PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM

Capítulo 3

AUTHOR: TowandaBR, Thysbe, Cris Krux

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions.

4ª temporada.

Primordium nulla retrorsum: Não retorne a suas origens.

Dedicado a todos aqueles que mantém TLW vivo, escrevendo e/ou lendo fics.

Obrigada pelos reviews do capitulo 2 (Taíza, Di Roxton, Cláudia, Keila dos Santos Silveira, Rosa, Nay), a todos que tiveram paciência de esperar o cap 3.

Um especial obrigado Cris por destravar o freio de mão do carrinho.


Durante longo tempo imaginaram como seria sua chegada a Londres.

O porto apinhado de gente. Eminentes membros da Sociedade Zoológica e da elite londrina muito bem trajada com seus ternos bem cortados e pendendo de seus braços distintas damas em seus melhores vestidos e chapéus.

Repórteres com seus blocos de papel e mãos incansáveis tentando anotar todos os detalhes, fotógrafos com suas câmeras de fole ou Brownie se acotovelando em busca do melhor ângulo para a foto de primeira página dos grandes exploradores da expedição Challenger.

Uma banda tocando musicas alegres, papéis picados sendo jogados sobre eles, crianças fazendo algazarra...

Ao invés disso, desembarcaram sob a névoa fria de uma manhã chuvosa onde um único empregado da Sociedade Zoológica os aguardava. Parecia que mal completara 18 ou 19 anos. De capa e guarda chuva aproximou-se.

"Professor George Challenger?" – Elevou a voz tentando fazer-se ouvir acima dos ruídos que os cercavam.

"Sou eu." – Disse o cientista apontando em seguida para seus companheiros – "Estes são John Roxton e Edward Malone."

"E quanto ao professor Summerlee e a senhorita Krux?"

"Somos apenas três."

"Está certo. Acompanhe-me, por favor."

Parecia que era a primeira vez que viam Londres.

A quantidade de automóveis nas ruas havia aumentado significativamente durante sua ausência, as luzes, a quantidade de edifícios.

Perdidos em seus pensamentos nenhum deles conversou durante o trajeto.

Foram levados a um hotel no centro da cidade. Sem luxo, mas muito asseado e silencioso onde puderam enfim tomar um bom banho, barbear-se, fazer uma deliciosa e farta refeição e dormir em camas cobertas com lençóis limpos e perfumados com lavanda.

Ao contrário de Roxton e Challenger, Malone, mesmo cansado, acordou no meio da noite refugiando-se em uma escrivaninha no canto. Acendeu o abajur e começou a escrever compulsivamente como vinha fazendo desde o embarque em Belém.

"Quero me lembrar de tudo, mas é impossível. Vou escrevendo o que posso para talvez mais tarde tentar colocar todos os fatos da melhor forma possível. Porém por mais que meus pensamentos flutuem sobre tudo pelo que passamos, eles teimam em aterrissar sempre no mesmo lugar. Será que ela está bem?"

Ned observou os amigos adormecidos.

"Conversamos tão pouco durante nossa viagem de volta. Partilhamos tantas coisas juntos e de repente estamos silenciosos como estranhos. Mais silenciosos, talvez até, que durante nossa viagem de ida, há mais de três anos, ao mundo perdido."

Ele parou por um instante, pois aquela constatação o fazia pensar. E foi assim que os outros o encontraram na manhã seguinte, ainda escrevendo eventualmente, mas pensando, a maior parte do tempo.

Quando desceram para o desjejum, ainda silenciosos, encontraram um mensageiro da Sociedade Zoológica, convocando-os para uma reunião ainda naquela manhã.

Entreolharam-se, estranhando. Até aquele momento não tinham ainda recebido nenhuma notícia de suas famílias, nenhum contato, nada, e a primeira coisa que os aguardava naquela manhã era justamente o menos provável: uma convocação para uma reunião praticamente imediata na Sociedade Zoológica.

De qualquer forma, o mensageiro era um mero garoto de recados e não tinha as respostas que eles apreciariam. Subiram e depois de rapidamente se arrumarem, voltaram a descer para acompanhar o rapaz ao prédio da Sociedade.

Mais uma vez todas as suas expectativas seriam frustradas. Sempre que imaginavam sua recepção na Sociedade Zoológica visualizavam uma multidão de cientistas de renome envergando seus fraques mais elegantes. Um saguão apinhado, onde o champagne, o uísque e os charutos estivessem passando de mão em mão. Os jornalistas estrategicamente posicionados desde a entrada do grande salão para fotografá-los de todos os ângulos, e todos eles preparados para que cada palavra do que dissessem virasse artigo de capa de todos os jornais londrinos.

