Duo recuou um passo, tentando se livrar daqueles braços e daquele olhar predador de cima de si, mas não conseguiu ir muito longe visto que ainda estava preso firmemente pelo vampiro.
-Tsc, tsc, tsc, não se mexa muito belezinha, senão tira toda a graça da brincadeira.- O vampiro sibilou, com um sorriso malicioso no rosto deformado.
-Me solta!- Duo ordenou com a voz mais firme que pôde encontrar, remexendo-se mais dentro do aperto da criatura.
-Acho que não é você quem dá as ordens aqui, não é?
-ME SOLTA!-Gritou, remexendo-se mais fortemente e finalmente conseguindo se livrar do aperto, deixando o vampiro apenas com o seu casaco, para trás.
O jovem de olhos violetas correu mais do que as suas pernas poderiam suportar, sentindo que a criatura estava vindo atrás de si. Em outros tempos ele apenas teria ficado e lutado, cravando uma estaca bem fundo naquele infeliz. Mas isso não eram outros tempos, e ele precisava fugir.
Desesperado, ele parou no meio da rua, acenando e pedindo ajuda, mas os poucos carros que passavam apenas desviavam de sua pessoa e continuavam seu caminho. Desolado, ele soltou um suspiro, com lágrimas de desespero começando a arder em seus olhos. Mas ele não iria chorar, chorar era sinal de fraqueza e ficar mais vulnerável do que ele estava agora era a última coisa que queria. Quando pensou que estava perdido ao ver que outro vampiro estava a sua caça, com certeza deveria ser colega daquele que o abordou, um carro abençoado veio derrapando pela esquina e parou ao seu lado.
-Entra!- Treize gritou, abrindo a porta de passageiro e Duo pulou dentro do carro, sumindo com seu sentinela pelas ruas de Sunnydale e deixando os vampiros para trás.
Vinte minutos de fuga depois, Duo e Treize encontravam-se dentro da biblioteca da escola, com Duo sentindo todo o seu corpo tremer.
-O que está acontecendo comigo, Treize? –Murmurou desolado, escondendo o rosto entre as mãos. –Você conseguiu descobrir o que há de errado?- O rapaz ergueu a cabeça, mirando seu sentinela nos olhos. Treize soltou um suspiro cansado e recolheu a sua bolsa, retirando uma pequena caixa fina e alongada de dentro dela, a deslizando pela mesa e a abrindo para Duo ver seu conteúdo. Era um frasco com um líquido amarelado e uma seringa.
-É um composto orgânico de relaxantes musculares e retardamento na produção de algumas enzimas… Em alguns dias você deverá estar novo em folha.
-Como?- Duo engoliu em seco, tentando evitar o choro. Já havia dito a si mesmo que não iria chorar.
-Quando um caça vampiros chega aos dezoito anos, se chegar aos dezoito anos, ele é submetido a um tipo de teste. O caçador é enfraquecido e depois trancado dentro de uma casa com um vampiro para poder destruí-lo.
-Você sabia o tempo todo o que estava acontecendo comigo e não me disse nada!- Berrou o garoto, estapeando a caixa com a seringa e a jogando longe, fazendo o vidro com a substância se partir na queda.
-Minhas ordens eram apenas te enfraquecer e te guiar até a casa onde seria realizado o teste…
-Cala a boca! Como você pode ser tão cínico? Como você pôde fazer isso comigo? Eu confiei a minha vida a você durante esses anos e é assim que eu sou retribuído?
-Duo… eram ordens do Conselho, eu não poderia…
-Que se dane o Conselho! Não é o infeliz do Conselho que arrisca o pescoço todas as noites caçando demônios. SOU EU! E ao menos eu esperava ter uma cobertura na qual eu pudesse confiar.
-Eu sei Duo, e eu sinto muito…- Treize tentou aproximar-se do garoto para consolá-lo, sabia o quanto ele deveria estar desapontado. Duo nunca fora de confiar nas pessoas tão facilmente. Depois que seus pais e seu irmão foram mortos cruelmente por vampiros ele se viu sozinho no mundo, tendo que aprender a se virar, antes de vir para Sunnydale. Depois que seu antigo sentinela também fora morto, o rapaz que por fora aparentava ser um posso de alegria, na verdade estava fechado dentro de si mesmo para ninguém ver a sua dor. E trair a sua confiança desse jeito doía tanto em Treize quanto em Duo.
