Em Londres, quem passava entre as plataformas 9 e 10 da estação King's Cross podia perceber uma movimentação anormal. Quatro jovens mulheres vestidas de preto estavam paradas, lado a lado, usando capas com capuz e máscaras brancas. Elas observavam o movimento e, eventualmente, faziam comentários entre si.

– Estão prontas? – sussurrou Lillith.

– Sim... – responderam as outras três, em uníssono.

– Então comecemos!

As quatro comensais sacaram suas varinhas. Lola deu um passo à frente, enquanto as outras três permaneceram em fila, como guarda-costas. Ela olhou para os lados e anunciou:

– ATENÇÃO! OS COMENSAIS DA MORTE ESTÃO AQUI! SE VOCÊS QUEREM VIVER, CORRAM! AGORA!

Todos que estavam passando pararam imediatamente, incrédulos. Trouxas riam, acreditando ser uma apresentação de rua. Bruxos se entreolhavam, procurando uma resposta que fizesse sentido. Quem eram aquelas? Seriam realmente comensais? Eram loucas? Queriam expor os bruxos?

– Querem uma prova? – esbravejou Lola. – Eis a sua prova!

Ela apontou sua varinha para um trouxa de cabelos grisalhos que estava a cinco passos dela e sorriu, malignamente.

Cruccio!

O trouxa gritou de dor, arqueou-se para trás e caiu no chão, contorcendo-se como uma minhoca. Os bruxos que assistiam à cena puxaram suas varinhas, enquanto o homem gritava. As quatro comensais se entreolharam e Viviane acenou com a cabeça. Lillith retribuiu o aceno. O momento que se seguiu foi a perfeita representação do caos. Jatos de luz vermelha atravessavam a estação enquanto gritos de "Estupefatus!" eram ouvidos por todo o lugar. Trouxas gritavam e corriam, desesperados. Viviane pôde ver diversas pessoas caídas no chão, estuporadas. Olhando para a esquerda, ela viu Lillith divertindo-se com alguns trouxas apavorados. Lola fazia lixeiras perseguirem trouxas enquanto estuporava alguns bruxos. À sua direita, Viviane viu Lana usar a Cruciatus em alguns bruxos e trouxas e observa-los contorcendo-se, enquanto usava as varinhas que encontrava pelo chão para lançar diversos feitiços ao mesmo tempo.

"Ela é talentosa... Talvez possa se tornar nossa amiga... Quem sabe?"

– Funcionou! – Viviane ouviu Lillith dizer atrás de si.

Ela olhou para a direção em que Lillith olhava e viu Harry Potter desmontando de sua vassoura, seguido por Hermione Granger, Rony Weasley e Cho Chang. Quando as quatro comensais voltaram-se para eles, os trouxas e bruxos da estação fugiram. Em poucos segundos, só eles estavam ali.

"Patos! É o que todos eles são! Caíram como perfeitos patos!"

– Então o Triozinho Maravilha resolveu trazer ajuda? – riu Lillith, agora ao lado de Viviane.

As quatro riram alto. O rosto de Harry ficou vermelho. Hermione tinha uma expressão de desprezo no rosto e isso apenas fazia com que elas se divertissem ainda mais às custas deles.

– Ajuda? – perguntou Lola, cinicamente, olhando para os lados. – Onde?

Viviane e Lillith gargalharam e Lana sorriu com um ar triunfante. Hermione precipitou-se para frente como se pretendesse atacar uma das comensais, mas Rony segurou-a pelo braço.

– Vocês deveriam domesticar essa menina... – zombou Lillith. – Ela está se tornando muito agressiva... tsc, tsc, tsc...

– Cale a boca! – gritou Hermione, tentando desvencilhar-se.

Um barulho atrás dos aurores fez com que eles se virassem. Imediatamente, as quatro comensais, como se fossem uma, fizeram um movimento perfeitamente sincronizado de varinha. "Petrificus Totallus!" Os aurores ficaram duros como se cordas invisíveis os prendessem. Para a surpresa deles, de trás de uma pilastra, surgiu Voldemort. Ele vestia uma capa preta parecida com as das comensais, mas não usava capuz.

