Na mansão dos Malfoy, Lillith ordenou que algum elfo doméstico trouxesse algo para elas comerem. Depois, as três subiram até o quarto dela. Deitadas no tapete, as amigas ficaram caladas, de mãos dadas, olhando para o teto, que tinha um feitiço semelhante ao que impressionada os alunos do 1° ano em Hogwarts. A diferença é que, ao contrário de Hogwarts, o teto do quarto de Lillith não mostrava o céu como estava lá fora. Mostrava sempre um céu noturno estrelado, onde se via uma lua cheia praticamente perfeita. No tapete, o cabelo ruivo de Viviane, o loiro claro, quase branco de Lillith e o Castanho com pontas cor-de-rosa de Lola se misturavam. Após uma leve batida na porta, Lillith agitou a varinha e esta se abriu, permitindo que o elfo trouxesse o que ela havia pedido. Quando ele saiu, ela trancou a porta novamente e as três se sentaram.

Lillith contou às outras sobre a missão dela. Ir para a Sibéria investigar sobre um plano dos aurores de montar uma base lá. Como ela assumia a forma de um tigre branco, era muito fácil se aproximar dos aurores e ouvir as conversas sem ser notada. Ela contou também tudo o que descobriu e como essas informações seriam transmitidas ao Lord.

– Mashi ocecosiguiu tuo, caleo pobêa?

– Como é, Vivi? – Lillith e Lola caíram na risada.

– Se você conseguiu tudo, qual é o problema?

Lillith ficou séria novamente. Olhou para o teto, para a lua, e depois de novo para as amigas. Finalmente, falou:

– Um auror me viu. Na minha forma humana. Era um auror experiente e me reconheceu. Eu tive que... – a voz de Lillith falhou. – matá-lo.

Viviane e Lola se entreolharam, sem entender. Não era a primeira vez que elas cruzavam com aurores e tinham que matá-los. E elas desprezavam os aurores quase tanto quanto desprezavam os trouxas.

Lillith irrompeu em lágrimas. – O Lord confiou uma missão a mim e eu posso ter estragado tudo! – ela escondeu o rosto entre as mãos.

– Calma, Felinis! – Viviane estava entendendo o que afligia a amiga. Não era o fato de ter matado um auror, mas a possibilidade de ter falhado.

– Amiga... – Lola parecia ter chegado à mesma conclusão que ela. – Nós sabemos que os aurores ainda pensam que o Potterzinho matou o Lord. Eles provavelmente vão pensar que é algum comensal inconformado querendo se vingar deles. – ela fez uma careta, como se tivesse comido algo nojento.

–É isso mesmo! – Viviane sorriu. – Não se preocupe com isso, querida! Ninguém vai saber de nada!

Lillith se acalmou. Ela respirou fundo, enxugou as lágrimas e sorriu.

– Obrigada, amigas! – então ela olhou para a bandeja que o elfo havia trazido. – Mas deixem um pouco para mim! Vocês vão ficar gordas!

– Olha quem você chama de gorda, hein! – Lola pulou em Lillith, que gritava: "Socorro! Você vai me esmagar!"

Entre as risadas, a mente de Viviane começou a voar para longe. "Talvez a guerra esteja para começar mais uma vez... E desta vez nós estaremos nela!"

O devaneio de Viviane foi interrompido por uma pancada forte na janela. Lillith levantou-se e a abriu, permitindo que uma coruja cinzenta entrasse. A coruja pousou na bela cama king size, estendendo a perna para que Lillith retirasse o pergaminho que estava enrolado nela. Enquanto as três amigas liam a mensagem, a coruja ficou voando em círculos, sobre suas cabeças.

"Senhorita Malfoy,

Preciso lhe falar com uma certa urgência. Estou em frente à sua mansão. Espero que me deixe entrar, pois trago um recado do Lord.

Não demore!"

– O que vocês acham? – perguntou Lillith, apreensiva.

Lola olhou para cima. A coruja piava alto. Ela então olhou de volta para as amigas e disse, decidida.

– Nós vamos com você!

As três saíram da mansão e caminharam até o portão de entrada da propriedade, cuidadosamente. Ao chegarem, perceberam que havia alguém a poucos metros delas. A coruja surgiu de dentro da mansão e voou em direção à bruxa, que se começou a se aproximar. Tinha a pele morena e caminhava devagar, com segurança. Quando ela chegou mais perto, as meninas puderam ver seu longuíssimo cabelo castanho e liso, ao qual se misturavam mechas roxas e cacheadas. Seus olhos, também castanhos, eram penetrantes. Quase hipnotizadores. Com um sorriso zombeteiro e uma voz suave, ela disse:

– Eu sabia que suas amigas estariam aqui. – e estendeu a mão para Lillith. – Meu nome é Lana Harriet.

