PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM

Capítulo 6

AUTHOR: TowandaBR, Thysbe, Cris Krux

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions.

4ª temporada.

PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM: Não retorne às suas origens.

Dedicado a todos aqueles que mantém TLW vivo, escrevendo e/ou lendo fics.

Obrigada Di Roxton, Cris, Fabi K Roxton Nessa Reinehr, Kakau, TLWAddicted, Jess , Maga.


Edward Malone conseguira emprego no jornal do pai de Gladys, onde passou a escrever crônicas com um entusiasmo inversamente proporcional à sua necessidade de reescrever seus diários sobre o mundo perdido.

Talvez por estar desanimado demais para perceber que seu destino pertencia somente a ele, retomara sua relação com a moça.

Ela o arrastava para festas, apresentando-o como o corajoso noivo que havia estado na famosa expedição Challenger e sobrevivera aos perigos da selva. Quando começavam a perguntar sobre sua vida durante aqueles anos, ele apenas dava de ombros dizendo ao seu interlocutor que aguardasse o momento da publicação de sua obra. Ou simplesmente pedia licença e, seguindo o garçom, servia-se de uma taça de vinho, passando o resto da noite escondido em um canto.

Gladys ficava furiosa e no carro com motorista falava sem parar durante todo o trajeto ao levá-lo de volta para casa no fim da noite.

"Boa noite, Gladys." – dizia ele invariavelmente, descendo do carro e subindo os quatro lances de escada que o separavam de seu refúgio.

Morava em um pequeno quarto de uma pensão no subúrbio com uma cama estreita, mesa, cadeira, e um pequeno armário de madeira velhos, que era mais do que julgava precisar naqueles dias. Como noivo de Gladys, recebia, sem saber, salário pouco maior do que seria pago a outro jornalista naquela posição.

Acordava às 4:30 da manhã, lavava-se e, após vestir-se, andava os três quarteirões, ainda no escuro, que o separavam do trem que o levaria por quase duas horas até o centro de Londres. Durante o percurso, o jornalista apoiava a cabeça na janela e olhava para fora com olhar melancólico. Nunca dormia durante o percurso, mas também não via nada do mundo a sua volta. Ao chegar ao seu destino, descia arrastando-se até a redação, onde cumprimentava mecanicamente as pessoas que se mostravam falsamente indulgentes com aquele homem jovem, patético, e que se tornaria genro do dono do jornal.

Foi-lhe oferecido emprego em tempo integral, mas Ned recusou. Precisava daquele tempo livre para dedicar-se ao que era mais importante.

E ele parecia possuído por alguma força. De sua mente brotavam lembranças tão vívidas dos três anos naquela terra estranha que ele imaginava poder tocá-las. Temendo perdê-las de forma irremediável, escrevia sem parar até que acabasse sua tinta. Então, angustiado, pegava o lápis e continuava até que seus dedos doessem, ou que fosse vencido pelo cansaço e dormisse em cima das folhas amareladas que usava.

Nas poucas noites de sono verdadeiramente legítimas, tomava um banho no banheiro coletivo da pensão e deitava-se na cama, abraçado ao diário surrado, com capa de couro puída, que tinha sempre consigo e que lhe remetia de volta àquele doce olhar. Então Edward Malone sonhava. Mas, ao acordar no dia seguinte, quando o dia já ia alto fazendo com que perdesse o dia de trabalho, tentava relembrar as palavras com que ela havia lhe acariciado os ouvidos em seu sonho, mas não conseguia.

Às vezes angustiava-se com a idéia de que, sem nenhuma foto como recordação, pudesse esquecer aquela face.

Em uma tarde chuvosa, Ned fechou os olhos em busca do rosto e enfim percebeu que, ao contrário do mundo perdido que estava gravado em seu cérebro e por isso teria que ser transportado rapidamente para o papel, Verônica estava gravada de forma indelével em sua alma.

