OS PERGAMINHOS DE NOSSA EXISTÊNCIA

Autora: Angela Miguel

Contato: angela.miguol.com.br e ametistaluahotmail.com

Shipper: Harry/Hermione

Spoilers: 1 a 5 livros

Sinopse: Pós-Hogwarts. Hermione é uma jornalista famosa do Profeta Diário e é designada para uma reportagem especial com o Departamento de Espionagem e de Aurores do Ministério da Magia. Porém, pior do que pisar onde prometera não mais pisar é reencontrar alguém que não se esquece. Para voltar a ter sua vida de volta, Hermione só precisará realizar esta matéria. Mas, quando o passado reabre feridas e sentimentos, não há vida que volte a ser a mesma.

Disclaimer: Esta história não tem ligação com J.K.Rowling ou qualquer empresa ligada a série e marca Harry Potter. Não há fins lucrativos.

Resumo do capítulo anterior: O famoso goleiro da seleção de quadribol da Inglaterra dá o ar de sua graça e inicia causando constrangimento em Harry Potter. Ronald Weasley continua o mesmo, somente com um novo tempero: sua enorme paixão pelo sexo oposto.


CAPÍTULO CINCO – UM MAL QUE NUNCA DORME

Largado sobre sua cadeira, a pena entre os lábios, numa postura despojada, Draco divagava. Caso aquele interrogatório não saísse como esperava, seu posto como o chefe do Departamento de Espiões estaria em risco. Lupin não o descartaria, certamente, mas depois das últimas duas missões em que ele e sua equipe não agiram como o esperado, preferia não arriscar meter-se com ele.

Do lado de fora, o céu parecia desabar. Não eram nem nove horas da manhã e já parecia final de tarde. Malfoy bufou e imaginou o quê Hermione poderia estar fazendo. Ela deveria comparecer à sua sala meia hora antes do início do interrogatório, já que Potter fazia questão de não ajudá-la ou orientá-la com as normas seguidas pelo Ministério. Jogando suas pernas sobre a mesa, imaginou o que poderia ter provocado o rompimento da amizade entre os dois. Sempre tão próximos em Hogwarts, a sangue-ruim, o pobretão e o cicatriz. Patéticos na sua visão...

- Desculpe pelo atraso! – irrompeu uma Hermione em sua sala, a voz entrecortada e em condições quase lastimáveis.

Tirando seus olhos da janela, Draco deu uma boa olhada na companheira de trabalho. Hermione estava ensopada. Suas roupas coladas em seu corpo – "Isso é bastante interessante", pensou malicioso – e os antigos cachos, úmidos e escuros pela água. A chuva parecia estar transformando-se numa tempestade.

- E-eu... – ofegou, deixando a maleta e a capa de chuva sobre uma das cadeiras de Draco. – Tive que atender uma emergência do Profeta agora de manhã, inadiável...

Malfoy murmurou que não precisava de escândalo e Hermione conjurou um feitiço para secar-se. Endireitando-se em sua cadeira, o homem esperou que a jornalista ajeitasse todos seus papéis, e acomodar-se no assento. Olhando torto, colocou a pena sobre a mesa e disse:

- Ok, Granger – e pigarreou em seguida. – Tudo funcionará muito fácil. Você fica sentada no cantinho da sala, eu e o Potter fazemos as perguntas, você anota tudo o que precisa e fica de boca fechadinha, entendido?

- Mas e se eu quiser perguntar alguma coisa? – questionou, quase cortando o espião. – Por que o Hale é a fonte de informações desse terror que ainda nos assombra. Seria muito importante se eu pudesse também expor o meu ponto de vis...

Draco pigarreou tão forte que causou a paralisia da fala de Hermione. Com a testa franzida em indiferença, disse:

- Ninguém quer saber a opinião de uma sangue-ruim como você, muito menos Hale.

Sentindo a pele esquentar involuntariamente, a bruxa engoliu longamente e cerrou os olhos.

- Uma sangue-ruim que, aliás, já lutou ao seu lado e hoje é a melhor jornalista que se tem notícia de toda a Inglaterra.

- E, se me permite completar, bastante presunçosa também, não acha? – interrompeu Draco, erguendo suas sobrancelhas.

Hermione ameaçou responder algo, dando prosseguimento a sua discussão com aquele ser desprezível, quando seus olhos caíram sobre a foto que tinha na mesa do bruxo. Um porta-retrato esverdeado que carregava o rosto ameaçador e falso de Lúcio Malfoy e o mal humorado e azedo de Narcisa Malfoy. Engolindo em seco, Hermione tornou-se para o homem, que ainda a encarava sério e levemente desaforado, ainda esperando uma resposta sobre sua ordem.