– Muito bem, Potter! – sibilou Voldemort. – Chegou a hora! Você terá o prazer de assistir seus amigos morrerem para que, logo depois, eu finalmente acabe de vez com você! Que comece o jogo!

Voldemort fez um movimento de varinha e Rony vacilou ao tentar se equilibrar. Olhando para ele com desprezo, o Lord repetiu o movimento e Hermione soltou-se de suas amarras invisíveis.

– Primeiro estes dois... – ele sorriu. – A vantagem é de vocês! Comecem!

Vários jatos de luz cruzaram a estação. O Lord desvencilhava-se rapidamente enquanto atingia seus adversários lançando-os longe. As comensais assistiam à cena enquanto se aproximavam lenta e sorrateiramente de Harry e Cho. Quando Viviane voltou a olhar para a cena deprimente à sua frente, Rony estava atirado ao chão, mal conseguindo firmar sua varinha. Hermione usava seu corpo como escudo, tentando protegê-lo. Lágrimas escorriam por seu rosto machucado, mas ela encarava Voldemort com nada mais e nada menos que repulsa e desprezo. Com um brilho sanguinário nos olhos, ele lançou um Avada Kedavra e depois outro. Os jatos de luz verde atingiram suas respectivas vítimas, que tombaram lentamente, a mesma expressão de pavor que todas as vítimas do Lord esboçavam. Harry Potter assistia a tudo, o terror estampado em seus olhos. Voldemort libertou os dois aurores, que se debruçaram, em prantos, sobre os corpos dos amigos.

– Vamos, Potter! – riu Voldemort. – Seja forte! Mostre que seus amigos não morreram em vão! Vamos! Mate-me!

Harry o encarou, as lágrimas lavando seu rosto, e levantou-se.

"Isso mesmo! Agora o toque final, Potter!"

Viviane estava atrás de Harry. À sua esquerda, ainda debruçada sobre o corpo de Hermione, Cho não percebeu quando ela foi andando de costas até as duas estarem alinhadas. Ela fez um sinal com a cabeça para que as outras comensais se posicionassem e ficassem preparadas. Parando ao lado de uma coluna atrás da qual ela poderia se esconder caso alguma coisa desse errado, Viviane fez um movimento com a varinha, apontando para Cho.

Ouviu-se um grito agudo e Cho Chang caiu no chão, contorcendo-se. Harry olhou para trás bem a tempo de ver Viviane apontando sua varinha para Cho, que assumia posições estranhas, arqueando as costas e balançando os braços freneticamente. Ela continuava gritando.

– Pare! – gritou Harry, puxando sua varinha.

– Não se atreva, Potter! – disse Lillith. Ela, Lola e Lana tinham suas varinhas apontadas para ele.

Ele olhou de uma para a outra e finalmente abaixou a varinha. Cho tombou de lado e encolheu-se, voltando, logo depois, a esticar-se novamente. Voldemort fez um sinal de cabeça e Viviane terminou o feitiço. Cho largou-se no chão, arfando. Sua blusa estava suja e as pontas de seus dedos estavam machucadas por se agarrar ao chão. Harry lançou um olhar furtivo para as comensais antes de se atirar ao lado dela e levantar sua cabeça para olhá-la nos olhos. Então Lillith moveu-se um pouco para a direita e, com a precisão e agilidade de um tigre, movimentou sua varinha.

Avada Kedavra!

O corpo de Cho endureceu e seus olhos se arregalaram. Harry agarrou-se a ela, seu choro causando-lhe espasmos. Ele pousou-a no chão e olhou em volta, procurando por Lillith. Mas ela não estava lá. Nenhuma das quatro estava lá. Apenas Voldemort continuava parado no mesmo lugar.

