Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?
O soco cruzou o ar, perdendo por poucos milímetros o rosto de seu adversário. Com um salto ágil, Heero saiu da direção do golpe, pousando com leveza do outro lado da sala e olhando de maneira estranha para o seu oponente, que ofegava e tinha suor escorrendo pelo rosto rosado. O jovem do outro lado da sala soltou um grunhido e correu em direção a ele, girando a perna no ar para dar um chute, mas o japonês apenas envergou um pouco a coluna e saiu da direção do golpe, recuando com precisão. Outra vez o jovem grunhiu por ter perdido o ataque e tentou outro soco. Com a palma da mão aberta, o vampiro parou o soco do rapaz, segurando o punho firmemente entre os seus dedos fortes. Com um empurrão afastou o caçador de perto de si.
-O que está acontecendo? – perguntou Heero um pouco curioso. –Você não está se concentrando Duo. Já disse para me atacar com tudo. Já brigamos antes e você é mais ágil do que isso. – repreendeu como um mestre faria com um pupilo. Duo bufou, não gostando do tom de voz do namorado. Quem era ele para lhe ensinar a lutar? Novamente correu em direção a ele e começou a desferir socos sucessivamente, mas Heero desviava de todos com perfeição, sem precisar levantar a mão para poder se defender. Duo tentou um chute mas com uma cambalhota o japonês se desviou do golpe, caindo em pé no chão com o equilíbrio e a agilidade de um felino. Isso apenas deixou o americano ainda mais furioso.
-Quando eu terminar com você, Yuy, nem o seu dentista irá te reconhecer. – rosnou e o homem mais velho apenas ergueu uma sobrancelha descrente, desviando de mais um golpe. Duo piscou, observando o punho que novamente acertou o ar. Quando se endireitou para poder tentar outro golpe, sentiu braços o prendendo por trás e um corpo maior e mais forte pressionar-se contra o seu. Começou a se debater para poder livrar-se de sua prisão, usando todas as armas possíveis. Tentou dar uma cotovelada em Heero, mas rapidamente sentiu-se liberto e um golpe atingir as suas costas, tirando o seu equilíbrio e o fazendo cair de cara no chão. Os fios do cabelo se soltaram da trança e grudaram em seu rosto molhado. Sacudiu a cabeça, sabendo que um novo ataque estava por vir. Usou as mãos como impulso e levantou-se do chão dando uma cambalhota e esperando que os seus pés, no processo, tivesse acertado Heero que com certeza deveria estar vindo atacá-lo por trás. Mas quando não sentiu seu pé chocar-se contra nada, percebeu que estava encrencado.
Ia manter sua agenda
De almoço, hora, apatia?
Ou esperar os seus amigos
Na sua sala vazia?
No que se pôs de pé sentiu um golpe lhe atingir o rosto, o atordoando tempo o bastante para uma rasteira o derrubar no chão, o fazendo cair sentado vergonhosamente na frente de seu adversário. Heero ergueu-se a tempo de ver o americano cair sentado, e com uma expressão desgostosa no rosto o japonês cruzou os braços sobre o peito, observando a figura menor caída na sua frente e que tentava assimilar o que tinha acontecido. Quando os olhos violetas piscaram e focalizaram o moreno, o rapaz deu um pequeno sorriso sem graça, sabendo que estava com um grande problema. Em um bom dia Heero teria um grande desafio antes de conseguir derrubá-lo completamente. Com certeza o japonês deveria estar estranhando o que havia acontecido para ele ter conseguido derrubá-lo com tamanha facilidade.
-Poderia me explicar qual é o problema? – perguntou o moreno de cabelos curtos enquanto o jovem caçador se erguia do chão.
-Muito obrigado pela ajuda. – Duo resmungou, batendo as mãos nas calças para poder livrá-las da poeira.