- Você ainda fala com a sua mãe, Malfoy? – indagou seca.

O semblante do rapaz mudou completamente. De sério foi para àquela expressão maldosa e carregada de ódio dos tempos de Hogwarts e Sonserina. Hermione arqueou seu corpo para trás e apoiou as costas na cadeira. Draco cerrou os olhos e falou pausadamente.

- Você-não-tem-nada-a-ver-com-isso-Granger! Fique-fora-sua-sangue-ruim...

- Não precisa ser grosso – retrucou Hermione antes que ele terminasse. – Eu simplesmente fiz uma pergunta, se não quisesse não respondesse seu idiota!

- Talvez se você metesse seu nariz de trouxa longe das coisas dos outros eu não responderia assim – respondeu Malfoy, a voz tão seca e ríspida quanto a de Snape. – E não me chame de idiota sua maluca de cabelo lanzudo!

- Você era melhor em ofensas quando menor, Draco...

- Nossa! Muito gostoso saber que vocês dois já estão se dando tão bem!

Malfoy retirou os olhos de Hermione e ela, por sua vez, virou-se para a porta. Remo Lupin estava lá, os braços cruzados e a face contorcida numa expressão de profunda diversão. Draco ajeitou-se no assento, assim como Hermione, ambos constrangidos por Lupin ter presenciado aquilo. O chefe pediu que os acompanhassem para o início do interrogatório.

Hermione não imaginou que Draco ainda estivesse tão sensível sobre os assuntos que envolviam sua família. Quer dizer, seu pai havia ficado três longos anos em Azkaban para fugir em grande estilo, no ano da Grande Guerra. Voldemort havia, há mais de oito anos, invadido a maior prisão dos bruxos e retirado todos os seus seguidores, uma segunda vez. E desde então, nunca ouvira mais falar dele. Ou pelo menos era isso que eles achava. A mulher o encontrara no Ministério da Magia, uma penúltima vez, e Draco mais adiante.

Após uma investigação de seis meses com a ajuda de Harry – naqueles tempos, eles ainda eram melhores amigos – Hermione descobrira que cerca de cinco meses depois que Lúcio escapara de Azkaban e após seu encontro no Ministério – um mês antes de suas descobertas –, ele atacara Narcisa e Draco em sua Mansão. Por sorte, o filho já era um ótimo espião e não tivera muito problema em lidar com o velho Comensal da Morte. Entretanto, sua mãe não se dera tão bem. Narcisa Malfoy estava em St. Mungus há quase nove anos, deitada numa cama, delirando sem fim. Não que Hermione tivesse pena ou qualquer coisa parecida. Narcisa era também uma seguidora de Voldemort. Não uma Comensal como seu marido, mas era sua partidária. Contudo, ninguém merecia ter um fim como aquele.

Desde então, Draco sempre fora muito reservado quanto a isso. Hermione nunca tivera uma atração especial por este assunto ou mesmo pelo próprio Malfoy que desse alguma chance de que o bruxo pudesse contar algo a ela. Não eram amigos, nunca foram e nunca seriam, com toda a certeza. No entanto, era visível que aquele desespero e sombra de dúvida costumavam pairar sobre o jovem desde aquela fatídica noite. Sua mãe numa cama de hospital, considerada maluca. Seu destino nas mãos de um lobisomem que controlava uma das mais importantes áreas do Ministério da Magia. Seu pai desaparecido há mais de oito anos. Olhar pelo ombro, desconfiar do próximo e tratar mal àqueles que tocavam neste assunto não parecia paranóia do sonserino.


Nunca imaginou que poderia voltar àqueles porões mais uma vez. Quando era simplesmente Hermione, a companheira fiel e melhor amiga de Harry Potter e Ronald Weasley, sempre esteve presente, ou na maioria das vezes, trabalhando naqueles porões. Tudo para ajudar na investigação sobre a Grande Guerra. Agora que era a renomada Srta. Hermione Granger, editora do Profeta Diário e melhor jornalista do maior jornal bruxo, ainda assim procurava desviar-se dali. Todo o clima daqueles corredores escuros, de salas vazias e muita sujeira costumava deixá-la zonza, para não falar enojada e com péssimas lembranças.

Lupin caminhava ao seu lado e, por mais que não quisesse olhar, sua visão captava o nervosismo vindo dela. Hermione repetidamente franzia a testa, apertava os olhos, respirava com profundidade, engolia tão fortemente que era possível ouvir. Encarando-a discreto, Lupin procurou encontrar em suas memórias o porquê daquela que um dia fora sua melhor aluna, aparentar uma frieza e insegurança tão grande ao adentrar ali. Era óbvio que Hermione não gostasse de recordar a longa semana que ficara presa naqueles porões, mas ainda assim, era estranho. Mesmo após sua libertação, nunca falara nada ou comentara com alguém sobre suas sensações.

