A canção dos grilos era a única coisa que soava na noite fria de Sunnydale. Nenhuma alma viva encontrava-se vagando pelas ruas durante aquela madrugada e, mesmo se houvesse alguém, estranharia aquele peculiar grupo que no momento caminhava em direção ao cemitério principal da cidade, com ares muito suspeitos. Duas meninas e quatro rapazes caminhavam entre as lápides, como se não se abalassem em nada com as histórias que aquele cemitério já gerou.

-Eu realmente não acredito que estou perdendo a minha noite aqui com vocês, seu grupo de malucos. - o resmungo de Relena cortou a noite, ganhando um grunhido de insatisfação dos quatro adolescentes que a acompanhava.

-Sinceramente, eu não sei onde você vê graça em ficar saindo à noite com aquelas afrescalhadas do Sunnydale High. - Hilde deu de ombros, lançando um olhar longo a Relena, indicando que se ouvisse mais um resmungo dela a faria de seu saco de pancadas particular.

-Pare de resmungar princesa. Eu não estou feliz, assim como você, em estar na sua companhia essa noite, e ainda mais em saber que a sua ajuda é vital para resolvermos esse pequeno problema do armagedon. Afinal, você sabe o caminho por aquelas tumbas. Aliás, tem certeza de que não mora lá? - Duo disse sarcástico, enfiando as mãos nos bolsos de suas calças negras para poder espantar o frio que estava na cidade. O braço de Heero estava sobre o seu ombro, colando o corpo menor ao do japonês, que caminhava silencioso dentro do grupo. -Com certeza eu preferia estar fazendo coisas muito mais agradáveis, em lugares muito mais quentes, do que estar andando aqui em sua companhia. - concluiu e ao seu lado Quatre soltou uma risada que o fez ganhar um olhar longo e irritado do americano. -O que foi? - perguntou o garoto de trança quando percebeu que o amigo loiro estava segurando uma gargalhada muito mais sonora.

-Devo me enfiar em uma caixa de ferro maciço para não ser assolado novamente por emoções fortes? – perguntou o loiro empata, maliciosamente. –Porque da última vez que você preferiu fazer outras coisas, eu quase tive um colapso lá na minha casa por causa… - e iria continuar com as provocações se Trowa não tivesse colocado uma mão sobre os lábios do árabe, pois Duo já estava ficando vermelho em uma mistura de raiva e vergonha, enquanto Heero estava ficando irritado diante das provocações sobre o seu amado, embora escondesse um leve sorriso escarninho que estava brotando no canto de sua boca.

-Chegamos! – Hilde anunciou, impedindo uma discussão mais profunda entre Quatre e Duo. Conhecia aqueles dois, principalmente aquele loiro com falsa cara de anjo, para saber que quando eles começavam a discutir a coisa ia longe.

Todos pararam em frente à entrada do grande túmulo que foi construído pelos antepassados de Relena, nos primórdios da cidade de Sunnydale. Boa parte dos parentes dela estava enterrados naquelas paredes de pedra.

-Certo, qual é o plano? – perguntou a jovem Peacecraft, esperando que houvesse uma trama escabrosa bolada para poder pegar a tal profecia.

-Escute bem, mas escute com muita atenção. – Duo soltou-se do meio abraço de Heero e caminhou até a garota, passando um braço sobre o ombro dela, trazendo o rosto dela para mais próximo do seu, como se fosse sussurrar um grande segredo.

-Estou ouvindo.

-A gente entra, pega a profecia, e nos mandamos. – em um pulo Relena afastou-se do garoto de trança, com uma expressão irritada.

-Só isso? – quase gritou, mas baixou a voz rapidamente quando viu os olhares de advertência em cima de si. Gritar no meio do cemitério era pedir para atrair demônios. E o que eles queriam era poder entrar e sair do local totalmente incógnitos. O inimigo não poderia saber que eles estavam perto de conseguir a outra parte da profecia, que eles também queriam para poder auxiliar na vinda do demônio.

-Você esperava o quê? – perguntou Hilde divertida.