Em sua forma animal, enrolada no pescoço de Lillith, Viviane observava calada a cena que se desenrolava a poucos metros de onde se encontrava. Elas haviam feito exatamente o que o Lord ordenara. Atraíram Harry Potter até a estação, ajudaram a torturar e matar todos que viessem com ele e se afastaram em suas formas animais para deixar que ele, sozinho, acabasse com seu inimigo. Viviane via Harry Potter esbravejar enquanto o Lord apenas ria. Ela o viu investir várias vezes, sem sucesso, contra o Lord. Mas alguma coisa ainda a preocupava. A profecia falava sobre um poder que o Lord desconhece.

"Mas que raios de poder é esse?"

Viviane voltou sua atenção para o duelo. Harry Potter estava atirado ao chão. Ele não se movia mais. E não parecia estar respirando.

"Já morreu? Foi mais fácil do que eu imaginava..."

O Lord mantinha-se de pé, intocado, na mesma posição. Ele ria com desdém enquanto se aproximava do inimigo tombado. Com um ar de superioridade, Voldemort ficou de joelhos ao lado de Harry Potter e sussurrou algo que Viviane não pôde ouvir. Ela viu Harry erguendo a cabeça para encarar o Lord e, com um sobressalto, o viu lançar um feitiço que atingiu Voldemort na altura do estômago e o lançou contra a parede. Viviane voltou à sua forma humana e precipitou-se para frente, mas Lillith mordeu a manga da sua capa, segurando-a. Ela e as outras voltaram às formas humanas.

– Eu acho que descobri! – sussurrou Viviane, exasperada. – temos que parar o Lord!

– Do que você está falando? – sussurrou Lana.

– O poder que a profecia fala! – Viviane começou a falar cada vez mais rápido e agitar os braços. – O Lord tem que parar de brincar com ele e matá-lo! AGORA! Nós temos que...

– PÁRA! – Lola agarrou os braços de Viviane para que ela parasse de se mover. – Vivi, respira e explica com calma! Não ta dando pra entender!

Viviane respirou fundo. Sentada de costas para o duelo, ela teve que se virar ao ouvir um estrondo, mas sentiu-se um pouco mais tranqüila ao ver o Potter ser arremessado contra uma coluna. Acalmando-se um pouco, ela disse:

– Escutem! A profecia dizia que o Potter tem um poder que o Lord desconhece. Todos sabem que o Lord passou para ele um pouco de sua força quando tentou matá-lo. E que é por isso que ele tem aquela cicatriz. Mas se Dumbledore é considerado um bruxo tão poderoso ou até mais poderoso que o Lord, então por que é o Potter quem pode destruí-lo?

– E sou eu que sei? – Lola deu de ombros. – É por iss...

– Espere! – interrompeu Lillith. – Eu to entendendo! Deve ter alguma coisa que nós não descobrimos ainda. O Potter não é o mais poderoso dos bruxos. Mas deve ter alguma coisa que o Lord fez que... que...

Lillith parou de falar e seu olhar se perdeu. Viviane percebeu que ela havia compreendido. Lana e Lola olhavam para as duas sem entender nada.

– Então é isso! – exclamou Lillith. – Nós matamos aqueles que o Potter mais amava! Os amigos e a namoradinha! Ele está com muita raiva e isso dá tanto poder a ele, que chega a deixá-lo tão forte quanto o lord!

– Lana, você precisa enviar sua coruja para buscar ajuda! – sussurrou Viviane. – Talvez só nós quatro não sejamos o suficiente para ajudar o Lord.

Lana concordou com um aceno de cabeça e se afastou. Nesse mesmo instante, as três comensais ouviram um estrondo ainda maior. Ao olharem em direção a Harry Potter e Voldemort, elas viram uma cena aterrorizante. Os dois estavam parados um de frente para o outro, há apenas alguns passos de distância. Ambos tinham membros em carne viva. Suas roupas estavam reduzidas a trapos e eles mal conseguiam ficar de pé. Embora ofegassem e estivessem curvados de tanta dor, ambos empunhavam suas varinhas e encaravam-se com um brilho doentio nos olhos. O lugar estava completamente destruído em volta dos dois e o chão estava coberto de sangue. Viviane mal pôde se mover. Ela ouviu dois gritos ao mesmo tempo. "Avada Kedavra!" gritaram as duas vozes. Uma explosão verde fez com que ela, Lola e Lillith fossem atiradas ao chão. Uma nuvem gigantesca de poeira subiu. Tossindo e sem enxergar um palmo à sua frente, Viviane levantou-se e saiu andando, tateando à sua frente para não bater em nada. Quando a poeira baixou, ela pôde ver dois corpos estirados no chão. Ela caminhou rapidamente até o Lord e ajoelhou-se ao lado dele. Ele não estava respirando. Seus olhos estavam arregalados e sua boca ainda estava aberta como se ele estivesse lançando um feitiço. Ela pôs dois dedos em seu pescoço. Nada. Sem pulso.

