"Alegra-me ver que estás vivo. Receei o pior. Quando caíste junto do rio já o veneno se havia alastrado demasiado, mas és um homem forte e agora estás completamente curado. O sofrimento em breve, não passará de meras recordações."

» A voz veio do fundo do quarto. Era doce e suave, bela e clara. Notei por ela que fora uma senhora quem falara e a sua voz, por mais estranho que me parecesse, tranquilizava-me.

"Quem sois?" perguntei. E ela respondeu-me "É muito cedo para apresentações. Por enquanto desejo apenas falar contigo. Queria pedir desculpa pelo ataque da aranha. Os animais sempre foram nossos amigos e aliados, e nunca atacaram sem o nosso consentimento. Mas ultimamente a cidade tem sofrido ataques e a floresta é aos poucos destruída e todo o cuidado é pouco. Gnomos e Wargs aliaram-se e quebraram a paz que durava à tantas Eras. Chegou-lhes aos ouvidos que o nosso rio é feito de diamantes. Criaturas gananciosas, os gnomos. Como não nos conseguiriam vencer (pois restam muito poucos deles, por estas bandas) pediram ajuda aos lobos selvagens."

» A curiosidade invadiu-me e não contive a minha voz. "E o rio é mesmo feito de diamantes?". "Nem todas as histórias que se contam são reais. O rio não é feito de diamantes, mas tem o seu brilho e a sua beleza. Diz-se que os Silmarilli foram banhados nas suas águas, e foi daí que obtiveram a sua beleza inigualável. Porém vim para estas terras muito depois dos Silmarilli serem forjados e desconheço a sua veracidade." Disse-me ela. Reflectindo sobre o que tinha ouvido pensei como tinha sido tanta beleza escondida durante todo este tempo. E como se me tivesse invadido a mente ela disse-me "A luz é escondida pelas trevas. Poucos se aventuraram na floresta, pois o medo apoderava-se deles. E desses poucos que entraram e chegaram à cidade, nenhum jamais dela saiu. Mas agora pergunto-me, porque entraste na floresta?" esperei um bocado antes de responder. Embora estivesse recuperado, sentia-me um pouco fatigado. Mas por fim recuperei-me e respondi-lhe.

» "Sou um caminhante, como já deveis ter reparado. Vim para estes lados, com o intuito de descobrir novas terras. Nunca tinha ouvido sequer falar deste lugar, e a floresta pareceu-me um tanto misteriosa, por isso resolvi explora-la. Devo admitir que senti um medo terrível e um calafrio na espinha. Primeiro, quando entrei, aquele silêncio. Fui capaz de ouvir o meu próprio coração. Depois a escuridão ameaçadora e todos aqueles olhos que me fitavam. Mas não desisti."

» "Quem és tu?" perguntou-me ela, mas antes de poder responder ela disse "Eu já ouvi falar de ti. Sim… sabes, nem todos os animais são espiões do inimigo, aliás, são eles que nos trazem as notícias do mundo. Passo de Gigante… não te chamam isso em Bree? Aquele que anda em largas passadas. E os elfos chamam-te Elessar. Mas eu conheço a tua verdadeira identidade Aragorn, filho de Arathorn, herdeiro de Elendil e de Gondor. Eu sou Gilraen, senhora da Cidade da Luz."

» Retirou o capuz. Sobre os seus ombros, caíram-lhe os longos fios de ouro. Os seus olhos eram de cor de safira, belos como a mais bela das gemas. A luz das estrelas residia neles e na sua face. Por momentos pensei que Lúthien tivesse voltado à vida, mas então percebi que ela era mais bela do que Lúthien Tenúviel. Ela era uma elfo, mas não o parecia. Quem a visse julgava-a uma dos Valar. Admito que fiquei encantado com a sua beleza. E por momentos fiquei a olha-la, silencioso. Depois ela disse-me "Vem Aragorn, vem conhecer a Cidade do Lago."