-Heero? – Duo virou-se para o namorado, notando a tensão que emanava dele enquanto o moreno pegava a espada escondida em seu longo sobretudo. O americano desviou o olhar do vampiro e mirou os outros ao seu lado, intensamente. Hilde, Trowa e Quatre já pegavam as suas armas diante da reação de Heero a aquelas criaturas.
-Acho melhor você ficar fora disso. – Hilde murmurou para Relena, a empurrando para trás do grupo para poder proteger a garota dos possíveis ataques.
-Que coisas são essas? – perguntou Quatre a ninguém em particular.
-Vampiros. – respondeu Heero e os olhos de Duo voltaram-se para ele, as sobrancelhas franzidas em confusão.
-Como pode? Eles não são nada parecidos com os vampiros com quem já lutei. – respondeu o caçador.
-Bem, até mesmo os vampiros evoluem, como os homens. Mas esses são os primeiros da espécie. Tomem cuidado… eles são mais… sanguinários que os vampiros que vocês conhecem. – disse preocupado. Essas criaturas deveriam estar sumidas da Terra, ou ao menos aprisionadas em algum canto escuro e impossível de se escapar. O que elas estavam fazendo andando sobre a superfície?
O grupo de humanos e caçadores fechou-se em um círculo, um de costas para o outro, com Relena no centro deles. Heero virou-se para a garota e lhe entregou a caixa que tinha achado dentro do túmulo.
-Se você perceber que as coisas estão ficando difíceis… - murmurou o japonês. -… corra, corra como nunca correu antes. Como se a sua vida dependesse disso. E dê isso ao Treize e aos outros. – disse e ela assentiu com a cabeça, enquanto os demônios fechavam o cerco em volta deles.
-Okay… Trowa e Quatre pegam os da direita, Heero e Hilde os da esquerda… - Duo fechou o punho em volta do cabo de sua estimada foice. – eu fico com os do meio. – e atacou antes que as criaturas os atacassem.
Hilde flexionou os joelhos, abaixando-se bem a tempo de evitar um golpe na cabeça. Ergueu-se com rapidez e desferiu um soco no rosto da criatura, a afastando de si. Rodou sua estaca na palma de sua mão e cravou no peito do vampiro, que se desmantelou em poeira. Heero havia exagerado um pouco, pensou, eles era simples de derrotar como qualquer outro vampiro. Duas mãos de dedos longos e finos a seguraram pelos ombros, por trás, a pegando de surpresa, e com uma força descomunal a jogou pelo ar, fazendo-a voar uns bons metros até cair contra uma lápide, que se despedaçou com o peso de seu corpo e impacto. Okay, ela retirava o que tinha pensado. Não seria tão fácil assim.
Heero foi recuando os passos à medida que ia levando uma chuva de golpes. Dois dos vampiros estavam batendo nele sem perdão. Um chute foi desferido contra as suas costelas, que estalaram dentro de seu corpo, gerando um pequeno gemido da boca do moreno. Levantou-se rapidamente, pois se baixasse muita a guarda com certeza não duraria muito, e conseguiu bloquear um golpe que estava vindo em sua direção. O adversário quase tinha cortado a sua cabeça com a sua própria espada, que ele sem querer tinha derrubado quando tinha levado um soco mais forte do demônio. Segurou o braço do vampiro que tinha desferido o golpe contra si, o torcendo e recuperando a sua espada. Fechou os dedos no punho da arma e com um rasgar de ar, cortou a cabeça da criatura fora, deixando a batalha mais igualada. Um contra um.
Quatre correu, ser pequeno dava uma grande vantagem, pois ele era bastante leve, e com um salto subiu em um túmulo, aproveitando a altura que estava para chutar a cabeça do demônio que estava atrás de si, o desnorteando. Sentiu braços finos e fortes passaram por debaixo dos seus ombros, o prendendo por trás, enquanto o vampiro no qual ele tinha batido partia novamente para o ataque, pulando sobre o túmulo onde estava. O loiro aproveitou o apoiou da criatura que o agarrava e deu um impulso, usando as duas pernas para afastar o demônio que estava na sua frente para longe. Com um manear de corpo ele conseguiu se soltar de seu captor, que furioso deu um soco no rosto do jovem árabe, o fazendo voar por uns bons metros, cair no chão e deslizar pela grama molhada, até que o seu corpo parou por causa de uma lápide.
