PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM

Capítulo 10

AUTHOR: TowandaBR, Thysbe, Cris Krux

DISCLAIMER: Todos os personagens da série "Sir Arthur Conan Doyle's The Lost World" são propriedade de John Landis, Telescene, Coote/Hayes, DirecTV, New Line Television, Space, Action Adventure Network, Goodman/Rosen Productions, e Richmel Productions.

4ª temporada.

PRIMORDIUM NULLA RETRORSUM: Não retorne às suas origens.

Dedicado a todos aqueles que mantêm TLW vivo, escrevendo e/ou lendo fics.

Obrigada Maga, Jess, Cris, Nirce, Rosa, Crys Richard.


Durante longo tempo imaginaram como seria a chegada a Belém.

O porto, em crise desde 1914 com a desvalorização da borracha, estava apinhado de gente. Poucos negociantes e estivadores, mas dezenas de habitantes da cidade que corriam para lá quando algum navio de passageiros chegava. Negros, brancos, mulatos, índios divertiam-se vendo aquela embarcação luxuosa atracar no cais de 1.869 metros.

Exceto pelos passageiros que desembarcavam, ninguém trajava ternos bem cortados. Os moradores eram gente humilde em roupas simples, muitos deles descalços, com suas famílias e crianças fazendo algazarra e se divertindo com brinquedos artesanais.

Após o desembaraço na imigração, os três aguardavam suas bagagens. Na verdade, cada um tinha apenas uma pequena mala.

Sob o calor escaldante de uma manhã ensolarada e úmida, um rapaz os aguardava. Parecia que mal completara 18 ou 19 anos. Usando calça de tecido de algodão, camisa de mangas curtas e botinas de couro de boi, ele se aproximou.

"Senhor John Smith?" – Elevou a voz, tentando fazer-se ouvir acima dos ruídos que os cercavam.

"Sou eu." – Disse Roxton, sob o olhar curioso dos amigos ao escutarem o nome.

"Está tudo pronto, senhor." – Entregou uma maleta ao caçador

"Obrigado."

"Senhor?" – o rapaz entregou-lhe um invólucro de bambu – "Isto aqui me foi dado há alguns minutos por um homem na entrada do cais. Disse que deveria entregar em mãos para um dos senhores. Não sei do que se trata."

Roxton olhou o objeto e ficou curioso, mas preferiu examinar seu conteúdo em um lugar mais reservado. Abriu a pasta que acabara de receber e colocou o invólucro de bambu lá dentro.

"Por favor, sigam-me."

Perdidos em seus pensamentos, nenhum deles conversou durante o trajeto de carro até o magnífico Grande Hotel. Como no navio, o caçador fizera reservas nas melhores acomodações disponíveis.

John dispensou o rapaz, dando instruções precisas para que os pegasse no dia seguinte logo ao amanhecer.

Os três se recolheram a seus aposentos, onde tomaram um bom banho e descansaram em camas cobertas com lençóis caros e perfumados com lavanda. Apesar do conforto do navio, a ansiedade fazia com que tivessem dormido pouco durante a viagem, e eles estavam exaustos.

Malone foi o primeiro a acordar, e sentou-se à escrivaninha, pegando caneta e papel.

"Eu, que um dia imaginei fazer esta jornada sozinho, agora estou com meus melhores amigos."

"Nenhuma palavra pode descrever o alívio que sinto neste momento. Alívio por, pela primeira vez na vida, saber quem realmente sou e para onde desejo ir."

Pensou no que mais poderia escrever, mas concluiu que aquelas poucas palavras expressavam tudo.

Se pudessem escolher, teriam se embrenhado na selva o mais rápido possível, mas chegar ao objetivo para o qual vinham se preparando há tanto tempo exigiria que tudo fosse feito com muita cautela.

Reencontraram-se horas mais tarde, no almoço servido em uma sala reservada exclusivamente para eles, com vista para uma praça toda arborizada de lindas mangueiras, em frente ao Teatro da Paz.

"Roxton, agora você realmente está parecido com um nobre." – brincou Challenger, ao ver o amigo.

"Vocês também." – Na verdade os três haviam se livrado dos ternos e chapéus elegantes e quentes, e vestiam calça e camisa de mangas curtas confeccionadas em tecidos regionais, bem mais confortáveis e apropriados para o calor amazônico.

Após o delicioso e relaxado almoço, onde conheceram o pato no tucupi, com folhas de jambú, e da sobremesa, quando apreciaram açaí misturado com farinha d'água e açúcar, Roxton pegou a pasta. Explicou a Challenger e Malone que, ao mesmo tempo em que mandava entregar os suprimentos comprados na Europa no armazém que havia alugado em Belém, enviava os recibos para uma empresa ali mesmo na cidade. Agora, de posse dos papéis, poderia resgatar as provisões, incluindo o balão com o qual pretendiam tentar chegar ao platô como da primeira vez. Também já havia providenciado todos os carregadores de que iriam precisar.

"Você realmente foi muito cauteloso." – elogiou Ned.

O caçador lembrou do misterioso invólucro que recebera. Demorou um pouco para o abrir, e quando o fez encontrou um pedaço de tecido cuidadosamente enrolado. Abriu espaço na mesa do almoço, onde estendeu o pano para que os outros também pudessem ver do que se tratava. Apesar de muito simples e primitivo, era óbvio que os traços feitos com tintas artesanais representavam algum tipo de mapa.

