Eu levantei com um barulho vindo da cozinha. Pego o meu relógio e vejo que passavam das onze horas. Sento no sofá, tentando abrir os olhos, mas eles teimavam em fechar. Me levanto cambalendo indo até a cozinha, onde fiquei parado na porta vendo-a abrir minha geladeira.
"Desculpa mas eu to morrendo de fome..."- ela fechou, indo até a pia e cortando um pedaço de queijo.
"Achou alguma coisa prestável pra comer?"- eu coço meus olhos ainda com sono.
"Aham" - ela fala de boca cheia- "esse queijo é uma delícia..."
"Que horas é seu plantão?"- eu perguntei, experimentando o tal queijo.
"Só a noitinha, mas eu já vou indo, ok? Obrigada por tudo..."- ela foi pegando as coisas – "sua camiseta está debaixo do travesseiro..."
"Você está sem carro..."- eu tentei lembra-la.
"Chamei um taxi,..."
"Eu podia te deixar em casa... não é incomodo algum.. você vai gastar dinheiro a toa."
"Não se preocupe com isso..." – ela falou prendendo o cabelo. – "Mas obrigada de qualquer forma."
"Eu posso pelo menos te levar ate a porta!"
"Claro..." – ela sorriu. Eu levei-a ate a porta. Sera que eu tiha feito algo errado? Nem um beijo. Nem uma palavra carinhosa, nada.. – "Ele ja chegou.." – antes de sair ela me deu um selinho. – "Ate mais tarde."
"Até!" – eu acenei da porta vendo-a entrar no taxi.
Eu me sentei no sofá, estava pensando no que eu poderia ter feito de errado. Se eu tivesse dormido com ela, acho que seria o meu pior erro, mas ate isso eu evitei. Eu continuei a pensar naquilo até pegar no sono. Acordei um pouco tarde, bem mais do que eu estava acostumado. Eu não tive vontade de almoçar nem nada. Aproveitei para ir a um supermercado comprar algumas coisas para abastecer a geladeira, afinal agora não era só eu quem ia comer lá. Ou era? Eu realmente estava com medo. Voltei pra casa e não resisti a tentação de ligar pra ela. Casa: secretária eletrônica. Achei melhor não deixar recado. Celular: caixa postal. Onde diabos ela havia se metido? Eu preferi não me estressar com aquilo, senão eu ficaria louco, ela ja estava virando uma obsessão na minha vida. Olhei para o relógio e vi que ja estava mais que atrasado. Tomei ainda um banho sem a menor pressa e segui para o hospital. Entrei diferente de outros dias. Eu não estava para amigos hoje. Fui diretamente deixar minhas coisas no armário e procurei me ocupar com casos complicados. Andei de um lado pro outro, atendi mais pacientes que o normal, ate que comecei a sentir um cansaço no meu corpo. Me sentei numa cadeira na recepção abaixando minha cabeça, ate que sinto uma mão encostar no meu ombro.
"E aí, Dr. resultados negativos?" - ela me encarou, gozando da minha cara. Eu logo mudei a minha expressão para uma melhor, não daria o braço a torcer.
"Claro que não! As coisas vão melhores do que você pensa..."- eu dei uma olhar satisfeito, escondendo toda a minha preocupação.
"Ouvi dizer que ela foi embora com você..".- ela olhou ao redor, sinalizando que quem tinah contado era Chunny.
"É...depois do nosso looooooooongo beijo...eu venci, Susan...você vai me pagar..."- eu sorri, satisfeito ao pensamento...
"Aham, sei..."- ela colocou a mão no queixo, pensativa- "a que horas você foi embora mesmo?"
"As 4" - eu respondi, na inocência.
"Depois da meia noite já é outro dia, John...desculpe, mas você perdeu!"- ela gargalhou com a minha expressão de derrotado. Eu não podia argumentar, ela estava certa.
"O que importa é que eu consegui e estou muito feliz com isso. Ela até dormiu em casa essa noite" - eu disse, me aproximando dela. Não queria que essa informação caísse nos ouvidos de quem não soubesse interpreta-la.
"O que?"- Susan pareceu se interessar agora.
"Na minha cama.. com a minha camisa." – eu falei no seu ouvido.
"Eu não acredito!"
"Nem eu.." – eu falei olhando pro lado. – "Eu realemnte preciso falar com você" – eu mudei minha expressão. – "Eu preciso de um conselho, ou uns."
