PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM
Capítulo 9
AUTHOR: TowandaBR, Thysbe, Cris Krux
DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions.
4ª temporada.
PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM: Não retorne às suas origens.
Dedicado a todos aqueles que mantêm TLW vivo, escrevendo e/ou lendo fics.
Obrigada Cris, Aline, Di Roxton, Maga, Kakau, Fabi K Roxton, Jess, Nessa Reinehr
"Aqui estão os outros, Malone." – Roxton chegava, trazendo alguns diários do jornalista, comodamente sentado no chão em frente à lareira acesa, cercado por mais alguns exemplares.
"Obrigado, Roxton."
O caçador foi até o fundo da sala, voltando com duas garrafas. Tirou os sapatos, sentando-se ao lado do também descalço amigo, a quem entregou um copo, já devidamente cheio com a mistura de uísque e água que os manteria sóbrios por horas, sem que deixassem de aproveitar um pouco do prazer da bebida.
"Tem certeza de que quer fazer isso, Malone? Podemos pensar em outra solução."
"Tenho certeza de que não quero fazer. Mas vou..." – Ned jogou o primeiro diário no fogo. – "E você? Tem certeza de que não gostaria de lê-los?"
"Existe algum segredo que eu deva saber?"
"Escrevi reflexões sobre Summerlee, Challenger, você, e…" – o rapaz fez uma pausa.
"Marguerite?" – Roxton sorriu, e seus olhos se iluminaram ao simplesmente pronunciar o nome dela – "Seja lá o que tenha escrito a respeito de cada um de nós, Ned, é a verdade." – O caçador jogou o segundo diário ao fogo.
Semanas antes, os três haviam tomado uma importante decisão, e dividido suas tarefas.
Malone voltou para a cidade, recolheu suas coisas, e rumou direto para Avebury, onde ficou confortavelmente hospedado na mansão dos Roxton, com uma missão importante: excluir ou alterar nos diários qualquer coisa que pudesse dar alguma pista de como encontrar o platô. Se preciso fosse, acrescentaria pistas que desviassem qualquer um de seu verdadeiro objetivo.
Quando Roxton o convidou para deixar a pensão e mudar para Avebury, a princípio Ned sentiu-se constrangido. Teria que largar o emprego que, embora não pagasse muito, o sustentava. Mesmo com todas as suas inseguranças, desde muito jovem ganhava seu próprio sustento, e não queria viver, mesmo que por pouco tempo, às custas do amigo. Ao perceber sua hesitação, John chamou-o para uma conversa.
"Pense nisso como um trabalho. O mais importante de todos."
"Eu sei, Roxton, mas não vejo porque devo largar meu emprego e mudar para sua casa. Não ficarei à vontade."
"Vou lhe dar vários motivos. Um: Você tem que fazer isso o mais rápido possível e precisa de condições favoráveis para fazê-lo bem - você não pode errar. Dois: Não queremos que algum curioso resolva procurá-lo ou, o que é pior, que alguém acabe invadindo seu quarto e roube os diários. Três: Sou um dos homens mais ricos da Inglaterra e lhe dar abrigo não vai me levar à falência. Quatro: Aproveite todo o conforto que puder agora porque, se tudo der certo, em breve vamos estar correndo de raptors, caçando nossa comida e fazendo consertos na casa da árvore. Cinco e mais importante..."
"O que?"
"Você vai me obedecer porque sou mais velho e maior que você. Posso te dar uns sopapos."
"Sou mais rápido e você jamais me alcançaria." – riu o jornalista.
"Você ficou muito abusado, moleque." – o caçador encerrou a discussão com uma gargalhada.
Ao contrário de Malone, que recolheu-se para cumprir sua missão, a de Roxton exigiria que ele fosse visto por tantos quanto pudesse.
Assumiu seu papel de último e nobre representante do clã dos Roxton. Ia a todos os eventos que podia, e parecia se divertir com toda aquela pompa.
Se alguém lhe perguntava sobre suas peripécias, o caçador puxava uma cadeira, e assumindo uma atitude propositalmente arrogante, permanecia por horas falando de suas façanhas.
Ao ser indagado sobre a expedição Challenger, parecia tornar-se ainda mais orgulhoso, e contava com detalhes suas aventuras, ressaltando o quanto fora importante, ajudando e quase sempre salvando seus companheiros de viagem. O que ninguém jamais percebeu é que, por trás daquelas bravatas de salão, não havia uma única situação que fosse verdadeira, e esse era o divertimento secreto do caçador. Enganar aqueles tolos atentos a histórias que nunca existiram, e que se espalhariam por todos os cantos até que chegassem aos ouvidos dos membros da Sociedade Zoológica.
Roxton também fez rápidas viagens pelo interior da Inglaterra, e essas tinham um único objetivo. Gastar dinheiro. Não via sentido em simplesmente deixar tudo para trás, e decidiu que daria um bom destino à sua fortuna. Escolheu lugares distantes de Londres, e anotou com cuidado tudo o que precisava saber. Depois retornava para o burburinho da capital.
Também couberam a ele os preparativos para a viagem. Para isso, encomendou suprimentos usando outro nome. Estes eram enviados a preço de ouro através de navios cargueiros diretamente para um depósito alugado em Belém.
John também foi à Itália, onde procurou uma fábrica que confeccionasse um balão no menor espaço de tempo possível. Pagou bem mais do que valia, para que também fosse enviado diretamente para a América do Sul.
Algumas vezes sentia necessidade de ficar um pouco sozinho. Mas sua alma não era solitária. Em seu íntimo Roxton sabia que nunca estava sozinho.
Apesar de ele mesmo ter sugerido o plano, Challenger odiou a missão que teria a cumprir.