-Maxwell. – Heero advertiu em um tom sério, não admitindo nenhuma brincadeira vinda do americano. Estava com os nervos a flor da pele, embora a face continuasse sempre estóica, não demonstrando nada. Mas por dentro suas emoções reverberavam. Estava próximo de realizar a profecia, poderia ser humano novamente, mas o que estava realmente mexendo com o seu lado humano era Duo. O fato de que Duo teria que lutar com um demônio que no passado precisou ser trancado porque não teve ninguém forte o suficiente para poder derrotá-lo. Por que logo o Duo? Ele não passava de uma criança, por Deus! Isso o deixava frustrado. Por um lado o americano não era mais que um menino. Por outro ele já era um homem, se contar tudo pelo que já passou como caçador de demônios, e às vezes Heero tinha vontade de protegê-lo do restante do mundo como se ele fosse uma criança. Mas ele era o escolhido… Irônico, ele tinha se apaixonado pelo escolhido, um inimigo mortal.
-Certo, certo, senhor mal humorado. – resmungou, soltando um longo suspiro. Como explicaria para Heero que ele, Duo Maxwell, estava com medo? Com medo de falhar.
Corria prum shopping center
Ou para uma academia?
Pra se esquecer que não dá tempo
Pro tempo que já se perdia?
-Eu apenas… - passou os dedos pela franja molhada e observou porta afora, para o cemitério silencioso e escurecido. Era tão estranho não ter propensos demônios andando pelas ruas de Sunnydale há àquela hora. Assim como não tinham humanos. A cidade estava praticamente vazia. Os únicos que ficaram para trás foram aqueles que iriam enfrentar de frente o fim do mundo.
-Duo… - Heero deu um passo à frente e segurou no pulso do garoto, o puxando de encontro ao seu corpo e o abraçando fortemente, apoiando o queixo no topo da cabeça dele. Poderia sentir o coração do jovem bater descompassado contra o seu peito, vibrando no seu corpo. –Eu sei… mas nós vamos conseguir. Vamos conseguir vencê-lo. – murmurou contra os cabelos castanhos, sentindo os braços de Duo envolverem a sua cintura.
-É que é estranho pensar que em poucas horas… - afastou-se do vampiro, olhando novamente para a porta do mausoléu. –Pode ser a salvação ou o fim de tudo. – murmurou, voltando seu olhar, com um brilho determinado, para Heero.
-O que foi? – perguntou o japonês, olhando curioso para o rosto do namorado. Parecia que ele estava pensando em alguma coisa muito séria no momento.
-Esse pode ser o nosso último dia na Terra, Heero. – sussurrou, dando um passo à frente e parando a poucos centímetros de distância do vampiro.
-E daí? – o japonês ergueu uma sobrancelha, não entendendo aonde ele queria chegar com essa história.
-Eu quero que esse último dia seja inesquecível.
Andava pelado na chuva?
Corria no meio da rua?
Entrava de roupa no mar?
Trepava sem camisinha?
O segurou pela parte da frente à camiseta e o puxou com força, o beijando de maneira brutal e apaixonada. Heero arregalou os olhos surpresos diante do ataque súbito, mas não protestou muito. Segundos depois ele fechava os olhos e se deixava levar pelas sensações. Duo estava certo, esse poderia ser o último dia deles, e eles tornariam isso inesquecível. A língua do jovem caçador batalhava contra a sua dentro da boca do japonês, explorando cada canto com voracidade. As mãos de dedos esguios percorriam os músculos das costas de Heero, por debaixo da camisa. Só pararam de se beijar para Duo poder tirar a camiseta do vampiro, assim que essa peça de roupa foi descartada, voltaram ao beijo. O japonês lutou por uns breves segundos contra os botões da calça do caçador, finalmente conseguindo abri-los. Desceu o tecido pelas pernas bem torneadas, abaixando-se à medida que ia tirando as calças do americano, beijando cada parte de pele exposta. Assim que se livrou da peça, levantou-se novamente e empurrou Duo contra uma coluna, prensando o corpo dele contra essa. Começou a abrir os botões da camisa do jovem, distribuindo beijos pelo tórax dele. Duo deu uma inspirada de ar por entre os dentes diante das carícias. Seu membro já começando a despertar por entre as suas pernas.
