Sentada no chão, com as costas encostadas numa parede, Viviane sentia sua cabeça girar. Elas haviam encontrado o lugar onde os aurores se reuniam! Pelas expressões das amigas, elas estavam tão perturbadas com essa informação quanto ela. Viviane voltou a olhar para o espaço vazio onde ela vira os três aurores que mais desprezava desaparecerem. Estava ali, na frente dela!

– Se eles pensam que o Lord está morto... – todas se voltaram para Viviane. – por que, então, continuaram com essa ordem?

– Aparentemente, Dumbledore não consegue acreditar que eles venceram. Assim como da primeira vez. – respondeu Lana, dando de ombros.

– Ele não está errado, está? – Lillith retrucou, sarcasticamente.

– Ainda que não admita, ele provavelmente acha que o Lord ainda está vivo. Eles usam como desculpa, prender e punir todos os comensais que puderem. Mas nós duvidamos que, se o motivo fosse só esse, eles manteriam um treinamento tão duro e um recrutamento tão desesperado.

– O que você quer dizer com recrutamento desesperado? – Viviane começava a se sentir confusa com tanta informação de uma vez só.

– Eles estão juntando cada vez mais gente. Muitos aurores. Muitos mesmo! Por isso nossa missão é tão importante e tão urgente! – Lana fez uma pausa. – Outra coisa! O motivo pelo qual nós não podemos ver para onde aqueles três foram, é que alguém só pode achar esse quartel general se o próprio Dumbledore disser a esta pessoa como chegar lá.

Esta última informação atingiu Viviane como um soco no estômago. Ela engoliu em seco e olhou novamente para o que parecia um terreno abandonado. Um espaço tão pequeno, onde estava o destino dela e de suas amigas. Um lugar onde ela não podia entrar!

"Tão perto... E, ainda assim, tão longe!"

A família Harriet, assim como as famílias Malfoy, Sarkisian e Morpherus, era rica e constituída por gerações de comensais. A casa de Lana não era menor que a de Viviane. Na sala de estar, em frente à lareira, as quatro bruxas ficaram sentadas em silêncio por muito tempo. Um elfo doméstico entrou na sala, desajeitado, trazendo uma bandeja com chá e biscoitos.

– Minha família gosta de manter os costumes tradicionais. – Lana sorriu, divertindo-se ao ver a expressão confusa das meninas.

Sentada entre Lillith e Lola, Viviane estava pensativa. Olhando para as mãos das amigas, ela percebeu que, como ela, as duas não haviam bebido o chá. Lana também parecia ter percebido. Ela pegou uma xícara e se serviu de um pouco de chá. Logo em seguida, ela pegou um biscoito e mordeu. Finalmente, levantou os olhos e disse, séria:

– Não chegaremos a lugar algum se não confiarem em mim!

Viviane examinou com atenção o rosto de Lana. Sem hesitar, tomou um gole de chá. Lillith olhou para ela, ansiosa. Lola encarou Lana, desconfiada com o sorriso que aparecera em seu rosto. Viviane pousou a xícara na mesinha de centro e recostou-se no sofá, cruzando as mãos e fechando os olhos.

– E então? – disse, calmamente. – Alguma idéia?

Lillith suspirou, aliviada. Lola remexeu-se ao lado delas.

– Não quero ser pessimista! – começou. – Mas se a única maneira de entrar naquele lugar é com o próprio velho nos dizendo como chegar lá, acho que não exista uma maneira de conseguirmos.

– Escute... – Lana levantou um pouco a voz. – Eu acho que o Lord não teria me mandado procurar vocês, se soubesse que vocês iriam desistir de tudo sem nem mesmo tentar!

Viviane, que ainda estava recostada, sentiu os músculos se contraírem novamente. Abriu os olhos e encarou Lana, com uma expressão que parecia dizer: "Não me provoque! Você VAI se arrepender!" Expressão essa, que ela sabia fazer como ninguém. Ela se sentou.

– Quem disse a você que estamos desistindo?

– Sua amiga! – Lana elevou a voz ainda mais, espigando-se na poltrona.

– Não levante a voz para mim! – esbravejou Viviane, ficando de pé. – Ninguém aqui está desistindo de nada!

– Você não ouviu a sua amiga? – Lana também se levantou. – Ela própria está dizendo que é impossível!

A voz de Lillith interrompeu a discussão, calmamente, como se ela estivesse falando sozinha.

– Ninguém disse que precisávamos entrar lá para realizar a missão, disse? – ela olhava para um ponto na parede, um brilho estranho nos olhos.

– Você já tem um plano? – Viviane voltou-se para Lillith, ignorando Lana completamente.

– Claro! – Lillith piscou para ela, novamente com seu típico meio sorriso no rosto. – Um plano genial, modéstia à parte!