- Está se sentindo bem Hermione?

A pergunta do chefe do departamento unido não despertou Hermione de suas divagações. Sua mente estava em outro lugar, completamente fora daquele tempo, daquele espaço, daquela sua nova realidade. Ela caminhava e o trio a cercava...

- Quer fazer o favor de me soltar?! Não estão vendo o engano que estão cometendo?! Isso é um absurdo!

Não houve resposta de nenhum dos três. Isso só poderia ser alguma brincadeira, alguma piada! Eu nunca poderia ter dito nada a ninguém. Mas não, desde que todos eles se envolveram com Voldemort e os outros Comensais, será a Inquisição.

- Eu já pedi para vocês me soltarem!

Antes que eu pudesse notar, um dos deles me golpeou com alguma coisa em minha nuca. Minha visão ficou imediatamente turva, meus olhos queriam fechar e entrei numa escuridão completa. Antes que desmaiasse, apenas fui capaz de ouvir uma risada.

Quando acordei, meu corpo gritou por socorro. Meu braço esquerdo estava terrivelmente dolorido e minha nuca parecia ter sido aberta. Levei minha mão direita a ela e encontrei uma pequena quantidade de sangue. Abrindo os olhos com dificuldade, pude notar que estava caída sobre um chão áspero, de cimento, a roupa levemente rasgada e bastante suja. Não sabia que horas eram ou aonde poderia estar. Minha respiração acelerou assim que ouvi alguém falando comigo.

- Já teve o sono de beleza, Srta. Granger?

Não fui capaz de responder. Ergui minha cabeça o pouco que consegui e notei o semblante contorcido de Cornélio Fudge. Não esperava em absoluto a presença do Ministro da Magia ali. Tentando me levantar, mas em vão, vi que havia homens ao seu lado. Um deles era Lúcio Malfoy. Os outros eu não consegui distinguir naquela parcial escuridão.

- Devemos chamar os seus amigos para fazê-la falar ou você abrirá a boca?

- Não sei do que está falando... – murmurei com dificuldade em resposta.

- Então vejo que temos um impasse aqui, Srta. Granger – continuou o Ministro. Eu não pude deixar de notar como sua voz estava tensa e seca. – Se a senhorita não abrir logo sua boca e contar-nos onde Potter está, aconselho-a a saborear seus últimos momentos indolores que passará na vida.

Como se eu já não estivesse com dor o suficiente. Mas sobre o paradeiro de Harry? Apenas sabia que ele estava escondido junto de Dumbledore, mas nada além disto. O rosto de Fudge permanecia impaciente. Meus olhos prolongaram-se até a altura de seu quadril e notei que algo estava sendo apontado para a região de sua lombar. Uma varinha daqueles que acompanhavam-no e Malfoy.

- Já disse que isso é um engano, eu não sei nada sobre o Harry.

Repentinamente, uma áurea começou a me circundar. Todo o meu corpo estava coberto por uma camada leve de uma névoa branca. Meus ferimentos pareciam muito mais doloridos. O barulho das portas da cela em que fora colocada despertaram-me do meu transe. Alguém estava entrando e parando muito perto de mim. Eu estava enfraquecida demais. Minha nuca continuava sangrando.

Quando percebi, alguém tomou parte do meu cabelo entre os dedos e puxou com força, praticamente arrancando-o de meu crânio. Minha cabeça foi erguida e eu gritei muito alto, minha nuca realmente doendo agora. Tentei apoiar-me com as pernas bambas e somente fui capaz de ouvir uma voz em meu ouvido, um sussurro desdenhoso.

- É melhor que abra o bico senhorita, ou se não verá seus amados amigos sendo mortos um por um, e eu farei questão de iniciar com o seu namoradinho estúpido. Não duvide Srta. Granger, poderei matá-lo diante de seus olhos com apenas um único soprar dos meus lábios. Diga-me onde está Potter!

Rony? O que ele faria com Rony? Já tinha certeza que aquele em meu ouvido era Malfoy, não mais o Ministro. Quando Harry decidira refugiar-se para treinamento com Dumbledore, Hermione e Rony ficaram impedidos de saber o esconderijo. Para Harry, era melhor, assim não ocorreria o problema de serem torturados ou coisa parecida por Comensais ou pelo próprio Voldemort. Já tinham-no tirado Sirius, não tirariam seus melhores amigos igualmente.

Entretanto, naquela altura, a palavra tortura parecia perfeita para preencher uma lacuna sobre o quê poderia estar acontecendo. Eu não sabia mesmo onde estava Harry ou Dumbledore, como poderia responder isso a Malfoy? E mesmo que soubesse, nunca falaria! Nunca!

