PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM

Capítulo 2

AUTHOR: TowandaBR e Thysbe

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions.

4ª temporada.

Primordium nulla retrorsum: Não retorne a suas origens

Dedicado a todos aqueles que mantém TLW vivo, escrevendo e/ou lendo fics.

Um especial obrigada a Nessa Reinehr, Lady F, Nay, Simone Bettin, Aline Krux, Cris, Kakau, Cláudia, Rosa, Jessica, Alexander, Fabi, Jú, Jessy, Lady K (obrigada pela revisão gramatical também)

Por favor R-E-V-I-E-W!!!


Mal salvaram a roupa do corpo. Na verdade, nem sentiram quando bateram na água. Acordaram na margem do rio sem saber o que havia acontecido, se haviam decorrido minutos, horas, dias.

Procuraram pelos pacotes que haviam levado consigo, mas nem sinal deles. Nenhum vestígio, absolutamente nada foi encontrado no rio de águas rasas ou em suas margens lamacentas. Nada das mochilas e pacotes recheados de provas da existência do mundo perdido que haviam reunido nos últimos três anos. Ao se reunirem, constataram que cada um havia ficado com um único objeto.

Após ter empacotado todas as suas coisas, Malone havia percebido que esquecera de colocar dois de seus diários no baú. Um deles sobre o platô. Embalou-os em linóleo e, com uma bandagem amarrou-os junto ao corpo, debaixo da camisa. Surpreendeu-se ao encontrar apenas um. Justamente aquele que jamais mostrara a ninguém. Um pequeno diário dedicado a Verônica.

Naqueles primeiros dias no platô havia ficado tão impressionado com a moça que separou o menor de seus cadernos e nele habituou-se a escrever suas impressões sobre ela. E o mais importante: como ela o afetava e como ficar a seu lado o confortava e diminuía seus medos. Embora lhe trouxesse um maior: perdê-la. Algumas vezes suspeitava de que a moça soubesse como eram especiais as palavras lá escritas. Não que ela as tivesse lido as escondidas. Ned estava absolutamente certo de que ela jamais violaria sua privacidade, mas sim pelo olhar diferente que ele tinha sempre que se dedicava a rabiscar naquele diário em especial.

Roxton sorriu, salvara as duas coisas que maior significado tinham para ele. Seu chapéu que, num impulso, deixara às amigas como um presente para a casa da árvore e uma fotografia intacta de Marguerite, com aquela expressão fingidamente furiosa que ele amava. Naquele dia lhe roubara o mais doce dos beijos.

Aconteceu quase um ano após terem chegado ao platô. Challenger pediu que ela posasse, tendo um brontossauro na clareira atrás de si, para que pudessem provar em Londres a dimensão do animal. Era um dia muito quente e Marguerite parecia estar mais irritadiça do que nunca e, a demora do cientista em escolher um melhor ângulo, não melhorava em nada a situação. Mesmo depois da fotografia ter sido tirada, ela continuou de mau humor. Apesar de saber do perigo que corria, Roxton chegou até ela enquanto a herdeira resmungava, lavando algumas roupas sozinha, e deu-lhe um beijo. Ela correspondeu apaixonadamente para, logo em seguida empurra-lo e chamá-lo de grosso, saindo batendo o pé, fingindo estar ofendida.

Challenger colocara quatro pedras preciosas no bolso do colete. Quando abriu o pequeno saco onde elas estavam, só havia uma. Nem a maior, nem a menor, mas aquela que seria usada para custear o retorno dos três a Londres. Sem sobrar nem faltar nenhum níquel.

Juntamente com algumas outras, conservara aquela pedra por dois anos. Normalmente era característica de Marguerite guardá-las. Mas aquela havia sido uma das quatro que recolhera ao caminhar mata adentro, ao lado do amigo Summerllee logo antes de partirem na frustrada tentativa de deixar o platô no balão, que acabou culminando com a queda de Arthur pela cachoeira, após ter sido ferido por uma flecha. Às vezes, pensava que se tivesse se dedicado menos a encontrar a saída do mundo perdido, seu amigo ainda estaria vivo.

Caminharam por quase meio dia rio abaixo. O clima estava quente e úmido e, o fato de viajarem sem bagagem, ajudou bastante. Perceberam que aqueles três anos no platô lhes haviam dado treinamento suficiente para que aquela pequena jornada pela selva, fosse o mais tranqüila possível.

Finalmente encontraram uma aldeia pequena e rústica, onde foram recebidos calorosamente. Aparentemente todos os seus habitantes, talvez movidos pela curiosidade, se aglomeravam ao seu redor lhes dando boas vindas.

Apesar de não falarem o mesmo idioma de seus anfitriões, estes se fizeram entender naquilo que realmente importava, bastando boa vontade de todos e a compreensão de uma ou outra palavra semelhante à linguagem dos Zanga e uma ou outra palavra aprendida pelos nativos através de outros exploradores que por lá haviam passado. Foram presenteados com o melhor que podiam oferecer a um hóspede.

Levados à parte rasa do rio, onde se formaram pequenas piscinas de água corrente, foram banhados com ervas; seus arranhões tratados; suas roupas lavadas e costuradas artesanalmente.

Fizeram uma deliciosa refeição incluindo peixe assado em folhas de bananeira, mandioca cozida e chá.

Foram conduzidos a uma pequena choupana, por onde o ar circulava livremente, proporcionando uma suave brisa onde se aconchegaram em esteiras no chão e adormeceram o sono dos exploradores.

