Eu passei um bom tempo deitado na cama dela olhando pro teto. Eu não me sentia mais doente, sera que tinha dedo de alguem nisso tudo? Gosto de pensar que sim. Me levanto atras de uma toalha pra tomar outro banho antes de ir embora. Eu não queria sair daquela casa, ela tinha mais cara de meu lar do que a minha. Fazendo minha busca nos armarios vejo algumas coisas curiosas que eu tenho certeza que eu ja vi num passado não tão distante. Mas eu achei melhor não mexer nas suas coisas. Achei finalmente a toalha e tomei o banho como se fosse o último que pudesse tomar ali naquela casa que tinha a minha vida. Quando terminei, passei rapidamente os olhos pelo armário e achei mais roupas minha. Ao contrário do que eu pensava, não era só uma muda de roupa, mas 1/4 do meu guarda-roupa estava naquela gaveta. Percorri o olhar por ali. Não tinha como não ver. As roupas dela, o cheiro, o gosto. Achei melhor sair dali antes que acontecesse o pior. Fui até a cozinha, abrindo a geladeira. Agora sei como ela consegue manter esse corpo. Não tem NADA dessa bendita geladeira! Fiz mais uma horinha, assistindo TV. Eu não queria sair dali. Quando já começava a anoitecer, achei melhor me mandar dali. Eu não sabia de quanto tempo era o plantão dela, mas algo me dizia que não faltava muito e logo ela estaria em casa. Não gostaria que ela ainda me visse aqui. Fui até o quarto, dar uma geral antes de sair quando escuto alguns trovões. Perfeito! Chuva! Eu mereço! Teria que ir pra casa de metrô. Casa? Essa idéia não me fazia a cabeça...
Pensei por um momento e achei a solução. É isso! Eu ia até o hospital. Sorri ao pensar que em outros tempos, em dia de folga eu mal passva perto daquele lugar e hoje...Bom, hoje eu tenho mais do que um motivo pra ir encontra-la.
Ajeito tudo e vou saindo. Pego a chave nas mãos e encontro o meu pretexto para ir até lá. Assim que desco as escadas, vejo um céu nublado prometendo chuva. Corro até a estação de metro mais próxima mas a chuva me pega no caminho. De ante mão sei a bronca que vou levar. Tento me secar, não sei como no trajeto ao hospital, mas não adiantou de nada. o jeito era encarar aquela roupa molhada e aquele frio que começava a fazer. Me encolhi todo num banco ate que finalmente cheguei ao hospital. Desci, olhei para o ceu e a chuva parece que tinha era piorado. Se ficasse esperando aqui seria pior, ela iria pra casa e ficaria trancada do lado de fora. Ai sim que a bronca seria pior. Criei coragem e sai correndo ate chegar ao county. Parei na porta, me sacudindo todo para que a agua escorresse. Entrei na recepção tentando esboçar o sorriso mais convincente que eu poderia dar, na verdade eu estava morrendo de frio e não tinha como me livrar daquela roupa molhada.
"Eu não acredito!" – Susan veio se aproximando de mim já brigando. – "Não era o senhor que estava doente!"
"E estou... – eu aumentei o sorriso. – A Abby ainda esta ai!"
"Pra ela te matar? Se ela ver isso ela te come vivo!"
"Ate que não seria ma ideia!"
"John Carter!" – eu ouvi um grito ensurdecedor.
"Isso é um trovão ou seria a Abby!" – eu olhei pra Susan assustado que começou a rir da minha cara.
"Eu só quero é ver isso.." – ela falou sentando-se em uma cadeira.
"Escuta aqui- ela já enfiava o dedo na minha cara com aquela cara- eu tenho cara de palhaça por acaso?"
"Não"- eu evitava o riso, vendo a cara de Susan chorando de dar risada.
"Foi pra isso que eu passei a quase noite toda acordada cuidando de você?- ela aumentou o tom e não parecia estar brincando- pra você tomar essa chuva e estragar o meu trabalho? Eu devia te dar uma surra!"- ela me deu um leve tapa na cabeça e eu cai na gargalhada. Não aguentava ver ela agindo como se fosse minha mãe.
"Eu vim trazer sua chave"- eu mostrei, tirando o chaveiro do bolso.
"Jura? Que bonitinho- ela fingiu uma expressão amigável- eu não disse que era pra deixar lá?"
"É perigoso, Abby..."- eu tentava ainda não dar risada.
"Eu não acho que seja perigoso"- ela contestou.