– É por isso que eu te amo, garota! Você é demais!

Viviane pulou em cima de Lillith, seguida por Lola. As três gargalhavam, assistidas por uma Lana estarrecida.

"Loucas! O Lord me mandou para uma missão com um bando de loucas!"

Lana sentou-se novamente. Séria, pigarreou, fazendo com que as outras três voltassem sua atenção para ela.

– Você se incomoda em compartilhar seu plano?

Lillith olhou para ela, por baixo de Viviane, fuzilando-a com o olhar. As três sentaram-se em seus lugares novamente e todos os olhares se voltaram para Lillith. Ela respirou fundo e começou:

– Bem... Primeiro, vamos repassar a missão, certo?

– O que há pra repassar? – Lana se exaltou novamente. – Estão de brincadeira comigo?

– Claro que não! Eu preciso organizar minhas idéias para que tudo funcione! Vá repassando a missão. Eu vou lhe explicando onde estão os problemas e qual é o meu plano!

Lana soltou o ar, furiosa. Olhou para as outras duas comensais, mas elas estavam imóveis. Não tendo outra alternativa, ela concordou.

– Tudo bem, então. Vocês sabem que há quatro anos, o Potter atrapalhou os planos do Lord de descobrir o que dizia a profecia sobre eles que estava no Ministério da Magia. Com a profecia destruída e a morte daquela que a fez, o único que sabe a profecia agora é Dumbledore. Através de espiões em Hogwarts, nós ficamos sabendo que ele possui uma penseira. O Lord quer essa penseira há muito tempo. Mas não havia como roubá-la de Hogwarts. Acontece que agora é crucial para o Lord que essa penseira seja levada a ele. E rápido!

– Muito bem. – interrompeu Lillith. – Agora me diga. Por que essa urgência? Eu ainda não entendi! Se o Lord esperou tanto tempo, o que fez com que isso se tornasse tão urgente?

– Acontece que, ao contrário de Dumbledore, Harry Potter chegou mesmo a acreditar que o Lord tivesse morrido. Ele acredita muito em sua própria capacidade e não queria admitir que não tinha vencido o duelo. Isso nos dava uma vantagem, até que o Potter começou a sentir a presença do Lord novamente. E o Lord percebeu isso porque começou a sentir a presença dele também. Eu descobri que apenas o Potter e Dumbledore acreditam que o Lord ainda esteja vivo. Mas é só uma questão de tempo até que eles convençam a todos que isso é verdade! E nossa vantagem não existirá mais.

– Essa vantagem que você diz... – Lola levantou a cabeça para olhar Lana nos olhos. – O Lord quer atacar de surpresa, não é? Por isso que a missão é tão urgente! Se os aurores começarem a acreditar que o Lord está realmente vivo, isso será muito mais difícil!

– Mas uma coisa eu não entendo! – Viviane estava inquieta. – Se eles são tão espertos quanto pensam ser, por que acham que ele está morto? O Lord já fez isso antes! Eles já deveriam ter aprendido a lição!

– Eles acreditam pelo mesmo motivo que os levou a acreditar da última vez! – Lana parecia estar se acalmando. Falava baixo agora, pacientemente. – Admitir que o Lord está vivo significaria que eles têm um problema a resolver. É bem mais fácil simplesmente ignorar a idéia.

– Isso não nos interessa no momento. – continuou Lillith. – Queremos a penseira. Se ela é mantida em Hogwarts, por que fomos até a sede da Ordem da Fênix?

Lana sorriu. Estava esperando para explicar isso a elas. Era o momento de glória de sua busca por informações.

– Eu descobri que o Potter continua praticando Oclumência. Como ele voltou a sentir a presença do Lord, foi convencido a continuar praticando para que não fosse usado novamente. Eu não sei se vocês sabiam que, no quinto ano, ele aprendia Oclumência com o Snape...

– O QUÊ? – as três ficaram de pé.

– Snape? - Lillith estava atônita – Você está falando sério?

– Estou. – Lana não parecia achar essa informação tão absurda.

– Eu sempre soube que ele era um traidor... – disse Viviane. – Mas essa pra mim é novidade! Logo o Snape? Que sempre odiou o Potter?

– E agora, como Dumbledore parece estar muito ocupado, ele está treinando com o Snape novamente. A informante, embora não soubesse o valor da informação que estava me dando, descreveu perfeitamente a penseira de Dumbledore. Eles a usam nos treinos.

– Isso significa que a penseira está na sede da Ordem da Fênix? – os olhos de Lillith brilharam.

– Por que vocês acham que eu as levei até lá?

– Sei lá! Vai ver você gosta do lugar... – disse Lillith, cinicamente.

– Escute... – sibilou Lana, furiosa. – Se você não vai falar sério...