"Se quiser podemos falar agora.."
"Aqui não.. vamos ate algum lugar vazio." – eu olhei para o lado e vi Abby passar. – "eu não quero que ninguem ouça."
"Proposta tentaaadora!"
"É serio Susan." – eu olhei nos seus olhos.
"Vamos ao telhado então..." – ela parecia compreender minha "situação".
Nós seguimos em silêncio ate o telhado. Eu andei na frente me encostando ao parapeito e ela parou ao meu lado.
"Eu não sei mais o que fazer!" – eu finalmente comecei a chorar.
"Carter, você tem que ter calma. Você simplesmente achou que ia ser simples. Você voltava, dava flores a ela, dava uns amassos e tudo ia voltar como era antes?"
"Não, Susie, mas... você sabe! Eu preciso dela agora..".- eu limpei as lágrimas correndo. Não queri que ela me visse assim. Eu percebi uma expressão estranha no rosto dela. Mais do que séria, meu culpada. Achei muito esquisito. – "Que foi?"- eu tive que perguntar. Não era a Susan que eu conhecia.
"Ai, Carter! Eu não aguento mais! Eu tenho que te contar! Eu também fiz uma aposta com ela. Desculpa, eu sei que é errado. mas era brincadeira. Não achei que ela fosse levar a sério."
Eu a olhei firmemente. Não esperava aquilo. Mas será que Abby estava realmente levando a tal aposta a sério? Eu acho que não.
"O que você apostou...?"- eu perguntei, tentando desvendar tudo aquilo.
"5 dias sem você...pelo menos..."- ela respondeu, evitando me olhar nos olhos.
"Não acho que seja por isso, Susan. Ela já tinha me beijado mesmo...não faz sentido"- eu percebi. Não tinha porque ser o lance da aposta.
"John.. você sabe que ela ja perdeu tanto nessa vida que não aguentaria sofrer com isso de novo."
"Eu mudei Susan.. eu juro que mudei.. eu não vou mais fazer isso com ela. Eu tento, tento fazer com que ela compreenda isso mas eu não consigo. Eu estou ficando obcecado por ela, nunca fui assim. Passo mais que 24 horas por dia pensando em como eu poderia fazer para conquista-la. Ontem mesmo ela queria que nós fossemos alem do beijo mas eu me segurei, falei que era melhor não."
"Isso tudo é puro medo. Ela te ama, você sabe disso. Acho que agora você tem que ter paciência."
"Eu queria que você não falasse a ela que eu conversei contigo. Eu não vou desistir tão facil..."
"Você sabe que se você precisar da minha ajuda..." – ela falou segurando minha mão.
"Deixa comigo." – eu sorri. – "se for preciso.. eu pedirei."
"Agora, levanta esse animo, não quero te ver assim!"
"Obrigado" - eu a juntei num abraço forte. Era tão bom essa sensaçao de ter amigos. Nós descemos do telhado e fomos trabalhar. Resolvi seguir o conselho dela e não pensar tanto nisso. As coisas iriam acoentcer quando tivessem que acontecer.. Mas isso não impedia que eu desse uma ajudadinha.
Três horas já haviam passado e finalmente a vi saindo da sala de Trauma. Ela estava linda, eu nem preciso dizer. O cabelo caido no rosto cansado.
"Oi" - ela disse quando se aproximou de mim.
"Oi" - eu retribui dando um leve sorriso. Ela não tinha expressão nenhuma. Me tratava como se nada fosse, como se nada tivesse acontecido. - "Turno difícil?"- eu pergunto, tentando puxar algum assunto.
"Não muito..."- que raiva! Não dá pra falar alguma coisa menos monossilábica?
"Quer sair pra comer algo depois!"
"Não.. não.. obrigada. Eu realmente estou muito cansada."
"Certo.." – eu tentei controlar o meu sorriso para que ele não se tornasse falso. – "Qualquer coisa é só me procurar.. a qualquer hora, em qualquer momento... você ja sabe qual o numero do meu apartamento."
"É..." – ela sorriu.
"Agora eu preciso atender um paciente." – eu decidi sair dali antes que ela me desse um outro fora.
"John..." – ela me seguiu. "John?" – "Desculpe por eu ter saido da tua casa daquele jeito."
"Não, tudo bem..".- Ufa! Nem tudo estava perdido. Ela finalmente percebeu que estava me tratando estranhamente.