-Mais coisas é claro, já que vocês trouxeram armas equivalente a um batalhão. – todos olharam para si, cada um portava uma arma de um tipo, algumas escondidas outras mais vistosas. Coisa comum para quem estava acostumado a sair a noite para caçar demônios.

-Melhor entrarmos logo, o ar está pesado e essa noite está sem lua. – murmurou Heero, olhando a sua volta e depois dando um relance para o céu nublado.

-Poético essa noite Hee-chan? – Duo brincou, cutucando o namorado de leve nas costelas. O japonês voltou um olhar sério para o jovem e o americano parou com as brincadeiras. –O que foi? – perguntou em um murmúrio. Sendo um demônio, era claro que Heero era afetado pela Boca do Inferno, a sentia também, mas não se deixava levar pelo seu poder por causa de sua alma.

-Vibrações estranhas no ar. – Quatre falou, reiterando Heero. A magia dele também o ajudava a captar as coisas estranhas que estavam na cidade e que aumentavam a cada dia.

-Vamos logo. – incitou o vampiro, caminhando até a entrada do mausoléu, onde um velho, grande e enferrujado cadeado fechava as portas de ferro. Heero segurou o cadeado e com um pequeno puxão quebrou o objeto. Ao seu lado, Relena olhou impressionada diante da força do homem.

-Como você conseguiu… - começou a perguntar, mas foi empurrada para dentro da cova.

-Outra hora princesa. – disse Hilde. Entraram no local, que parecia muito maior por dentro do que aparentava e acenderam as lanternas que carregavam consigo.

-Olhem isso! – Trowa girou a sua lanterna pelo local, soltando um pequeno gemido de insatisfação. A tumba tinha portas que levava para o subterrâneo. Com certeza deveria ter toda a família Peacecraft enterrada ali desde a fundação da cidade. Achar o soldado que veio com a profecia do Vietnã seria mais complicado do que parecia.

-Bem, aqui em cima ele não está. – respondeu Quatre, olhando os nomes que tinha nas placas de mármore. Parecia que o enterro dos corpos se dava por ordem decrescente, dos mais antigos aos mais novos. Isso queria dizer que os corpos mais recentes estariam no subterrâneo.

-Vamos no separar? – falou Relena e todos se viraram para ela como se tivesse nascido uma segunda cabeça nela. –O que foi? Foi só uma idéia. – disse e os outros tiveram que concordar que era uma boa idéia.

-Okay. Hilde vai com a Relena, Heero com o Trowa e eu vou com o Quatre. – Quatre abriu a boca para protestar, por entrar naquele buraco sem o namorado, mas Duo o interrompeu. –Melhor assim Q. É uma divisão equilibrada. Um caçador para um humano comum. – o loiro teve que concordar com o amigo que era sensato aquilo.

-Então vamos. – declarou Heero, aproximando-se de Duo e dando um suave beijo nos lábios dele. –Tome cuidado. – murmurou para o caçador, que deu um leve assentimento com a cabeça. Trowa fez o mesmo com o namorado, o envolvendo pela cintura e acariciando suavemente a franja loira.

-Qualquer problema… você sabe o que fazer, não sabe? – falou em um murmúrio para o árabe.

-Pode ficar certo de que a minha magia vai encontrar você em dois tempos. – disse suavemente. Uma coisa que eles tinha descoberto recentemente mas que ainda não tinham dito a ninguém. Trowa também possuía a sua parcela de magia, mas ela não era exteriorizada como a de Quatre, por isso não poderia ser detectada tão facilmente. Era uma energia que se fundia ao corpo do acrobata, lhe dando habilidades incomuns para um humano normal.

-Então vamos. – Hilde chamou e o grupo se separou, entrando cada um em uma porta e sumindo na escuridão.


-Quatre, meu caro amigo, nós realmente precisamos parar de marcar as nossas noites de folga dentro de tumbas e cemitérios. – Duo disse e o loiro ao seu lado soltou uma risada. –O que as pessoas vão pensar quando descobrirem que o herdeiro da fortuna Winner fica brincando a noite em lugares extremamente suspeitos?