Ao acordarem, conheceram a aldeia e depois foram conduzidos para lugares diferentes.

Challenger foi levado pelas mulheres e se divertiu enquanto essas tentavam ensinar-lhe a arte de tecer cestos em palha. Ele se encantou com suas habilidades.

Malone foi levado pelos caçadores, que lhe mostraram a arte da confecção das armas de caça. Apesar de instrumentos mortais, entalhavam com cuidado símbolos do respeito que tinham por suas presas.

Roxton foi "capturado" pelas crianças, que o levaram até o rio, onde passaram grande parte do tempo subindo em seus ombros, usando-o como trampolim e intimando-o a juntar-se a elas nas brincadeiras.

Naquele dia, os três homens entregaram-se aos pequenos prazeres, como há muito não faziam e por alguns momentos se esqueceram do real motivo de estarem alí.

Ao cair da noite, reuniram-se com o cacique perto da fogueira. Este lhes entregou um invólucro recheado com incenso mostrando como deviam aspirá-lo.

Após alguns minutos, sentiram-se leves e totalmente receptivos às palavras que viriam a seguir.

"Vocês tem muitas perguntas e eu, algumas respostas." – começou o nativo – "Nossa comunidade está aqui há centenas de anos com uma missão a cumprir. Recepcionar aqueles que saem do platô. A cada um de vocês foi permitido trazer um bem precioso."

"Isto não é verdade. Perdi quase todos os meus diários."

"Ficou com aquele que lhe é mais valioso, não foi?"

Ned sorriu. O nativo apontou para Roxton.

"A você foi permitido que ficasse com o que, no momento, lhe mostra que está vivo."

John acariciou a foto que trazia consigo.

"Eu não saí com nada" – protestou o cientista – "Todos os meus experimentos e anotações se foram."

"Se todos os seus experimentos e anotações tivessem sido salvos, como acha que conseguiria sua passagem de volta?" – Challenger segurou a pedra em seu bolso. Após uma pausa falou.

"Preciso saber uma coisa."

"Arthur Summerlee." – completou Ned.

"Um dos homens mais bondosos que tive o prazer de conhecer."

"Então ele saiu do platô? Ele sobreviveu?" – Roxton estava curioso.


Assim como Challenger, Roxton e Malone haviam acordado na beira do rio, com Summerllee aconteceu o mesmo. Mas com uma flecha no abdômen, mal conseguia se mover e ficou ali, olhando o céu, ofegante, aguardando seu destino, até ser encontrado e levado para a aldeia.

Gravemente ferido e muito fraco, cada membro da comunidade procurou contribuir para que ele se recuperasse. Desde aqueles que colhiam frutas para o seu suco, até os que zelavam por ele dia e noite – todos tentavam mantê-lo confortável.

E ele nunca reclamava. Por um longo tempo convalesceu, melhorando e se fortalecendo.

Nos primeiros dias após voltar a si, contentava-se em observar, curioso, as pessoas que tão gentilmente o cuidavam. Mais tarde, quando já podia conversar, se divertia tentando comunicar-se com seus esforçados anfitriões.

Ainda deitado, as crianças reuniam-se a sua volta contando-lhe através de gestos estórias de caçadas. Summerllee adorava tê-las por perto. Elas também traziam as plantas para que ele ensinasse o nome de cada uma. Ninguém entendia nada, porém o tom suave da voz de Arthur era sempre um deleite.

Sua lenta recuperação já durava quase dois meses, quando foi repentinamente acometido por outra infecção que teria sido facilmente curada, caso seu organismo não estivesse tão debilitado. Em poucos dias, ele faleceu.

Mas não morreu triste. Naquele ano, no platô, tivera a aventura de toda uma vida e era grato por isso. E em uma noite como aquela, sob o efeito do incenso falou dos amigos que havia feito.

As obstinadas Marguerite e Verônica.

Challenger, o amigo; Roxton, o destemido; Malone, o menino.

Os três amigos refletiram e chegaram a uma mesma conclusão: Arthur Summerllee, o generoso.


Os dias seguintes foram de muito trabalho. Com a estação das chuvas era muito perigoso prosseguir a viagem, então tentaram aproveitar ao máximo a estadia retribuindo com trabalho a acolhida.

Roxton mostrou algumas técnicas que aprendera em suas caçadas e em sua luta pela sobrevivência no platô. Treinou os nativos para que pudessem conseguir carne de forma mais fácil e com maior fartura.

Challenger dedicou-se a ensinar uma forma mais eficiente de lavrar a terra e dela tirar maior proveito. Mostrou como deviam arar o solo de forma a aproveitar melhor água da chuva.

Malone ajudou na confecção do forno de barro. Quando terminou o trabalho, sorriu ao perceber o quanto havia ficado semelhante ao que existia na casa da árvore. Também entregou-se ao trabalho braçal, cortando lenha ao amanhecer.

Após um mês, prepararam sua parca bagagem e partiram, foram escoltados ao longo do rio Amazonas até outras aldeias, depois o povoado mais próximo. De lá para uma pequena cidade, depois uma maior e até finalmente chegarem a Belém.

Em Belém, se apressaram em informar à Sociedade Zoológica sobre seu retorno e providenciaram transporte transatlântico.

Seguiram mal acomodados no porão de um navio cargueiro, a primeira alternativa que encontraram dentro de seu orçamento, e rumaram em direção ao que uma vez chamaram de lar: Londres.

CONTINUA...

R-E-V-I-E-W!!! R-E-V-I-E-W!!! R-E-V-I-E-W!!!