-Não toque em mim senão eu te mato.- Sibilou o jovem, recuando do toque de Treize.
-Sinto muito.- Retrucou o homem, sentindo ainda mais ferido diante da agressividade do rapaz, e ainda mais culpado. –Porém agora que você sabe do teste, esse se torna inválido. Então eu recomendo…
-Sr. Khushrenada, o senhor tem algum livro sobre a guerra civil… -Uma figura entrou na biblioteca, atraindo a atenção dos dois e os interrompendo. –Que clima pesado é esse?- Quatre perguntou, sentindo seu coração apertar e seu dom empático ativar-se.
-Quatre…- Duo virou-se para o amigo. –Poderia me levar para casa?
-Claro.- Respondeu o loirinho, ainda sentindo o ar pesado a sua volta por bastante tempo, mesmo depois que ele saiu da biblioteca.
* * * * *
O orfanato da Igreja St. James ficava localizado em frente à própria, do outro lado da rua, graças à generosa doação que um grupo de milionários, há algumas décadas atrás, fizeram a igreja para poder abrigar os pobres órfãos que surgiam diante das mortes misteriosas dos pais. Bem, para os menos entendidos se classificada como mortes misteriosas. Para os mais compreendidos se classificava como vampiros. Pois era isso o que a maioria dos órfãos daquele local eram, filhos de vítimas de demônios. E enquanto as crianças mais novas ainda eram inocentes e ignorantes, os mais velhos já sabiam o que andava pelas ruas de Sunnydale à noite, assim como sabiam que o morador mais velho daquele orfanato os combatia.
Irmã Helen olhou de suas agulhas de tricô para o velho relógio na parede da sala. Estava tarde e boa parte das crianças mais novas já estavam dormindo enquanto as mais velhas, com certeza, deveriam estar fazendo algum dever de casa atrasado ou conversando a altas horas na cama. Porém não eram as crianças dormindo que a preocupava, era uma que estava acordada, e que não estava em casa àquela hora. O que a preocupava era Duo.
Fazia alguns dias que o jovem estava reclamando de como estava se sentindo fraco. No início a Irmã pensou que ele estava se sentindo cansado por causa de uma virose, quando o rapaz explicou que a fraqueza dele se devia ao fato de que ele estava perdendo seus poderes de caçador. Sim, Helen sabia da perigosa profissão de Duo. Assim como ele, outras garotas passaram pela cidade para combater o mal gerado pela Boca do Inferno, mas, diferente de Duo, as outras não sobreviveram por muito tempo e era isso o que preocupava a Irmã. Por quanto tempo seu querido Duo seria abençoado com a proteção de Deus? Embora o próprio Duo não acreditasse muito no senhor, dizendo que o único Deus que existia na sua vida era o Deus da Morte, Helen ainda sim não deixava de rezar pela segurança do menino. E o fato de ele estar fraco e há essa hora na rua não fazia seu coração ficar mais calmo.
A mulher voltou ao seu tricô, pensando que ocupando a sua mente com algo o tempo passaria mais rápido e logo Duo estaria de volta, quando ouviu um ruído do lado de fora da casa, abrindo um pequeno sorriso diante disso. Duo havia voltado.
Levantando-se da velha poltrona, ela caminhou até a porta de entrada da casa, a abrindo e olhando a varanda a sua volta. Estranho, ela havia jurado que tinha ouvido alguma coisa.
-Duo?- Chamou, olhando mais uma vez e divisando uma figura caída na varanda, vestida com o casaco de Duo. –Duo querido, o que você está fazendo aí? Você está bem? –Perguntou a Irmã, preocupada, tocando no corpo caído, quando esse se remexeu e virou-se em direção a ela. Aquele que estava ali não era Duo. Deus o que aquela criatura das trevas estava fazendo no orfanato? Ali era um solo sagrado pelo simples fato de fazer parte da Igreja. Como aquela criatura não estava sentindo dor? Na verdade, ela pensou, ela deveria estar sentindo a dor de Deus, mas apenas estava ignorando-a.
-Olá… Irmã!- O vampiro levantou-se em um salto e Helen tentou recuar, entrando na casa onde estaria segura, mas não teve tanta sorte assim em fugir, pois logo o demônio agarrou em seu braço e a prendeu contra o seu corpo. –Você e eu, Irmã, daremos uma pequena voltinha.