Lúcio soltou meu cabelo e jogou-me no chão novamente, e acabei batendo meu nariz contra o piso. Ele raspou e senti que, ao menos, não parecia quebrado. Caminhando pela cela, dando voltas e mais voltas ao redor de mim, caída naquele chão de cimento, Malfoy parecia resmungar. Não demorou muito para que ele estivesse, pelo que pude notar, aumentando a quantidade daquela névoa que me cercava. Minha respiração estava ruidosa e meu braço e nuca ardiam.

Ouvi então que os homens iniciaram uma reação. Fudge permaneceu paralisado ali, uma varinha apontada às suas costas, enquanto todos os outros presentes – todos vestidos em perfeito negro – começaram a bater seus pés, como se marchassem, contra o chão. O som de seus passos contra aquele piso provocava arrepios em minha espinha e eu apenas esperava para que Lúcio falasse alguma coisa. O homem havia escapado de Azkaban há quase cinco meses, como poderia estar ali, ameaçando o Ministro da Magia e me seqüestrando?

E então eu apenas pude fechar meus olhos quando o ouvi conjurar o feitiço de que tinha mais medo em toda vida.

- Não vai nos contar seu segredinho e de Potter, Granger? – apertei-os fortemente, esperando a palavra sair de seus lábios. – Não vá dizer que não avisei. Crucio!

Nunca sentiria nada como aquilo pelo resto de minha existência. Não seria capaz, também, de descrever o tamanho da dor e da sensação que a Maldição Imperdoável da Dor provocara em minhas entranhas. É algo além de palpável, do imaginável, do possível. Aquela simples sessão de dor, que durou cerca de vinte segundos, mas muito mais para mim, marcou-me pelo resto de minha vida. Por isso prometi a mim mesma que nunca mais voltaria a pisar naquele Ministério, e muito menos dirigir-me ou aproximar-me desses porões.

Uma semana eu esperei. Passei fome. Passei frio. Fui torturada dezenas de vezes ao dia. Conheci requintes de crueldade jamais vistos antes. Malfoy aparecera no primeiro e em meu último dia de estadia ali. Era quase de madrugada no sétimo dia que Rony invadiu o Ministério, junto com a Ordem da Fênix. Tenho as marcas em meu corpo até hoje. Nem todas puderam ser retiradas. Algumas eu até agradeço por terem ficado, somente como um lembrete. Nunca mais se misture com esse tipo de coisa, esse tipo de gente, eu costumo dizer a mim. E foi isso que tentei fazer. Mesmo que ainda os provocasse com minhas matérias, com minhas deduções brilhantes e meus textos inflamados, ainda assim, continuo à distância. Agora, estava voltando atrás. Revendo tudo novamente.

- Hermione? Hermione?

Despertando de seus pensamentos, Hermione soltara um grito baixo de susto. Lupin pediu silêncio e Hermione vira Draco adentrar na sala. Quando dera um passo à frente, o chefe a paralisou e a encostou à parede gentilmente.

- Você tem certeza de que quer fazer isto? – perguntou Lupin, os olhos grandes e doces. – Por que tudo isso é apenas um trabalho, você não é obrigada. Eu apenas achei que seria bom.

Sacudindo levemente a cabeça, contrariando Lupin, Hermione respondeu:

- Estou ótima, Lupin, realmente – sua voz vacilou a princípio, mas depois de pigarrear voltou ao normal. – Somente precisava de um tempo para me acostumar novamente com esta atmosfera.

O chefe acenou positivamente com a cabeça e adentrou. Hermione o seguiu de perto e seu olhar recaiu sobre a sala. Uma cela ao fundo. Harry e Draco postados silenciosamente, cada um na lateral do âmbito, mexendo em alguns papéis, no caso de Draco, e encarando o prisioneiro, no de Harry.

A expressão do homem era perturbadora. A bruxa segurou uma leve surpresa em seu semblante, tentando gravar cada momento daquele ocorrido histórico. Com roupas belíssimas, impecáveis, negras, Charles Hales continuava o mesmo. Apenas com uma diferença. Um dente de ouro em um de seus caninos superiores e um sorriso perverso nos lábios.


Unindo as mãos em suas costas, Hale fitou Hermione da cabeça aos pés, lentamente, como se saboreasse aquele momento único. O dente de ouro reluzia naquela sala horripilante, igual àquela em que a jornalista passara sete dias de terror.

- Então... – uma voz rouca e profunda saiu da garganta do homem. – Temos companhia...