-Ai… merda! – praguejou, sentindo o gosto de sangue na boca. Levantou-se cambaleante, observando as criaturas que vinham em sua direção para um segundo round. Estava na hora de apelar. Pôs-se de pé, começando a murmurar algo sob a respiração. Os olhos azuis se tornaram duas esferas negras, enquanto um vento forte o rodeava, arrancando pedras e folhas do chão. O vento começou a tomar uma forma mais densa, ganhando cores alaranjadas e azuladas, até que chegou um ponto que o que rodeava Quatre não era mais vento, mas sim chamas vermelho vivo.
Duo cravou a deathscythe no peito do vampiro, enterrando a arma bem fundo e a puxando, fazendo um corte de baixo para cima. Quando chegou na altura do pescoço, arrancou a lâmina e cortou a cabeça da criatura fora. Olhou a sua volta quando o demônio virou pó, querendo saber como estavam os outros. Heero e Trowa pareciam lutar por igual, lado a lado, mas mesmo assim encontrando dificuldades para poder segurar as criaturas. Hilde lutava, dividida entre a sua missão e proteger Relena, que tinha um olhar extremamente sério no rosto e segurava uma espada de maneira desajeitada, mas disposta a derrubar o primeiro que se aproximasse dela. E quanto a Quatre…
O caçador arregalou os olhos quando viu o amigo árabe. Quatre estava rodeado por chamas, os olhos eram duas esferas negras e ele murmurava algo sem parar. De repente as chamas em volta do loiro tomaram vida e começaram a correr por entre as lápides do cemitério, chamuscando e queimando tudo o que tocava. O americano recuou um passo quando viu uma labareda vir em sua direção, mas em vez de lhe atingir, ela se dividiu em duas, passando pelos seus lados, até se unirem novamente e atingir o vampiro que estava atrás de si. A alvo daquelas chamas eram os demônios que estavam os atacando. Foi um pequeno caos até que, minutos depois, estava tudo terminado.
-Quatre! – Trowa gritou, vendo o loiro cair de joelhos na grama, respirando pesadamente. –Quatre? – chamou, passando um braço sobre os ombros dele. O árabe levantou o rosto, os olhos novamente azuis, e sorriu para o namorado.
-Hei, Q. – Duo aproximou-se do casal, enquanto Trowa ajudava Quatre a se levantar. –O que foi aquilo?
-Um feitiço. Meio cansativo. Invocar um elemento é somente para feiticeiros de primeiro nível, mas eu tive que arriscar. Estávamos em desvantagem aqui. – murmurou com a voz falhando.
-Você está ferido. – Relena se aproximou do grupo. –E aquilo foi demais. – disse e o loiro sorriu um pouco para a garota, sentindo o corpo todo dolorido.
-Acho que dessa vez nos livramos deles. – Heero olhou a sua volta, verificando os arredores para ver se nenhuma criatura apareceria. –Está tarde, e seria arriscado ir até a casa de Treize há essa hora. – falou, pegando a caixa nas mãos de Relena e a entregando para Duo. –Se isso for à profecia, ficará mais segura com Duo no orfanato. Melhor irmos. Amanhã cedo nos encontramos na biblioteca para vermos isso.
-Eu vou levar Quatre para casa. – falou Trowa, já tirando o loiro de lá.
-Eu vou acompanhar a princesa até em casa. – brincou Hilde, começando a caminhar e sendo seguida por Relena.
-Pois é… agora parece que somos só você e eu, Yuy. – Duo deu um sorriso malicioso e Heero balançou a cabeça.
-Melhor irmos também. Daqui a pouco amanhece e eu não posso ficar… você sabe.
-Pois é. Mais uma noite de encontro frustrada.
-Duo, isso não foi um encontro. – falou Heero, começando a andar.
-Para mim foi, se você levar em consideração que os nossos encontros sempre se dão em meio a brigas e cemitérios. Quando é que você vai me convidar para algo mais decente? Tipo… um cinema, depois um cafezinho, algo assim?
-Você quer ter um encontro assim? – perguntou o japonês com uma expressão curiosa. Não sabia que Duo era dessas coisas. O americano olhou longamente para o vampiro e depois riu. Ele tinha acreditado mesmo na brincadeira dele.
-Ah Hee-chan. Às vezes eu não posso com você. – enlaçou seu braço no dele e caminharam o restante do percurso em silêncio.
-Eu já estou bem Trowa. – Quatre falou quando eles pararam em frente ao portão da mansão Winner. –Acho que daqui eu posso ir sozinho. – deu um sorriso para poder assegurar ao moreno que estava tudo bem.