"Eu também não"- Susan só me "ajudava".
"Eu não queria que você corresse o risco de alguem achar a sua chave e roubar a sua casa..."
"Ja ta viajando... começou a delirar de febre!"
"Não to com febre.." – eu falei sorrindo.
"Se ficar com essa roupa molhada, dentro de cinco minutos começa tudo de novo."
"Só porque você quer. Eu não estive tão bem" – eu falei no meio de um espirro – "Bom.. agora eu vou pra casa.." – eu falei sorrindo.
"Ta otimo, maravilhoso. Saudavel que é uma beleza... e você esqueceu que deixou o seu carro la em casa?"
"Foi? Eu jurava que não estava com carro... eu vou pr a casa de metrô e amanha eu passo lá pra pega-lo."- eu falei espirrando mais algumas vezes.
"E vai pegar chuva de novo!"
"Você me empresta um guarda-chuva!"
"Só se for pra dar com ele na sua cabeça!"- ela me deu mais um tapa de leve na minha cabeça.
"E depois ainda me perguntam porque eu fico doente...- eu olhei pro geral- com uma mulher dessas..."- mulher? Eu realmente disse isso? Ai!
"Vão pra casa, vai" - Susan me salvou. Eu amo essa minha amiga!- "eu cubro o resto do seu turno Abby, vai cuidar desse garoto mimado, vai!"
"É, né? Fazer o que?"- ela foi indo em direção a SDM.
"Você é besta, Carter?- Susan gritou baixo- pega leve, né?"
"Susan, eu sei o que faço. Sei até onde posso ir..."- eu disse, me reafirmando. Mal sabia ela que eu tinha gelado com meu próprio comentário.
"Toma"- Abby voltou com a bolsa e duas blusas de frio.
"Que é isso?"- eu peguei a blusa que ela me entregava.
"O que parece que é?"- ela me olhou ironicamente e eu sorri- "uma mulher previnida vale por duas!"- ela olhou pra Susan e as riram vendo a minha dificuldade em por a blusa dela.
"Que tamanho é isso?"- eu tentanva entrar na blusa.
"Do meu...e pára de reclamar antes que eu me arrependa e pegue essa blusa pra mim também..."- ela deu um beijo em Susan e me apressou- anda logo!"
"Se era pra ser tão delicada assim eu preferia andar nu a ter que vestir essa camisa.." – eu resmunguei andando ate o carro.
"E não vem choramingar de febre mais tarde que eu não vou ficar acordada cuidando de doente.. quem mandou pegar chuva? Esta todo ensopado.." – ela falou pegando no meu braço.
"Eu ainda acho melhor eu ir pra casa.." – eu falei querendo disfarçar o meu desejo de não voltar pra minha casa. – "eu não quero dar mais trabalho.."
"Eu acho melhor você ficar em silêncio e não resmungar." – ela falou entrando no carro.
"Abby má! Muito má!" – eu ri me encolhendo no banco, enfim ambiente quente.
"Esta com frio!" – ela peguntou quando parou no sinal e mal me viu no carro eu estava definitivamente quase todo dentro da sua blusa.
"Não muito.." – eu menti pra não preocupa-la, eu sabia que ja estava com febre de novo.
"Esta com febre, tenho certeza!" – ela avançou com sua mão na minha testa. – "Eu tinha certeza que ia resultar nisso.. você poderia ir tirando sua roupa molhada aqui no carro mesmo..."
"Ahn?"- eu tinha escutado direito?
"Ok, se não quiser...depois não diga que eu não avisei, Dr."
" Não, não...tudo bem" - é melhor não contrariar. Eu ia maneirar. A idéia de ficar assim na frente dela de novo não me desagradava nem um pouco.
"Tira pelo menos a camiseta de baixo que tá ensopada..."- ela dividia os olhares entre o trãnsito e mim.
"Aham"- eu comecei a tirar a blusa de frio com dificuldade- "se eu conseguir me desintalar daqui..."- eu escutei ela rindo enaquanto minha visão era tapada pela blusa que, lentamente, ia saindo do meu corpo.
Eu finalmente consegui tirar as blusas enquanto o silêncio permanecia. Eu não sabia o que fazer. Estava sem ação e sem camisa. Mais alguns minutos e nós chegamos em frente ao apartamento.
"Poe so a blusa de frio, só pra sair do carro..."
"Ja estou colocando.." – eu falei lutando com a mini blusa.