Lillith não apertou a mão dela. Encarando-a desconfiada, perguntou:

– Que recado trouxe?

Lana baixou a mão, como se não houvesse notado que Lillith não retribuíra o gesto.

– Deixe-me entrar. Vim informar-lhes da próxima missão que o Lord tem para vocês. E isto não deve ser dito aqui fora.

Sentadas na sala de estar da mansão Malfoy, as amigas estavam em silêncio, repassando mentalmente a conversa que tiveram com a misteriosa mensageira do Lord. Todas tinham um discreto sorriso de satisfação no rosto.

–"Quando estiver na hora de partirmos, mandarei minha coruja até vocês, para que saibam onde me encontrar. Estejam preparadas!" – Dissera Lana, antes de aparatar.

A porta da mansão se abriu e Draco Malfoy entrou, interrompendo o transe das amigas. Ele passou direto por elas, resmungando algo como: "Não estou de bom humor. Vou para o meu quarto!" As três se entreolharam e começaram a rir. Finalmente, voltaram para o quarto de Lillith e abriram o guarda-roupa. Lillith agitou a varinha e suas roupas saíram voando para pousarem na cama, devidamente dobradas. O fundo do armário se abriu para revelar várias prateleiras, onde se encontravam as mais diversas poções (muitas delas proibidas pelo Ministério da Magia). Os frascos eram pequenos e não tinham rótulos, mas Viviane os conhecia muito bem.

– Meninas, vou pegar as minhas poções. – disse ela. – Volto logo.

– Eu vou pegar as minhas! – disse Lola. – Não vá sem nós, Felinis!

– Eu não faria isso com vocês! – o meio sorriso dos Malfoy novamente apareceu no rosto de Lillith. – Este prazer é nosso!

Viviane desaparatou em seu quarto. Abriu o guarda-roupa e agitou a varinha. Suas roupas começaram a voar, exatamente como fizeram as roupas de Lillith.

"Devíamos patentear nossa idéia..." – pensou ela, enquanto escolhia as poções que poderia precisar para aquela missão. Após colocar os frascos nos bolsos internos de sua capa, ela voltou para a casa de Lillith. Enquanto esperavam a coruja de Lana Harriet, as amigas conversaram alegremente, relembrando a época em que atormentavam a vida de Harry Potter e seus amiguinhos em Hogwarts. A cada golpe que lembravam, as três riam mais alto.

Quando a coruja chegou, as amigas seguiram as instruções do pergaminho e seguiram a coruja até uma floresta, onde Lana as aguardava.

– Muito bem! – disse ela. – Agora eu preciso que vocês se transformem.

As comensais não se moveram. Como ela sabia? Com exceção delas e do Lord, só Draco e o irmão de Lola sabiam que elas eram animagas. Nem mesmo Morgana sabia! Alguém havia contado para ela!

– Não se preocupem... – continuou Lana. – O Lord só me contou porque eu preciso acompanhar vocês. E eu também sou uma animaga não registrada. Não vou contar a ninguém. Podem confiar em mim!

As três não precisavam ler mentes para saber que estavam pensando exatamente a mesma coisa. Não era tão fácil assim ganhar a confiança delas. Mas de qualquer maneira, era uma ordem do Lord que elas seguissem aquela mulher. E ela provara, na mansão de Lillith, que a ordem vinha mesmo do Lord. Com um rápido movimento de cabeça, elas chegaram a um consenso.

– Tudo bem. – disse Viviane. – Iremos com você. Mas você vai se transformar primeiro.

– Claro, claro... – Lana parecia aborrecida. – Viviane, sendo uma serpente, talvez você não consiga acompanhar. Se quiser, posso carregá-la.

– Não se preocupe. – Viviane sorriu, irônica. – Eu me viro.

Lana deu de ombros. – Como quiser... – e com um leve estalido, ela começou a diminuir de tamanho, enquanto seus braços se alongavam. Seu nariz começou a crescer e adquirir uma cor amarelada. Agora ele era um bico. Pouco a pouco, ela foi se transformando e ganhando penas. Após alguns minutos, onde antes havia uma mulher, as amigas viam uma águia marrom, em cuja cauda dava para ver algumas penas roxas. A águia abriu as asas e piou alto, apressando as comensais. Após as transformações, a águia marrom, ladeada pela coruja cinza, encontrava-se em frente a um tigre branco, de porte majestoso. O tigre estava deitado e, enrolada em volta do pescoço dele, estava uma serpente vermelha de olhos verde-esmeralda, que descansava a cabeça entre suas orelhas. Sentada ao lado do tigre, lambendo uma pata distraidamente, estava uma belíssima raposa.

Durante a noite fria e chuvosa, trouxas e bruxos ignoravam a estranha viagem de uma águia, uma coruja, um tigre, uma raposa e uma serpente. Por volta das duas da manhã, os animais chegaram ao lugar onde realizariam a missão que seria, provavelmente, a mais importante de suas vidas.