* * * * *
-Valeu pela carona, Q!- Duo bateu a porta do carro do amigo árabe, percebendo que esse ainda lhe lançava um olhar preocupado. Durante todo o percurso desde a escola até o orfanato, o loirinho ficou lhe lançando olhares, esperando que ele lhe dissesse alguma coisa. E Duo sabia que, com o seu dom empático, Quatre estava ao menos um pouco dentro da situação que ele e Treize tinham passado agora a pouco. Porém, o jovem caçador não estava com disposição para discutir nada. Ele apenas queria ir para a sua cama e dormir a noite inteira, esperando que quando acordasse tudo não passasse de um pesadelo.
-Certo. Te vejo amanhã na escola. Boa noite Duo. Qualquer coisa, me liga.- Respondeu o garoto, ligando novamente o carro e partindo.
Duo ainda ficou um tempo parado na entrada da grande casa que servia como orfanato, vendo o carro de Quatre sumir na esquina, quando decidiu entrar na casa. Caminhou pelo vasto jardim, sempre bem cuidado pela Irmã Helen e as crianças mais novas, alcançando a varanda e finalmente a porta, quando notou que havia algo de errado. A porta da casa estava aberta e isso era estranho. Olhou em volta para a varanda, mas não viu ninguém lá. O que estava acontecendo? Caminhou até o batente da porta e viu que tinha algo preso nela. Era uma foto. Duo recolheu a foto e rangeu os dentes diante do que viu. Era uma Irmã Helen assustada, sendo segurada pelo mesmo vampiro que o abordou mais cedo. Virando a foto, a única coisa escrita nela era um: venha. Então o vampiro queria um confronto? Um confronto ele teria.
Subindo as escadas da casa rapidamente, Duo alcançou o quarto que dividia com alguns dos garotos mais velhos, acordando eles quando acendeu a luz.
-Duo? O que você está fazendo? Apague essa coisa.- Louis resmungou, vendo o amigo ir direto para a sua cama e abrir o baú que estava ao pé dessa, começando a recolher as armas dentro do compartimento secreto do mesmo.
-O que está acontecendo, Duo?- O menino ergueu-se na cama, observando o rapaz recolhendo armas e mais armas. Viu quando Duo pegou a sua foice de estimação, Deathscythe era como ele a chamava, e a colocou na bolsa. Se Duo estava carregando a foice é porque ele estava irritado.
-Irmã Helen… -Começou o rapaz de longa trança, sentindo as palavras entalarem na garganta enquanto colocava um vidro de água benta dentro do bolso da calça. -… Um maldito vampiro seqüestrou a Irmã Helen. –Pequenos gritos e ofegos aterrorizados foram-se ouvidos dentro do quarto. –Não se preocupem, -Duo começou, quando viu o olhar temeroso dos garotos. –eu vou trazê-la de volta.
-Você não pode Duo!- Louis pulou cama afora, indo em direção ao jovem que ele considerava um irmão. Na verdade, Duo era o irmãozão de todos, por ser o mais velho. –Padre Maxwell disse que nos últimos dias você anda fraco, que é por isso que não faz mais a patrulha. Não pode encarar um vampiro sozinho…
-Apenas avise ao meu tio aonde eu fui. Eu vou tirar a irmã de lá e se eu não voltar… eu…
-Duo!- Oliver, um dos meninos que dividia o quarto, correu até Duo e o abraçou pela cintura. –Boa sorte.- Desejou e o rapaz de olhos violetas sorriu, saindo rapidamente do quarto.
* * * * *
-Sabe Irmã… -O vampiro começou, tirando fotos e mais fotos instantâneas do rosto da freira, que estava amordaçada e amarrada à cadeira de madeira. -… Eu tive uma mãe, mas ela não era o que se poderia se chamar de mãe. Foi péssima. Eu a odiava. Quando fui transformado em vampiro, eu a matei. Ainda lembro do rosto aterrorizado dela quando ela me viu.- Helen remexeu-se na cadeira, tentando soltar as amarras inutilmente. –Aquele garoto deve te considerar uma mãe, não deve? Irei matá-lo. -Atestou, batendo mais uma foto e os olhos da freira arregalaram-se de pavor. Duo estava fraco e nunca conseguiria combater aquela criatura de igual para igual. –Mas não, não matá-lo por toda a eternidade. O tornarei como eu e ele irá matá-la. Isso será muito interessante, não acha irmã?- Um leve barulho no andar superior da velha pensão chamou a atenção de ambos. –Hum, parece que temos visita. Acho que está na hora de começarmos a brincar.