Malfoy soltou o ar pelo nariz, Lupin encarou Hale seriamente e Harry olhou de esguelha para Hermione. Era impressionante como a mulher tinha o total controle de seu corpo, mesmo naquela situação. As imagens de como Hermione ficara após estivera sob o domínio dos Comensais naquele mesmo porão do Ministério não saíam de sua cabeça. De uma certa forma, admirava-a por ser tão corajosa de voltar. Mas ainda assim, a culpa que o devorava por dentro conseguia superar aquele sentimento de admiração. O olhar que Hale lançou sobre ela não o deixou contente.

- Charles Hale! Finalmente poderemos conversar, que delicioso. – murmurou Lupin, um sorriso perspicaz pintando seu rosto.

Soltando a risada pelo nariz, Hale observou quando Lupin apontou a varinha para ele e conjurou algemas mágicas – que no caso, era uma onda elétrica – que circulavam todo seu corpo. Riu em deboche, ignorando o olhar obstinado do homem. Puxando uma cadeira, o chefe da sessão acomodou-se e iniciou as perguntas.

- Nome completo?

Hale rolou os olhos, o sorriso habilidoso ainda nos lábios.

- Charles Jack Hale.

- Idade e lugar de nascença...? – prosseguiu Lupin, os olhos numa série de papéis.

- Quarenta e sete anos, e venho do ventre da maldita da minha mãe...

Os olhos de Lupin ergueram-se dos pergaminhos e pousaram em Hale. Instantaneamente, a corrente elétrica que circundava o Comensal excitou-se, aumentando sua pressão e força. Hermione puxou uma cadeira para si, pegando alguns papéis e pena de dentro de sua bolsa. Harry e Draco continuaram em pé, observando.

- Lugar de nascença e data de nascimento? – repetiu Remo. – E é bom que responda descentemente desta vez, Hale.

- Londres, Inglaterra – respondeu Charles, bufando. – Vinte e oito de outubro, satisfeito?

Assim que Lupin prosseguiria com o interrogatório, uma voz desconhecida veio para interromper suas intenções.

- O senhor viveu por cinco anos como empregado do Caldeirão Furado, não é mesmo? Escondido?

Harry ficou extremamente nervoso ao ouvir a voz de Hermione ecoando na cela daquele porão. Somente concordara com sua presença se não se intrometesse no interrogatório. Mas não! Isso tinha que acontecer! Era impressionante como não conseguia ficar com os lábios cerrados por mais de alguns minutos.

O bruxo preso na cela olhou por cima do ombro de Remo e assistiu a mulher sentada ali, não parecendo mais a estranha e assustada de antes. Hermione tinha uma postura arrojada, confiante, como nos velhos tempos de aventura com Harry e Rony.

- Vivi sim, e garanto que ninguém nunca desconfiou, senhorita...?

Harry ainda tentou, em vão, interromper a próxima fala de Hermione, mas a bruxa passou em sua frente.

- Granger – respondeu, um sorriso alcançando seus olhos, sem mover os lábios. – Mas provavelmente alguém deve ter desconfiado, se não o senhor estaria lá até hoje, não concorda?

- Há uma grande chance dessa sua visão acontecer, senhorita Granger – era quase curioso como o homem parecia simpático a Hermione. – Mas ainda assim, apenas uma suposição.

A jornalista abriu a boca, mas Harry, desta vez, conseguiu interrompê-la. Aumentando o volume da voz, o auror conseguiu fazer com que a pergunta de Hermione morresse em sua garganta. A mulher cruzou as pernas novamente, fechando os lábios, contrariada.

- Gostaria da sua cooperação, Hale, afinal sua posição não é uma das melhores – comentou Harry, olhando ainda de canto de olho, irritado com a interrupção de Hermione. – Diga-nos onde está Lúcio Malfoy e todo seu grupinho de Comensais derrotados.

Charles riu com a garganta, estranhamente.

- Você realmente acha que será tão fácil, Potter? Sou muito melhor que todos vocês juntos em persuasão. Meu esquadrão, um dia, junto com o de Voldemort, chegou a um terço a mais do que o seu. Creio que não estão colocando a devida fé em minha capacidade.

- Somente se for a capacidade de matar outros seres humanos, essa eu tenho certeza de que ganhará nota dez. – ironizou Draco, um sorriso idiota no rosto, esperando inflar o ego de Hale.

O prisioneiro sorriu levemente, o brilho do dente dourado ainda aparecendo.

- Seu pai ficaria muito, muito decepcionado de ver o quê tornou-se, Draco – Malfoy não gostara de ser chamado pelo primeiro nome. – Um espião de Dumbledore. É realmente patético. Mas acho que não podemos decidir o destino de todos.

- Não que você tenha alguma coisa a ver com isso... – respondeu Draco, ficando visivelmente amolado.

