Disclaimer:
- Saint Seiya não me pertence, e eu to começando a achar que essa fic também não...
- Eu ainda não sei se mudo a censura da fic... Não me culpem, eu nem sabia que essa fic ia passar do terceiro capítulo!
- Mais uma vez, obrigada por todos os comentários! Vide abaixo:

Os advogados de Mu respondem:
-Litha-chan: O Mu não escolheu ir com o Shura, foi o Shaka que saiu com o Miro e não foi com os outros quatro (Mu, Shura, Deba e Mino). E o Saga é um antigo relacionamento do ariano - vide capítulo 3.
- Ia-chan: Espero que suas perguntas sejam mais ou menos respondidas nesse capítulo! Mas acredite, eu não gosto nem um pouco do Shaka com o Ikky! Pelo menos não nessa fic!


Capítulo 6.

"With a taste of the poison paradise

I'm addicted to you

Don't you know that you're toxic?"

Com um gosto de paraíso tóxico

Estou viciada em você

Você não sabe que você é venenoso?

Toxic / Britney Spears

"Mais?"

Mu olhou através da janela do apartamento em penumbra. Lá longe, numa dessas ruas que descem junto a um morro, um piscar de luzes lhe chamou mais a atenção que as vozes que riam sozinhas na cozinha, ou a voz que lhe chamava docemente para outro gole de vinho.

O carro terminou a descida e a luz desapareceu.

"Ah, claro."

Tomou a garrafa com uma única mão, tomando um gole farto direto do gargalo.

"Você não vai conseguir nada me embebedando, Shura."

"Vamos fazer um jogo, Áries. Cada gole que eu der, você dá outro."

"Pra quê?" - indagou, enquanto o capricorniano o levava para se sentar junto dele no sofá.

"Não seja chato, é só um jogo."

No primeiro gole, Mu ainda arriscou abrir bem a boca, deixando a garganta se valer do líquido quente. Que inferno! - ele não disse! Sim, ele disse! E ninguém ouvia! Segundo gole. Shura sorria maliciosamente, olhando-o fundo nos olhos. Como se isso lhe valesse alguma coisa. Terceiro gole, e já estava com sono. Quanto vinho havia bebido até aquela hora? No jantar, depois no apartamento... Quarto gole. Isso importava? Porque diabos estavam os dois ali sozinhos? Onde se está Virgem quando se precisa dele? Quinto gole. Ou era mais que isso? Sentiu as mãos pesadas do cavaleiro em sua coxa, o puxando para perto de si.

"Shura, não."

"Por que não?" - puxou-o com mais força, a voz quase sussurrada.

"Porque eu não posso."

Mu empurrou-se para trás com as mãos no sofá, as mãos de Shura buscando uma firmeza qualquer em seu corpo, agarrando-se às suas pernas para puxá-lo de volta...

Quando a porta se abriu, um olhar azul e irritadiço se deixou cair sobre um ariano aturdido.

Virgem tinha os olhos abertos e parados sobre as mãos de Capricórnio segurando com força as coxas de Mu, as puxando para si.

Miro passou por Shaka, que ainda permanecia parado na porta, dizendo alto qualquer bobagem que Mu simplesmente não conseguia ouvir nem entender.

O virginiano se virou sem qualquer palavra, em direção à cozinha.

"Então, vamos jogar?"

Mu mirou o olhar de Escorpião por longos segundos, como se não tivesse espaço entre sua razão e todo o vinho que bebera que lhe deixasse compreender mais aquelas três palavras. Shaka estava triste? Magoado? Irritado! Aconteceu alguma coisa? Ele fizera alguma coisa! Por deuses, ele não tinha feito nada! O que aquele virginiano tinha na cabeça pra ficar tão zangado assim!

Sentaram-se os quatro na mesa, já que Touro recusava-se a deixar aquela cozinha - leia Mino, claro. Ele tinha mais o que fazer do que jogar truco com um bando de marmanjos...

Os pares iam ser Miro e Shura, Shaka e Mu, mas o cavaleiro de Virgem mudou de lugar e sentou-se ao lado de seu então parceiro, Miro. Áries o fitou com uma enorme indagação, sem entender. Shura distribuiu as cartas. A primeira rodada só valia apostas baixas. Virgem não respondeu o olhar, apenas o encarando também.

"Você está com raiva de mim?" - sussurrou, a voz embargada e lenta.

Por um segundo, os olhos abertos e claros de Shaka tomaram um tom que Mu nunca soube decifrar, e tomaram outro rumo. Virgem desviava o olhar com a delicadeza de um elefante.