Duo entrou com cautela dentro da velha pensão, depositando sua bolsa de armas sofre um sofá velho. Preso em sua cintura, estava a sua estimada foice, ligada a uma corrente que servia para ataques longos, em suas mãos estava uma besta já armada para qualquer ocasião, enquanto no bolso detrás de sua calça estavam uma estaca e um frasco de água benta.
Como se estivesse caminhando sobre ovos, o rapaz aprofundou-se dentro da casa, mal conseguindo divisar as coisas devido à fraca luz das velas que havia no local, quando um ruído o fez virar bruscamente com a besta pronta para disparar. O vampiro apareceu na sua frente do nada, com o mesmo sorriso predador que possuía quando o abordou no meio da rua. Por reflexo, Duo disparou a besta, apenas para atingir o ar, fazendo o demônio soltar uma gargalhada arrepiante. Com as mãos trêmulas e recuando cada vez mais, o rapaz tentou armar novamente a arma, mas essa foi tirada de suas mãos com imensa facilidade e rapidez, o fazendo recorrer à estaca que estava em seu bolso.
-Veio preparado eu vejo… -Começou o vampiro, achando divertido o olhar temeroso do rapaz enquanto empunhava aquele pedaço de madeira como se esse fosse a sua salvação. -… mas parece que não está apto ao serviço. –Em uma velocidade impressionante o demônio segurou Duo pelo pescoço, o erguendo alguns centímetros e o jogando em cima da lareira, o fazendo perder a estaca, e avançou em cima dele. Pondo-se de pé novamente, Duo pulou sobre o sofá e começou a correr casa adentro. Se não tinha como usar armas, precisaria encontrar outra coisa. Talvez fogo. Precisava de fogo.
A porta que levava a cozinha abriu-se bruscamente, permitindo a passagem de Duo, que rapidamente a trancou por dentro e soltou um suspiro de alívio, para depois quase gritar diante do choque inicial de ver um corpo despedaçado em cima da mesa. Ignorando isso, ele procurou pelas gavetas velhas, armários, qualquer coisa que fosse mais eficiente que estacas e flechas, já que os reflexos dele estavam meio fracos essa noite. Ainda vasculhando as gavetas, o rapaz quase pulou de susto quando a porta a qual tinha acabado de trancar tremeu nas dobradiças com o impacto do vampiro. Rodando pela cozinha, ele viu uma outra porta de saída e passou por ela, ganhando o corredor e novamente a sala, que surpreendentemente estava vazia. Aonde o demônio poderia ter ido? Retirando a deathscythe de sua cintura, ele começou a andar pela sala, tentando detectar o vampiro e imaginar onde Irmã Helen estava. Seus olhos vagaram pelo aposento até que recaíram sobre as escadas. Talvez ela estivesse lá em cima.
Subindo os degraus atentamente, o jovem estava quase alcançando o topo quando um braço quebrou as barras do corrimão e agarrou a sua perna, o puxando para baixo. Desesperado, Duo tentou soltar-se do aperto daquela mão mas seus chutes não surtiam efeito. Num ato impulsivo, ele ergueu a deathscythe e com força a cravou no braço do vampiro, o fazendo o soltar em meio a um grunhido de dor. Conseguindo se levantar novamente, o rapaz correu escada acima, ouvindo os passos do seu perseguidor atrás de si. Forçou passagens e portas, até que conseguiu encontrar uma porta aberta e entrar em um quarto. Quando fechou a porta atrás de si e olhou a sua volta, levou o segundo choque da noite.
-Mas que porcaria é essa?- Murmurou espantado, ainda empunhando a sua foice, ao ver milhares de fotos da Irmã Helen penduradas nas paredes velhas do quarto. Ainda estava entretido observando aquela exposição de mau gosto, quando a parede do aposento tremeu e foi quebrada pelo braço do demônio. Rapidamente Duo destrancou a porta e alcançou novamente o corredor, mas a sua fuga foi impedida por um golpe que o fez voar uns bons metros e cair atordoado no chão.
-Você está dando trabalho e isso está me divertindo muito.- O vampiro aproximou-se do garoto, o pegando pela trança e o puxando para se levantar, ganhando um gemido do menino. –Toda essa beleza ser perdida com o tempo será um desperdício. O tornarei como eu, imortal. –A única resposta de Duo em um ato de coragem foi cuspir no rosto deformado do vampiro.
