NO MEIO DO CAMINHO TINHA UM TREX...

(...Tinha um Trex no meio do caminho)

Capítulo 4

Autor: Lady RR, TowandaBR

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions (perdoem qualquer omissão).

AGRADECIMENTOS: Obrigada Cris, Maga, Fabi K. Roxton, Cláudia, Jess, Nirce, Di Roxton (que deixou coment no grupo pq não conseguiu deixar no FF). Um beijo enorme a todas vocês.


Água e óleo não se misturam. Mas às vezes são obrigados a ficar juntos (Uma aventura M&V...Marguerite & Verônica)


"Café?"

Apertou os olhos enquanto continuava a falar consigo mesma.

"Não acorde agora... não acorde agora... não acorde agora..."

Correu para a cozinha. Mesmo em sonho iria tomar aquele café.

"Bom dia, Marguerite!"

A herdeira mal pode acreditar ao encontrar Verônica com um largo sorriso e pulando de um lado para o outro em um só pé.

A mesa estava posta com pão fresco, suco, café, frutas e até um bolo.

"Não acredito!" – Disse esfregando os olhos.

"Sente-se e coma."

"Você fez tudo isso?...Sozinha?"

"É só meu pé que está machucado."

Marguerite já estava à mesa e apreciava o primeiro gole do café.

"Não dou a mínima se é o seu pé ou não contanto que eu tenha meu café." - olhava para a xícara e aspirava aquele aroma fabuloso. Aquilo realmente lhe dava um prazer indescritível.

Verônica observava a morena e ria. Não podia acreditar no quanto ela gostava daquilo. Malone havia apresentado aquela delícia à herdeira que agora ficava insuportável se não tomasse seu café pela manhã.

"Coma Marguerite, temos muito que fazer."

"Pelo amor de deus Verônica. Não vê que estou comendo? Não se fala coisas desagradáveis ou nojentas a mesa. Nada de falar em trabalho."

Verônica concordou. Sabia que Marguerite tivera dois dias estafantes e se quisesse manter a herdeira animada teria que fazer os movimentos certos para incentivá-la. Observou feliz Marguerite devorar e elogiar cada coisa que comia, só faltou dizer que Deus tinha feito ótimas uvas. Finalmente tomou o ultimo gole de café.

"Acabou?" – perguntou a loira bem humorada.

Marguerite suspirou satisfeita.

"Então, agora podemos decidir o que temos que fazer." – continuou a moça.

"Já que não tem jeito e não adianta fechar os olhos, pode falar."

"Temos que planejar. Você não pode fazer tudo sozinha e eu não posso ficar pulando o tempo todo."

"Eu detesto dizer isso, mas por acaso você leu o que estava escrito no livro?"

"Li. Meu pé e tornozelo tem que estar imobilizados e eles estão. Não tem nada que diga que o resto de mim tenha que ficar parada. Além do mais dói o tempo todo e se eu ficar quieta vai ser pior. Preciso me distrair e não quero mais tomar aquela droga de remédio."

"Neste caso vamos pelo menos arranjar um par de muletas decentes. Não quero você choramingando de dor na hora de dormir. Já volto."

A herdeira desceu no elevador enquanto Verônica arrumava a cozinha. Voltou quase vinte minutos depois trazendo alguns galhos de árvore.que levou para a varanda. Sinalizou para a loira.

"Pode pular já para cá." – ordenou – "Enquanto você faz isso, eu faço o trabalho pesado. Vou moer o café."

Concentrada Verônica nem viu o tempo passar. Depois se levantou e testou os suportes. Sorriu satisfeita. Apenas mais um detalhe e ficariam perfeitos. Pegou alguns pedaços de couro que guardava dentro de um saco de estopa e usando cordames do mesmo material envolveu a parte que ficaria embaixo dos braços.

"Formidáveis não?" – Sorriu para a herdeira que retornava. A mulher largou o saco de café que trazia, olhou para as muletas e torceu o nariz – "O que foi? Eu experimentei. Estão muito boas."

"Você faz um ótimo café, mas não entende absolutamente nada de conforto. Esse couro vai machucar suas axilas. Imagine a cena. Você pulando pela casa com os braços esfolados erguidos. Ridículo." – Marguerite nem tomou conhecimento da cara enfezada de Verônica. Foi até o quarto e voltou trazendo alguns pedaços de tecido e a caixa de costura. Jogou uma almofada para a loira. - "Desmanche isso."