Áries virou-se para Shura, sentado ao seu lado esquerdo. O cavaleiro lhe retribui um sorriso largo, pousando a mão em suas coxas, novamente.

"Pare, Shura."

"Mais, uma carta, por favor, Miro."

Miro deu uma risada, e trocou a carta de Shura. Essa idéia de Capricórnio - dos parceiros se sentarem lado a lado e não frente a frente, como seria normalmente - pareceu absurda no inicio, mas fazia todo o sentido agora.

Áries arrancou a mão atrevida de sua perna, a pousando em sua mão. Em vão. Antes do fim da primeira rodada, lá estava ela, de novo.

"Shura, tire essa merda de mão de cima de mim."

Miro piscou os olhos com força, soltando uma gargalhada. Terminou de abrir outra garrafa de vinho, e deu-a a Shaka, enquanto o ariano mais uma vez retirava a mão nada boba de Capricórnio sobre si. Shaka dava outro gole farto, quando sentiu a garrafa ser tomada por um irritado Mu.

"Mu, pare de beber."

Shaka apertou os olhos, com seriedade, mas não recebeu mais que um resmungo em resposta.

"Não."

Áries deu mais um gole na garrafa, lento e forte, pousando-a na mesa no mesmo momento em que puxou a mão de Shura para cima.

"Se por essa mão em mim mais uma vez, Capricórnio, eu vou arrancá-la pra você."

Os dois ouvintes pararam por um segundo. Era difícil ver Áries sair do sério, ainda mais com as brincadeiras bobas de alguém.

Mas Shura, por sua vez, limitou-se a encostar a boca no ouvido do outro, e sussurrou:

"Você pode até gostar dele, ariano, mas eu não vou deixar de tentar ter você."

Mu se afastou, com um singelo sorriso, e respondeu em alto e bom som.

"Eu sei."

E abriu suas cartas. Ia perder aquele jogo rapidinho.

Miro bateu o truco de Shura, ganhando as primeiras fichas. Mu se viu olhando para as cores delas, por um longo tempo. vermelhas, azuis, amarelas. Eram bonitas. Cores eram bonitas! Será que fez certo em beber tanto vinho? Tinha reunião logo de manhã. Mas não queria pensar naquilo. Adorava como as fichas vermelhas saltavam em meio à mesa. Olhou para as suas. Só tinha algumas poucas brancas. Daqui a pouco seria eliminado, com toda certeza. Talvez fosse melhor assim. Gostava de branco. Preferia perder e ficar com só aquelas fichas brancas. Branco era bonito também. Branco era cor? Vermelho era cor. Vermelho era bonito também...

Sentiu um abraço lhe envolver o corpo, assim, abrupta e fortemente. Não se virou, e nem precisaria. Reconheceria aquele abraço em qualquer lugar. Como não percebera quando Shaka havia se sentado tão próximo de si? Ele o apertava os braços, como se precisasse dizer que o ariano não tinha o direito de sair dali. E Mu respondia, o apertando ainda mais. Os lábios de Shaka lhe desceram até a face, beijando delicadamente o rosto quente, várias vezes, demoradamente. Mu hesitou em virar, fazendo Virgem recuar alguns milímetros... por poucos segundos, até voltar a lhe tocar a face novamente, agora mais rápido, mais atrevido, descendo pelo rosto do ariano...

Mu se virou, como se para aceitar aquele convite.

Sentiu os lábios de Shaka pousarem nos seus, primeiro mais leves, depois com desejo, abrindo sua boca num beijo desajeitado e intenso.

"Eu tentando jogar e esses dois se agarrando!"

Mu sentiu seu sangue ferver com o comentário de Miro, imaginando que ele havia estragado tudo! Mas a boca de Shaka não se deixou intimidar, aprofundando o beijo.

Quando finalmente se separam, os olhos minguados de Mu só souberam enxergar a incerteza com que tremia aquele olhar azul, que já perdera a conta das vezes que pode ver.

Mas nunca daquele jeito...

Shaka se levantou do lugar, a respiração forte e a cabeça atordoada, indo pra qualquer direção dentro do apartamento.

Mu se virou para Shura, fechando os olhos. Que bobagem fizera! Que ariano estúpido ele era! Tinha estragado tudo! Shaka agora iria se sentir mal até o resto da noite, não olharia mais na cara dele, sequer dirigiria uma única palavra e...

Arianos são tolos não são?

Essa coisa de ser o primeiro, de ser o número um... de achar que tudo é culpa deles, que tudo foi eles que fizeram... que o resto do círculo zodiacal é apenas uma propagação certa ou errada do ego deles. Uns idiotas, esses arianos. Eles nem percebem quando são beijados primeiro.

