PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM
Capítulo 4
AUTHOR: TowandaBR, Thysbe, Cris Krux
DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions.
4ª temporada.
PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM: Não retorne às suas origens.
Dedicado a todos aqueles que mantém TLW vivo, escrevendo e/ou lendo fics.
Obrigada Nessa Reinehr , Di Roxton, Cláudia, Rosa, Cris, Kakau, Fabi K Roxton, Maga-Patologica.
George Challenger desceu do bonde elétrico e parou olhando para a construção a sua frente: um sobrado de madeira e pedra.
Após hesitar por alguns minutos, empurrou o portão de ferro, mas a princípio não conseguiu abri-lo. Uma das dobradiças havia quebrado, fazendo com que ele arrastasse no chão. Além disso, estava enferrujado. Com ajuda de um pedaço de madeira que usou como alavanca, conseguiu finalmente abri-lo, adentrando o jardim.
O local estava coberto de vegetação morta e infestado por ervas daninhas, pulgões, lagartas, ácaros e formigas. O cientista parou bem no meio e fechou os olhos por um instante. Viu em sua mente o pequeno, mas belo jardim, pontuado por vegetação podada, recheado de moréias, agapantos, íris, gerânios, dracenas, laranjinhas. No pequeno chafariz, como parte de suas pequenas experiências caseiras, George havia desenvolvido a cultura de plantas hidropônicas.
Subiu os três degraus que davam acesso à varanda. Parou diante da pesada porta de madeira de lei, tão diferente agora, carcomida pelos cupins. Bastou um leve empurrão para que cedesse e lhe desse acesso ao interior da casa.
Tudo o que os raios de sol que adentravam pelas frestas das janelas permitiam ver estava coberto por uma fina camada de poeira e teias de aranha.
Começou sua peregrinação pelo vestíbulo. Olhou para as escadas e fechou os olhos. Lembrou nitidamente de sua Jessie, cuja visão esplendorosa em um vestido de seda púrpura o fizera esquecer o quanto estavam atrasados para a entrega do prêmio para o seu projeto.
Na sala de estar, relembrou as noites frias, quando os dois ficavam em companhia um do outro lendo um livro sob a luz aconchegante da lareira, trocando sorrisos cúmplices, olhares de paixão já amadurecida.
Em seu gabinete, à esquerda da porta de entrada, o cientista, concentrado em seu trabalho, repentinamente percebia uma xícara de chá de cerejas pretas com biscoitos caseiros ou um pedaço de bolo de nozes bem a sua frente. Ela sabia como ninguém fazê-lo sentir-se importante.
Na sala de jantar, deliciava-se com o peixe com batatas e a deliciosa sobremesa de maçãs verdes.
Na cozinha, o homem relembrou as incontáveis vezes que recebia o olhar de reprovação da esposa, ao usar o fogão para suas experiências, que quase sempre estragavam algum utensílio, sujavam as dependências ou deixavam um cheiro insuportável por toda a casa. Como um garoto travesso, ele corria para ela, dava-lhe um beijo no rosto e fugia para longe dali. Só após ele se afastar ela se permitia um sorriso furtivo.
Quando subiu até o quarto do casal, Challenger sentou-se no chão, exatamente no mesmo lugar onde costumava ficar sua cama. Fechou mais uma vez os olhos. Quase podia sentir o toque suave da única mulher capaz de preencher a sua vida.
George surpreendeu-se ao sentir o calor de uma lágrima descendo lentamente pelo seu rosto. Alguma coisa havia faltado naquela casa. Os risos dos filhos que lhe permitiriam ter sua família completa, que ele não se permitiu, e nem a Jessie, ter.
A principio, quando conseguiu ter notícias de sua Jessie, hesitou sobre que decisão deveria tomar.
As notícias do massacre dos carregadores da expedição Challenger haviam sido desoladoras para ela - afinal jamais se tivera notícia de algum sobrevivente naquele tipo de ataque. A informação fora dada por outros carregadores que semanas depois encontraram os corpos já impossíveis de serem identificados, exceto pelas roupas.
Ela ainda aguardou por dois anos, mesmo que sem esperanças, por notícias de que algum explorador, e principalmente George, estivessem vivos.
A expedição seria perigosa, e justamente por isso, Challenger deixara todos os bens sob administração da esposa. Se alguma coisa lhe acontecesse ela teria como sobreviver.
Mesmo assim ela se desfez daqueles que não lhe eram essenciais e principalmente dos que lhe traziam lembranças dolorosas. Sentindo o peso da solidão cair sobre si, aproveitou-se de sua boa educação e foi ganhar a vida como preceptora em abastadas casas de família.
A partir daí nascia uma nova Jessie, completamente dona de sua vida, até então atrelada primeiro ao pai e, mais tarde, após o casamento, ao cientista. O mundo se abriu para ela, que conheceu novas pessoas e tão interessantes quanto os amigos cientistas do marido.
Quando a irmã caçula (muito mais nova do que ela) e seu marido faleceram repentinamente na Austrália, deixando quatro filhos pequenos, Jessie tomou para si a responsabilidade de terminar de criá-los, e para lá se mudou para tomar conta dos pequenos a quem se entregou como se fossem seus próprios filhos.
Com Challenger ela havia aprendido o que era companheirismo e amor. Sem ele, descobriu o que era ser uma pessoa plena.
"Você está feliz, não é, querida?" – perguntou o cientista, como se quisesse que o vento levasse suas palavras até ela, agora muito distante dali.
Fechou a porta do que um dia havia sido sua casa. Aquela era uma página virada e George decidiu que não tinha o direito de interferir. Seguiria sua vida assim como Jessie continuava a dela.
"Adeus, Jessie."
Challenger mudou-se para uma pequena cidade no interior. Lá dava aulas na escola local, onde muitas vezes lhe perguntavam por que alguém com suas impressionantes credenciais acadêmicas lecionava naquele fim de mundo.
"Pelo ar puro." – Respondia ele.
O que não deixava de ter um fundo de verdade.
Quando não estava em sala de aula, dava longas caminhadas ao ar livre tentando reencontrar uma porção ínfima das maravilhas que presenciara um dia. A ciência não era tão interessante naquele lugar que o entediava pela ausência de mistérios.
Sentado na relva, ria enquanto se lembrava das desabaladas carreiras que davam ao fugirem de um raptor ou outro animal. E das deliciosas e calorosas discussões com Summerlee, cada qual defendendo com fervor seu ponto de vista. Por vezes eles até concordavam, mas nenhum dos dois daria o braço a torcer. Era mais divertido implicarem um com o outro.
Mas Summerlee não estava mais entre eles. E aquela cidade do interior, apesar da vegetação e do ar puro, não era - nem nunca seria - o Mundo Perdido...
CONTINUA...
R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W!