Habilmente a morena envolveu os apoios com o algodão da almofada e revestiu com os pedaços de tecido mais macios que encontrou. Costurou tudo com muito capricho. Depois estendeu uma das muletas para que Verônica sentisse a diferença.

"Estava muito bom daquele jeito."

"Então devolve."

"Não!"

"Admita que ficaram espetaculares."

"Nunca." – As duas riram da situação insólita.


Após organizarem-se finalmente as mulheres conseguiram que os dias fossem mais produtivos.

Marguerite cortava lenha enquanto Verônica cuidava da cabra. Reforçaram o estoque de velas, inclusive usando uma nova formula criada por Challenger para espantar os mosquitos; arrumaram o restante das borrachas do encanamento que também ameaçavam estourar; fizeram a manutenção do elevador; lavaram roupas e consertaram algumas delas; arrumaram a casa e até improvisaram um estreito cano de bambu saindo do chuveiro para que Verônica pudesse tomar banho sem molhar a tala.

"George vai ficar orgulhoso com nossa invenção."

A herdeira tentou ensinar a moça a bordar, mas definitivamente era uma tarefa que a loira odiava e para a qual não tinha a menor habilidade. Em contrapartida, as palavras 'Marguerite' e 'cozinha' ao serem colocadas juntas eram sinônimo de caos.

Nos momentos de descanso dedicavam-se a passatempos distintos como costura e desenho ou dividiam a leitura apreciada por ambas.

Na hora de dormir quando o pé de Verônica cobrava o preço do esforço de um dia inteiro de trabalho e doía com ainda mais intensidade Marguerite preparava-lhe um forte chá relaxante para que a moça pudesse finalmente dormir. Como recompensa a herdeira tinha a certeza de encontrar seu café quente e fresco ao levantar-se.

Uma noite, após o jantar, estavam na varanda escutando música.

"Marguerite?"

"Hum?"

"O que você estaria fazendo agora se não estivesse aqui?"

"Ahhh! Talvez jantando em um excelente restaurante, cercada por pessoas bem vestidas, e tendo a minha frente uma deliciosa torta."

Verônica riu.

"Você só pensa em jóias e comida?"

"Claro que não. Penso em coisas maravilhosas. Nas ruas cheias de gente, nos coquetéis elegantes, nos bailes de gala."

"Você já assistiu a alguma ópera? Digo. De verdade. Em um teatro."

A herdeira deu um sorriso. Ás vezes surpreendia-se ao lembrar das muitas coisas que lhe pareciam tão comuns, mas eram desconhecidas para Verônica que quando muito tentava imaginar pelas descrições que encontrava nos livros.

"Tantas vezes que nem consigo contar."

"É como descrevem nos livros?"

"Nenhum livro pode descrever a magia e emoção de se assistir a uma ópera em um teatro. Nada se compara ao som de uma orquestra tocando bem perto de você."

"Por favor, me diga." – Os olhos da moça brilhavam de curiosidade.

"Bom, primeiro tem o teatro. O de Londres é fantástico. Uma construção imponente, com uma entrada para um luxuoso saguão, escadas majestosas que nos levam a platéia ou aos camarotes. Você chega ao seu lugar, admira os ornamentos cuidadosamente entalhados e sente a cadeira confortável e aveludada. Depois olha para cima e percebe que o teto é decorado com afrescos que nos fazem calar."

Marguerite olhou para a loira esperando que tivesse dormido, mas a moça permanecia atenta parecendo devorar cada palavra sua.

"Em frente a platéia o poço da orquestra com suas flautas, oboés, fagotes, violinos, cellos e muitos outros instrumentos. De repente a imensa cortina se abre e no palco surgem cores que você nunca imaginou existirem. E quando o maestro se posiciona e a música começa, sopranos, baixos, contraltos, tenores, cantam com vozes tão inacreditavelmente belas que vão permanecer em seus ouvidos por um longo tempo. Tudo se junta e seus sentidos são invadidos por sensações inesquecíveis."

Marguerite falava e seus olhos estavam abertos parecendo que ela não estava mais vendo os móveis da conhecida varanda da casa da árvore e sim aquilo que descrevia. Finalmente pareceu acordar de seu devaneio.

"É bom conhecer a história da ópera ou cada nota do concerto, mas sempre existe algo mágico e encantador como se fosse a primeira vez que estivesse assistindo."

As duas ficaram caladas cada qual com seus pensamentos.

Verônica transformando em imagens o que Marguerite acabara de descrever enquanto esta relembrava as sensações da ópera de Verdi La Forza del Destino, a última que assistira antes de embarcar para sua nova vida no platô.