"Deixa eu te ajudar.." – ela pegou a camisa, ajudando a me vestir. Eu fiquei olhando nos seus olhos por um instante, mas logo ela me tirou dos pensamentos. – "Vamos subindo antes que você congele..."
Eu acenei com a cabeça e sai do carro correndo pra não me molhar mais com a chuva. Parei na porta esperando que ela me alcançasse.
"Eu corri pra não pegar mais chuva.." – eu me justifiquei por te-la deixado so.
"Melhor mesmo." – ela sorriu abrindo a porta e indo ate as escadas. – "Vem.." – ela estendeu a mão, segurando a minha subindo as escadas. Eu tinha duvidas de uma coisa nisso tudo.. nós somos bons amigos ou ja estamos namorando! Eu não posso esquecer de perguntar isso mais tarde. Ela abriu a porta do apartamento e eu andei pra dentro dele vendo-a colocar as suas coisas em cima do sfoa indo em direção ao seu quarto. Eu não sabia se era pra segui-la, então fiquei parado ao lado do sofa esperando alguma intimação.
"Carter.. – ela gritou do seu quarto – vem pra cá!"
Eu andei lentamente pro seu quarto. Ela ja estava com as luzes do banheiro acesa. Ela adora me ver tomando banho, só pode! Fiquei ao lado da porta ate que ela apareceu.
"Você vai tomar outro banho pra aquecer e vestir essa roupa quente.. eu vou preparar algo pra você se aquecer, vamos mandar essa febre embora, ok!"
"Sim, senhora" - eu bati continência a minha chefinha, entrando no banheiro e me olhando no espelho. Na verdade eu estava fazendo uma hora para que ela saisse de de lá e eu tomasse meu banho. Acho que nunca tomei tanto banho num período tão curto de tempo.
Finalmente eu nao a vi mais e pude tomar meu banho mais confortável. Quando terminei, me enxuguei e vesti a roupa que ela tinha deixado em cima da pia. Até moletom meu tinha lá! Eu fui indo em direção a sala, mas não a vi. procurei na cozinha e nada. Voltando pro quarto, eu escutei o barulho do chuveiro. Ah! Então o outro quarto também tinha chuveiro? Bom saber.
Eu não me controlei e fui andando pra dentro do quarto. A porta do banheiro ficava numa parede ao lado, sendo que assim eu não poderia ser visto. Minha vontade era espiar, mas eu tive medo. E se ela me pegasse lá dentro? Eu dei mais um passo a frente quando escutei o chuveiro desligar. Corri logo pra fora do quarto. Se ela me pega lá nem sei o que vai ser de mim...
Voltei ao seu quarto e fiquei ajeitando minhas roupas molhadas, fingindo que eu nem tinha saído dali. De repente a porta se abriu e ela entrou no quarto enrolada em uma toalha.
"Desculpe não ter batido.." - ela fala abrindo uma gaveta. – "mas eu estou congelando e preciso pegar uma roupa."
Porque sera que ela não pegou essa roupa antes? Ela estaria me testando! Parece que é so isso que ela faz ultimamente.
"Sei.. você estava querendo me ver nu de novo."
"Eu te vejo nu quando eu quiser, é so estalar meus dedos e você vem correndo..." - ela falou pegando a roupa em outra gaveta.
"É mesmo? Nem adianta pedir que agora eu não fico nu na sua frente nem que você implore de joelhos."
Ela me sorriu e ficou segurando a toalha, olhando pra minha cara.
"Quer que eu saia?"- jura que eu vou ter que sair? Ela não disse nada, só me olhou com aquele rostinho dizendo "é óbvio".
"Ah, sim" - eu fiquei meio abobalhado e quase bati a cabeça na porta do armário enquanto ia saindo.
Eu fui até a sala de novo e fiquei esperando. Que demora pra por uma roupinha! Aquela espera já estava me dando até calor. Olhei pela janela, vendo ainda a forte chuva que caía. Liguei a TV, não achando na de bom na programação, pra variar.
Me sentei no sofá e comecei a pensar naquela situação que eu estava vivendo. Eu estava me divertindo muito. Aquela sensação de ser protegido por ela me encantava. Mas eu tinha que saber o que realmente estava acontecendo. Estávamos juntos ou não? Isso seria esclarecer isso essa noite, não tinha como adiar. Confesso que eu tive medo do que poderia levar, mas eu tinha que arriscar. Meus pensamentos foram interrompidos pelo barulho da porta do quarto que se abria.
"Vamos jantar?"- ela disse, já trocada pra dormir. Essa mulher só pensa em comer!
