Orestes - É melhor nos calarmos, para que atrás dessas paredes ninguém nos ouça.
Electra - Não, por Ártemis, sempre virgem, não, jamais me dignarei ter medo dessas mulheres, vão fardo da terra, sempre fechadas entre paredes.
Orestes - Cuidado: mesmo entre as mulheres, para Ares há lugar; tu o provastes, tu sabes.
(Trecho da Tragédia Electra de Sófocles)
Máscara
Por Elektra de Ártemis
Pentesiléia olhou bem para seu reflexo no espelho, onde uma fria máscara de prata a encarava. Retirou-a lentamente fazendo aparecer um bonito rosto de traços angulosos. Os olhos cor de violeta eram o que mais se destacava no rosto moreno e seu maior orgulho, pois, eram idênticos aos de sua mãe. O nariz era pequeno e arrebitado e a boca, carnuda e sensual. Tirou a presilha que prendia seus cabelos num coque, fazendo com que os fios loiros e encaracolados caíssem sobre seus ombros. Não podia negar que era bonita.
Pegou uma escova e tratou de passa-la por entre os fios dourados. Seu pensamento voava até minutos atrás, antes daquele rapaz aparecer. Treinava despreocupadamente, sem a máscara, no recinto das amazonas. Ora, tal lugar era restrito, apenas as mulheres do Santuário poderiam adentrar ali. Talvez o rapaz fosse um aprendiz e não conhecia bem as regras seculares daquele lugar. Homens e mulheres não se misturavam.
Foi desta forma que ele a surpreendeu. Ele disse coisas bonitas, que já a observava há tempos e que era a mulher mais bela que já havia visto em toda a sua a vida. Mas a amazona sequer ouviu estas palavras de amor e adoração, porque, em sua mente ouvia a voz de sua velha Mestra "Nunca deixe que um homem a veja sem sua máscara. Ela é o mais precioso véu que uma amazona pode ter, é preferível que a vejam nua que sem a máscara. Pois, se um homem ver seu rosto, você só terá duas opções: amar ou matar".
"Amar ou matar". A frase foi um sussurro rouco. O rapaz segurava a sua mão, que, em seu estado de topor, nem havia percebido que ele segurava. Puxou-a bruscamente, como se estivesse a se livrar de um inseto asqueroso. Ele a olhou incrédulo, será que não conhecia a lei máxima das mulheres-cavaleiro. "Amar ou matar".
O golpe foi rápido e certeiro. Tão rápido que ele conservou o olhar de espanto depois que seu corpo tombou sem vida no chão de areia fofa. Pentesiléia colocou a máscara, estigma de sua condição, e deu as costas para o corpo, que as aves de rapina fizessem bom proveito do alimento que havia deixado para elas.
De frente ao espelho, ela olhou para seu reflexo, enquanto pousava a escova na penteadeira. Linda, mas tal beleza não era para os olhos mortais e sim para os olhos imortais. Apenas os Deuses veriam seu rosto e o pobre infeliz que ousara ver tal beleza, havia pago o preço por quebrar tal tabu. A morte foi seu destino, por almejar algo que era destinado apenas para servir aos Deuses.
Não havia culpa, remorso ou arrependimento. Há muito já se acostumara com sua condição naquele lugar. Aquela era a lei e havia apenas aplicado a pena devida àquele que a quebrou. E não hesitaria em fazer se fosse novamente necessário.