Porém, o que encontraram ao chegar foi apenas o saguão empoeirado e silencioso, como em qualquer dia normal. Nenhum público os aguardava, o púlpito estava vazio e nada havia que pudesse lembrá-los do glamour que George Challenger tivera exatamente naquele salão quando estivera montando a expedição.

Um grupo reduzido de professores de ar severo os aguardava displicentemente sentados apreciando seu chá. Eram três professores, que se levantaram à chegada dos exploradores, os cumprimentaram com frieza, e pediram que cada um deles os acompanhasse, separadamente.

"Eu exijo uma explicação." - Challenger finalmente não se conteve.

Seus amigos – e os catedráticos – pararam, como que espantados diante da reação dele.

"Desculpe, professor, mas quem está aqui para ouvir explicações somos nós. " - O catedrático que se encarregara de Challenger apressou-se a pontuar, enfaticamente.

Challenger sentiu uma onda de rubor invadir-lhe as faces, e sua tradicional apoplexia demonstrou-se, mas ele se conteve diante do olhar apático de Roxton e Malone. O melhor era ficarem calados, fazer o que a Sociedade tinha planejado, e acabarem logo com aquilo para que pudessem seguir com suas vidas.

Foram conduzidos ao segundo piso do prédio, onde cada um, acompanhado de um dos professores, foi alocado a uma sala fechada. Nessa sala, além deles, apenas uma estenografa para tomar notas. E só então eles entenderam o que se passava.

"Por favor, diga seu nome completo, data e local de nascimento. "

O procedimento se repetia nas três salas como se tivesse sido amplamente ensaiado. Os três responderam às perguntas de identificação, cada vez mais intrigados porque era claro que tais dados eram de conhecimento da Sociedade !

"Pode nos contar o que aconteceu nos últimos três anos? "

"Chegamos ao Mundo Perdido." - começou Challenger - "Viajando pela floresta Amazônica, atingimos um platô continental com um balão pilotado por Edward Malone."

"O balão que eu pilotava foi apanhado em uma corrente de ar ascendente, e quando nos demos conta, tínhamos ficado presos numa árvore enorme dentro do platô, em que os ventos não nos permitiam sair." – Explicava Malone em outra sala.

"Encontramos neste platô todo tipo de animais pré-históricos. Tiranossauros Rex quase tão altos quanto esse prédio, raptors mais rápidos do que qualquer coisa que jamais tenhamos visto, animais maiores do que uma casa comum." - Roxton explicava calmamente por sua vez.

"Tínhamos sido precedidos por uma expedição anterior, muito grande, a expedição Layton." - Challenger tentava montar o quebra-cabeça da viagem da forma mais clara para seus interlocutores.

"E a filha de Thomas Layton, líder dessa expedição, foi quem nos deu abrigo durante esses três anos que passamos no platô. Ficamos na Casa da Árvore que seus pais haviam construído." - Ned acrescentou.

"Sim, uma grande caçadora, que sobreviveu sozinha por onze anos usando como armas apenas facas para caçar." - Foi a observação sempre admirada de Roxton para o professor que o interrogava.

"Provas? Vejamos, nós mal conseguimos sair vivos de lá. Acabei de explicar que caímos em uma cachoeira e perdemos tudo o que tínhamos!Como ousa duvidar de minhas palavras e exigir provas concretas de um de seus membros mais notórios ?" - Challenger estava irascível.

"Meus diários foram todos perdidos na cachoeira!" - Ned insistia, ciente de que jamais mostraria a eles o único diário que restara, aquele sobre Verônica.

"Troféus? Você enlouqueceu? Nem parece um professor perguntando! Você sabe o tamanho que um bicho daqueles tem? Nós mal escapamos com vida, quanto mais trazendo algum espécime daqueles! Teríamos afundado na cachoeira!" - Roxton, por sua vez, estava inconformado.

"E quanto ao Professor Summerlee? E a patrocinadora da expedição de vocês, senhorita Krux?" - a pergunta se repetiu separadamente nas três salas.

"Tivemos uma batalha com uma tribo rebelde que pretendia dominar o platô com o uso da pólvora." - Challenger começou explicando.

"Pólvora? Mas eles conheciam a pólvora? Ou vocês os ensinaram?"

"Na verdade, ensinamos uma tribo de homens-lagarto, involuntariamente – sob tortura. E eles passaram o conhecimento para essa tribo rebelde." – Ned continuava.

"Exatamente. Homens-lagarto! Selvagens? Não! Pelo menos eles não eram mais selvagens do que o professor está sendo agora!" - Roxton tinha definitivamente perdido a paciência.

