Mais um ano letivo estava começando na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Neste momento, os alunos provavelmente estavam se deliciando com o banquete usual. Por um segundo, a sombra de um sorriso apareceu no rosto de Viviane. Já fazia dois anos que ela concluíra o 7° ano de Hogwarts.

Enquanto penteava o longo cabelo ruivo em frente ao espelho, Viviane começou a relembrar o tempo em que era aluna da mais respeitada escola de magia. Grande coisa! A única coisa que a dava orgulho era o fato de ela ter ido para a casa Sonserina. E, realmente, não poderia ter ido para outra casa. Não podia se imaginar com os gênios arrogantes da Corvinal, embora sua irmã gêmea fosse de lá. Muito menos, podia cogitar a possibilidade de ter ido para junto dos rejeitados da Lufa-lufa ou dos bravos estúpidos da Grifinória.

– Grifinória... – murmurou Viviane, com desprezo. – A casa do Potter...

Ela afastou esses pensamentos com impaciência. Não estava mais em Hogwarts e tinha coisas mais importantes para fazer do que ficar sentada pensando no fedelho do Potter. Ela levantou, foi até o guarda-roupa e se vestiu. Após mais uma olhada no espelho, Viviane aparatou.

No momento em que desaparatou na mansão dos Malfoy, ela sentiu algo passar voando sobre sua cabeça. O feitiço atingiu um vaso à frente dela, que caiu no chão e se espatifou. Ela se virou. A sala parecia vazia.

– Você deveria avisar antes de fazer visitas, Sarkisian. – Draco Malfoy saiu do canto escuro em que se encontrava. – Não é educado chegar de surpresa na casa dos outros.

– Para a minha sorte, você é péssimo de pontaria não é, Drakinho? – Viviane sorriu, irônica. – Tão diferente da sua irmã!

– Não me chame de Drakinho... Você sabe que...

– Continuando! – interrompeu Viviane. – Isto não é uma visita! Eu vim avisar que deixe minha irmã em paz...

Draco foi até o bar, pegou um Martini e voltou a encarar Viviane. Após um longo gole, ele deu de ombros.

– Não sei do que você está falando...

– Você sabe muito bem do que eu estou falando!

– Eu não me envolveria com uma Corvinal! – ele soltou uma gargalhada, como se tivesse acabado de ouvir uma ótima piada. – Imagine! Draco Malfoy e uma Corvinal! Isto é ridículo!

– Pare de pensar em termos de casa, Malfoy! Nós não estamos mais em Hogwarts E eu não disse que você está se envolvendo! Você está usando a minha irmã para encontrar o Potter!

– E qual é o problema com isso?

– Ela não anda com ele e nem com os amiguinhos dele! Ela não sabe onde ele está... Não adianta ficar forçando!

– Ela não iria lhe contar. Você quer matá-lo tanto quanto eu!

Viviane respirou fundo. Então ela deu um sorriso sarcástico.

– Drakinho, eu não vou discutir com você. Fique longe da minha irmã.

Ela aparatou novamente, deixando Draco Malfoy sozinho e furioso.

Ao desaparatar do lado de fora do quarto da irmã, Viviane hesitou por um minuto. Então bateu à porta e entrou. Morgana estava sentada à janela, olhando para o lado de fora com uma expressão melancólica. Estava nevando. Ainda na mesma posição, ela disse:

– Não...

– Não o quê? – respondeu Viviane, fechando a porta atrás de si.

– Eu não sei onde o Potter está.

– Eu não disse que você sabe.

Morgana virou-se para Viviane e andou até ela.

– Você acredita em mim?

– Sempre acreditei. Você sabe disso! – Viviane abraçou a irmã. – E a mamãe também acredita em você.

– Já posso sair do quarto?

– Papai ainda acha que você sabe onde o Potter está.

– MAS EU NÃO SEI!

– Eu sei disso! – Viviane tomou as mãos da irmã nas suas. – Morgana... Você tomaria Veritaserum?

– Por que você está me perguntando isso? – Morgana recuou.

