OBásico:
- Saint Seiya não me pertence e o Shaka agradece por isso!
- Embora essa fic tenha casais 'comuns' como Aioria e Marin, MM e Dite, Camus e Milo, eu também estou explorando outras oportunidades, por pura comodidade e melhor andamento da história, ok? Então não briguem comigo!
- Ah! Obrigada a todos que comentam! Vocês me ajudam muito a continuar a escrever!

Eu não sei mais nada dessa fic... por isso não me responsabilizo pelos acontecimentos da mesma!
Culpem meus dedos! Eles trabalham sozinhos!

Enjoy Minna!
Tsuki Koorime


Capítulo 2.

"Oh sensation,

Sin, slave of sensation."

"Oh, sensação

Pecado, escravo da sensação"

Biscuit - Portshead

Assim que botou os pés dentro do refeitório, o cavaleiro de Áries soltou um forte suspiro, prendendo o ar nos pulmões e o soltando com força, até ter a lúdica sensação do pulmão se esvaziar.

Shaka estava na mesa de sempre, sorrindo para o amigo que se sentava junto dele. Um novo amigo? Não, um velho amigo. Um grande amigo.

Só que não era de Shaka, mas de Mu.

Se fosse em outras ocasiões, o ariano saltaria as escadarias feliz com a amizade que propusera entre seus dois melhores amigos.

Mas naquele dia, debaixo do sol quente, com o peito implorando de volta aquele ar, Mu simplesmente desejava não comemorar os sorrisos entre o virginiano e o cavaleiro de Touro.

"Ei, Mu, senta aqui com a gente!"

Deba abriu um largo sorriso, como era de seu costume, levantando o braço e acenando para o cavaleiro de Áries. Com o canto do olhar, o ariano viu um leve sorriso nos lábios de Virgem, que parecia aguardar sua chegada à mesa.

Mas Mu se limitou a um entreabrir de lábios, passando pelo corredor.

"Desculpem, mas eu já tenho um lugar reservado."

Deba arqueou as sobrancelhas, acompanhando o amigo com o olhar. Virou-se para sua mesa, onde Shaka mantinha o mesmo ar calmo, porém interrogativo. Deba soltou o ar com força, voltando a comer. Não tinha mais o que fazer.

Mu sentou-se com Aioria e Shura. Manteve sua mente atenta à conversa dos dois, cheia de mulheres e seus infinitos enigmas. Não era segredo algum que Shura era apaixonado por Shina, embora jamais dissesse isso em voz alta. Por isso, cada vez que o cavaleiro dizia 'tem mulheres que...' ou 'uma mulher assim...' Mu prendia o riso, já sabendo de quem se tratava. Aioria, talvez, estivesse com os olhos presos demais em sua noiva, Marin, para perceber os deslizes afetivos do cavaleiro de Capricórnio.

Quando deu por encerrado seu almoço, e preparava-se para deixar a mesa, sentiu um braço grande e forte segurá-lo na mesa. O ariano olhou para a face irritada de Touro, que juntava as sobrancelhas sobre os olhos, numa expressão preocupada.

"Mu, o que houve?"

"Não estou a fim hoje, Deba. Eu lhe disse isso."

Mu se levantou, fazendo menção de se retirar. Acenou com a cabeça para os demais cavaleiros na mesa, e se virou para o taurino, com um sorriso desafiador no rosto.

Deba também se levantou, bufando.

"Você vai mesmo continuar com isso?"

"Vou."

"Está cometendo um erro."

Áries volta o olhar para a mesa vazia, onde Shaka havia estado poucos minutos atrás.

"Não vai ser maior que os outros que eu já deixei acontecer."

Deba se limitou a acompanhar o amigo para fora do refeitório. Conhecia bem a cisma do ariano, sabia que quando ele tomava uma decisão nada mudaria seu pensamento. Mas aquilo já estava ficando absurdo!

Esperou chegar até a entrada da primeira casa e olhou mais uma vez para o amigo. Parecia cansado, e estranhamente resignado. Alguma coisa havia acontecido. Alguma coisa havia explodido dentro de Áries, e tinha a sensação que ele não deixaria ninguém saber o quê.

"Mu... ele não está dando em cima de mim."

Ele se virou para o brasileiro, com um sorriso leve e expressamente triste.

"Isso não importa mais."

"Como não? Não era isso que estava te incomodando semana passada? Mu, eu admito que Shaka seja uma ótima pessoa pra se conversar, mas eu não acho que ele tenha outras intenções! E você me conhece! Sabe que eu jamais faria isso e..."

"E?"

"O que aconteceu ontem?"

Os olhos verdes se tornaram mais sérios, encarando o cavaleiro.

"Nada, Deba."

"Então você vai até minha casa tarde da noite, diz que não vai mais tocar no assunto, e que havia tomado uma decisão, e me diz que não foi nada!"