Malone conhecia um pouco de topografia, que aprendera durante a guerra, e John também tinha um bom conhecimento sobre o assunto. No entanto, foi Challenger quem percebeu do que se tratava.

"Senhores, creio que parte do esforço na preparação de toda essa viagem foi desnecessário. Posso estar errado, mas não precisaremos de suprimentos, carregadores ou de balão." - Pegou o tecido antes de continuar -"Ao que tudo indica, nossa jornada será mais tranqüila do que julgávamos."

No dia seguinte, Roxton pagou e dispensou todos os carregadores. Recolheram o que havia nos depósitos e distribuíram praticamente tudo entre as pessoas da cidade. Quanto ao balão, tiveram o cuidado de inutilizá-lo de forma definitiva, para que jamais pudesse vir a ser usado novamente.

Finalmente, vestidos com roupas de sarja e botas, e carregando apenas suas mochilas e armas de caça, partiram.

De Belém para uma pequena cidade, depois uma menor e em seguida um povoado. Dali seguiram para uma vila, de onde seguiram ao longo do rio Amazonas. Na metade do caminho, passaram a ser escoltados por nativos que haviam conhecido em um tempo que lhes parecia muito distante.

Diferentemente da primeira vez, abriram um sorriso franco ao finalmente chegarem à pequena e rústica aldeia, onde foram recebidos calorosamente. Parecia que todos se juntavam em volta deles.

Se ao saírem do platô haviam sido presenteados com o que de melhor aquele povo podia lhes oferecer, em seu retorno não foi diferente.

Levados à parte rasa do rio, onde se formaram pequenas piscinas de água corrente, foram banhados com ervas, vestidos com roupas limpas, e alimentados, antes de serem instalados na pequena choupana onde dormiram quase que de imediato, absolutamente exaustos da viagem tranqüila, mas muito longa.

Ao acordarem, passearam pelo lugarejo.

Challenger continuava encantado com a habilidade das mulheres que teciam os cestos em palha. Também visitou a lavoura e ficou satisfeito ao ver o quanto seus ensinamentos haviam sido úteis e que a colheita seria farta.

Malone foi levado pelos caçadores que brincavam com sua pouca habilidade para a caça. Se precisasse, seria capaz de prover seu sustento, mas jamais seria um exímio caçador. Cortou lenha, que foi usada para assar pão no forno de barro que ajudara a construir.

Roxton saiu pela aldeia e usando sinais fez com que as crianças o seguissem até o rio, onde passaram grande parte do tempo subindo em seus ombros, usando-o como trampolim e juntando-se a ele nas brincadeiras. Percebeu que muitos dos nativos a quem ensinara algumas de suas técnicas de caça agora mostravam uma habilidade até maior do que a sua.

Ao cair da noite, reuniram-se com o cacique perto da fogueira. Este lhes entregou um invólucro recheado com tabaco que, após acendê-lo, mostrou como deviam aspirá-lo.

Após alguns minutos, sentiram-se leves e totalmente receptivos às palavras que viriam a seguir.

"Quando vocês aqui chegaram da primeira vez, eu lhes disse que essa comunidade existe para recepcionar aqueles que saem do platô. E agora eu lhes digo que existimos também para ajudar o retorno de todos aqueles que desejarem e merecerem voltar."

"É por esse motivo que vocês foram guiados de volta até aqui." – fez uma pausa sob o olhar atento dos três homens – "Assim como foi permitido a vocês sair com um bem precioso, desta vez poderão escolher o que gostariam de levar."

Challenger e Malone pensaram um pouco.

"Não existe nada que eu queira levar." – disse o jornalista.

"Também não consigo pensar em nada que já não esteja no platô." – Sorriu Challenger, ao lembrar do laboratório que montara na Casa da Árvore.

Olharam para Roxton.

"Vou levar de volta a única coisa que trouxe comigo quando sai." – sorrindo, acariciou a foto que trazia consigo.

Subitamente, os três homens mostraram-se preocupados.

"Há uma expedição muito grande sendo preparada para tentar encontrar o platô. Tentamos despistá-los, mas receamos que eles possam um dia alcançar seu objetivo." - Challenger disse, preocupado.

"Persistentes como são, tenho certeza de que fizeram um ótimo trabalho. Mas não se preocupem. Quem sabe suas pistas não os tenham mandado para locais muito mais distantes do que vocês mesmos imaginam." - O cacique respondeu, tranqüilo.

"O mapa que nos enviou... Vocês tinham certeza de que voltaríamos?" - Foi a vez de Roxton inquirir.

"Sim. Desde que o começo." - Novamente a resposta do nativo foi calma.

"E por que não nos contaram, ao invés de nos fazer perder todo esse tempo?" - Ned parecia incomodado.

"Isso os impediria de voltar às suas origens?"

Nenhum deles respondeu. E nenhuma resposta era necessária.

"Tenho uma última pergunta." – Challenger estava curioso – "Vocês nos mostrarão a entrada para o platô..."

"Sim. Uma delas, pelo menos..."

"Conhecendo também a saída, poderemos retornar quando quisermos?"

O nativo sorriu.

"Vocês são livres para ir e vir quando quiserem. Mas alguma coisa me dá a certeza de que jamais voltaremos a nos ver."

E foi assim que subiram o rio até o topo da queda-d'água e, de lá, mais uma vez, se jogaram na cachoeira, tendo a certeza de estar deixando para trás o mundo que conheciam tão bem para finalmente voltar para o lugar que era sua casa. O platô.

CONTINUA...

R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W! R-E-V-I-E-W!