Verônica acordou muito cedo. Mesmo quando os outros estavam em casa, gostava de aproveitar o tempo sozinha para organizar as idéias. Arrumou algumas coisas, preparou o desjejum deixando por último o que sabia ser o alarme que despertaria Marguerite de imediato. Depois se sentou esperando ao mesmo tempo em que adiantava o almoço.

Em menos de três minutos estava acompanhada pela herdeira que se sentava, pegando sua xícara, já previamente abastecida a sua espera.

"Verônica. Precisamos ter uma conversa muito séria."

"Conversa séria? Não foi você mesmo quem disse que não deveríamos ter determinadas conversas à mesa?"

"Não tente colocar palavras na minha boca. Eu disse que não se falam coisas desagradáveis ou nojentas à mesa. O que vou falar não tem nada de desagradável ou nojento."

"O que é?"

"Pare de descascar essas batatas e preste atenção."

"Eu estou prestando atenção."

"Não está. Larga isso agora ou não digo nada."

"Tá. Mas só porque fiquei curiosa." – a loira largou o que fazia e apoiou os cotovelos na mesa e as mãos no queixo encarando a herdeira – "Assim está bom?"

"Você anda muito engraçadinha."

"Fala logo."

"Está bem. É o seguinte. Os outros devem estar chegando para o almoço."

"Exatamente. Por isso vou fazer mais comida."

"Cala a boca e me deixa continuar. Nós estamos sozinhas à cinco dias enquanto eles foram se divertir naquelas estranhas festas Zanga."

"Não fui porque não faz nem um mês que estive por lá e queria ficar um pouco em casa e quando percebeu que não ficaria sozinha você ficou com preguiça de ir com os outros."

"Nhenhenhém!" – Marguerite olhou para a moça com cara de poucos amigos – "Pare de me interromper. Agora escute bem. Eu havia planejado descansar um pouco e acabei que nem burro de carga trabalhando por nós duas."

"Como é que é?" – Verônica indignou-se.

"Você ajudou um pouquinho."

"Hã!" – A loira parecia querer pular no pescoço da herdeira que corrigiu rapidamente.

"Ok. Dividimos as tarefas. Mas enfim, trabalhamos muito mais porque além de assumirmos as tarefas dos outros ainda tivemos alguns...digamos...contratempos."

"Vá direto ao ponto Marguerite. Tenho mais o que fazer."

"A questão é. Eu preciso, eu quero, eu vou descansar por no mínimo uma semana inteirinha."

"Fale tudo de uma vez." – Verônica estava impaciente.

"Para todos os efeitos eu estou doente e preciso descansar. Vou ficar quietinha na espreguiçadeira. Mas para que isso dê certo você também precisa ficar quieta."

"Por quê?"

"Porque seu pé está um lixo e se você trabalhar eles vão perceber que estou enrolando."

"E desde quando isso é novidade?"

"Preste bem atenção." – Marguerite apontou o dedo para a loira – "Querendo ou não você vai me fazer companhia. É mais do que justo depois de tudo que passamos."

"Leia meus lábios Marguerite. Não me meta nisso." – a moça pegou suas muletas e saiu enquanto a herdeira resmungava furiosa.

"Droga...droga...droga...droga."


Do jardim Verônica assustou-se ao ouvir o grito da herdeira. Movimentou-se o melhor que podia, mas ainda assim queria ser mais rápida e quase caiu na tentativa. Quando saiu do elevador encontrou Marguerite caída segurando o tornozelo.

"AAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHH!"

A moça abaixou tentando avaliar a situação.

"Pé ou tornozelo?"

"Tudo..."

"Fique calma. Vou tentar apoiar como puder, mas você vai ter que ajudar."

"Está bem."

A loira entregou uma de suas muletas a herdeira que com dificuldade conseguiu levantar-se. A situação ficou assim: Verônica apoiava-se com uma muleta de um lado, segurando Marguerite que, com os pés descalços, se apoiava na outra muleta.

Conseguiram chegar ao sofá e a moça imediatamente pegou um pouco de gelo.

"Estranho. Não está inchando."

"AAAAAHHHHHHHH!"

"É o direito?"

"É."

"Vou examinar." – Verônica deu um apertão.

"AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!"

"Aqui também dói?"

"AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!"

"Marguerite" – Verônica se alterou – "Eu apertei o pé esquerdo."

"Puxa." – disse a mulher com ar inocente – "Será que machuquei os dois?"