E ela orgulhava-se tanto da pessoa em que ele havia se transformado durante aquele tempo. E confiava que ele era um homem íntegro e que faria aquilo que precisasse para encontrar seu lugar no mundo.

Após meses de apatia, finalmente ele decidiu que chegara o momento de reescrever sua própria história.


Malone pouco comeu no jantar. Ao invés disso, observou com atenção o ambiente que o cercava, o luxo, as pessoas, os funcionários do restaurante sempre com postura rígida, silenciosos e educados. Os fregueses, impecavelmente vestidos, formais, conversando sobre assuntos que Ned imaginou que muitos deles na verdade sequer entendessem.

Observou também sua acompanhante.

Gladys reclamara por diversas vezes. Da temperatura levemente inadequada do vinho, do atendimento que ela não considerou imediato, do calor.

O jornalista irritou-se e ainda pensou em fazer algum comentário, mas desistiu no momento em que percebeu que o problema não era o restaurante, as pessoas que o cercavam, nem Londres e nem Gladys. Embora há muito relutasse em admitir, percebeu de forma mais clara do que nunca que não mais pertencia e jamais voltaria a pertencer àquele lugar.

Deixara de ser Ned Malone, o jornalista interessado em sua afirmação profissional e que se divertia nas festas elegantes. Tornara-se o homem interessado em contar histórias reais ou fantasiosas, interessado em participar delas e em degustar uma bela refeição em companhia de bons amigos, sem se preocupar tanto com boas maneiras.

Após o jantar, ao contrário do normal, levou a noiva até em casa.

"Precisamos conversar, Gladys." – Ela o conduziu até a elegante biblioteca.

"Quer beber alguma coisa, Neddy?"

"Não, obrigado" – Malone hesitou e finalmente percebeu que não podia mais adiar aquela conversa – "Eu preciso voltar, Gladys."

"Ainda é cedo."

"Você não entendeu. Vou voltar para o mundo perdido."

Gladys deu um sorriso amarelo.

"Esta é uma ótima piada." – Ela parou observando o noivo. Ele exibia um olhar triste. – "Você não está brincando, não é?"

"Não. Não estou."

"E quanto a seu livro?"

"Também lamento dizer, mas não gostaria de publicá-lo pela editora do seu pai."

"Mas você sonhou com isso sua vida inteira, Neddy."

"Sei disso. Mas eu mudei e meus sonhos também."

"E quanto a mim?"

"Me perdoe, Gladys, mas meus novos sonhos não incluem você. Sinto muito."

"Posso voltar a fazer parte deles, Neddy. Eu te amo."

"Sabe que isso também não é verdade. Éramos jovens e foi muito conveniente tanto para mim quanto para você que ficássemos juntos. Acho que realmente acreditamos que um dia pudéssemos nos apaixonar, mas sei que agora isso não mais será possível."

"A talzinha é a causa disso tudo, não é?"

"Não. Nós somos a causa disso tudo. Se realmente houvesse algo forte entre eu e você, não haveria dúvidas sobre o que fazer."

"Já pensou que ela pode não te querer?"

O jornalista virou encarando-a.

"Você não entendeu, não é? Não estou voltando por causa dela, e sim por minha causa. Se fosse apenas por ela, eu jamais teria partido. Precisei fazer essa viagem de volta para descobrir o lugar onde pertenço."

"E como pretende fazer isso? Vai precisar de dinheiro e você está completamente falido."

"Sinceramente não sei. Talvez nunca consiga. Mas voltar a ter um objetivo já me anima muito. Quero trabalhar bastante, economizar, publicar meu livro..."

"Basta uma palavra minha a meu pai e você não publicará mais nada em toda a Europa."

Malone sorriu.

"Eu precisava escrever, Gladys, e isso eu fiz. Se tiver que publicar em folhetins mambembes, assim será. Se nem assim eu puder colocar os diários nas ruas, paciência."

"Neddy?".

"Seja feliz, Gladys."

Disse isso e saiu vagando pelas ruas de Londres. Aliviado como há muito não se sentia.

CONTINUA...

R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W!