-Se morremos e formos para o céu, ou inferno, com certeza essa lembrança ficará dentro de mim por toda a eternidade. – murmurou Heero com uma voz rouca, perto dos lábios de Duo. O americano deu uma pequena risada sardônica que o japonês considerou a coisa mais sexy que tinha ouvido no momento.
-Não há lugar para mim no céu, Yuy. – disse em um sussurro, esfregando o seu corpo com sofreguidão contra o do vampiro. Heero soltou um grunhido quando a ereção de Duo roçou na sua. Isso sim que ele chamava de despedida ao mundo. Arrebatou Duo para outro beijo.
Abria a porta do hospício?
Trancava a da delegacia?
Dinamitava o meu carro?
Parava o tráfego e ria?
Cravou os dedos nas pernas delgadas, puxando Duo para o seu colo e esse envolveu as pernas na cintura do japonês, enlaçando os braços no pescoço dele, nunca interrompendo o beijo. Heero usava a coluna para manter o caçador apoiado contra o seu corpo, enquanto a sua mão percorria aquelas curvas que ele conhecia de memória. Descolou os seus lábios dos do jovem e observou fascinado a expressão do rapaz. Rubro, ofegante e com os lábios vermelhos por causa do beijo. Sem contar que os belos olhos estavam brilhantes diante da luxuria do momento.
-Duo… - disse em um sussurro rouco e Duo focalizou seus olhos no rosto do moreno, sorrindo docemente diante da expressão dele. Os cabelos estavam mais revoltos do que o normal, se ele respirasse com certeza estaria tão ofegante quanto ele, mas mesmo assim havia uma certa coloração nas bochechas do vampiro. Sem contar os lábios inchados por causa do beijo. Deus, ele era perfeito, e era totalmente seu.
-O que foi? – perguntou diante do longo silêncio do namorado.
-Eu… - Heero hesitou um pouco. –Eu amo você. – disse com a voz baixa mas o americano ouviu cada palavra, sentindo o coração aumentar o ritmo em seu peito e um sorriso brotar em seu rosto. Certo que devido à situação Heero poderia estar dizendo isso apenas para desencargo de consciência. Mas diante de todas as emoções que ele via no rosto do japonês, o que era coisa rara, sabia que ele estava falando a verdade. Se morresse nesse momento, morreria feliz, com certeza.
-Eu sei Hee-chan. – falou suavemente e Heero deu um pequeno sorriso, que fez o coração do caçador bater mais forte. –Eu também te amo. – Heero sentiu como se borboletas estivessem voando no seu estômago com essa declaração, e o seu sorriso ficou mais largo. –Agora vamos parar com o sentimentalismo e ir para a parte que interessa. Porque eu estou precisando intensamente de você. – falou e rebolou um pouco, indicando o quanto precisava do vampiro. O japonês deu uma risada e depois um sorriso malicioso, jogando Duo sobre o ombro e caminhando com ele em direção ao quarto. O mundo poderia terminar agora que ele não estava nem aí. Tinha Duo, e isso bastava.
Meu amor
O que você faria se só te restasse esse dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?
O grupo parou na entrada da escola, que estava completamente vazia. Pelas janelas eles viam que papéis estavam espalhados pelos corredores, portas de armários abertas, as lâmpadas falhando e dando pouca iluminação ao local. Olharam para o céu, para o sol que ainda iluminava a rua. Treize voltou seus olhos para o seu relógio, vendo que faltava pouco para o eclipse. Começou a andar em direção a escola e os outros o seguiram com passos firmes porém tensos. Pararam em um círculo dentro do hall e deram um pulo quando ouviram um barulho ecoar pelo corredor. Cabeças viraram-se para ver que era apenas Heero que havia chegado, depois de ter atravessado a cidade através do esgoto.