-Tem certeza? – Trowa perguntou, os olhos verdes demonstrando preocupação.
-Tenho sim. – sorriu mais ainda, dando um leve beijo no jogador. –Ai. – resmungou, tocando o lábio cortado. E além do corte ainda tinha um hematoma no lado esquerdo do seu rosto.
-Melhor você colocar um gelo nisso. Se os seus pais virem…
-Não vamos pensar nisso. Boa noite Trowa. – murmurou, arriscando um outro beijo e passando pelo portão. Trowa ficou parado na entrada da casa até que ele viu Quatre sumir pela porta principal.
O loiro entrou sorrateiro na sala escurecida, olhando a sua volta para ver se conseguiria passar desapercebido. Estava começando a tomar a direção da cozinha para poder pegar o gelo, quando as luzes da sala se acenderam. O jovem virou-se bruscamente para ver os seus pais sentados no sofá da sala, com uma expressão nada feliz nos rostos.
-Onde você estava, Quatre? – sr. Winner falou em um tom seco e o jovem olhou para os lados, nervosamente, como se procurasse uma rota de fuga.
-Quatre! – Quatrina gritou, olhando aterrorizada para o ferimento e o hematoma no rosto do filho. –O que aconteceu com você? – a mulher iria erguer-se do sofá para ir até o filho, mas o marido a impediu.
-Nada, mamãe. – falou o garoto, tocando com as pontas dos dedos o ferimento. Senhor Winner ergueu-se do sofá e caminhou até o filho, parando a poucos passos dele e o observando longamente. As roupas, sempre impecáveis, estavam sujas. Ele estava ferido e tinha manchas de sangue em sua blusa clara. Não era a primeira vez, e com certeza não seria a última, que ele via o menino voltar para casa, no meio da madrugada, nesse estado. Fazia uns dois anos que a história era a mesma, mas o garoto nada dizia. Sempre arrumava um modo de escapar das perguntas dos pais. Mas dessa vez não passaria. Quatre explicaria o que estava acontecendo querendo ou não.
-Não minta para a sua mãe, Quatre. E não minta para mim. Eu estou cansado de ver essa cena se repetir a cada dia que passa. E cada vez mais você volta pior para casa. Ouço boatos rolando pela cidade de que coisas estranhas andam acontecendo, ataques misteriosos, mortes e etc. Sunnydale sempre foi um lugar estranho, mas eu não me importava com isso até o meu filho começar a agir estranhamente. Explique-se Quatre, agora! – ordenou. O jovem abaixou a cabeça, não sabendo direito o que dizer. O que contaria a eles? Que o fim do mundo estava chegando e que ele estava envolvido nisso?
-Quatre? – Quatrina sentiu as emoções turbulentas brotarem do seu filho pois, assim como ele, era uma empata. E sabia que o que quer que Quatre esteja escondendo, era muito sério. –Conte a verdade para a gente. Iremos acreditar em você filho. – os ombros do loiro começaram a tremer e de repente uma risada ecoou no local.
-A verdade? – disse em uma mistura de histeria e pavor. –A verdade é que estamos todos condenados, essa é a verdade.
-Quatre? Andou tomando drogas? – senhor Winner segurou o braço do filho com força. –Virou um viciado? Eu nunca deveria ter permitido que você andasse com aquele garoto de trança e muito menos namorasse aquele pé rapado do circo, eles são má influência, com certeza. – mal terminou de falar e sentiu uma força o obrigando a soltar a sua mão do braço do loiro, e o lançando contra o sofá mais próximo.
-Não fale assim do Trowa. E muito menos do Duo. Você não faz idéia pelo que a gente passa, pelo que ele passa, para manter essa cidade em ordem.
-Filho… - Quatrina aproximou-se dele, temerosa. O poder que emanava do garoto era impressionante. E ela que pensava que a raça de feiticeiros estava extinta de sua família. -… eu sinto, querido, eu sinto algo ruim se aproximar. Me diga o que está acontecendo. – Quatre olhou para a mãe, hesitante. Senhor Winner levantou-se do sofá e caminhou até a esposa. Sabia que com Quatrina as coisas eram diferentes. Se ela estava dizendo isso era porque a situação era séria. A sua mulher nunca foi de fazer brincadeiras, ele descobrira isso com os anos de casamento.