Imediatamente partiu para Londres, para juntar-se à grande expedição da Sociedade Zoológica. Ao chegar, foi informado de que os preparativos demorariam alguns meses e levariam os mais modernos equipamentos. George assustou-se ao descobrir que além de cientistas, caçadores, geólogos e médicos, entre seus companheiros de viagem estariam principalmente ex-membros da artilharia e infantaria do exército britânico.
Armados até os dentes, eram homens preparados para o combate e não para a exploração cientifica. Imaginar o que poderia acontecer ao encontrarem os Zangas, homens-macacos ou alguma outra comunidade do platô era aterrorizante.
Challenger empenhou-se como ninguém. Era o primeiro a chegar ao trabalho, e o último a sair. Nas reuniões participava ativamente com informações (todas falsas), sugestões e entusiasmo contagiante. Qualquer coisa que mantivesse aquela expedição cada vez mais distante do objetivo.
Em seu íntimo, ansiava pelo dia em que finalmente pudesse retornar, junto com seus amigos, a seu lar.
O cientista adentrou a sala, encontrando o jornalista e o caçador.
"Pegue um copo, George. Junte-se a nós."
Challenger sorriu e sentou-se perto dos amigos, que lhe serviram um pouco de bebida. Ajudou a jogar os diários restantes no fogo.
"Posso lhe fazer uma pergunta, Malone?" – indagou o cientista, sem esperar pela resposta – "Li a nova versão dos diários e achei excelente... Mas fiquei curioso sobre uma coisa..."
"...não existe nenhuma palavra sobre Marguerite, Verônica ou Finn." – interrompeu John.
"Exato. Por quê?" o Cientista indagou.
"Não gostaria que qualquer referência sobre elas fosse partilhada com pessoas que não as tivessem conhecido como nós. Apenas isso." Ned respondeu, simplesmente.
"Um brinde a isso." - Challenger ergueu o copo, e os outros o acompanharam.
"Este foi o último." – Roxton jogou o último diário que tinha em suas mãos no fogo.
"Não." - Interrompeu Ned. Levantou-se e foi até a mesa mais próxima - "Este é o último." – Malone passou a mão com carinho na capa de couro do bem que lhe era mais precioso naquele momento, e o atirou ao fogo sob o olhar espantado dos amigos – "Não vamos correr nenhum risco." – Bebeu o restante do uísque.
"É melhor irmos dormir, meus amigos. Amanhã será um grande dia."
Acordaram antes das cinco da manhã, e finalizaram os preparativos. Antes que terminassem o desjejum, o caçador levantou-se.
"Roxton, poderia por favor acrescentar isto no começo do livro?" – Pediu Ned, entregando uma folha de papel voltada para cima, indicando claramente autorização para que fosse lida.
"Para duas maravilhosas damas."
"Será um prazer." – Roxton sorriu – "Eu já volto. Coburn?"
"Pois não, senhor."
"Preciso falar com você."
O caçador escoltou o idoso senhor até o escritório, e pediu que ele se sentasse a sua frente. Abriu a gaveta da mesa, de onde tirou vários envelopes. O empregado estava curioso.
"Tenho algumas coisas que gostaria que fizesse. Como você já deve ter percebido pela movimentação, eu e meus amigos estamos de partida. E acredite quando digo que não tenho nenhuma intenção de retornar." – o homem assustou-se, mas manteve o baixo tom de voz que lhe era característico.
"Como, senhor?"
"Estou partindo, e é melhor que você não saiba mais do que isto. Mas tenho algumas coisas que gostaria que fizesse."
"Com certeza, milorde."
Roxton pegou vários envelopes amarrados juntos, com um barbante.
"Cada envelope deve ser levado em mãos aos seus destinatários. Cada um deles contém uma vultosa quantia em dinheiro e ações. Quero que você se certifique de que cada um dos orfanatos e internatos mantidos pelos conventos farão bom uso dele. E jamais, em nenhum momento, cite o meu nome. Diga que é doação sua, ou não diga nada."
Pegou mais um envelope.
"Aqui dentro vai encontrar um livro e recursos para publicá-lo. Será feito em capítulos, em formato de folhetim, e vendido semanalmente nas ruas de Londres. Apenas um alerta. Nenhuma palavra, nenhuma vírgula, deverá ser acrescentada, excluída ou modificada. Pode ler, se quiser, mas apenas após nossa partida."
"Considere feito, senhor."
"E agora, a última coisa." – pegou mais um envelope e entregou a Coburn, que aguardou instruções – "Abra."
O mordomo obedeceu, e após olhar o conteúdo, encarou o caçador.
"Senhor... eu... não posso aceitar."
"Coburn, já está tudo em seu nome. Esta propriedade e o pouco que restou são seus. Aproveite um pouco a vida, meu amigo." – Roxton deu um abraço apertado naquele com que sempre pudera contar.
"Se o senhor não vai mais voltar, como pode ter certeza de que vou fazer tudo o que me pede?"
"Posso ter muitos defeitos, mas me orgulho de sempre escolher bem os meus amigos." – o caçador sorriu, deixando o local.
Após meses de preparativos, seguiram para o porto de onde, instalados nas melhores acomodações disponíveis no navio, finalmente partiram para Belém.
Sentado no escritório de sua nova casa, Coburn abriu o livro que o antigo patrão lhe entregara em confiança, e começou a leitura:
"1. Há Heroísmos ao Nosso Redor
O sr Hungerton, pai dela, era, realmente, a pessoa mais destituída de tato,..." (1)
CONTINUA...
R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W!
(1) O Mundo Perdido–Arthur Conan Doyle. Editora Melhoramentos, tradução de Raul de Polillo, 1987.