– Porque eu acredito em você! Com o Veritaserum, o papai vai acreditar também. Eu prometo que só o deixo perguntar isso!

– Promete? – Morgana estava hesitante. – Promete que não o deixa perguntar mais nada?

Viviane abraçou a irmã mais uma vez.

– Eu prometo! Não o deixarei perguntar mais nada!

Morgana estava sentada em uma cadeira confortável. Seus olhos pareciam sem vida e ela mal piscava. À esquerda dela estava sentada Viviane. À frente, o Sr. Sarkisian. Ele segurava um vidrinho vazio e olhava fixamente para ela. À direita de Morgana estava a Sra. Sarkisian, curvada para frente com o rosto entre as mãos.

– Diga-me, Morgana. Você tem algum amigo que foi da Grifinória? – perguntou o Sr. Sarkisian.

– Sim. – foi a resposta mecanizada de Morgana.

– Papai... – interrompeu Viviane. – O senhor prometeu!

O rosto do Sr. Sarkisian se contraiu. Ele lançou um olhar ameaçador para Viviane e depois voltou a olhar nos olhos de Morgana.

– Você é amiga de Harry Potter ou algum dos amigos dele?

– Não.

– Você sabe onde está Harry Potter?

– Não.

– Quem você apóia nessa...

– PAPAI, POR FAVOR! – Viviane gritou para que a pergunta do pai não pudesse se completar.

– Não me interrompa, Viviane!

– O senhor já sabe o que queria saber! Por favor!

A Sra. Sarkisian levantou a cabeça. Ela tinha uma expressão severa quando olhou para o marido.

– Já chega! – disse, secamente. – Ela já disse o que nós queríamos! Viviane, leve sua irmã para o quarto dela. Ela já pode sair.

Viviane levou a irmã de volta para o quarto. Pela expressão do pai delas, ele não tinha gostado nem um pouco de ser interrompido daquela maneira. Quando o efeito da poção passou por completo, Viviane contou tudo à irmã.

– É melhor nós evitarmos "confrontos" por enquanto. – finalizou Viviane.

– Obrigada! – Morgana sorriu, cansada. – Para onde você vai agora?

– Tenho um compromisso. Devo voltar ainda hoje...

– Tenha cuidado... – Morgana beijou o rosto de Viviane.

Viviane desaparatou atrás de uma lápide. Estava no cemitério onde aconteceria a reunião do Lord com os comensais. Ela havia se tornado uma comensal há dois anos e já era uma das protegidas do Lord. Ela começou a tirar a poeira de sua capa, quando ouviu vozes. Alguém já estava lá.

– Você ouviu um crack? – ela ouviu a voz arrastada de Draco.

– Não, Malfoy... Não ouvi nenhum crack! – respondeu uma voz feminina. – Não seja paranóico!

– Eu não sou paranóico... – ela ouviu Draco responder, secamente. – Eu ouvi alguma coisa e não quero ninguém espionando a reunião do Lord!

Viviane levantou e saiu de trás da lápide, com um sorriso cínico no rosto.

– Não precisa se preocupar, Malfoy. Eu não sou nenhuma espiã!

– O que estava fazendo escondida atrás dessa lápide, Sarkisian? Ouvindo a conversa alheia?

– Não tente ser engraçado... – Viviane ficou séria. – Você sabe muito bem que é meu costume desaparatar em lugares seguros, atrás de objetos grandes. Acha que eu quero ser vista por algum auror?

– Eu não me incomodaria se fosse... – Um meio sorriso, típico dos Malfoy apareceu no rosto de Draco.

Viviane lançou-lhe um olhar fulminante. Depois sorriu com um ar triunfante e começou a se afastar. Ela sabia de algo que Draco não gostaria que alguém soubesse. Nada do que ele dissesse poderia tirá-la do sério. À medida que se aproximava dos comensais que estavam se reunindo, ela começou a procurar por dois rostos conhecidos. Será que viriam? Então ela ouviu uma voz que há um ano não ouvia.

– Vivi! Vivi!