"Ha algum tempo atrás você falava que eu deveria comer coisas lights.. agora so pensa em me colocar pra comer!"
"Quantas vezes por dia eu vou ter que te lembrar que você esta doente!"
"Mais nenhuma.. obrigado.. o que tem pra comer!" - eu falei me aproximando dela, que estava com ageladeira aberta a sua frente
"Porcaria, porcaria, eu deveria ter feito supermercado."
"Concordo... hoje de manha eu procurei o que comer e acabei bebendo só agua."
"Bem feito pra você.. - ela falou fechando a geladeira. - temos que encomendar algo.." mas com essa chuva, vai demorar seculos pra chegar.
"Se você quiser.. nós pedimos e eu tenho uma forma de enganar a nossa fome..."
"Enganar, é?"- ela arqueou as sobrancelhas- "não, não. Acho melhor nós pedirmos e esperararmos mesmo..."- ela foi até o telefone- 'quer pizza?"
"Pizza?"- eu estranhei- que coisa mais saudável...Cade todos os seus argumentos sobre os alimentos, hein, Dra. Lockhart?- eu não conseguia parar de encher o saco dela.
"Cala a boca, Carter- ela cantou, olhando pra mim- quer ou não?"
"Sim, sim...pode ser" - eu levei a sério dessa vez.
Eu a vi discar um número e fazer o pedido.
"E a sobremesa?"- eu perguntei quando ela desligou.
"Essa fica por conta da casa..."- ela virou de costas e eu percebi que ela tinha ficado embaraçada com o próprio comentário- "eu arrumo alguma coisa por aqui mesmo...chocolate é o que não falta"- ela tentou consertar. Se ela continuasse com essas brincadeirinhas sedutoras eu não ia durar muito.
Eu fui até a cozinha e a ajudei a por a mesa. A chuva tinha aliviado um pouco e nós nos sentamos lado a lado para esperar o jantar.
"Ta sentindo alguma coisa?"- ela perguntou, querendo saber da minha febre. Vamos tirar proveito da situação um pouquinho. Quem manda ela não falar com todas as letras?
"To, sim...'- eu fiz uma cara adoentada e vi a preocupação estampada nos olhos dela.
"O que?"- ela pergunta, virando pra mim rapidamente.
"Cansaço... um pouco de dor..." – eu tentei ser dramatico.
"Aonde é a dor!" – ela praticamente pulou em cima de mim.
"Aqui!" – eu falei colocando sua mão no meu peito.
"Han? No peito!" – ela procurou pelo meu pulso no pescoço.
"Ai não.. no peito mesmo.. bem aqui.. no coração... "
"Você acha que esta enfartando?"- ela percebeu já meu tom de gozação.
"Outra coisa.. e so quem pode me dar o remedio é você."
"Seu palhaço – ela saiu de perto de mim. – eu estava falando serio com você e você vem com essas palhaçadas!"
"Mas eu estou falando serio" – eu tentei parecer o mais convincente possivel.
"Vai te catar!" – ela se senta no sofá ligando a televisão no volume mais alto possivel.
Eu preferi ficar calado e controlar o meu riso. Eu adorava quando ela ficava com raivinha de mim. O que eu tinha vontade era de agarra-la ali mesmo e fazer passar toda essa raiva, mas esse não era o momento certo. Eu fiquei observando-a enquanto a comida não chegava. Eu preciso comer pra recuperar minahs forças. De repente o interfone toca eu não vejo ela se levantando e eu decido tomar a iniciativa. Me levanto e mando a pizza subir.
"A pizza chegou!" – ela finalmente falou comigo.
"É o que parece..." – eu sorri. Eu a vi se levantando mais eu corri e peguei minha carteira primeiro. Eu abro a porta e vou tirando o dinheiro quando ela aparece com o dinheiro nas mãos. – "Eu ja estou pagando." – eu falei entregando o dinheiro.
"Nada disso.. eu pedi, a casa é minha, eu pago" – ela se jogou na minha frente entregando o dinheiro pro rapaz.
"Sai dessa Abby... é minha vez de pagar.. ja estou te dando muita despesa". – eu falei tirando-a da minha frente, pegando o dinheiro dela e entregando o meu.
"Mas..." – eu mandei o rapaz embora antes que ela revidasse.
"Não se preocupe, você ja vai me dar a sobremesa." – eu falei colocando a pizza na mesa.
"Que tom sarcástico é esse, hein, Dr.?"- ela perguntou me descobrindo. Nós nos sentamos um de frente para o outro e eu a encarei.