– Tudo bem! – interrompeu Lillith. – Eu imaginei que nosso objetivo lá era arrumar um bode expiatório para tirar a penseira de Hogwarts.

– E quem seria?

Lillith olhou ao redor, esperando que alguma de suas amigas já tivesse entendido seu plano. Quando Lola abriu a boca para falar, ela sorriu.

– O Potter! – exclamou Lola, animada. – É claro! Como não pensei nisso?

– O Potter? – Lana parecia intrigada.

– Claro! – Viviane também compreendeu. – O Potter tem acesso à sala de Dumbledore. E nós não precisaríamos entrar na sede. Bastava atraí-lo para fora de lá e usa-lo!

– Mas como a penseira está lá dentro, seu plano não se aplica. – explicou Lana. – E eu soube que aquela Weasley está sempre lá. Ela só deixa a casa por alguns minutos, quando vai até o lado de fora se despedir de alguém. Ela com certeza acharia estranho o Potter sair de lá carregando a penseira com ele.

– Então voltamos à estaca zero? – perguntou Viviane?

– Eu não diria isso... – Lola tinha um sorriso maroto no rosto.

– Você tem alguma idéia? – perguntou Lana, incrédula.

– Você disse que a Weasley fica lá. – começou Lola. – Por Weasley, você quer dizer Virgínia Weasley ou a mãe dela?

– A mãe dela. – Lana balançou a cabeça. – Virgínia está na França, procurando por comensais.

Viviane fez uma careta. Nunca gostou de Virgínia Weasley. Muito menos depois que ela se tornou uma auror. Mas o que se podia esperar? Além de Weasley, ela sempre foi apaixonada pelo Potter.

– Ótimo. – continuou Lola, levantando-se. – Então é melhor irmos logo, antes que fiquemos sem tempo!

Sentada no chão do beco em frente à sede da Ordem da Fênix, pela segunda vez naquele dia, Viviane observava, silenciosa. Ao seu lado, Lillith se divertia fazendo um ratinho levitar enquanto Lola assistia calada. Lana olhava fixamente para o espaço de onde sairia o alvo delas. Faltava pouco...

Da mesma maneira que antes haviam sumido em frente aos olhos delas, os aurores Potter, Granger e Weasley apareceram no ar e desceram um lance de degraus invisíveis. Atrás deles veio Molly Weasley. Os quatro conversavam normalmente, desconhecendo a presença das comensais.

– Agora é só esperar os três irem embora e agir como combinamos. – sussurrou Lola, sorrindo.

– Eu ainda não compreendi como vocês vão fazer essa mulher cooperar... – disse Lana.

– Você ta brincando, né? – Lillith levantou uma sobrancelha, incrédula. – Como você se tornou comensal? Nunca ouviu falar de Imperius e Obliviate?

Lana pareceu ficar furiosa, mas não disse nada. Embora a conhecesse pouco, Viviane pôde adivinhar o que ela estaria pensando. E ela concordava.

"Nós somos desaforadas e cínicas... Mas somos brilhantes!"

Ela deu um sorrisinho, que desapareceu quando olhou de novo para os aurores. Eles não estavam mais lá. Provavelmente já tinham aparatado. Por sorte, deviam ter acabado de aparatar, porque a Weasley ainda estava parada no mesmo lugar. Então Viviane apertou os olhos para ver melhor. Ela parecia uma estátua. Tinha uma expressão boba no rosto. Atrás dela, Lillith e Lana tinham se calado e também olhavam para a gorda mulher de cabelos vermelhos. Ao lado de Viviane, Lola segurava a varinha, apontando para a mulher. Viviane sorriu e Lola sorriu de volta.

– Mas você não perde tempo mesmo, não é?

– Alguém aqui tem que ficar concentrada! – Lola piscou para ela.

Calmamente, as quatro comensais saíram do beco em que se encontravam e se aproximaram de Molly Weasley. O feitiço parecia ter funcionado. Lola se aproximou e disse, decidida:

– Levante seu braço direito.

Ela levantou. A expressão em seu rosto continuou a mesma. As quatro se olharam e ela continuou imóvel, o braço parado no ar. Com um sorrisinho satisfeito, Lola deu as ordens para que ela entrasse na sede da Ordem da Fênix, pegasse a penseira de Dumbledore e a trouxesse para fora. Quando ela voltou com a penseira, Lola a entregou para Lillith e elas voltaram para a proteção do beco escuro. De lá, Lola apontou a varinha para a Weasley.

Finite Incantatem! – disse Lola, agitando a varinha e, agitando novamente, sussurrou: – Obliviate!

Molly Weasley continuou parada, o olhar distante. Agora sua memória estava apagada. Antes que ela pudesse voltar ao normal e perceber alguma coisa, as quatro comensais aparataram.