Mu abaixou os olhos, fitando suas poucas e brancas fichas. Podia sentir o cosmos do virginiano explodindo entre aquelas paredes, sem saber por onde ir, por onde se libertar... Embora não quisesse, que soubesse que não havia nele uma culpa sequer, Áries mantinha os olhos semicerrados, dizendo a si mesmo que não devia deixar o cavaleiro dourado tão angustiado assim.

Não era certo... ter se deixado beijar. Por mais que quisesse aquilo, valia a pena ver Virgem daquele jeito?

Levantou-se, seguindo rápido para a cozinha. Só uma pessoa podia lhe dizer o que fazer.

O problema era que a boca de onde sairia seus conselhos estava um pouco ocupada com os carinhos de uma linda jovem.

Áries não hesitou, e puxou o braço do amigo, como uma criança puxa o de uma mãe pedindo por um confeite de vitrine.

Aldebaran se virou, respirando vagarosamente, tentando se acalmar.

"O que foi Mu?"

"Ele me beijou."

Mino piscou os olhos, sentindo-se perdida e alheia ao assunto. Aldebaran quase deu um pulo, arregalando os olhos em direção do ariano que permanecia com a mesma expressão infantil de antes.

"Ele te beijou!"

"É."

"E o que você ta fazendo aqui, criatura!"

"Eu vim te contar."

Touro ficou parado, olhando para o ariano por um longo momento. Virou-se para sua linda companhia, ainda com certa indagação no rosto. Voltou para o amigo, e lhe disse no tom mais ameno e monótono que sua voz grave lhe permitia.

"Mu, volta pra lá."

"Tá."

E do mesmo jeito que entrou, a criança ariana saiu da cozinha.

Ouviu outra risada de Escorpião, e viu Shaka já sentado em seu lugar.

Era a terceira - ou quarta? Argh! - rodada e o vinho já estava de novo no fim.

"Ei, Áries, se você perder essa, está fora." - Shura sorriu, apostando as fichas brancas de Mu.

"Shura, você está roubando minhas fichas!"

"Roubando não, isso aqui é uma parceria, lembra?"

Todos riram, e ariano se virou para Virgem, sorrindo. Deu seu melhor sorriso, o mais calmo que podia guardar dentro de si, ainda que pouco lúcido e meio de lado. Tudo que ele queria dizer era que estava tudo bem. Tudo ia ficar bem. Ele era Áries, não era? Ele era seu amigo. Sua caixinha de segredos. Ele não ia machucá-lo, simplesmente não ia...

"Truco!"

Virou-se para Shura, que gritava com um também exaltado Miro. Até quantos pontos se vai um truco? Embora não soubesse, alguma coisa definitivamente lhe dizia que não era até cem...

Então veio aquele abraço de novo. Virou o rosto novamente, e encontrou aqueles olhos azuis apressados sobre os seus, sua boca já se colando novamente sobre a sua.

Beijaram-se uma, duas, mais vezes que sua pouca lucidez pôde contar. Sabia sim, exatamente o que estava fazendo. E silenciosamente se perguntava: será que Shaka sabia? Separaram-se, buscando um pouco de ar. Mu olhou suas cartas, e a única ficha branca que lhe restara, já saltando para as mãos astutas de Shura. Estava fora do jogo. Não que isso importasse. Percebeu que Shaka ainda mantinha o abraço, e virou seu rosto contra o pescoço de Virgem, respirando fundo.

Talvez não devesse pensar nessas coisas. Roçou os lábios na nuca do amigo, recostando-se mais contra seu corpo. Na verdade, não devia pensar em nada. Tinha vinho demais na cabeça e seus pensamentos iriam acabar fazendo ela explodir por dentro. Depositou alguns beijos leves na pele branca, correndo pelo pescoço descoberto. Já pensou um ariano explodindo por dentro ali, no meio da sala? Ou poderia ser até pior! Ele podia explodir por fora! Aí sim, a coisa ia ficar feia...

Alcançou a boca de Virgem e se beijaram, com mãos e corpo. Mu sentiu sua respiração ficar mais pesada, acompanhando o ritmo do virginiano. Shaka deitou suas cartas na mesa e, virando-se para Áries, murmurou:

"Chega, ariano. Vem."

Puxando a criança de Jamiel pela mão, Virgem entrou no primeiro aposentou que encontrou.

Mu ainda se viu o fitando, em silêncio.

E Shaka se atirou contra ele, fechando a porta do quarto.