-O fim do mundo. Um… um demônio está vindo para destruir o mundo. Mamãe, as coisas estão ficando sérias. Vocês têm que sair da cidade. A Boca do Inferno está ficando mais forte e afetando a todos. Vocês têm que ir embora.
-Vocês… vocês… - o pai de Quatre já havia entendido a gravidade da situação, embora ainda fosse difícil de acreditar nela. Mas não gostava do modo como o filho estava falando. –Você vem conosco, Quatre. – disse em tom de comando, caminhando até ele, e Quatre deu um passo para trás, sacudindo a cabeça em uma leve negativa.
-Não posso, eu sinto muito. – disse em um sussurro e o sr. Winner iria dar mais um passo para meter algum juízo na cabeça de seu filho teimoso, quando Quatrina segurou o braço do marido.
-Não querido, é a escolha dele. Nós temos que partir. – o homem arregalou os olhos para a mulher. Não iria embora e deixar o seu único filho homem para trás nessa cidade maluca. –É o destino dele. – falou a mulher em voz baixa e ele suspirou derrotado.
-Então melhor começarmos a nos organizar. – resmungou, saindo da sala falando uma coisa ou outra para si. Quatre voltou os olhos tristes para a mãe, dando um leve sorriso.
-Obrigado mãe. Assim eu fico mais tranqüilo.
-Quatre… - a mulher tirou algo de seu pescoço e entregou ao menino. -… isso pertenceu a sua tataravó. Uma poderosa feiticeira e empata. Vai te proteger das adversidades que virão pela frente. – o loiro arregalou os olhos. Teve antepassados bruxos? Disso ele não sabia. Vivendo e aprendendo. –Estou indo embora com o coração apertado. Prometa filho, que quando isso tudo terminar, você vai nos encontrar. Prometa que não vai morrer. – falou a beira das lágrimas.
-Eu prometo.
-Bom. – Quatrina deu um beijo na testa do filho e se retirou. Quatre soltou um suspiro, olhando atentamente a jóia em sua mão. Estava na hora de revirar seus livros. Deveria ter algum feitiço para poder ajudar na luta contra o demônio do apocalipse.
Um silêncio tenso reinava na biblioteca enquanto Wufei lia os inscritos da profecia encontrada dentro do velho diário que foi enterrado com o antepassado de Relena. Duo mexia nervosamente na ponta de sua trança, Quatre estalava os dedos, ansioso. Hilde andava de um lado para o outro, enquanto os outros pareciam impassíveis, mas por dentro estavam em igual estado de nervos.
-E então? – Sally perdeu a paciência. Sujeito lerdo para ler uma simples profecia, era o que achava.
-Calma mulher. – a caçadora soltou um pequeno rosnado, fechando os punhos fortemente. Aquele chinês era de dar nos nervos. –O mundo não foi feito em um dia. – disse com escárnio e a mulher rolou os olhos.
-Mas eu vou te esganar em um minuto se você não falar logo. Não pode ser tão difícil assim traduzir meia dúzia de palavras. Não foi o seu bisavô que escreveu isso? Como você não pode entender o que ele quis dizer?
-A língua muda de acordo com os anos, e isso é uma versão bem arcaica do mandarim. – resmungou o meio-demônio.
-Que consolo. Além de ser incompleta, é uma língua morta. Que ajuda isso nos dá?
-Sally, menos. – Zechs advertiu e a garota se calou.
-Okay! – Wufei disse depois de um tempo. –Vocês querem as más notícias primeiro… ou as más notícias primeiro?
-Fala logo Chang. – Heero também já estava perdendo a paciência. Era um assunto importante para ele descobrir do que se tratava essa profecia.
-Bem, se juntarmos todos os pedaços da profecia, o que temos é o seguinte:
"Aquele que hoje está sendo iniciado na escuridão, consigo trará as trevas e o terror ao mundo. Cem anos de dor ele causará, para no fim mais cem anos de dor sofrer. E quando finalmente o Apocalipse chegar, ele, o sofredor, o algoz, o salvador, irá reviver quando aquilo que de mais precioso tem ao inimigo ceder.
Das entranhas ele te devora, o mal ele espalha, a destruição ele propaga. O fim ele clama, as trevas ele almeja. Os guerreiros ele quer derrotar. O escolhido, o escudeiro, o mago e o gêmeo. Quando o dia noite se tornar, quando o final dos tempos chegar, sua alma perderá e sua missão se encerrará e a vida irá retornar. Assim o que de mais precioso ao inimigo entregar. "
-Fiquei na mesma. – resmungou Duo, saltando da mesa onde estava sentado e ficando em pé ao lado de Heero, que observava com interesse os dois pedaços de pergaminho sobre a mesa da biblioteca.