-Certo. Estão todos aqui? – falou o ex-sentinela, percorrendo os olhos de Duo para Sally, Hilde, Relena, Padre Maxwell, Noin, Zechs, Wufei, Quatre, Trowa, Une e Heero, que agora fechava a roda. –Lady Une, por favor.
-Sim… - começou a ex-caçadora. –Pois bem, quando aquelas criaturas saírem da Boca do Inferno, só haverá um caminho para elas saírem da escola, que é esse. – e apontou para a entrada principal da escola. –Isso não podemos permitir. Com o sol sendo encoberto, elas tem chance de andar pelas ruas da Sunnydale sem serem afetadas pelos raios. E isso lhes dá a oportunidade de irem para outros lugares.
-Quantos para segurá-los aqui? – perguntou Relena, apertando firmemente a bolsa com as armas que carregava, com um olhar determinado no rosto.
-Dois para poder bloquear a porta. Com certeza é o bastante. – completou Treize. –Noin e eu faremos isso.
-Certo… - continuou Zechs. –Vamos Quatre, encontrar um lugar para que você possa fazer o feitiço. – falou o loiro, segurando a deathscythe entre os dedos. A única esperança deles. Uma arma mortal não conseguiria matar o demônio, mas uma arma imortal era outra história. E era isso o que eles iriam fazer, dar poderes divinos a essa simples foice que sempre foi a grande companheira do caçador.
-Sim sr. Marquise. – começou a andar mas foi parado por Trowa, que olhava com intensidade dentro dos orbes azuis do árabe.
-Quatre… - murmurou em um tom como se tivesse algo entalado na garganta.
-A gente se vê daqui a pouco, Trowa. – disse o loirinho com um sorriso confiante, dando um leve beijo no namorado. –Tome cuidado. – murmurou, soltando um pequeno suspiro e acompanhando Zechs para uma sala para poder começar a invocar o seu feitiço.
-Nós vamos checar se as outras saídas estão bem lacradas. – disse Sally, segurando no braço de Wufei e começando a caminhar pela escola. Une e Noin resolveram fazer a mesma coisa, deixando apenas Trowa, Hilde, Duo, Heero, Padre Maxwell, Relena e Treize, para trás.
-E então! – começou o americano com um ar calmo. –O que vocês pretendem fazer depois disso? Quero dizer, eu vou querer uma boa semana de folga. O que acha Treize? – Treize enfiou as mãos nos bolsos da calça, como se estivesse considerando a pergunta.
-Creio que você merece uma semana de folga. Não vejo mal algum.
-Uma semana de folga? Mas não se esqueça que no domingo você tem que me ajudar na missa. – falou o Padre e Duo fez uma careta para o tio. Ele sempre arrumava um modo de fugir das missas.
-Eu vou fazer compras. A nova moda primavera-verão já chegou às lojas do shopping, e eu não posso perder isso por nada desse mundo.
-Sempre materialista, não é princesa? – riu Hilde e Relena deu de ombros.
-Eu iria gastar alguns créditos com você, mas depois dessa sua brincadeira, acho que mudei de idéia.
-Opa! Se está tão mão aberta assim pense um pouquinho em mim. Tem um game na loja de informática que eu estou doido… - mas foi interrompido por um puxão em sua trança. –Ai Heero, por que fez isso?
-Hn, baka. – murmurou o japonês. –Eu pretendo ir a praia, isso se eu não virar pó com os raios solares. Acho que preciso de uma cor. – falou em tom sério e monocórdio e o pessoal da roda ficou quieto por um tempo, para depois cair na risada.
-Essa piada foi ótima. – riu Hilde, ao lado de Heero e dando uns tapinhas no ombro dele. Silêncio novamente imperou dentro do grupo, que começou a olhar uma para o outro sem ter mais nada o que dizer. Soltando um suspiro, Duo recolheu a sua bolsa e a jogou sobre o ombro, olhando a sua volta para os rostos tão conhecidos e que fez parte da sua vida durante os momentos mais difíceis. A sua família. E lutaria bravamente por ela.