-Minhas irmãs já estão ficando desconfiadas porque vez ou outra eu volto para casa com poeira e sangue nas roupas. Mas como o sangue sempre é de um demônio, e o sangue deles é diferente, elas acham que eu estava em alguma orgia ou coisa assim. – brincou Quatre.

-Imagina se elas descobrirem a verdade? – o americano comentou sério e os dois amigos caíram em silêncio. A família de Duo sabia o que ele era, sabiam de sua missão. Porém, às vezes, Quatre tinha a sensação de que Padre Maxwell e Irmã Helen preferiam ficar na ignorância para sofrerem menos com as aventuras perigosas de seu protegido.

-Não quero nem pensar. – mais silêncio.

-Escuta, Quatre?

-Sim?

-As coisas estão ficando feias aqui na cidade, e cada vez mais perigosas. A Boca do Inferno está ganhando força e vai ser uma questão de pouco tempo antes que ela pare de atingir somente os demônios e comece a atingir as pessoas.

-Onde você está querendo chegar, Duo?

-Você é um grande amigo, Quatre. O primeiro que eu fiz quando eu cheguei nessa cidade. Você sabe que eu te considero um irmão, não é mesmo? – o garoto parou de caminhar, mirando o loiro ao seu lado com uma certa intensidade.

-Duo… se você está me pedindo para ir embora e te deixar aqui, pode esquecer! Eu não vou! Estamos juntos nessa desde o princípio, e ficaremos juntos até o fim.

-Essa luta não é sua Quatre.

-Sim. É a minha cidade, minha família, pessoas que eu amo morrerão se não impedirmos esse demônio. E eu não deixarei meu melhor amigo nessa encrenca sozinho. Aliás, quando foi que eu te deixei sozinho? E além do mais, o que você faria sem mim? Vai precisar da minha magia para te ajudar nessa. Matar o demônio não basta, Duo. Eu andei pesquisando… a Boca do Inferno tem que ser fechada de vez para tudo ficar resolvido, e eu já estou me preparando para isso.

-Quatre… eu sei que você está se tornando um bruxo poderoso… mas isso é arriscado.

-Assim como também é arriscado para você. Duo, parece que às vezes você se esquece quê, apesar de tudo, você ainda é uma criança que foi obrigada a crescer rápido demais. E se você vier com essa loucura de novo de que eu tenho que partir, eu vou bater em você. – disse num muxoxo e Duo soltou uma gargalhada. –E eu aposto que o Trowa está comigo nessa.

-Ah, o que eu faria sem vocês? – murmurou o americano, sentindo os olhos arderem diante do discurso do loiro. Seu tio, Irmã Helen, as crianças do orfanato eram a família que ele ganhou, mas esses dois, Trowa e Quatre, eram os melhores irmãos que ele poderia querer.

-Se meteria em grandes encrencas, disso eu garanto. E nunca passaria em matemática sem mim.

-Loiro metido. – provocou Duo.

-Americano idiota. – rebateu Quatre com um sorriso e ambos voltaram a caminhar, até que Duo parou mais uma vez, batendo a lanterna que carregava na mão. O feixe de luz dela estava começando a enfraquecer.

-"timo, era tudo o que eu precisava agora, pilha fraca. Alou! Eu ainda não ganhei visão noturna não!

-Oras, eu pensei que você enxergava bem no escuro. – brincou Quatre.

-Mas não na completa escuridão. – murmurou e a lanterna se apagou de vez. –"timo, e agora? – resmungou e ao seu lado o árabe riu. –Não ria Q, como vamos nos achar nesse breu?

-Quer realmente saber?… Fiat Lux! – disse e uma esfera de luz ergueu-se acima da cabeça deles dois, iluminando o caminho com mais intensidade do que uma lanterna, e ambos voltaram a caminhar, sendo guiados pela luz mágica criada por Quatre.


-E então? – Relena quebrou o silêncio enquanto ela e Hilde caminhavam pelos túneis da tumba.

-Então o quê? – perguntou Hilde, jogando a luz da lanterna para uma parede, achando que tinha visto a placa de uma cova. Percebeu que era apenas uma pedra que compunha a parede.