Mu suspirou forte e fundo, olhando para as escadas de frente à casa de pedras do Santuário. Sua decisão? Sim. Ele tomara uma decisão. Tudo que havia feito até agora fora por um amor puro e desinteressado. Ajudava Shaka, auxiliava, ouvia, discutia com o cavaleiro divino por simples vontade de preservar sua felicidade. Então, um dia, percebeu que as coisas não eram mais assim. Estavam diferentes. Depois de... enfim, o que ia fazer? Continuar mentindo pra si mesmo? Não. Se existe uma coisa que arianos têm como qualidade, é a verdade dos sentimentos. Podem ser excelentes atores, mas não são capazes de mentir pra si mesmos.

Desejava ver o amigo de Virgem feliz. Continuaria a fazer tudo que pudesse para mantê-lo bem, em paz, a salvo.

Mas às vezes, você também precisava ser salvo.

E Mu decidira que não faria mais nada que pudesse machucar seu coração.

Nem mesmo por ele... não mais... pelo olhar azul dele.

"Se não fosse você, seria qualquer outra pessoa."

"Mu, do que está falando?"

Deba arregalou os olhos, quando Mu abriu um largo sorriso, os olhos espremidos e inquietos.

"Eu não vou mudar quem eu sou, Deba. Ninguém deve fazer isso. Shaka encantou-se como você, como se encantou com Ikky e provavelmente ainda se encantará com qualquer outro que desafie sua honra e sua pureza. É assim que ele é. E é assim que ele me vê. Como seu guardião, um protetor, sua caixinha de segredos. Eu não posso fazer nada e não há mais nada a ser feito. E por isso, meu amigo, não posso sequer me dar ao luxo de me arrepender de minha decisão."

Touro olhou para as escadas, em silêncio.

Não adiantava, não importava o que dissesse, não faria o ariano mudar de idéia. Pousou uma mão em seu ombro, reconhecendo então aquele sorriso abafado e indiscreto.

Com poucas palavras despediu-se do amigo.

É uma verdade universal que arianos não sabem mentir para seus melhores amigos.

E é outra de que eles só sabem chorar sozinhos.

oOo

Já era fim de tarde, e Mu observava os treinos dos novatos. Do alto do estádio, encostava-se entre pedras e destroços, admirando mais a silenciosa valsa do céu que o derramar do suor dos novos guerreiros de Athena.

"Pensativo, ariano?"

Mu abriu os lábios levemente, sem tirar os olhos das primeiras estrelas que surgiam.

"Perdido, Shura?"

"Um pouco, admito."

Sentiu o cavaleiro sentando-se ao seu lado, o que tomou sua atenção, fazendo-o o virar o rosto.

Shura tinha os cabelos soltos e atiços de sempre, uma das mãos passeando nervosamente entre os fios. Mu continuou a fitá-lo silenciosamente, aguardando que o cavaleiro começasse.

"Mu... eu sei que você sabe sobre Shina e..."

"Ela é uma mulher e tanto, Shura."

"Mas ela não é pra mim." - se adiantou a dizer.

Capricórnio observava Mu, cada vez mais nervoso com o silêncio calmo e sereno com que o outro desprendia a ele. Já não bastava sua vergonha, sua humilhação perante Athena e os outros, ainda tinha que encarar aquele silêncio dúbio e misterioso do ariano?

"Sabe, Áries, morrer é como olhar pra si mesmo por muito tempo; você vê coisas que às vezes não deveria ver."

"E o que você viu, Shura?"

A voz suave, quase infantil de Mu, o fez parar por um instante que ninguém além dele mesmo sequer notaria. Quando deu por si, sua boca ainda estava na direção do cavaleiro, sem se mover um milímetro a mais.

Os olhos verdes e curiosos o encaravam, inalteráveis.

Shura queria se mexer, gritar, ordenar que o ariano parasse de olhá-lo daquela forma estúpida e... mas não se movia. De alguma forma, perdera todo seu roteiro. E estava ali, tão perto dele, sem realmente saber o que fazer.

"Eu sinto muito que tenha visto tantas coisas."

"Eu também."

"Ninguém deveria ver a si mesmo tão cedo."

Ele ouviu a voz oscilar no tom, um pouco menos branda e mais melancólica, não deixando porém o ar mole e embalado com aquele fim de tarde tranqüilo.

Mu permanecia imóvel em sua direção.

Shura respirava apressado, os olhos correndo rápido entre o chão e o rosto do ariano, sem saber que direção era certa... Então sentiu um roçar de lábios em sua boca, fraco e lento, até se afastarem.

Fechou os olhos, demorando a abri-los.

Viu o ariano se levantar, com o mesmo sorriso infante, e se virar para partir, antes de dizer:

"Primeira casa. Acho que você ainda deve saber onde fica, cavaleiro."

E saiu, deixando um ansioso capricórnio perplexo e feliz.