Passionais
Pela segunda vez no mesmo dia, Severus acordou com Harry ainda adormecido em seus braços. Dessa vez estavam no chão da sala, nus e saciados, cobertos apenas pela manta que Snape evocara.
A languidez substituía a ressaca, mas mesmo assim Severus estava preocupado.
Seqüestrar Harry fora muito grave, mas fazer sexo com ele fora ainda pior. Dessa vez não tinha nem a desculpa da bebedeira.
—Está pensando que não deveríamos ter ficado juntos? – A voz sonolenta de Harry interrompeu suas auto-recriminações mentais.
—É isso que você está pensando, Harry? – Uma fisgada no peito alertou Severus de que ele não gostaria que o garoto se arrependesse.
—Não. – Harry virou-se de jeito a olhar Severus nos olhos. – Ficar com você foi a coisa mais certa que eu já fiz na vida.
Severus não conseguiu conter o sorriso que teimou em aparecer no seu rosto.
—Eu também não me arrependo, Harry. – Ele acariciou os cabelos espetados do garoto imaginando como algum dia pudera não achá-los perfeitos. – Mas há várias coisas contra isso.
—Eu sei. Mas nós damos um jeito.
—Eu ainda sou seu professor.
—Um mês, Severus. E nem prova com você eu vou ter mais, agora é só o NIENS.
—Mesmo assim, Harry. Eu vou ter de contar o que aconteceu para o diretor.
—Por quê?
—Ele saberia de qualquer jeito.
—Detesto legilimancia.
—Nós dois somos bons em legilimancia, Harry. – Snape estava descobrindo o prazer de provocar Harry dessa outra forma.
—Você entendeu o que eu estava falando! – Harry beijou Severus. – Bobo.
—Fedelho.
—Chato.
—Tolo. – Severus trouxe Harry mais para perto e buscou mais uma vez a boca do garoto, vencendo com beijos a discussão.
Antes que Harry se empolgasse, Severus interrompeu o beijo.
—Nós precisamos conversar, Harry. E deitados aqui vai ficar difícil. Levanta. – Snape ergueu-se, ajeitando a calça, e estendeu a mão para Harry.
—Quanto tempo ainda temos? – Harry vestiu apenas a calça do pijama e sentou-se no colo de Severus no sofá.
—Algumas horas. Harry, com você beijando meu peito assim não dá para conversar.
Dando um gemido de protesto, o bruxo mais jovem parou a provocação e, sem sair do colo do outro mago, encarou-o:
—O que você tanto quer conversar, Severus?
—Você é muito petulante, garoto!
—Você gosta.
—Gosto. Gosto muito. – Severus beijou o pescoço de Harry que inclinou a cabeça, dando-lhe mais acesso.
—Assim...
—Vá sentar na outra ponta do sofá, Pestinha.
Rindo, o garoto se afastou:
—Fala, Severus. Fala logo que eu quero fazer uma coisa com você.
Por um segundo Severus deixou-se perder no olhar sedutor do garoto, até lhe dar um breve sorriso e provocar:
—Talvez seja eu quem deva fazer alguma coisa com você. Mas só depois que conversarmos. Comporte-se.
—Certo. Eu fico quieto.
—É assim que eu obtenho sua atenção? Pena não ter descoberto isso antes.
—Eu ia adorar ver você usar isso na sala de aula. Não faz idéia das vezes que eu imaginei isso.
Severus não caiu na armadilha, mas provocou de volta:
—Para alguém que se supõe ser inexperiente, você é muito seguro.
Harry ficou sério e um pouco tenso.
—Severus, é importante para você ser o primeiro cara na minha vida?
—Não. Eu só não imaginei... Harry, com quem diabos você andou se envolvendo? Quem naquela escola conseguiu chegar perto de você sem que eu percebesse?
—Você estava me vigiando?
—Não desvia o assunto. Quem?
—Não foi na escola. Foi um vizinho, nas férias. Um namoro legal, mas rápido. Eu ainda não havia percebido o que eu sinto por você.
—Um vizinho? – Severus estava chocado com a idéia. – Harry, e não lhe ocorreu que poderia ser um agente do Lord das Trevas infiltrado?
—Não. Não me ocorreu. Que droga, Severus. Só um agente infiltrado de VOLDEMORT me acharia atraente?
Severus segurou Harry pelos ombros, novamente tentado a sacudir o garoto.