"Não, não conseguimos encontrá-lo. Ele foi arrastado pela correnteza e caiu numa cachoeira gigantesca. Ele ainda se comunicou conosco depois disso." Challenger acrescentou.

"Via telepatia, claro! Eu cheguei a cair na mesma cachoeira, porém fui estranhamente mandado de volta." - Ned tentou explicar.

"É claro que tentamos salvá-lo! Mas o próprio homem-lagarto que me salvou viu-o cair na cachoeira, onde nós não conseguíamos alcançá-lo. Soubemos depois que ele tinha saído do platô e que estava se recuperando na mesma tribo que nos acolheu, mas teve uma febre da selva e morreu." - Roxton concluiu.

"E a patrocinadora de vocês?"

"Ela foi morta por uma tribo druida que a confundiu com uma ancestral dela." - Challenger tentava manter sua voz impassível, apesar da dor.

"Sim! Druidas que se diziam seus antepassados druidas e que a apunhalaram!" - Ned estava tentando explicar a situação terrível pela qual seus amigos tinham passado.

"É claro que não a abandonamos! Mas quando finalmente a encontramos já não havia nada que pudéssemos fazer, ela já estava morta!" - Roxton estava tomado pela dor e enfurecido pela indiferença e frieza com que o professor o interrogava.

Eles sabiam que haviam detalhes que deveriam permanecer com eles ou arriscariam serem trancafiados como loucos.

Em uma outra sala, longe dali, as transcrições de cada estenografa iam chegando e sendo comparadas.

Mesmo separados as versões dos três homens coincidiam e eles davam depoimentos consistentes e coerentes, apesar da falta de provas. Mas aquilo tudo soava absolutamente impossível. Um platô perdido, com dinossauros, homens-macaco, homens-lagarto, encontro de planos de realidade, e ainda um dos membros da expedição morto por druidas. Definitivamente inverossímil.

Após terminado o "interrogatório" os três foram levados a sala onde o chefe do conselho da Sociedade Zoológica tinha acompanhado a acareação através das transcrições.

"Posso saber o motivo de termos sido interrogados dessa forma?" - Challenger tinha voltado a seu velho eu.

"Por não terem provas, precisávamos saber se as informações que traziam eram verdadeiras. E também saber qual o grau de responsabilidade de vocês na morte dos dois membros da expedição. Essa Sociedade tem uma reputação a zelar como é de seu conhecimento, George." - O catedrático explicou.

"E estão convencidos agora?" - Ned ousou perguntar.

O homem demorou um pouco para responder.

"Digamos que os depoimentos são impressionantes, mas sem provas a Sociedade Zoológica não pode corroborá-los, muito menos permitir que os resultados sejam divulgados. Nosso observador imparcial está morto, a patrocinadora de vocês também e não queremos ver o nome da Sociedade associado a esse tipo de história mirabolante que não pode ser comprovada. Sinto muito, George. Agora, estão dispensados. Há um carro esperando cada um de vocês para levá-los a suas casas ou aonde preferirem. Tenham um bom dia, cavalheiros." - Levantou-se, sinalizando que a entrevista estava encerrada.

Os homens cumprimentaram surpresos, e antes que pudessem protestar viram-se ofuscados pela luminosidade baça das ruas de Londres.

Os três se entreolharam – apenas Roxton tinha permanecido calado desde o final do interrogatório.

"John?" - Challenger, notando isso, colocou um braço no braço do amigo.

O caçador pareceu despertar de um mundo de sonho, quando ergueu os olhos assombrados para ele.

"Eles acham que nós os abandonamos. George. Será que eles estão certos?" - Mais uma vez uma pontada de culpa feria o lorde.

"Nós fizemos tudo o que foi possível, Roxton, e você sabe disso tão bem quanto nós. Não deixe que esses malditos consigam o que querem, que é nos destruir, nos desmoralizar." - disse Ned, por sua vez, apoiando o amigo.

Definitivamente não estavam mais habituados nem ao clima frio de Londres e das pessoas de Londres. Nada que pudesse lembrá-los do platô.

Três carros os aguardavam com suas parcas bagagens já devidamente coletadas no hotel.

"Creio que por ora é aqui que nos despedimos. Vamos manter contato, sim?" – disse Challenger, com voz frustrada.

"É claro." - Roxton e Malone responderam formalmente.

Cada um entrou em um carro, que partiu em direções diferentes.

Finalmente sozinhos cada um tentaria reconstruir as imagens e referências naquele mundo.

Edward Malone tentaria resgatar suas lembranças, John Roxton sua vida, George Challenger sua credibilidade.


CONTINUA...

R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W!