"Entenda como quiser, Dra."- eu retribui na mesma moeda. Já vi de ante-mão que seria um jantar quente! Bem quente! Aqueles joguinhos teriam que me levar a algum lugar.
Nós começamos a jantar e minha fome foi sendo saciada aos poucos.
"Satisfeito?"- ela me perguntou, indo tirar meu prato. Eu segurei a mão dela.
"To chegando lá" - e terminei com uma piscadinha bizarra que lhe arrancou uma gargalhada incontrolável. Ela se virou colocando os pratos na pia e ligou a torneira. Ah, não! Não mesmo. Lavar louça agora? Nem pensar! - "Ei, mocinha" - eu fui até ela e tirei a louça de suas mãos depois de desligar a torneira- "você está me devendo uma sobremesa" - era agora! Tinha que ser! Eu ia agir!
Coloquei ela bem na minha frente e fiquei encarando-a. Ela fitou meus olhos, ainda com as mãos com sabão. Meu cérebro ainda estava processando a informação "beija, beija" quando ela me interrompeu.
"Chocolate branco ou preto?" - merda! Como eu sou lerdo! Temos que retomar o clima. Eu estalo os meus dedos e dou mais uma cutucada dela.
"Você sabe o que dizem sobre o chocolate?"- eu a olhei de lado, enquanto ela ficava na ponta dos pés para alcançar o armário.
"Não, não sei" - eu já ia dar o troco quando ela me interrompeu de novo- "e você sabia que anda lendo muito cultura inútil? É calcinha, chocolate...Qual vai ser a próxima?"- ela colocou as mãos na cintura. Bingo!
"Bom"- eu fiz cara de filósofo- "eu já disse a minha teoria sobre os braços cruzados"- pensei mais um pouco- "que tal...mãos na cintura, agora?"- eu gargalhei vendo o pano de prato cruzar a cozinha de novo, fazendo o mesmo caminho e tendo o mesmo destino.
"Eu não vou te mandar pra um certo lugar, porque eu ainda quero conservar o ambiente de paz entre nós hoje." – ela se virou de novo pro armário e eu vi a sua dificuldade em alcançar.
"Você sabia que tem homens que tem atração especialmente por mulheres de baixo porte?" – isso! eu estava conseguindo fazer com que ela despejasse toda a sua raiva em mim, ela fez aquele olhar matador que eu tanto amava – "Eu prefiro preto..." – eu falei mudando de assunto – "dizem por aí que chocolate preto, é mais afrodisiaco."
"O que você pretende insinuando uma coisa dessas?" – agora sim ela estava entrando em territorio perigoso.
"Eu! Nada demais.. eu estou demonstrando todo o meu conhecimento adquirido com a leitura."
"A inútil, você quer dizer, né?"- ela andava de um lugar pro outo da cozinha, revirando todos os armários.
"Vai, vou te ajudar. Quer que eu pegue o chocolate pra você?"- eu fiz uma cara de piedade. Ela sorriu, estendendo as mãos pra cima, me "oferecendo" o armário.
Eu fui até ele e sem muito esforço alcancei a barra de "Suflair" ainda lacrada.
"Você esconde de si mesma, né?"- eu fui abrindo devagarzinho – "pra não engordar..." - ai! Esse era um ponto forte! Falar de peso com ela...aiaiaiaia...Eu estava brincando com fogo.
"Eu, ao contario de você, estou muito bem, obrigada, com o meu corpo." – ela falou tomando o chocolate das minhas mãos.
"Quer dizer... – eu falava ou não falava? – que você esta gostosa!"
"Digamos que sim." – ela sorriu cheia de chocolate nos dentes.
"Mas é muito convencida mesmo. Uma baixinha dessas, ainda convencida.. ninguem merece!" – eu falei pegando o chocolate de volta e mordendo.
"Você se considera muito alto ne!" – eu acenei com a cabeça afirmando que sim. Ela veio roubar o chocolate de novo eu eu levantei meu braço impedindo-a de pega-lo. – "Viu?" – eu fiz uma careta, mordi o chocolate e levantei o meu braço mais alto ainda.
"Me da isso! Agora!" – ela falou quase pulando em cima de mim.
"Eu tenho outra coisa que tem o mesmo efeito de chocolate" – eu enfim soltei, ela que entendesse como quisesse.
"Lá vem você de novo..."- ela foi até a pia e lavou a mão.