-O que é uma caçadora? – perguntou a jovem, andando um passo atrás da morena de cabelos curtos.

-Uma garota escolhida, desde o início dos tempos, para poder combater o mal.

-Como assim?

-Pelo que eu sei… quando a Terra surgiu, primeiro veio os demônios, depois os homens, os demônios eram mais fortes do que os homens. Por isso druidas escolheram uma garota e lhe deram poderes que equivaliam aos dos demônios. Fizeram uma humana entrar em pé de igualdade com os seres da escuridão, para proteger homens e mulheres indefesos. Assim nasceu uma caçadora.

-Sei… E como essa coisa de caçadora funciona? Quero dizer… qualquer menina pode ser uma caçadora? – Hilde olhou por cima do ombro para a garota que a acompanhava.

-Sim. Escolhidas são escolhidas. Claro, qualquer menina pode ser uma escolhida. Agora se você quer saber se você poderia ser uma caçadora… Não. Geralmente os poderes de uma caçadora se manifestam por volta dos quatorze anos. Ou quando uma outra caçadora morre e ela é a sua sucessora. Você já passou dessa fase.

-Caçadoras morrem? – perguntou Relena surpresa e Hilde parou de supetão e encarou a loira.

-Bem, não é uma vida fácil de se levar. Poucas são as caçadoras que chegam à idade que eu, Sally e Duo chegamos. – e voltou a andar. Relena ficou em silêncio, digerindo o que tinha acabado de ouvir. Morrer tão jovem deveria ser horrível, e no momento ela não gostaria de estar no lugar nem de Duo, nem de Hilde.

-E quanto ao Duo?

-O que tem ele?

-Como que surgiram os caçadores? Existem outros como ele por aí?

-Um caçador é raro. Pois essa é uma Ordem predominante feminina. Reza a lenda que um caçador só surge a cada cem anos, quando a Terra está realmente com grandes problemas. Porque eles são mais fortes que uma caçadora comum. Que eu saiba, o primeiro caçador surgiu da relação de um demônio com uma caça-vampiros.

-Que reconfortante. Isso quer dizer que o Duo é o único de sua classe. E se ele existe, é porque estamos com um grande problema. – falou sarcástica.

-Acertou na mosca. – rebateu Hilde.

-E quanto a Heero? – perguntou e a morena diminuiu o passo, andando lado a lado com Relena, dando um sorriso escarninho para ela.

-Eu vi o modo como você olhou para o japonês, mas espero que também tenha notado que ele anda comprometido.

-Claro que eu notei. E eu achei um desperdício de homem.

-Eu acho que eles formam um casal bonitinho. Admita. Dois garotos lindos, se beijando e se abraçando, é uma coisa fofa. – Relena ponderou um pouco e tinha que admitir que a imagem deles dois juntos era uma coisa bonitinha mesmo. Mas mesmo assim, ela ainda achava um desperdício, para ambos os lados. Embora ele morreria antes de admitir que também achava Duo atraente.

-O que eu quero saber é… Heero me salvou naquela noite e ele parecia ser bem forte, ainda mais quando quebrou o cadeado do portão. Ele então é um caçador.

-Não minha cara… Heero é um vampiro. – Hilde disse displicente e Relena parou abruptamente, com os olhos largos.

-Como é?

-Ah, qual é, vai me dizer que não sabia? Bem, agora sabe. Mas fica tranqüila que ele é um vampiro bonzinho.

-Mas bebe sangue.

-E daí? Juro que já vi criaturas piores. Agora continua andando que eu quero sair daqui de dentro logo. Que saco, desde que eu entrei na adolescência a minha vida é ficar andando a noite em covas, não é a toa que tem gente que me acha estranha. – resmungou e apertou o passo.

-Acho que não é apenas isso que acham estranho em você. – Relena rebateu em um murmúrio e correu para poder alcançar a garota que estava mais à frente dela.


Duas pessoas quietas, andando em túneis parcialmente escurecidos, com certeza seria algo que Duo denominaria de: a coisa mais entediante para se fazer. E era nessa atmosfera que Heero e Trowa se encontravam no momento. Caminhando silenciosamente lado a lado, observando cada pequeno movimento que as sombras faziam sob a luz da lanterna. E incrivelmente o japonês foi o primeiro a romper a quietude que ambos estavam há alguns minutos.