"Bom, era só isso.."- ela me deu um sorriso amarelo e eu virei as costas. Não era bom eu ficar muito perto, poderia acabar "melando" as coisas.
Eu fiquei pensando um pouco no que a Susan havia dito sobre a tal aposta. Pensei em falar com ela sobre o fato, mas quando olhei pra trás ela já tinha saido da minha vista.
O meu plantão foi chegando ao fim a medida que o dia ia amanhecendo. Fui até a SDM pegar as minhas coisas e encontrei Susan.
"Melhorou!" – ela falou fechando seu armario.
"Tentando... mas uma boa noite de sono. Vai ajudar com certeza."
"Eu estou morta..." – ela colocou sua cabeça no meu ombro. – "me leva pra casa, me joga na cama, me poe pra dormir."
"Estou nem em condições de me manter em pe. Não dou contade cuidar de outra pessoa agora não."
"Se fosse a A..." – Susan se calou quando ouviu um barulho vindo da porta.
"Boa noite, dia, manha, o que seja, pra você dois."
"Abby, me leva pra cama.. ja que o John não quer me ajudar." – ela pendeu pro ombro da Abby.
"Acho que tá todo mundo morto hoje..."- eu vi abrir o armário, pegando a bolsa e o casaco.
"Posso tá morta" - Susan sentou no sofá e olhou para nós dois – "mas não é dormir a primeira coisa que eu vou fazer quando chegar em casa..."- ela virou os olhos, me deixando completamente constrangio com a situação. Ela não deveria ter falado aquilo. Não agora.
Eu abri os olhos, tentando cortar Susan, que entendeu logo, trocando de assunto rapidamente.
"Bom, vou indo...tenham uma boa noite...seja ela como for.."- ela me deu um beijo, outro em Abby e saiu.
O silêncio e aquele clima pesado voltou a pairar sobre o ambiente.
"Posso te fazer uma pergunta?"- eu entreti meu olhar com a fivela da minha bolsa para não ter quem encara-la.
"Até duas..."- eu olhei para ela, que também não fazia muita questão de me olhar.
"Isso tem a ver com a sua aposta com a Susan?"- eu cruzei os braços e esperei a resposta e reação dela.
"Isso o que?"- ela só podia estar se fazendo de desentendida..
"5 dias... resistir.. essas coisas."
Ela ficou parada me olhando sem saber direito o que falar.
"Eu tambem apostei com ela.. antes de você..." – eu agora a encarava.
"Apostou!"
"3 dias. Meu objetivo para conseguir conquista-la. Acho que fui muito prepotente ao afirmar isso."
Ela balançou sua cabeça afirmativamente, olhando pro seu dedo, mais especificamente pra sua unha.
"Eu só toquei nesse assunto.. porque eu não quero nenhum mal entendido entre nós."
"Tudo bem..." – ela finalmente sorriu. – "eu não sei se tambem fiz o certo ao apostar. Mas você sabe como é a Susan. Já que esta tudo bem...Eu vou indo...até amanha" - ela me deu um beijo no rosto e saiu rápido. Mulheres...Abby...eu estou perdido!
E lá se foi mais um noite. Não durmi tão tarde porque sabia que teria que levantar cedo na manhã seguinte. Indo para cama, resolvi dar mais uma ligada pra Susan, para contar as "novidades" que não eram muitas, mas eram...razoaveis. Chama, chama. Onde essa mulher estaria? Ah, Deus! Só de pensar na imagem...quase morro. Lembro do que ela disse antes de sair. Eu atrapalhar a transa dela...iu! Que idiota! Ah! Não quis nem saber. Amigo é pra essas coisas...seja QUAL FOR A HORA.
SUSIE...DESCULPA LIGAR ESSA HORA. ESPERO NÃO ESTAR INTERROMPENDO NADA. BOM, EU SÓ QUERIA DIZER QUE JÁ ESCLARECI TODA A CONFUSÃO QUE A SENHORA ARMOU. O LANCE DAS APOSTAS ESTÁ RESOLVIDO. VOU OUVIR VOCÊ E TER PACIÊNCIA. EU SEI O QUE QUERO, NÃO VOU DESISTIR FÁCIL. ELA VAI SER MINHA DE NOVO, É ISSO O QUE EU SEI. BOM... BOA NOITE.
Quase não consigo deixar todo o recado na secretária. Era isso. Fui dormir mais aliviado até. Amanhã seria um novo dia.
Continua…