-Vai pro inferno.
-Eu vou… e você vai comigo.- Sibilou a criatura, aproximando o rapaz que se debatia e exibindo seu pescoço pálido, pronto para mordê-lo, quando uma dor cruzou seu cérebro. –Argh! –Gritou,soltando o caçador e segurando a cabeça entre as mãos. Duo observou com interesse aquela cena, quando viu o vampiro tirar um frasco de remédio de dentro do bolso e tentar abri-lo. Rapidamente ele avançou para cima do demônio e arrancou o frasco da mão dele, começando a fugir desembalado pelo corredor, com a criatura urrando de raiva atrás dele, e se jogando dentro do pequeno buraco do encanamento da velha lavanderia.
Duo deslizou pelo encanamento até cair pesadamente contra o chão duro de concreto. Ao longe ainda podia ouvir os gritos histéricos do vampiro atrás de seus medicamentos. Levantando-se cambaleante, o rapaz sentiu um certo alívio no coração quando viu Irmã Helen intacta na cadeira. Correu até ela e rapidamente tirou a sua mordaça.
-Temos que sair daqui Duo!- A freira falou desesperada, agradecendo aos céus pelo menino estar bem, embora tivesse um corte feio na testa e um hematoma no rosto, fora o restante do corpo.
-Eu sei, eu sei!- Retrucou o rapaz, tentando soltar as cordas. –Eu não consigo soltá-las, estão muito apertadas.
-A foice!- A irmã lembrou e o garoto ergueu a foice, pronto para cortar as cordas.
O estrondo da porta do porão se abrindo atraiu as duas pessoas que estavam lá, levando seus corações a boca. O vampiro desceu insano pelas escadas, divisando Duo no caminho e o agarrando pelo braço, o jogando contra uma pilastra de madeira.
-Onde estão as minhas pílulas?!- Bradou e o menino apenas acenou para a mesa que estava a um canto do local. Rapidamente o demônio foi até lá e pegou as pílulas, as ingerindo junto com um copo d'água que lá tinha. Assim que as engoliu, suspirou aliviado. –Sabe, realmente você tem espírito garoto, vou gostar de transforma… -Sentiu uma queimação estranha começar de dentro para fora, como se estivesse saindo em um dia ensolarado para passear. Arregalou os olhos em direção a Duo apenas para ver esse erguer calmamente um frasco vazio de água benta. –Se… -Mas não disse muito, pois logo se dissolveu em pó.
-Irmã Helen!- Duo correu para a freira para terminar de soltá-la, quando outro estrondo chamou a atenção deles dois. Um outro vampiro entrava no porão, lutando com alguém que o jovem caçador conseguiu identificar como Treize. Assim que o demônio o encurralou contra uma parede, o sentinela aproveitou o momento e cravou uma estaca no coração dele, dando um fim a aquele maldito teste.
* * * * *
-Meus parabéns sr. Maxwell, o senhor passou no teste.- O conselheiro disse ao jovem que agora se encontrava sentado em uma das cadeiras da biblioteca. –Mostrou rapidez e inteligência, coisas essenciais a um caçador.
-Espero que quando eu recuperar os meus poderes, você esteja fora da cidade, senão eu terei um imenso prazer de lhe apresentar a minha querida deathscythe. –Ameaçou, o mirando com frios olhos violetas.
-Ele realmente é tudo isso que você falou Khushrenada. O treinou bem, contudo…
-O quê?- Duo o interrompeu, querendo mais do que nunca que seus poderes voltassem nesse exato momento para poder estrangular aquele homem.
-Será exonerado de seu cargo de sentinela. Está despedido sr. Khushrenada.
-Despedido?! –O jovem trançado gritou. –Vocês não podem despedir o Treize! Por que irão despedi-lo?- E por que Treize não se defendia?
-Uma relação sentinela/caça vampiros tem que ser algo impessoal, sr. Maxwell. Porém, parece que o senhor Khushrenada desenvolveu uma afeição paternal por seu caçador e isso o atrapalhou em suas decisões. Diante do conselho, ele falhou em sua missão e por isso será afastado.
-O quê? Mas… -Duo estava estupefato. Treize só tentara ajudá-lo e era assim que ele era retribuído? E, espere um pouco, ele disse afeição paternal? Será que era esse tipo de relação que eles dois tinham? Pensando bem e revendo tudo o que eles passaram, poderia se dizer que sim.