"Não vai querer mais chocolate, não?"- eu perguntei lambendo os dedos- "tá quase acabando..."
"Não" - ela enxugou as mãos e foi saindo da cozinha.
"Ei! Acabou minha sobremesa?"- eu perguntei, ateando lenha na fogueira.
"Acabou o chocolate..."- ela olhou pra mim na inocência. Ai, se eu te pego agora!
"Hum, é...isso é verdade.."- eu entrei na inocencia dela.
Eu não pensei um só segundo, larguei tudo o que "estava fazendo" na cozinha e a segui até o seu quarto. Eu fiquei parado na porta vendo-a tirar a camisola de dentro de uma gaveta. Roupa cheirosinha pra dormir. Quer dizer, pra não dormir. Eu fiquei sorrindo só pensando nela vestida na camisola e sou surpreendido com ela olhando pra mim se controlando pra não rir da minha cara. Eu balancei meus ombros sem falar nada e entrei no quarto.
"Esta com sono!" – ela perguntou enquanrto escovava o cabelo. Rotina de cremes, eu ja sabia decorado.
"Nem um pingo... – eu me sentei na cama pegando sua camisola. – Camisola nova!"
"Isso vem ao caso agora!" – ela se aproximou tomando a camisola das minhas mãos.
"Você não imagina o quanto..."- eu pensei alto.
"Pronto"- ela jogou a camisola de volta na gaveta- "só porque você falou, não vou mais usar. Vou ficar de short e blusinha mesmo..."- ela mostrou a língua pra mim, indo até o banheiro.
"Ei!"- eu cruzei os braços e imitei a voz dela- "Põe a camisolinha, vai..."- eu não pude deixar de rir quando ela me mostrou o dedo do meio – "Que menina zangada!.." - eu fiz uma voz engraçada- "deixa eu ver se está escovando esse dentinhos direitinho."- eu fui até o banheiro.
Peguei a escova que tinha se tornado minha e pus a pasta. Comecei a escovar os dentes também. A hora se aproximava. Eu não estava bem certo do que iria acontecer. Nós iríamos conversar, sério. Como adultos.
Terminei o que estava fazendo quando ela já estava no quarto, fechando a janela. Eu fui deitando na cama. A luz permanecia acesa. Eu me aproximei, sentando no meu lado da cama, entrando debaixo das cobertas.
"Você ja se sente melhor!" – ela se virou pro meu lado.
"Sim.. muito..." – eu sorri. Ela sorriu de volta e ficou me encarando. Eu estava receoso em começar aquela conversa, mas se não fosse agora, não seria nunca mais.– "Abby.." – eu comecei. Ela se virou pra ficar mais ainda de frente a mim. Ela sabia o que viria pela frente. – "eu preciso tirar uma duvida que esta martelando na minha cabeça há algum tempo..."
"Diga... "
"É que... pelos ultimos acontecimentos. Ultimos fatos... enfim... dos ultimos dias pra cá.. nós estamos mais amigos... certo!" – ela afirmou com a cabeça. – "Então... eu sei que você tambem esta se sentindo estranha com isso. Não sabe ao certo no ponto que nós estamos alcançando com isso tudo. Eu não sei se nos não passamos de bons e velhos amigos.. ou se..." – eu parei pra respirar um pouco.
"Eu te compreendo" – ela falou pegando na minha mão. Compreende? O que! O que eu deveria fazer agora? Ela estava ali, na minha frente, sem barreiras, sorrindo, esperando por algo que eu sabia que podia dar. O que me impedia agora! Nada! era só chegar de jeito.. que tudo daria certo...
Mas será? A dúvida! Maldita dúvida! Será que ela realmente queria isso, estava pronta? Eu não sabia o que pensar e por um momento fiquei em silêncio, assimilnado as coisas. Foi então que eu vi. A salvação de todos os meus medos e pesadelos! Olhando na faixa da cintura dela, eu vi um pedacinho da calcinha dela que cismava em ficar pra fora. Ela tinha trocado de calcinha! Era ridículo pensar assim, mas eu sabia que aquele era o sinal dela. Quase imperceptível. Pra me testar, como ela sempre fazia.
Eu só tinha que dizer a ela que tinha entendido o sinal.
"Você não estava com essa calcinha 5 minutos atrás, estava?"- eu perguntei, sorrindo, vendo minha imensa felicidade tomar conta de todas as partes do meu corpo.
"Não..."- ela me sorriu, com um sorriso que eu nunca vou esquecer na vida.
Continua...
