O Básico E Necessário:
- Saint Seiya não é meu, e acho que Mu ia adorar se essa fic também não fosse...
- Quero agradecer a tds as reviews, e Mo de Aries e Ilia-chan: sorry, mas esse cap é sobre o Mu e o Shaka (afinal, uma hora o loiro tinha que aparecer né!) Mas relaxem, o próximo vai ser sobre Shura e Mu! Então se preparem ok?
- A parte em itálico são lembranças do Mu

Eu só quero deixar bem claro, registrado eformalizado que eu não tenho mais o menor controle sobre essa história, nem sobre Mu, Shaka ou Shura, ou seja mais quem inventar de aparecer: não me responsabilizo nem por lágrimas nem por suspiros! Já bastam os meus ;)

Enjoy Minna!
Tsuki Koorime


Capítulo 3.

"I'm unclean, a libertine

And every time you vent your spleen,

I seem to lose the power of speech,

Your slipping slowly from my reach.

You grow me like an evergreen,

You never see the lonely me at all"

"Eu sou sujo, um libertino

E todo o tempo você descarrega sua melancolia

Eu pareço perder o poder da palavra

Seu passo errado vagarosamente ao meu alcance

Você cresce em mim como uma planta sempre verde

Você nunca enxerga meu "eu sozinho" de forma alguma"

Without You I'm Nothing - Placebo

"Eu sei que eu não deveria ficar perdendo tanto tempo, mas você sabe como eu sou. Eu preciso calcular tudo antes de..."

Mu mantém os olhos pregados no vão da porta da sala de Virgem, ouvindo silenciosamente os murmúrios que seu amigo lhe confidenciava. Athena precisava urgente de um novo Mestre para o Santuário, e ela não sabia quem escolher. Então pediu conselhos a Shaka, que já havia se prontificado a não receber o cargo. Ele dizia que, por ouvir e rezar por Budha, não gostaria que sua fé em outro deus atrapalhasse sua vida em resigno supremo a Athena, como deve ser a vida de qualquer um que se destine a ser o novo Mestre.

"O que me aconselha, meu amigo?"

"Eu?" - ele se virou, mantendo os olhos alheios à face que, ainda que de olhos fechados, sutilmente o encarava - "Acho que você deve confiar no julgamento de Athena."

"Sim."

"E pare de me enrolar. Você não me chamaria aqui para falar disso."

Mu não conteve um tímido sorriso, ao ver um suave rubor brotar na face branca do cavaleiro de Virgem. Sabia que suas palavras soavam mais duras e secas, mas não sabia como alterá-las. Por outro lado, o virginiano parecia não se importar com o tom delas, o que misturava dentro de Áries sentimentos oblíquos e distintos, entre sua designada calma e seu ímpeto explosivo.

Ouviu o pequeno riso sem graça do cavaleiro, e sentiu largar os ombros.

Era sempre assim. Mantinha sua palavra, não faria mais do que o necessário, não se machucaria em sua presença mais que seu coração permitiria. Porém, não desonraria sua amizade, nem mesmo seus sentimentos, e continuava com seu zelo e conselhos, ainda que mantendo a ilusória distância que considerava segura a seus sentimentos.

Shaka abriu vagarosamente os olhos, como era característico dele em assuntos tão pessoais.

Mu não sorriu, observando com séria cautela.

"Shaka, o que aconteceu?"

Ouviu a respiração forte do cavaleiro, antes de pronunciar o simples nome:

"Ikky."

"Entendo."

Mu evitou seus olhos de piscarem, buscando qualquer força que mantivesse sua face no exato lugar, onde e como deveria estar: próxima e serena.

Shaka parecia não dizer nada por longos instantes, fitando o amigo com angustiada interrogação. Como se Mu, e apenas ele, tivesse uma resposta qualquer que abriria a porta secreta e daria a chave que ele tanto precisava.

A diferença entre Mu e Budha era que o primeiro era sempre mais direto. Doesse a quem doer. Ele dizia o que tinha que ser dito, fazia o que tinha de ser feito. E trazia a realidade aos seus olhos como ninguém mais tinha o direito e o dever de fazer.

O que o virginiano não sabia, porém, era dos segredos que todo coração ariano sempre tem...

"Achei que estivesse encantando por Deba."

Shaka abriu um largo sorriso, inclinando o rosto levemente, fazendo balançar as longas madeixas loiras que contornam seus traços.

"Touro? Sim, ele é um homem maravilhoso, admito. Como poucos. Mas a amizade dele é por demais valiosa pra que eu o arriscasse assim."

Áries não sabia como se manter dentro de si, respirando pausadamente. Implorava que o ar não tivesse som nem peso, e que o brusco apertar de seus olhos passasse despercebidos pelo outro cavaleiro. Mas Virgem parecia não notar, com os lábios abertos no sorriso sincero e harmonioso de sempre. Mu abriu outro sorriso, cúmplice das palavras do outro, mas por outro lado, um exímio traidor de si mesmo.

Fora antes da Guerra de Hades e depois da Batalha do Santuário.

Ikky havia partido e magoado o coração pueril de Shaka pela primeira vez.

Saga fora desmascarado e sua traição havia sido muito mais além para o meu coração..

Nós não sabíamos como respirar a paz que emanava das pedras, das plantas, enfim de todo o Santuário. E como grandes amigos, confidentes fiéis e companheiros que sempre fomos, buscávamos refúgio na reclusão da casa de Virgem, entre o silêncio acalentador de nós dois e o som abafado das músicas antigas que eu gostava tanto de escutar.