Já em suas formas humanas, as quatro comensais, escondidas num canto escuro, viram três pessoas se aproximando. Imediatamente, elas reconheceram os três aurores que mais detestavam. Potter, e a testa rachada dele e os namoradinhos desajeitados, Granger e Weasley.

– Harry, eu ainda não entendo. – Hermione Granger dizia, preocupada. – Você-sabe-quem está morto! Por que os aurores estão tão preocupados?

Viviane estava inconformada! Eles realmente acreditavam que o fedelho do Potter tinha capacidade para matar o Lord! Ela começou a sentir seu sangue ferver. Sentia uma louca vontade de voar no pescoço daqueles três. Se ela matasse o Potter naquele minuto, o Lord não teria mais problemas! Seu corpo começou a se mover para frente, seus músculos se contraindo. Algo apertou seu braço. Ela continuava a ir para frente, mas seu braço estava preso. Alguma coisa a estava puxando para trás.

– Vivi! – sussurrou Lillith, desesperada. – o que você está fazendo?

Viviane pareceu ter saído de um transe. Estava de joelhos e inclinada para frente, apoiada na mão esquerda. Lillith segurava seu braço direito com força, puxando-o para trás e evitando que ela saísse do lugar e revelasse que elas estavam ali. Lola e Lana a olhavam, espantadas.

– Você está bem, Vivi? – perguntou Lola.

Viviane se sentou. Olhou para as amigas, com um olhar distante. Seus olhos ardiam. Ela havia perdido o controle de si mesma.

– Desculpem... – sussurrou, envergonhada. – Estou! Vamos continuar...

As quatro voltaram a olhar para os aurores, Lillith ainda segurando o braço de Viviane. Após se desvencilhar do aperto de Lillith, Viviane voltou-se para Lana, com um olhar intrigado.

– Mas afinal, onde estamos?

Lana nada respondeu. Apenas fez um gesto para que ela voltasse a olhar para os aurores. Eles estavam em uma rua mal-iluminada. Isso fazia com que as comensais tivessem ainda mais dificuldade em distinguir muito bem o que eles faziam. Os três aurores estavam parados em frente a um espaço vazio que ficava entre duas casas. Como um terreno abandonado. Viviane não entendia. O que eles estavam esperando ali? Então ela parou. Piscou algumas vezes e esfregou os olhos. Não acreditava no que estava vendo. Ou melhor... no que não estava vendo! Os aurores haviam sumido! Como se tivessem subido um lance de quatro ou cinco degraus invisíveis, Potter, Granger e Weasley sumiram no ar. Viviane olhou novamente para Lana, que parecia estar tão espantada quanto ela. Lillith e Lola, à direita de Viviane, estavam boquiabertas.

Dez minutos se passaram, antes que o silêncio fosse quebrado.

– Aquilo é o que eu estou pensando? – perguntou Viviane.

– É. Mas eu não tinha visto com meus próprios olhos ainda. – Lana mal piscava. – Estou tão surpresa quanto você!

– Mas do que vocês duas estão falando? – perguntou Lillith, impaciente.

– Durante o ano que vocês passaram fora, muita coisa aconteceu! – explicou Viviane. – Vocês sabem que após a última batalha do Lord com aquele fedelho, os aurores pensaram que ele havia morrido. O Potter estava desacordado, logo não tinha como saber que nós conseguimos retirar o Lord de lá. Mesmo achando que tinham saído vitoriosos, os aurores resolveram manter o mesmo rigor nas caças aos comensais, com medo de uma revolução do que eles chamaram de "comensais inconformados".

– Sim... Isso nós sabemos. – interrompeu Lola, também curiosa.

– Bem... Há dois meses, surgiu um boato entre os Comensais. De que alguém havia feito uma incrível descoberta. – ela se voltou para Lana. – Esse alguém era você, não era?

Lana concordou com um gesto de cabeça.

– Eu passei dois anos pesquisando. Interroguei bruxos, gigantes, goblins e até mesmo elfos domésticos. Mas foi exatamente há três meses que eu comecei a conseguir resultados. Com a ajuda da Imperius, eu consegui valiosas informações de uma auror, que agora já não faz nem idéia do que aconteceu. As informações variam. Desde aurores que pretendiam se passar por comensais, até o que vocês acabaram de ver. Isto, minhas amigas... – Lana apontou para o espaço entre as casas, onde Potter, Granger e Weasley haviam desaparecido. – é o quartel general dos seguidores de Alvo Dumbledore.

Ainda boquiabertas, Lillith e Lola encararam o espaço para onde Lana estava apontando. Lola se voltou para Lana.

– Você está nos dizendo que aí é...

– Isso mesmo! Aí é o quartel general da Ordem da Fênix!