-Então… - começou, tentando iniciar alguma conversa. Aquele ar pesado e aquele silêncio o estavam incomodando. Certo que como demônio, lugares como aqueles não lhe eram estrangeiros. Mas a energia da Boca do Inferno sempre fazia as coisas ficarem piores, até para ele. -… há quanto tempo você e Quatre estão juntos? – era uma pergunta meio idiota, vindo dele, mas aquilo já estava ficando chato. Eles andavam e andavam e não chegavam a lugar algum.

-Uns dois anos, mais ou menos.

-E como vocês se conheceram?

-Quando o circo que a minha irmã dirige veio para a cidade.

-Ah… - mais silêncio. –Sinto uma grande magia emanando de Quatre, cada vez que me aproximo dele… mas não sinto nada vindo de você. – comentou depois de um tempo.

-E?

-Já o vi lutando outras vezes, Trowa, e para um humano comum você está longe de ser… comum. Se é que você me entende.

-Sei o que quer dizer. Até algum tempo atrás eu não me importava com isso. Pensava que as minhas habilidades vinham do fato de eu desde pequeno viver no circo, e isso me deu certos talentos.

-Mas não é apenas isso, não é? Vi você treinando com Duo uma vez. E você o derrubou. E nós dois sabemos que para derrubar o Duo…

-Eu sei… mas ele estava fora de guarda.

-E isso não é desculpa.

-Eu sei… parece que eu também tenho magia.

-Verdade? – Heero virou-se para ele, seus olhos brilhando na escuridão. Não carregava uma lanterna pois com a pouca luz no lugar, ele ainda podia ver o caminho claramente.

-Sou um caso raro, parece que a minha magia funde com o meu corpo de modo que me torna mais habilidoso, apenas isso.

-Interessante. Já ouvi falar sobre esse tipo de pessoa. Mas geralmente elas vivem uma vida inteira sem saber disso. Como você descobriu? – se não estivesse escuro, Trowa tinha certeza de que Heero veria o rubor que subiu até as suas bochechas. –Barton? – o japonês chamou com uma voz monocórdia, quando o moreno ficou sem responder a sua pergunta.

-Nós estávamos uma noite juntos namorando… uma coisa leva a outra… acho que essa energia mística ajudou a revelar essa minha condição… e parece que a minha magia e a da Quatre se fundiram…

-Se fundiram? Que eu saiba para dois seres mágicos se fundirem eles precisam de grande interação íntima… - Trowa ficou ainda mais vermelho e Heero calou-se, mesmo que não visse o rubor dele. –Ah! – disse em um sussurro, entendo a situação. Parece que os dois estavam predestinados a estarem juntos até o fim da vida, era apenas uma questão de tempo até eles se unirem espiritualmente. E a magia de Quatre deve ter incitado essa magia adormecida de Trowa, fazendo-a ser detectada por um espaço curto de tempo.

-E quanto a você e Duo? – perguntou o jovem, recuperando-se do pequeno embaraço rapidamente.

-O que tem nós dois?

-Nada de estranho aconteceu com vocês dois?

-Por que pergunta? – Heero virou-se para ele e ergueu uma sobrancelha.

-Nada não. – mudou de assunto, ainda não querendo dizer quê, apesar das brincadeiras de Quatre, o árabe ainda achava muito estranho ele ter sentido os sentimentos emanando de Duo e Heero, de uma distância tão grande. Ele vivia dizendo que alguma coisa isso deveria significar.

-Olhe. – o japonês parou em frente a uma porta de pedra que ficava ao fim daquele imenso corredor. Com certeza deveria ser uma outra sala com mais tumbas. Escritos antigos estavam gravados na porta, que não possuía maçaneta.