Ela se virou e sorriu. Lillith Black Malfoy vinha correndo em sua direção, o longo cabelo loiro balançando ao vento. Um alívio tomou conta de Viviane. Sim, sua amiga Lillith continuava a mesma. As duas se abraçaram.

– Cadê a Lola? Você já a viu?

– Ainda não. Acabei de voltar...

– Da missão do Lord? Já faz um ano, né?

– Sim... Voltei hoje mesmo. Pensei em passar na sua casa, mas achei melhor surpreende-la aqui. – Lillith deu um sorriso maroto que Viviane conhecia bem. Estava com saudade daquele sorriso.

As duas começaram a conversar. Viviane contou sobre o que fizera durante o último ano e sobre o que havia acontecido naquela tarde. Quando terminou de falar, alguém se aproximou delas.

– Boa noite, comensais!

Ambas sorriram ao se depararem com Lola Morpherus. Lola sorriu de volta e as três se abraçaram. Ficaram assim por um bom tempo. Finalmente, as três amigas estavam juntas novamente!

– Senti muita saudade de vocês! – disse Lola, sorrindo.

Os olhos de Viviane começaram a arder. Aquelas duas eram muito mais do que irmãs para ela. Se as coisas continuassem naquele rumo, logo ela estaria chorando. Mas não foi necessário fazer nada, pois antes que conseguisse pensar em qualquer coisa, Viviane sentiu uma dor intensa no pulso, como se alguém estivesse encostando uma brasa nele. Ela não se surpreendeu. Sendo comensal por dois anos, Viviane já se acostumara com aquilo. Instintivamente, ela olhou para a esquerda e viu os comensais se juntando. O Lord havia chegado para a reunião. Ela e as amigas se deram as mãos e começaram a andar em direção ao círculo.

Lado a lado, de mãos dadas, as três amigas ficaram em silêncio esperando que o círculo se formasse. O Lord caminhou até o centro. Quando ele ficou de frente para elas, Viviane pôde perceber um discretíssimo sorriso de vitória surgir no rosto dele.

– Senhorita Malfoy... – a voz do Lord ecoou pelo cemitério e Viviane sentiu a mão de Lillith contrair-se, apertando a sua. – Como foi a missão?

Lillith remexeu-se ao lado de Viviane. Levantando o rosto para encarar o Lord, ela disse com a voz firme:

– Foi um sucesso, Milord.

– Muito bem! Eu sabia que a senhorita seria perfeita para essa missão.

Discretamente, Viviane olhou para Lillith e viu que a amiga estava ruborizando. Percebendo como a amiga estava sem graça com a situação, Viviane começou a imaginar que tipo de missão ela teria ido cumprir.

O Lord agora falava com outros comensais. Todos respondiam mecanicamente. Ao que parecia, a única que estava nervosa era Lillith. Durante toda a reunião, ela apertou a mão de Viviane, que pôde sentir os anéis machucando-lhe os dedos e deixando sua mão dormente. Mesmo assim, Viviane permaneceu calada, devolvendo um leve aperto, como se dissesse, silenciosamente: "Estou aqui, amiga."

Após a reunião, as três amigas ficaram caladas, imóveis, vendo os outros aparatarem. Quando finalmente estavam sozinhas, Viviane perguntou:

– E então? Por que estava tão nervosa?

– Eu não estava nervosa... – respondeu Lillith olhando para o chão, subitamente interessada por seus sapatos.

– Felinis, você quase esmagou meus dedos durante a reunião. – A voz de Viviane era terna. – Algo está preocupando você, não está?

Lillith olhou para Viviane, surpresa. Há um ano não ouvia aquele apelido. Óbvio! Já que só as duas amigas o conheciam. Nem mesmo seu irmão Draco e o Lord, que sabiam que ela era uma animaga, sabiam daquele apelido. Afinal ela começou a se sentir em casa novamente.

– Nós podemos te ajudar! – continuou Lola. – Nós sempre nos ajudamos, não é? Sempre confiamos umas nas outras!

Lillith sorriu para as amigas, respirou fundo e falou:

– Tudo bem. Mas não vamos conversar aqui. Venham comigo e conversaremos comendo alguma coisa.