-Os guerreiros ele quer derrotar… - murmurou o japonês, traçando com as pontas dos dedos os escritos. –O escolhido, o escudeiro, o mago e o gêmeo. – os olhos azuis se ergueram, rodando pela sala. –O escolhido. – apontou para Duo. –O escudeiro. – depois para Trowa. –O mago. – indicou Quatre. –Mas quem é o gêmeo?
-Você. – disse Quatre. –Você é o gêmeo. O gêmeo de Duo. Vocês se fundiram em um só quando ficaram juntos naquela noite. Em corpo e alma. Se tornaram gêmeos. – Duo e Heero se olharam e depois rapidamente viraram a cabeça, corando intensamente. Mas Heero sabia, sabia o significado de se tornar gêmeo de outra pessoa. É ter a sua vida presa a essa pessoa e vice-versa. Estar destinado a ela até o resto dos seus dias. Apenas não entendia como ele conseguiu essa conexão com Duo, se nem humano ele era. Pensava que isso apenas acontecia entre pessoas cujo coração ainda batia.
-Das entranhas ele te devora. O que isso quer dizer? – Sally perguntou, olhando curiosa para a profecia.
-Que dizer que ele virá do submundo. De dentro da Boca do Inferno. E já começou os seus ataques. Segundo vocês, vampiros pré-históricos os atacaram ontem à noite. Eu andei pesquisando, e eles não foram extintos, apenas aprisionados dentro da Boca do Inferno, com a intenção de ficarem lá para sempre. Mas com a vinda desse demônio… bem, vocês sabem o que aconteceu. Parece que no momento a passagem para esse mundo ainda é muito frágil para uma criatura desse porte atravessar, por isso ele manda seus soldados na frente. – Treize falou, andando entre o grupo, lendo atentamente um grosso livro em seus braços. –Temos que derrotá-lo dentro de seus domínios, porque se ele alcançar esse mundo será o caos total e estará totalmente poderoso. A questão é saber onde está à entrada da Boca do Inferno e como destruir esse demônio.
-Ao menos temos uma pista de quando ele vai aparecer. – falou Hilde, indicando uma parte do pergaminho. –Quando o dia virar noite. Quando é o próximo eclipse solar? – todos se olharam e Quatre rapidamente sentou na frente do laptop, que sempre deixava na biblioteca, e começou a pesquisar.
-Mas e quanto ao restante da profecia? A parte que diz respeito a Heero? – Zechs perguntou. –Ele precisará perder a sua alma para voltar a ser humano? Mas se ele perder a alma ele voltará a ser um demônio completo, isso sim. E o que ele tem que entregar? E a quem? A profecia não específica qual inimigo. Apesar de que no momento nosso maior inimigo seja o demônio apocalíptico.
-Talvez… - Noin interrompeu. -… isso seja algo que a gente apenas irá saber quando acontecer. A profecia não é totalmente clara, apenas nos avisa contra quem estamos lutando, quando que Heero vai recuperar a humanidade, e quando o demônio vai chegar. Mais nada. O jeito é esperar para ver. – esperar para ver o que acontecia com certeza não era algo que todos queriam. Era o fim do mundo, por Deus. E ficar parado esperando para ver como iria ser o fim do mundo no mínimo era burrice.
-Gente. – Quatre chamou depois de alguns minutos de pesquisa. –Temos um problema.
-Quando é que a gente não tem um problema nessa cidade? – falou Duo, postando-se ao lado do amigo para ver o que ele descobriu. –Ops, temos um problema. O próximo eclipse planejado será daqui a uma semana. Temos uma semana para evacuar a cidade inteira.
-Não seria mais fácil procurarmos a entrada da Boca do Inferno e dar um jeito logo nesse cara? – perguntou Hilde.
-Não, não seria. A Boca do Inferno permite que demônios inferiores como aqueles vampiros entrem e saiam, mas criaturas mais poderosas não têm o passe livre. Isso só acontecerá no dia do eclipse, quando o nível de magia estiver mais alto. E querendo ou não, vocês são criaturas poderosas. Ainda mais os guerreiros proclamados na profecia. A única coisa que podemos fazer no momento é tentar encontrar a entrada do lugar.