Verônica deu-lhe um safanão.

"Isso é golpe baixo."

"Eu avisei. Não vou trabalhar nos próximos dias e preciso de uma desculpa."

"Você é muito cara-de-pau."

"Onde aprendeu isso?"

"Com Finn. Quer saber o que significa?"

"Não precisa. Ela também já usou esse termo comigo umas duas ou três vezes." – a herdeira começou a levantar – "Desmancha prazer."

"Marguerite eu não vou mentir para sustentar seus caprichos".

"Caprichos? Eu dei muito duro, passei por momentos muito difíceis nos últimos dias para não ter uma pequena recompensa".

"Você passou por momentos difíceis? Que eu saiba a parte da dor ficou só comigo."

"A minha dor foi emocional".

A loira arqueou a sobrancelha e tentando não rir da situação surreal. Os anos poderiam passar, mas continuava se surpreendendo com as coisas que Marguerite inventava.

"Vamos lá Verônica, colabore. Você também merece um descanso."

Depois de uma longa respirada a loira respondeu:

"É o seguinte Marguerite, eu ouvi com atenção e estou tentando entender seus motivos. Detesto admitir, mas confesso que você me comoveu."

"Isso quer dizer?" – os olhos da morena brilhavam de expectativa e esperança.

"Nem pensar. Se você acha que vou mentir para os meus amigos, esqueça. Como diria Finn, pode tirar o cavalinho da chuva".

A discussão ainda estava no primeiro round quando ouviram o som do elevador.

Verônica apressou-se em receber os amigos.

"Ah, meu Deus Verônica. O que houve?" – Challenger correu para ela.

"Você está bem?" – Finn e Roxton preocuparam-se.

"Agora estou."

"Precisamos cuidar disso."

"Não é nada que o tempo não cure Challenger."

"Onde está Marguerite?"

A loira ia responder quando...

"AAAAAHHHHH!"

Roxton e os outros correram para a herdeira que recostada no sofá tinha uma expressão de dor enquanto segurava o tornozelo.

"Você também?"

"Estava indo ajudar na cozinha e escorreguei."

Verônica rangia os dentes.

"Vocês duas vão já se recostar na varanda, quietas com o pé para cima. Roxton, Finn vocês terminam o almoço. Vou pegar gelo para Marguerite."

"Mas Challenger..."

"Você pretende começar uma discussão enquanto estou aqui morrendo de dor?" - Marguerite queria acabar com qualquer chance de Verônica falar.

"Nada de 'mas' Vê. Challenger tem razão." – Mesmo sob protesto Finn já conduzia Verônica até a espreguiçadeira na varanda.

"Eu te ajudo Marguerite." – preocupado Roxton apoiou a herdeira– "Isso mesmo. Com calma." – quando os joelhos dobraram e ela ameaçou cair, John imediatamente a pegou em seus braços fortes – "Machucou-se?"

"Fiquei um pouco tonta..." – sorrindo encostou a cabeça no peito do caçador – "...está tudo girando...é melhor ir bem devagar Roxton."

Ele obedeceu preocupado.

Após acomodarem as duas, John e Finn retornaram para a cozinha.

"Eu disse para não me meter nisso." – a loira fuzilava a outra com os olhos – "Vou voltar lá para dentro."

"E eu disse: Querendo ou não você vai me fazer companhia."

A herdeira nem pestanejou ao inesperadamente inclinar-se, erguer o pé da amiga alguns centímetros acima para soltá-lo a seguir sem que essa tivesse tempo de reagir.

"AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!"

Só então Marguerite percebeu o gigantesco erro que cometera ao subestimar a capacidade de reação da loira. Mesmo gemendo de dor esta revidou de imediato agarrando com força os dedos mindinho e o vizinho do pé da herdeira que mal ouviu os estalos antes da dor intensa.

"AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!"

Challenger chegou correndo.

"Agüentem ai meninas." – desesperou-se o cientista sem saber quem deveria acudir primeiro – "Vou pegar um remédio fabuloso. Se bem que no caso de vocês acho que é melhor dobrar a dose."

E enquanto aguardavam o socorro, Marguerite e Verônica ficaram trocando insultos, como sempre unidas nas alegrias e, agora mais do que nunca, na dor.

FIM

PS: O título da fic refere-se ao faminto Trex que rugia no capítulo 1 e que, após perceber o quanto as duas poderiam ser indigestas, tornou-se vegetariano e mudou-se para o outro lado do platô.