Cap. 14 - Mione

Harry tentou ignorar ao máximo os amigos durante as aulas. Felizmente, os professores pareciam compartilhar de sua vontade de ficar só, passando apenas pequenas atividades individuais. Porém, com o final cada vez mais próximo da aula de Transfiguração, ele se encontrava perdido em meio aos seus pensamentos. Falara com Emile em seu sonho, mas tinha certeza de que tudo o que ela dissera pertencia à realidade. Não conseguia tirar os olhos de Neville, embora Amy já tivesse percebido o súbito interesse de Harry por seu amigo e lhe lançasse olhares desconfiados a cada minuto. O sinal bateu mais depressa do que ele esperava, abafado pelo crescente barulho que os estudantes faziam para saírem o mais rápido possível para o almoço. Harry tentou sair discretamente, misturado com outros alunos, mas foi parado no meio do corredor por uma Ally nem um pouco feliz, Lowell e Allan, um tanto ocupado em observar o movimento do corredor.

"Olha, eu não faço idéia do que você tem Harry. Só espero que não se esqueça que estamos aqui, esperando você decidir se fala ou não conosco." – bufou ela, segurando o braço de Harry para ter a certeza de que ele não iria fugir.

Ele a encarou nos olhos, esperando que ela dissesse o que tinha a dizer. Quando acabou, viu Lowell sorrindo discretamente para ele, e Allan dando um pequeno sinal positivo.

"Desculpe Ally... Eu estou realmente cansado, tive uma péssima noite de sono..."

"Então todas as suas noites têm sido ruins? Harry, você não é mais o mesmo! Não me lembro sequer da nossa última conversa decente...!"

Ela respirou fundo, virou as costas e saiu batendo os pés, aborrecida. Harry apenas ergueu as sobrancelhas e respirou fundo.

"Relaxa cara. Ela sempre foi meio esquentada..." – consolou Lowell.

"E nós sabemos como é enfrentar algum problema." – completou Allan.

"Sabemos?" – perguntou Lowell, baixando a voz e encarando o amigo com a testa enrugada.

Allan sorriu torto e pisou no pé do amigo, numa tentativa frustrada de fazer Harry não perceber; o que não adiantou muito. Apesar disso, Harry começou a rir (verdadeiramente) deles, e os seguiu bem mais animado até Salão Principal.

"Pessoal, nesse sábado tem visita a Hogsmead." – avisou Rony, sentando-se ao lado de Harry e servindo-se.

"Maravilha! Um dia sem o Filch vigiando a gente pelos corredores!" – comemorou Allan.

"Vista a Hogsmead..." – repetiu Harry, distraído. – "Bom, suponho que vamos todos juntos, não?"

"Ah... Bem..." – começou Allan, levemente corado – "Eu tenho um compromisso com a Melina."

Lowell revirou os olhos, enquanto mais uma preocupação surgia na mente de Harry: Gina.

"Adivinha?" – exclamou Ally, aproximando-se do grupo com as bochechas rosadas e um pouco ofegante, mas extremamente sorridente (de fato, nem parecia que tinha brigado com ele há pouco minutos).

Allan, que parecia compartilhar desse pensamento, abriu a boca para falar, mas a morena não permitiu.

"Meu irmão nasceu!" – e ela anunciou isso tão alto que várias pessoas se viraram para observá-la.

"Parabéns!" – cumprimentou Rony.

Ela se sentou, colocando uma carta no bolso e começou a servir.

"Então... não está mais chateada comigo?" – perguntou Harry.

"Não. Vamos esquecer o passado e viver o presente." – respondeu ela, quase cantarolando a resposta. "Ah, esse sábado tem visita a Hogsmead. Estava pensando... Um dia sem o Filch no nosso pé! Podemos ir à Casa dos Gritos, que tal? Ou nos abastecer de bombas de bosta..."

Lowell engasgou-se com a comida, lançando um olhar divertido para Allan. Harry ergueu as sobrancelhas. Afinal, para que tanto mistério? Se o amigo ia sair com alguém era problema dele, não de Ally... Rony encarou seu prato, embora estivesse tremendo, segurando o riso.

"Ally, não vá se chatear novamente..." – começou Allan, inseguro. – "É que eu não vou poder ir com vocês."

"Por que não?" – perguntou ela, estreitando os olhos.

"Porque... eu... tenhoumencontro."

"O QUÊ!"

"Ally, olha o escândalo..." – suspirou Lowell.

Foi o mesmo que falar com a parede, Ally começou a fazer perguntas intermináveis sobre o encontro de Allan, enquanto Rony gargalhava e Lowell lançava um olhar entediado a cena, deixando Harry sem entender o que estava acontecendo.

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A semana pareceu correr rapidamente, agora que Harry estava mais uma vez ocupado demais para se preocupar com qualquer coisa. Os professores pareceram achar que os alunos estavam muito relaxados e passaram a dar inumeráveis tarefas. