Cap. 13 – Esclarecimentos

O corredor em que estava andando era estreito, com paredes brancas que refletiam a luz que emanava das lâmpadas, dando uma iluminação um tanto sobrenatural para aquele lugar. Cada passo seu era abafado por uma suave voz que cantarolava, parecendo vir do outro lado daquelas estranhas paredes. Andando mais um pouco, ele reparou numa porta lateral, com uma pequena placa prateada com os dizeres "Nº. 22". Franziu a testa e olhou para os lados, esperando ver alguém que o orientasse, mas o corredor estava vazio. Temeroso, girou a maçaneta. Era um quarto de hospital, não tão claro quanto o corredor, que continha uma cama e algumas poltronas acolchoadas. Sentada na cama estava... Como se chamava mesmo sua madrinha? Que ironia, não saber o nome...

"Hum... Olá." – cumprimentou ele, sem jeito.

Ela apenas sorriu, e Harry aproveitou para entrar e se sentar numa das poltronas. Teria que esperar até alguém aparecer para ajudá-lo a ir embora.

"Fiquei esperando sua visita."

E só então Harry reparou que ela segurava um bebê, envolto em panos, no colo. Emile! Nossa, a memória dele estava falhando muito ultimamente.

"Na verdade, eu não sabia que o bebê já tinha nascido." – respondeu ele, sentindo-se desconfortável.

"Ah, não era por isso que eu estava esperando você. Não há nada para conversamos?"

Harry suspirou e a encarou por alguns instantes, confrontando o olhar calmo dela. Na verdade, ele tinha muitas coisas para pensar, muitas dúvidas para esclarecer e outras tantas procurar. E ainda havia Mione. No entanto, ele não poderia simplesmente se abrir com uma desconhecida, por mais intimidade que ela achava ter com seu afilhado.

"Acho que não." – respondeu, desviando o olhar. Mentir não era uma de suas habilidades.

Um silêncio constrangedor preencheu o ar. Harry estava esperando ansiosamente ouvir alguém andando pelo corredor, para assim poder ter uma desculpa plausível para sair daquela situação.

"Que pena. Pensei que toda essa bagunça deixasse alguém confuso."

Harry voltou seu olhar imediatamente para ela. Não seria possível que soubesse de alguma coisa... Se ele não havia contado a ninguém, nem mesmo a Rony...! Mas alguma coisa no brilho dos olhos de Emile o fez temer que seu "segredo" tivesse sido descoberto.

"Confusão...?" – perguntou, tentando fingir desentendimento.

"Não sei... Pessoas novas e antigas lembranças, por exemplo."

Harry se remexeu em sua poltrona, não achando resposta alguma que contornasse aquela situação.

"Não se preocupe." – sorriu Emile, desviando pela primeira vez seu olhar dele para ajeitar o bebê.

"Então como... como você...sabe?" – e foi impossível conter o nervosismo.

"Você já ouviu falar em anjos?" – perguntou ela, brincalhona, ainda vigiando seu bebê. – "Desculpe, não consegui evitar a brincadeira. Não sou um anjo, embora esteja aqui para te ajudar."

Se ele estivesse totalmente são, teria saído daquele lugar correndo e se abrigado debaixo de sua cama, rezando a todos os deuses que aquela loucura acabasse. A única coisa que fez, porém, foi piscar os olhos com força, não dando atenção a sua boca completamente aberta de espanto.

"Sei que é difícil acreditar em tudo isso. Vamos começar então? Tenho algumas explicações a dar."

Harry fechou a boca e engoliu em seco, confirmando com a cabeça. Tudo parecia tão natural para Emile...

"Caso você não tenha reparado, foi a vontade de seu desejo que o trouxe aqui. Você está livre de todas as suas preocupações com Voldemort, porque simplesmente não é mais o menino referido na profecia. Neville foi o encarregado disso."

"O quê?" – espantou-se Harry.

"Isso, e muitas outras coisas, você vai ter que descobrir melhor por si mesmo. A única coisa que posso falar é que ele já derrotou Voldemort..."

Ela parou de falar imediatamente quando ergueu os olhos para ver a reação de Harry. O menino estava pálido, com a boca ligeiramente aberta, e reprimindo intermináveis perguntas.

"Como ele conseguiu derrotar Voldemort e eu não?" – perguntou ele, incapaz de conter sua frustração. – "Ele nunca foi muito corajoso, e se revelou um verdadeiro herói..."

"Não há dúvidas que ele seja um herói. Assim como você. Harry, será que você não consegue ver os prejuízos dessa escolha?"