-Melhor irmos. – anunciou Treize sombriamente. –A Boca do Inferno vai se abrir, porque o eclipse já começou. – começaram a se debandar, quando Treize parou o seu pupilo. –Duo! – chamou e o garoto virou-se para o homem que considerou como pai durante esses anos de convivência. –Cuidado. – o jovem americano sorriu, virando-se para poder olhar o tio que andava ao seu lado.
-Tio… - chamou e o homem mais velho voltou-se para o rapaz. -… Prefiro que o senhor fique guardando a entrada junto com o Treize. – disse em um tom sério e Padre Maxwell olhou longamente para o rosto do jovem. Deu um pequeno sorriso, puxando o garoto pelo pulso e o apertando em um abraço.
-Duo… - tentou dizer alguma coisa, mas nada lhe vinha à mente. -… não vou dizer nada, porque tudo o que eu disser vai parecer com um adeus, e isso não é um adeus.
-Claro que não é. – o menino sorriu um pouco, puxando a espada que tinha na bolsa. –Irmã Helen me prometeu uma travessa de pizza só para mim quando chegássemos a Los Angeles. Acha mesmo que irei perder isso?
-"bvio que não. – sorriu o homem, ainda sentindo um aperto no peito. Por que ele tinha que ser o escolhido? Por que não outro? Por que o seu sobrinho? Claro que Duo era especial, para ele o garoto sempre seria especial, apenas não gostava que a diferença dele em relação aos outros o levasse a uma vida tão perigosa. Porém tudo o que poderia fazer era rezar para que Deus o protegesse, mais nada.
-Vamos! – chamou o garoto, começando a caminhar em direção ao porão da escola. Heero virou-se, antes de acompanhar o grupo, para Padre Maxwell, com uma expressão determinada no rosto.
-Ele entra vivo… - disse em um tom monocórdio mas decidido. -… e sai vivo. – falou para o homem. –Eu garanto isso. – Padre Maxwell deu um aceno de cabeça, um pouco aliviado em saber que alguém mais terreno estaria de olho em seu garoto, e viu a forma de Heero se afastar até sumir no final do corredor junto com os outros.
-A nossa função é manter o demônio e seu exército ocupado até que o feitiço de Quatre esteja pronto. – comentou o americano quando viu os outros que tinham saído para poder verificar às outras saídas da escola, aproximarem-se do grupo. –Trowa! – o mencionado virou-se para o amigo, pegando no ar um medalhão que esse jogou.
-Um adereço para a batalha. O eclipse total só irá durar um minuto. Esse medalhão vai atrair a luz do sol e refleti-la dentro da Boca do Inferno, assim será mais fácil derrotar os vampiros. – respondeu Une. –Por isso temos que mantê-los ocupado. O sr. Winner disse que a magia de Trowa é perfeita para servir de fio condutor. Mas avisou para ser rápido porque esse medalhão suga muita energia.
-Pode deixar. – respondeu o acrobata, colocando o medalhão no pescoço enquanto eles desciam as escadas do porão, indo em direção ao buraco que dava entrada a Boca do Inferno. Chegaram ao local e rodearam o tampão, o olhando fixamente e pondo-se a esperar.
-Okay, agora a gente acende as velas, se concentra e invoca os espíritos divinos para dentro da foice. – disse Quatre, inspirando profundamente enquanto acendia a última vela em volta da deathscythe. A sua frente, Zechs estava de joelhos observando atentamente os movimentos do garoto, cruzando os dedos mentalmente para que esse plano desse certo. Olhou no relógio e viu que faltava pouco para o eclipse chegar ao auge, que era quando o demônio seria liberto.