-Treize… a cidade inteira foi construída sobre a Boca do Inferno, essa entrada pode estar em qualquer lugar. – Duo recostou-se na mesa, cruzando os braços sobre o peito. –Como iremos encontrar o ponto…
-Gente! – Relena entrou na biblioteca, esbaforida, com a face extremamente pálida e um olhar assustado. –Sabia que encontraria vocês aqui. Maxwell, essa área é sua. Tem uma coisa muito estranha acontecendo nos corredores da escola.
-O que foi? Você viu uma barata? – zombou o garoto.
-Não tem graça Maxwell. Você precisa ver isso. – ela pegou na mão dele e começou a puxá-lo para fora da biblioteca. –Olhe só! – disse quando eles alcançaram os corredores apinhados de alunos.
-Olhar o quê? – perguntou Duo, vendo Hilde e Sally pararem ao seu lado.
-Espere e você verá. – os quatro ficaram parados alguns segundos no corredor, com Duo não entendendo nada do que estava acontecendo, até que…
-Ahhhh! – uma menina saiu correndo de dentro do banheiro feminino, chorando e gritando.
-O que aconteceu? – Sally parou a garota, que soluçava desesperadamente.
-O espelho… o espelho me disse que eu sou feia. – a menina soltou-se das mãos da caçadora e continuou correndo.
-Olha! – Hilde virou-se para ver uma garota encostada em um armário, que estava ficando invisível. –Não, não menina tímida. As pessoas reparam em você. – disse, tentando fazer a menina voltar ao normal. Sem opção, deu um tapa nela para ela perceber que as pessoas a notavam.
-Hei! – a garota virou-se para ela, já de volta ao normal. –Você me notou.
-Claro que eu notei. – disse Hilde, suspirando aliviada.
-Eu tenho a sensação de que vou explodir. Todos esses exames, o ano letivo terminando, acho que não vou agüentar.
-Hei! Hei! – Duo caminhou até o garoto que tinha uma porção de livros nos braços. –Respira fundo, vai ficar tudo bem.
-Não dá. Eu sinto como se tivesse uma coisa dentro de mim pronta a estourar…
-Já considerou aulas de yoga?
-Eu acho que vou explodir.
-Não! – o americano pediu mas já era tarde, o garoto estourou como um balão de ar completamente cheio.
-O que está acontecendo aqui? – Quatre apareceu, acompanhado de Trowa.
-Acho que encontramos a entrada da Boca do Inferno. – murmurou Hilde.
-Separem-se todos. Procurem em todos os cantos, qualquer coisa, qualquer lugar. Ela deve estar dentro dessa escola. Vamos! – Duo ordenou, puxando Hilde pelo braço e a fazendo ir consigo. Trowa e Quatre seguiram por um caminho e Relena foi com Sally para ajudá-la a andar dentro da escola.
Hilde e Duo seguiram para as áreas menos usadas da escola, vendo dentro de salas e cantos escondidos qualquer indício de um portal demoníaco.
-Duo! – a garota chamou quando parou em frente a uma porta. –Olha isso. – Duo foi até ela e viu uma placa de: afaste-se, em obras, na porta que levava ao porão da escola. –Buracos escuros sempre são uma boa opção para portais demoníacos.
-Vamos ver. – arrancou a faixa que impedia a passagem de alunos e tentou abrir a porta, que estava trancada. –Só para atrasar a nossa vida. – resmungou, mexendo com mais força na maçaneta e a quebrando, abrindo a porta.
Desceram as escadas do porão e começaram a caminhar em direção a um buraco, de onde uma fraca luz vinha. Seguiram o feixe de luz e passaram pelo buraco, que também tinha faixas de obras. Duo e Hilde pararam estáticos quando viram o que tinha no buraco. Era uma escavação que tinha sido parada, por alguns motivos que ainda permaneciam no local. Dois corpos em decomposição de pedreiros estavam jogados sobre um enorme tampão de ferro no chão, com inscrições em uma língua desconhecida. Ao redor do tampão havia manchas de sangue e não mão de um dos pedreiros estava uma picareta, também manchada de sangue. Tudo indicava que havia ocorrido ali um assassinato. Mas o assassino, pelo estado de seu corpo, foi morto por outra coisa e, sinceramente, eles nem queriam saber como fora à morte do sujeito.
-É… - começou Duo, depois de se recuperar do choque. -… parece que achamos a porta da Boca do Inferno.