Me lembro de estarmos no jardim das Árvores Gêmeas, deitados debaixo de suas copas largas e gloriosas, observando o tempo invisível que transitava entre os dedos. Havia um turbilhão por dentro de cada peito e tanta paz por fora, inalcançável por nós mesmos...

Deixei meus olhos se fecharem, sentindo o abraço de Shaka em meu corpo, uma paz silenciosa que se instalava entre nós, sempre que estávamos juntos, se esgueirando minuciosa por dentro de mim, em meus pensamentos mais serenos, minhas dúvidas mais vertiginosas.

E de repente, eu tinha os lábios úmidos de Virgem sobre os meus.

De repente, Virgem também tinha um beijo meu.

E passou-se tanto tempo, tanta paz e um turbilhão entre bocas e mãos, que quando eu parti, estava mais completo do que quando entrara.

Com mais paz e mais turbilhões, mais dúvidas e mais certezas do que nunca tive.

Então tudo ficou só silêncio.

Nada mais foi dito..

E de repente, eu me vi escravo do meu próprio silêncio.

"O que eu faço, Mu? Não... não vou me rebaixar a tanto novamente."

Mu arriscou seu melhor sorriso, tentando tranqüilizar a si mesmo e ao seu amigo.

"Você nunca vai saber o que ele quer se não perguntar, Shaka."

"Você sabe muito bem que eu não farei isso."

"Então se contente com o que sabe."

Shaka franziu o cenho, fazendo uma cara irritada e ao mesmo tempo infantilizada.

"Eu não vou me machucar, ariano."

"Por que não?"

A resposta viera tão rápida da boca de Áries que o mesmo ainda levou alguns segundos até compreendê-la. Shaka permanecia num silencio desconfortável, um pouco perplexo. Mu sempre fora o primeiro a não querer que ele se machucasse, fossem quem fosse ou por quê...

"Seria muito injusto se todos pudessem se machucar e você não."

"Eu sei que posso me machucar, Mu! Você sabe disso." - a voz dele perdera, por alguns segundos, o tom firme e natural, deixando uma ponta de orgulho saltar no olhar de Áries. Afinal, não é todo dia em que você quebra a barreira inabalável do homem mais próximo de Budha.

"Então machuque-se."

"Mas eu não quero." A voz baixa e contida de Shaka quase não se fez ouvir, seus olhos azuis mirando o chão coberto de preciosas tapeçarias.

Levantou os olhos, vendo que Mu se levantava.

"Meu conselho é este. Machuque-se, Shaka. Deixe que o tempo dirá o que é certo ou não. Mas se você não se arriscar, se você não se machucar, nunca vai crescer como homem nessa Terra."

Virgem se levanta, caminhando para mais perto de Áries, fechando os olhos lentamente.

"Obrigado, Mu."

"É pra isso que estou aqui, Shaka."

Mu girou nos calcanhares para deixar a sexta casa, quando parou.

"Shaka..."

"Sim?"

Por um breve instante, Mu pensou nas próprias palavras. Arrisque-se. Machuque-se. Diga a ele! Respirou fundo.

"Me desculpe se fui rude. Estou chateado comigo, e não posso culpar você."

Shaka podia entender uma partida de Ikky. Uma noite de amor mal resolvida. Uma lembrança amarga no coração. Mas ele não saberia lidar com a perda de um melhor amigo.

Às vezes, Shaka ainda era aquele menino preso num templo, sem espinhos ou tempestades. Puro demais. Inocente demais. E certas verdades iriam apenas destruir um pouco mais seu coração. O coração que Mu tanto...

"Não se preocupe, Mu. É pra isso que estou aqui, também."

Mu entreabriu os lábios, ensaiando um sorriso falso que logo se desvaneceu.

"Obrigado."

"Não agradeça. Me conte de Shura."

Mu se voltou completamente, dando maior atenção à expressão curiosa do cavaleiro.

"Ele é adorável, acredite."

"Eu acredito, se você diz..." - e deu uma leve risada.

"Sim, ele é."

Silêncio, um gosto amargo que parece vibrar no céu da boca do ariano. Não entraria em detalhes sobre ele e Shura. Simplesmente não era confortável. Shura não era um alvo para ciúmes. Ele era alguém para quem se abrir os braços, acolher entre eles, e se sentir também protegido. Alguém para ser querido e querer bem.

Prudência, Mu pensava, para as palavras.

Não queria se sujar ainda mais diante dos olhos pueris de Shaka.

E não iria desfazer afeto tão genuíno quanto o de Shura.

Começaram a caminhar para a entrada - e saída - da casa de Virgem. Andavam calma e silenciosamente, até que Shaka interveio na serenidade cômoda entre eles.

"É ele? A pessoa que você tem sentimentos?"

Mu continuou a caminhar, sem se virar para o amigo.

"Não, não é."

"Então quem é?"

O ariano soltou uma tímida risada.

"É segredo."

"De mim, Áries!"

"Seria vergonhoso se eu te contasse, Shaka. Acredite, ninguém sabe."

Mu parou diante das altas portas de entrada, abrindo-as, deixando uma luz morna e avermelhada entrar sorrateira pelo vão fino entre as duas. Qual a fina linha que difere omissão de mentira? Porque sempre se conta pequenas mentiras para esconder grandes verdades.

E com os arianos não é diferente.

"Por que é vergonhoso, Mu?"

O ariano voltou a fitar o rosto juvenil de seu amigo, com um franco sorriso.

"Porque ele não merece meus sentimentos."

E mais uma vez, ele partiu. Mais uma vez, Shaka acolhia seu silêncio, sem mais nem porquê. Era isso que eles eram. Cúmplices, amigos e companheiros.

Mesmo no silêncio.