– A ajuda está vindo! – Veio a voz de Lana.

Ela veio correndo na direção de Lola, Viviane e Lillith. Ao ver o corpo do Lord, ela parou, perdendo um pouco o equilíbrio. Lentamente, Lana foi se aproximando, sua expressão demonstrando mais tristeza e revolta do que medo. Ela ajoelhou-se ao lado do Lord, de frente para Viviane. Com as mãos trêmulas, tocou a face dele. Viviane viu uma lágrima escorrer por sua face.

"Não acredito! Então ELA é a amante do Lord das trevas!"

Lana passou as mãos pelos cabelos de Voldemort e fechou os olhos. As outras três comensais permaneceram em silêncio. Lillith e Lola haviam chegado à mesma conclusão que Viviane. Então Lana olhou na direção de Harry Potter e seus olhos se arregalaram. Viviane olhou para ele também. Seu peito estava se movendo para cima e para baixo, num movimento rítmico.

"Ele está vivo! O desgraçado está VIVO!"

Lana levantou-se e caminhou na direção de Harry potter. Viviane foi atrás dela. Lana ajoelhou-se, agarrou Harry Potter pela camisa e ergueu seu tronco até ficar cara a cara com ele. Ele olhou nos olhos dela e deu um fraco sorriso de vitória.

– Parece... que o seu... Lord não era tão... invencível assim... – ele disse, com dificuldade.

– Seu desgraçado! – Lana esbravejou, esmurrando o rosto dele. – Miserável! Desgraçado! Infeliz! Eu vou te ensinar uma coisa!

Viviane agarrou Lana, fazendo com que ela soltasse Harry Potter, que caiu no chão como um saco de batatas. As quatro comensais posicionaram-se ao redor dele, empunhando suas varinhas. Em coro, elas o torturaram com a maldição Cruciattus e depois o mataram com o Avada Kedavra. Neste instante, os outros comensais chegaram.

– O que aconteceu aqui? – disse Draco Malfoy, olhando em volta.

– Ele matou o Lord. – respondeu Lillith, quase num sussurro, apontando para o corpo do Potter.

– Vocês o mataram? – indagou um comensal que havia parado ao lado de Draco naquele momento.

– Claro! – gritou Lola. – O que você acha? Acha que iríamos assistir esse idiota matar o Lord das Trevas e depois deixa-lo ir com uma tapinha no ombro?

Viviane puxou Lola para junto de si, a fim de evitar mais discussões.

– Draco... – Lillith se aproximou do irmão. – O que vamos fazer agora?

– Vamos continuar de onde o Lord parou. – disse Draco, abraçando Lillith. – Vamos terminar o que ele começou.

– Escutem. – uma bruxa caminhou na direção deles. – Não é novidade que o Lord não liderava os comensais sozinho. Ele tinha muitos bruxos perto dele aconselhando e ajudando nas missões.

– E o que isso tem a ver? – Draco interrompeu.

– Por que vocês não assumem? – continuou a bruxa. – Vocês eram os mais próximos a ele. Ele confiava em vocês!

Viviane, Lola e Lana juntaram-se a Draco e Lillith. Como se o assunto já tivesse sido resolvido, os outros comensais começaram a aparatar. Os cinco deram as mãos. Era hora de recomeçar. Em silêncio, eles aparataram.

Um novo reino das trevas estava para começar!