-Vamos ver então. – murmurou o acrobata, botando uma mão na porta, enquanto entregava a lanterna a Heero. Rapidamente ambas as mãos dele estavam na porta e ele a empurrava para ver o que havia do outro lado. Um rangido seco ecoou no corredor, enquanto a porta era aberta, liberando um cheiro de podridão e mofo. Heero jogou a luz da lanterna dentro da sala, entrando logo em seguida, desviando as teias de aranha de seu rosto. Trowa o seguiu, olhando ao seu redor cada vez que o japonês jogava o feixe de luz a um canto da sala.

-Tochas. – indicou, caminhando até as tochas e catando duas pedras no chão, enquanto jogava a lanterna de volta para Trowa. Bateu as duas pedras uma contra a outra por alguns segundos, até que a fricção gerou o fogo que ele queria, acendendo a tocha. A pegou e rodou a sala, minutos depois o local estava iluminado pelo fogo das tochas.

-Vejamos o que temos aqui. – Trowa murmurou, caminhando por entre as tumbas. –Oswald Peacecraft… - falou, lendo a data de nascimento e morte. Não, não era ele. Ricos e suas manias de serem enterrados com posses preciosas. A essa altura do campeonato se eles achassem a outra metade do pergaminho intacta, seria um milagre. –Richard Peacecraft III. – leu a data de nascimento e de morte. Parecia que era ele. –Yuy! – chamou e o vampiro foi até ele. –Acho que achamos o nosso homem. – falou e ambos começaram a remexer a tumba incrustada na parede, tentando tirar a pesada tampa de mármore. Quando foram bem sucedidos, o cheiro de podridão invadiu as narinas do humano.

-Vamos ver o que ele tem para nós. – o japonês jogou a luz da lanterna dentro da tumba, ao mesmo tempo em que procurava com as mãos por sobre os restos mortais do cadáver. Remexeu o local por algum tempo até que os seus dedos tocaram em algo, que parecia ser uma caixa comprida presa entre os dedos do morto. Puxou a caixa, quebrando alguns ossos do defunto no processo, e a trouxe para a luz das tochas. Abriu o objeto e quase soltou um grito de satisfação quando viu um pequeno caderno, envolto a um saco plástico, dentro da caixa.

-Será que é isso? – perguntou Trowa, quando percebeu que o vampiro havia enrijecido subitamente.

-Se é, vamos descobrir isso uma outra hora. – respondeu, olhando na direção da fonte do rangido que invadiu a cova, onde um buraco estava se abrindo na parede, por onde passou uma criatura estranha. Ela era baixa, careca, com a pele enrugada e amarronzada. Tinha orelhas pontudas, olhos grandes, negros e protuberantes separados por um nariz afilado. Trapos eram usados como roupa, e de dentro das mangas da camisa despontavam uma mão magra, com dedos longos e finos. Sem contar a boca cheia de dentes afiados, com os caninos maiores e mais pontudos que os outros.

-Mas o que… - Trowa começou a dizer ao mesmo tempo em que Heero soltou um palavrão e segurou no braço do garoto. Como é que aquilo havia ido parar ali?

-Vamos embora! – gritou, enquanto mais duas daquela criatura apareciam na cova.

-O quê?

-Agora! – falou e o puxou para fora da tumba. Com Trowa na sua frente, ambos correram rapidamente pelos túneis até despontarem na sala de entrada do mausoléu.

-Heero… o que foi? – Duo e Quatre já estavam lá, pois não tinham achado nada dentro da sala que encontraram no fim do corredor onde estavam.

-Onde está Hilde e Relena? – perguntou o vampiro.

-Aqui. – falaram as duas garotas, que também haviam voltando de mãos vazias. –Vocês encontraram alguma coisa?

-Depois. Precisamos ir embora daqui. – falou de modo agitado, incitando os humanos para fora da cova. Quando eles saíram do local, o moreno parou, soltando todo o seu repertório de palavrões em japonês e em outras línguas, que ele sabia. Havia mais daquelas criaturas, uma dúzia delas ao menos, os esperando na entrada do mausoléu.

-Mas o que é isso? – perguntou Duo, pois nunca havia visto aquele demônio antes.

-Nós estamos com um grande… grande problema mesmo. – Heero murmurou, se preparando para o pior.