-Se conseguirmos esse milagre, você sabe que a história toda vai mudar, não sabe? – falou o sentinela, se referindo ao que eles tinham descoberto nos livros em relação a esse feitiço. Convocar entidades divinas poderia provocar muitas mudanças no mundo e eles por um momento ficaram temerosos em tentar, até que Wufei lhes disse algo que fez com que eles tomassem uma decisão. O Destino havia avisado que estava na hora de tirar o peso do mundo das costas de apenas um jovem. Que o escolhido não deveria ser mais obrigado a carregar a responsabilidade de ser o guardião da humanidade. O demônio apocalíptico foi o que manteve a lenda do caçador viva durante todos esses anos, que restringiu a apenas um garoto os dons de ser um caçador. Era ele que provocava o nascimento do escolhido, já que os seus poderes aumentavam a cada cem anos, incitando mais a atividade demoníaca. Por isso a profecia recitada pelos antepassados de Wufei. Era hora de terminar com esse círculo vicioso, aproveitando que os quatro guerreiros se encontram na mesma época. E, com a destruição desse demônio, outros garotos como Duo nasceriam e o que antes era restrito apenas a mulheres se tornaria uma missão equilibrada e mais humana. E assim quem sabe, um dia, o mundo não iria mais precisar de caçadores.
-Sim… - murmurou Quatre, repousando as mãos sobre a foice e soltando mais um suspiro. -… vamos começar. – disse decidido e Zechs segurou a respiração enquanto o árabe começava a murmurar entre os dentes o feitiço, convocando Hecate, a Deusa dos bruxos, a lhe ajudar nessa magia.
-Vamos lá garoto… - sussurrou o sentinela, esperançoso. -… Faça acontecer.
-Começou. – Une falou, desviando os olhos de seu relógio e puxando um punhal do cós de sua calça, o estendendo para Duo. –A honra é toda sua caçador. – disse e Duo pegou o punhal, dando um talho na palma da mão com ele, fazendo o sangue escorrer e cair sobre o tampão. Os símbolos começaram a brilhar e as pontas da estrela desenhada na tampa começaram a se torcer, juntando-se em um ponto só e abrindo passagem para eles. Os olhos violetas viraram para os integrantes da roda, como se perguntasse a eles se estavam certos de que iriam fazer isso. Cada um segurou com mais firmeza a arma que empunhava, decididos a seguir o caçador até o fim.
-Hora da festa D! – Hilde sorriu, pulando dentro do buraco e logo um a um foram a seguindo. Duo foi o último a descer e ficou surpreso e ver que a Boca do Inferno não passava de uma enorme caverna subterrânea. Começou a andar até a ponta do elevado onde eles estavam, olhando para o fundo da caverna para ver o que tinha lá. Algo travou na sua garganta quando viu o exército enorme de vampiros pré-históricos que havia dentro da caverna. Observou ainda que em um enorme buraco em uma grande parede de pedra estava uma estátua de um demônio alto, uns dois metros de altura e um de largura, forte, com chifres despontando da grande cabeça. Passaria facilmente por um enfeite preso dentro de uma caverna, se não fosse o fato de que esse enfeite estava começando a se mover e tomar vida e cores. Deveria ser o demônio apocalíptico.
-Er… - Relena sussurrou, vendo o exército que estava sob os pés dela. -… vamos ter que segurar todos eles? – terminou, olhando a sua volta para ver que eles estavam em um número bem menor, mesmo que houvesse quatro caçadores e dois demônios, todos com poderes sobrenaturais. –Estou vendo um trabalho complicado aqui. – disse com um meio sorriso para Hilde. A convivência com a garota estava lhe dando uma personalidade mais despojada. Chegava a ser um pouco bizarro.
-Bem… - Duo murmurou, olhando as centenas de vampiros que produziam armas em poças de lavas e ajudavam seu mestre a sair de sua prisão de pedra na parede. -… até que o feitiço de Quatre esteja pronto, a única coisa que temos que fazer é torcer para eles não nos verem… - e no que terminou de falar, tudo lá embaixo parou e cabeças viraram-se para a plataforma de pedra onde eles estavam. Duo fez uma careta e seu coração pulou. –Ops… - foi tudo o que disse antes da leva de vampiros partirem para cima deles.