Antes que aquilo pudesse virar uma discussão – o que definitivamente não era a idéia de Lupin – o chefe procurou desviar a conversa.

- Então nos diga como conseguiu unir alguns dos maiores partidários de Dumbledore? Como os fez passar de lado?

- Um dia talvez eu lhe conte o meu domínio de manipulação, como já disse... – despistou o bruxo.

- Ou então sobre como conseguiu passar tão longe de todas as investigações nossas. Descobrimos que você estivera no Caldeirão Furado, disfarçado por cinco anos, e logo após pediu demissão do emprego...

- Sabe, Lupin, até que para um chefe de um dos departamentos mais famosos e importantes do Ministério, você está me saindo um pouco imbecil, não acha? – instigou Hale, um sorriso crescendo em sua face.

Antes que Remo pudesse retrucar para o acusado, Hermione agiu novamente:

- E que tal nos contar como ficou por nove meses disfarçado, com acesso a todos os arquivos do Ministério e todos os passos dos aurores e espiões, em que estágio estava suas investigações sobre você e seus amigos Comensais?

Desta vez, os três homens do Ministério da Magia tornaram suas cabeças para Hermione, confusos e admirados por aquilo que havia acabado de perguntar. Nunca haviam percebido qualquer indício de um espião ou intruso em seus departamentos, quanto mais um disfarçado, que no caso, seria Charles Hale.

O Comensal da Morte, por um breve momento, arregalou seus olhos, surpreso com aquela pergunta da mulher. Porém, quando pensou em responder com algo evasivo, preferiu cutucar os três presentes.

- Sabem, acho realmente que há algo muito errado aqui – disse Hale, fazendo com que os três voltassem sua atenção para ele. – Acho que quem está fazendo os interrogatórios é a pessoa errada.

Enquanto seu olhar intensificava sobre Hermione, que não mostrava qualquer sinal de fragilidade ou outro sentimento, Hale notou como aquilo pareceu afetar Harry Potter. O auror ficou levemente trêmulo, e as bochechas vermelhas. Havia algo de muito estranho ali.

- Hale, vamos deixar esse monte de piadinhas para trás, ok? – cortou Malfoy, quase afobado, em seu jeito frio. - Conte-nos de uma vez... – o acusado ainda tentou dizer algo, mas Draco não permitiu. – Como você fez para se esconder por tanto tempo longe de nossos sensores e espiões?

O Comensal riu alto, fazendo com que Hermione sentisse um arrepio perigoso subindo e descendo a extensão de sua espinha.

- Talvez eu tenha feito absolutamente nada, talvez tenha feito tudo, Malfoy – respondeu, incerto. – Mas posso garantir que se seus espiões fossem um pouco menos tapados, possivelmente, poderiam ter me encontrado – Draco não se atingiu. – Humpt! Também, o que poderia esperar de um líder deste?

Harry estufou o peito, chamando a atenção de Hale, e disse:

- Engraçado o destino, não acha? Eu diria exatamente o mesmo em relação a você, Hale – o Comensal ergueu as sobrancelhas, sem entender. – Interessante como um líder tem de ter apoio e confiança de seus companheiros... Coisa que você obviamente não tinha...

Charles deu um passo à frente e chocou-se com o campo elétrico que estava ao seu redor. Segurando os lábios fortemente, o homem olhou nervosamente para Harry. Sim, ele finalmente havia conseguido torná-lo frágil. Logo, Hale seria capaz de falar tudo que queriam.

- Que quer dizer com isso, Potter?

O auror apoiou uma de suas pernas sobre a mesa e olhou desconfiado e astuto para Charles Hale.

- Se você controlasse tão bem assim seu esquadrão, certamente, não estaria aqui neste exato momento.

Hermione tossiu sem querer, despertando todos daquela tensão. Porém, apesar de quebrar a atual situação, Hale foi o último a notar que havia tido algum som além das palavras nervosas em sua cabeça. Potter não poderia estar falando verdades? Tudo aquilo seria uma farsa? Haviam mesmo o traído? Isso seria impossível!

- Você não é muito bom em mentiras Potter, sinto lhe dizer – respondeu Hale, sua expressão amenizando. – Quase caí na sua historinha idiota e fantasiosa, quase!

Um sorriso que refletiu diretamente em Hermione surgiu na boca de Harry. Apertando os lábios, a mulher pensou em todas as vezes que assistira aquele sorriso aparecer. Definitivamente não eram expressões interessantes.

- Por isso mesmo que, quando precisamos contar uma mentira, Malfoy entra em cena – Lupin sorriu e Draco escondeu um aborrecimento. – Não é uma farsa. Desculpe, mas deram com a língua nos dentes.

