e rápida de Hermione. Ela definitivamente continuava esperta e inteligente, mas aquele antigo brilho em seus olhos sumira seguramente.
- Trinta dias passarão velozes se nos empenharmos a não manter contato – completou num tom mal humorado. – Não vejo a hora para que isto acabe.
- Sem dramas...
- Sem sofrimentos...
- Sem trio maravilha...
- Sem Hogwarts...
- Sem amizade...
- Sem amor...
- Sem Harry e Hermione...
- Sem Potter e Granger...
- Sem melhores amigos...
- Sem passado...
- Sem arrependimentos...
- Sem memórias...
- Sem você e eu...
- Sem eu e você...
O silêncio voltou a pairar sobre o âmbito. Harry e Hermione não demonstravam nenhum tipo de mágoa ou ressentimento em seu acordo. Dali para frente, seriam trinta longos dias sem o quê lamentar. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Hermione faria a matéria de sua vida. E Harry assistiria o momento mais feliz da vida dela. Ou seria mais triste?
Hermione, então, caminhou delicadamente até Harry e estendeu a mão direita. O auror encarou a jornalista com frieza e estendeu igualmente, unindo sua mão à dela. Um arrepio atingiu ambos e eles apertaram as mãos com maior força. Estava selado. Um mês de indiferença, muito trabalho e sem Harry e Hermione. Sem eu e você. Sem você e eu.
N/A: E então? Deixem os comentários hein! Quero um ânimoooo!!! Essa semana tá sendo o inferno... ai ai... socorrooooooo!!!!!!!!!! ;)