-Um novo sentinela será requisitado em breve. Bem, isso é tudo. Novamente, parabéns sr. Maxwell. –As congratulações já estavam dando nos nervos de Duo. Não havia parabéns nenhum a ser dado. Se aquele vampiro não tivesse seqüestrado Irmã Helen, ele deixaria o Conselho se ferrar com as suas cagadas que ele não estava nem aí.
Quando o conselheiro partiu, Treize e Duo ainda ficaram uns bons minutos se encarando em silêncio, quando Duo resolveu que era hora de cuidar de suas feridas de guerra. Molhando um lenço em um pote d'água, ele começou a limpar o corte em sua testa, quando Treize retirou o lenço de sua mão e começou a fazer o serviço por si mesmo. E observando essa cena ele teria que admitir, pela primeira vez, que o Conselho tinha uma certa razão. Sua relação com Treize já tinha ultrapassado todos os laços profissionais.
* * * * *
-E então, descobriu alguma coisa? –Heero perguntou quando viu Wufei retornar ao mausoléu depois de mais uma volta a cata de informações.
-Entrei nos dados do Conselho de Sentinelas. Estão informatizados mas não sabem nem colocar bons códigos de segurança dentro de seus arquivos. Ainda são meio atrasados… -Quando viu o olhar azul cobalto sobre si, o chinês resolveu ir direto ao ponto. -… Certo. Parece que um novo sentinela foi designado para Sunnydale.
-Novo? O que houve com o outro? Morto?
-Demitido.- Wufei resmungou, observando as folhas que tinha imprimido na biblioteca municipal, onde usou os computadores para entrar nos arquivos do Conselho.
-Motivo?- Heero indagou, rodando pela sala e apreciando uma espada antiga que estava pendurada sobre a lareira.
-Parece que ele interveio durante o teste dos dezoito anos de seu caçador…
-Está me dizendo que o caçador dessa cidade já chegou aos dezoito?
-Isso mesmo. O garoto deve ser bom para ter sobrevivido por todo esse tempo.
-E o que mais diz?- Retrucou o japonês, não querendo fugir do assunto principal.
-Bem, o caçador passou no teste, apesar da interferência. O motivo da demissão foi… -Wufei folheou mais os papéis do relatório que entrou para os arquivos do ex-sentinela. -… "O sentinela em questão desenvolveu um sentimento paternalista em relação ao seu pupilo…".
-Um milagre. Geralmente eles são frios e distantes. Hunf! Ingleses.- Heero murmurou, pegando a espada sobre a lareira e a rodando entre as mãos.
-Bem, com o desligamento do Conselho eu acho meio difícil ele ser de alguma ajuda.
-Errado caro amigo, ele é perfeito. O Conselho nunca gostou de mim mesmo. Com esse sentinela fora da jurisdição do Conselho com certeza conseguirei mais ajuda, pois ele não estará com a preocupação de perder o emprego. Agora, você descobriu nomes e outras coisas ou apenas a avaliação idiota do Conselho?
-O que você acha?- Wufei perguntou azedo, não acreditando que Heero seria capaz de duvidar da sua capacidade de coleta de informações e dados sobre inimigos e aliados.
-Chang… -Advertiu com um tom frio, como um iceberg, de voz.
-Certo. Treize Khushrenada é o nome do nosso homem. Trabalha na biblioteca da escola de Sunnydale. É lá onde podemos encontrá-lo. Um lugar público, onde você poderá abordá-lo se quiser logo esse encontro.
-Ótimo. Conseguiu o nome do pupilo dele? Esse temido caçador conhecido como Shinigami no submundo?
-Ah sim… -Wufei folheou mais páginas. -… Esse garoto tem uma ficha e tanto. Rebelde, arruaceiro, não acata ordens facilmente…
-Nomes, Chang, eu quero nomes.
-Sempre apressado. Para alguém que viveu mais de dois séculos, você deveria saber que a pressa não nos leva a lugar algum.- Retrucou a chinês em um tom monótono e sem emoções na voz.
-Chang. –Heero advertiu pela segunda vez e Wufei sabia que se houvesse uma terceira, ele estaria com grandes problemas.
-Shinigami! O temido Shinigami na verdade é conhecido no mundo dos vivos como Duo… Duo Maxwell.