Sem hesitar, Hale deu mais um passo em direção as grades da cela em que estava preso e chocou-se, desta vez, fortemente contra elas e contra o campo elétrico. No mesmo instante, fora lançado para o fundo da cela, sem controle, gritando de dor. Harry riu baixinho, Draco também, acrescentando um pigarrear. Lupin ergueu-se da cadeira e aproximou-se das grades, olhando superiormente para o bruxo, estatelado no chão, tremendo.

- Vai abrir o bico ou não?

Movendo-se com extrema dificuldade, o homem conseguiu manejar um cuspe furioso no piso, na direção de Lupin.

- Nunca! Pode esquecer isso, Lupin!

O chefe respirou fundo e sacudiu a cabeça negativamente. Depois indicou com a varinha algo para Harry, que deixou a sala e voltou logo em seguida, acompanhado por três homens. Pareciam aurores.

- Cuidem para que ele não faça nada de inesperado – disse Lupin firmemente, dando as costas, e dirigindo-se para fora da sala. – E especialmente fiquem longe de sua linha de cuspe... Apesar de que ele é realmente ruim.


De volta à sala de Lupin, Harry, Draco e o próprio chefe olhavam curiosos para Hermione. Mais para profundamente irritado, no caso de Harry. O homem estava encostado numa das janelas, observando de esguelha a mulher e os dois companheiros de trabalho, conversando sobre o interrogatório.

- Mas onde você percebeu isto, Hermione? Eu mesmo li os relatórios mais de três vezes e não encontrei nada sobre isto.

Jogando os cabelos ondulados para trás, num impulso emocionado, e bastante gratificante, Hermione citou:

- Na pasta número treze, na página dez, no parágrafo quatro até o décimo primeiro da página doze.

Lupin saiu desesperado para procurar nos arquivos a tal pasta. Malfoy girava uma bolinha entre os dedos, da mesa do chefe, admirando como a jovem conseguira decorar exatamente o lugar onde se localizava o conteúdo. Harry agora olhava para fora, para o horizonte.

Hermione, diante do silêncio da sala, pegou sua bolsa e deixou algumas anotações em seus pergaminhos na mesa, para Lupin. Despediu-se de Draco e saiu do âmbito. Seu almoço estaria esperando.

Quando acabara de entrar no elevador do Ministério, alguém segurou a porta e adentrou. Ela estava de costas, e apenas ouviu a porta bater e alguém sussurrar.

- Espero que não tenha te assustado...

A mulher virou-se imediatamente, surpresa com o sussurro, e deu de cara com Harry. O homem estava, contrariando o tom doce de sua voz, com uma expressão de grande descontentamento. Seus olhos verdes miravam os da mulher com reprovação e um misto de revolta e arrependimento. Harry aproximou seu rosto do de Hermione e ficou bastante sério. Sua respiração estava perto demais, para o entendimento da jornalista. Era como se ela pudesse ver cada centímetro de sua face, cada raio de cor azul que complementava seu olho tão belamente esverdeado.

- Acho que sua conduta não foi a requerida, não é mesmo? – o sussurro provocou um arrepio em Hermione. Um arrepio terrível. Harry percebeu o efeito que causara.

- Não penso que isto seja de sua preocupação, Potter, não fez qualquer diferença...

- É claro que foi! – protestou, elevando suas mãos até os antebraços da mulher e segurando-os com certa rudez. – Desde o início combinamos que nada iria interferir na nossa relação profissional, e isto não está ocorrendo – as mãos de Harry subiram com delicadeza, mas estavam novamente apertando os ombros de Hermione. – Quero que não esqueça NUNCA do nosso combinado – agora estava saindo do controle, Hermione sentia permanentemente as sensações incríveis que aqueles simples toques estavam causando em seu mais profundo. – Sem Harry e Hermione...

Hermione, ficando extremamente incomodada com aquilo, notou que já deveriam ter chegado ao andar desejado. Porém, o elevador, subitamente, paralisou. Engoliu em seco e sentiu o rosto de Harry aproximar-se mais um bocado. As mãos, incomodamente, ainda estavam ali, postadas sobre seu corpo, ao seu redor.

- Acredito que não tenha esquecido, Harry. Você faz questão de me lembrar a todo tempo, esqueceu?

A resposta atravessada de Hermione deixou Harry levemente curioso. Ele caminhou suas mãos até o pescoço da mulher e postou sua mão direita ao seu redor, enquanto a esquerda passeava por sua cintura. Ainda que fosse sem qualquer tipo de gentileza, não deixara de provocar uma sensação interessante em Hermione. Se pudesse, fecharia os olhos e suspiraria o doce perfume que exalava do corpo do bruxo.