"Voldemort foi derrotado mais cedo. As pessoas pararam de morrer e não há mais ninguém sofrendo." – suspirou ele, desolado.

"Tem certeza? Será que você ainda não parou para pensar em seus antigos colegas de turma?"

"Bom... Rony continua aqui..."

"Porque seus pais se mantiveram fiéis a Dumbledore e enfrentaram todas as dificuldades da guerra, mesmo com o terrível preço que pagaram."

"Que preço?"

"A morte de um deles. Na guerra, é impossível que uma família grande como a dos Weasley saia isenta, Harry. Carlinhos parecia saber disso, mas lutou até o fim, assim como muitos outros."

"Hermione não está mais aqui..." – continuou ele, tentando desviar dos pensamentos a lembrança remota do dia em que a Sra. Weasley vira os membros de sua família mortos através de um bicho papão.

"Os pais dela perceberam que o país não estava seguro, apesar de não saberem exatamente o que estava acontecendo. Então tomaram uma decisão lógica: sair daqui, para proteger a filha."

Harry ficou em silêncio, esperando que sua mente captasse e aceitasse cada fato. Emile pareceu tomar isso como um incentivo para continuar.

"Os Granger não foram os únicos a abandonar o país. Outros tantos trouxas –e bruxos – fugiram para longe. Outros morreram em ataques. E os seus recentes amigos vieram por um pedido de socorro do Ministério, prontamente atendido por outros: aurores, para ajudar a combater os Comensais da Morte."

Ela foi distraída da explicação pelo choro do bebê, que pareceu despertar com as vozes ao seu redor. Harry afundou a cabeça entre os joelhos, deslizando o dedo inconscientemente pela sua testa, procurando algum vestígio de sua antiga cicatriz.

"Acho que ele morreu, Allan."

"Pega aquela jarra com água fria. Vamos jogar no rosto dele, quem sabe dê certo..."

"Não, olha, ele está se mexendo..."

Harry abriu os olhos e se sentou tão rapidamente que os dois amigos deram um pulo para trás. Percebeu que estava ofegante e sua cabeça, levemente dolorida. Tateou a cabeceira a procura dos óculos, colocando-os no rosto. Estava no quarto.

"Harry?" – perguntou baixinho Lowell, os cabelos lisos soltos, já completamente vestido. – "Está tudo bem?"

Ele apenas fez um gesto positivo com a cabeça, o que acentuou levemente a dor. Lowell deu um suspiro aliviado.

"Pensamos que você estivesse morto." – comentou Allan, com as sobrancelhas erguidas. – "Estava mais branco do que pergaminho novo, e não se mexia nem para respirar..."

"Desculpe... Pesadelo." – sua voz saíra rouca e sem força, mas ele não esperava coisa melhor.

"Hum... Que tal tomar um banho para descermos para o café? Estamos em cima da hora."

Harry não fez nenhum sinal desta vez, apenas se levantou e seguiu a sugestão do amigo. Um banho sempre ajudara.

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"Torrada...! Com geléia de uva!"

"Não, obrigado, Ally."

"Ovos com bacon!" – exclamou a garota animada, erguendo a travessa e mostrando-a a Harry.

"Não, sério, não quero comer nada..."

Lowell engasgou-se com o suco e Allan deixou a torrada que estava comendo cair ruidosamente. Ally recolocou a bandeja na mesa e encarou Harry, os olhos azuis arregalados.

"Sem fome? Você costuma devorar metade da comida! Andou comendo de madrugada?"

"Não."

"Jantou muito ontem à noite?"

"Normal."

Ela colocou a mão na sua testa e depois no pescoço, consultou seu pulso e trocou um olhar indecifrável aos outros dois amigos, que apenas assistiam.

"Bom, não está com febre..."

"Ally" – bufou Harry, começando a se aborrecer com essa preocupação sem sentido – "eu simplesmente não quero comer! Será que eu nunca disse isso antes?"

Ela abriu a boca, provavelmente para dizer que não, mas Harry já se levantara e saía do Saguão, lançando um olhar ao canto em que Neville e Amy estava sentados, apenas para sentir sua angústia aumentar.

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N.A.: Antes de mais nada, quero pedir imensas desculpas: pelos meses sem nada, e pelo capítulo curto e mal feito (é provável que eu o reescreva mais tarde). Na verdade, só estou colocando-o aqui para dizer que não morri e que sim, vou tentar continuar com a fic apesar do pouco tempo livre. Muito obrigado às reviews. E, ah, o próximo capítulo, vai sim ter Mione. x)