—Presta atenção porque eu só vou dizer uma vez: eu não gosto da idéia de outra pessoa qualquer tocando você. Entendeu? Mas eu posso lidar com isso se for sua escolha, o que eu não posso lidar é com você caindo nas mãos do Lord das Trevas porque eu não estava lá para cuidar de você. Outra coisa, seu estúpido, qualquer um, com olhos na cara, acharia você interessante. - Severus tomou de assalto a boca de Harry, buscando com avidez misturar-se de corpo e alma com o jovem amante. - Mas não se empolgue. Você agora tem dono.
—Eu sei. Mas você também, Severus. Você agora também tem dono.
Severus sorriu com os lábios ainda colados nos de Harry.
—Droga. Assim nós não vamos conversar nunca.
—Então me deixa fazer uma coisa com você.
—Deixo. Mas depois, Harry. Nós precisamos resolver como vai ser de agora para frente.
—Vamos ficar juntos. - Harry beijava o pescoço de Severus. –Nada vai separar nós dois.
—Tem tanta coisa que pode acontecer. – Severus se afastou mais uma vez. – Presta atenção, Harry. Se alguém descobrir eu viro uma arma contra você.
—Eu sei Severus, eu não sou tão tapado assim. Eu sei que se alguém descobrir sua vida corre risco.
—Não é disso que eu estou falando, garoto. Se alguém souber, eu viro alvo sim, mas para atingir você. Temos de manter segredo. Eu quero que você prometa que, se eu for descoberto, não vai tentar me resgatar, ou algo estúpido assim.
—NÃO! Você prometeria se eu pedisse? Eu vou ao inferno por sua causa, Severus. Eu não vou pedir para você deixar de ser espião, apesar de eu ficar louco de preocupação quando eu sei que você está com eles. Não me peça para ser menos, que eu não posso fazer isso. – Novamente os dois estavam exaltados.
—HARRY!
—O QUE FOI, SEVERUS!
Pareciam prestes a se engalfinharem. Severus afastou-se, respirando fundo:
—Droga, garoto. Ou estamos discutindo, ou nos agarrando.
—É porque você é teimoso demais.
—EU! Você é que é cabeça-dura. Arrogante, prepotente, convencido...
—Sou. Sou sim. Exatamente como você. Mas sou competente no que faço exatamente como você. Não vê, Severus? Nós somos poção do mesmo caldeirão.
—Eu não sou tão insuportável assim!
—É mais!
—Idiota. – Severus imprensou Harry na parede. – Há outra coisa que nós dois somos. Completamente loucos. Que seja então. Que nós mergulhemos de vez nessa loucura.
—Vai ser assim: eu vou ao seu quarto toda noite enquanto as aulas não acabarem. Quando eu me formar, eu compro um apartamento e você vai ser o fiel do meu segredo. Vamos morar juntos, porque você é o meu homem, assim como eu sou o seu.
—Loucura, sagrada loucura, eu me abandono em suas mãos e nas desse pequeno demônio em meus braços.
—E eu me abandono nas suas mãos, meu amor.
Um beijo, surpreendentemente suave, selou os votos que trocaram.
—Severus, podemos fazer agora o que eu estou louco para fazer desde que chegamos aqui?
—Você é teimoso, Harry. Muito teimoso. O que é que você quer fazer, afinal de contas?
—Tomar banho com você.
—Hein?
—Banho, e de chuveiro. É uma fantasia que eu tenho com você.
—Já fez isso antes com o tal namoradinho?
—Está com ciúmes? – A coragem irresponsável da Grifinória fez o mago mais jovem provocar o mais velho.
—HARRY!
—Sim, Severus?
—Não me provoque, garoto. Responda.
—Não, Severus. Eu na realidade nunca fui até o final, e nunca desejei tanto ir. A idéia me veio porque... Eu só conto depois do banho.
—Você tem fantasias comigo, é?
—Várias, mas essa é minha favorita. E você?
—Algumas. Um dia eu mostro. Agora eu quero ouvir sobre essa história de banho.
—Só vou dizer que gastei um tempo enorme fantasiando em beijar você no chuveiro, nós dois em pé, nossos corpos molhados colados um no outro, você me segurando pela nuca e pelo quadril... Imaginei bastante espuma de sabão na minha mão para ensaboar você, de cima a baixo, mesmo que eu precisasse me ajoelhar para ensaboar direito suas pernas, e depois deixar a água desfazer o que eu tinha feito, e usar a língua para investigar o resultado, dessa vez de baixo para cima.
O corpo de Severus já dava sinais de interesse.
—O que mais?
—Mais? Só no chuveiro.
Harry assustou-se um pouco quando Severus o pegou no colo e começou a subir as escadas.
—Você vai me mostrar isso em detalhes, Pestinha. Mas é bom você saber que não é só você que fantasia com água.
continua