- Eu te faço lembrar a todo tempo? – neste instante, o sussurro veio com muito mais intensidade.

- Sim, somente pelo modo como você me olha... Me dá arrepios...

Mordendo o lábio inferior, Hermione segurou a respiração quando sentiu os dedos de Harry tentarem alcançar suas bochechas. Ela estava esforçando-se ao máximo para não corar. Movendo-os sutilmente sobre sua pele, Harry notou como os poucos pêlos presentes ali se arrepiavam com seu toque, mesmo que fosse mínimo.

- A diferença do meu olhar para você, Hermione, é muito clara – e no exato momento em que aquilo parecia melhorar, que Hermione desejou ganhar um simples abraço daquele que fora seu melhor amigo, ouviu o que não desejava. – Lanço meu olhar dessa forma porque eu não tenho qualquer tipo de carinho ou sentimento por você além de rancor.

E neste ritmo, as portas do elevador se abriram, ainda no terceiro andar, e Hermione assistiu Harry ainda largar seu corpo com rispidez, passando antes os dedos levemente pelos seus lábios. Aquilo parecia um pesadelo. Ao vê-lo deixar o elevador, apoiou-se no fundo do ambiente, respirando com nervosismo e pressão. Nada teria fim. Um dia a relação bela e amorosa que existira entre aqueles seres não seria substituída. Os erros do passado cobrem os acertos do presente. Antes de deixar o elevador, Hermione colocou os dedos sobre os lábios, sentindo ainda as pontas dos de Harry nele.


Nota da Autora (1): OW! Demorei pra colocar esse capítulo hein... Mas também gente, se eu for contar como está uma loucura a minha faculdade, eu ia me esganar primeiro, seria bem mais fácil. Somente queria continuar pedindo paciência e um beta reader!!!!! Socorro! Ninguém merece meus erros aqui! J

Nota da Autora (2): Opa, hoje os agradecimentos serão em grande estilo...

Raquel: Eu também acho H/H perfeito! (meu casal favorito) Mas vamos dizer que também adoro R/H (minhas outras fics são Rony e Hermione por opção)... Só que pistas eu vou deixando bastante encobertas pelo meio do caminho! ;) valeu por ler a fic!

Danizinha/Dani Potter: Cabeças-duras? É porque você ainda não viu nadinha... ti dolu!

Céfiro: Oie! Você por aqui! Ainda bem que você me conhece e sabe como eu estou com a vida cheia não é! Já estou pedindo carona para carro funerário... hihihihihi!

Mamys/Dark Angel: Mamys! Você tem que me dizer qual a sua opinião! Vou iniciar uma bolsa de apostas aqui, que acha?! Adoro-te!

Bellinha/Isa Potter: Você merece a dedicatória minina! Sabe que eu te adoro! Naquela noite aconteceu tanta coisa... hehehehehehe!!!! Uhu!

Gabi/Gabilha: Gabiiii!!! Fiquei tão contente que você continua lendo a fic! Viu que atualizou não é Interrogatório será divertido!

M-chan/M. Sheldon: Nossa! Que review enorme que você deixou! Adorei! Fiquei muito contente de saber que você está gostando e que eu estou conseguindo te prender! Está sendo mais como uma diversão mesmo, enquanto o meu computador não volta e eu não tenho a atenção necessária para continuar minhas outras fics! Esse aqui é o meu outro baby! Mas obrigada mesmo! Espero que continue ligada!

Gilvanna: 'Brigada por adorar a fic! O Harry e a Hermione ainda vão demorar um pouco, mas garanto que será bastante divertido até lá!

tlw-veronica-e-ned: Obrigada mesmo pela review, Gio! Espero que continue gostando do enredo!

Lisse Tiger/Batata: Maninhaaaaaa!!! Que bom que você passou por aqui! Saudadix da senhorita viu!!! Beijinhos e quero muito receber as suas opiniões hein! Lembrando que a fic é para a Family nossa tão amada!

Lígia:A troca ainda está em cogitação... Eu conseguindo terminar de ler a Luz e Sombra, aí nós poderemos ter uma conversa incrivelmente interessante, pode ter certeza... hihihihihihi! Ti dolu e eu quero a sua opinião também!

Nota da Autora (3): A última, prometo! Só queria deixar aqui uma indicação (outra cópia da Li)... Leiam a fic O Tipo Certo do Errado, da Anya Black (ou Any, a maluca...). realmente maravilhosa! Li há uma semana e fiquei completamente chocada... É uma Tiago/Lílian. Realmente linda!

Nota da Autora (4): Essa última cena foi bastante divertida, não acham? É, mas tem muito mais aí do que um simples rancor... Continuem acompanhando e deixando reviews, ok? Adoro todos vocês!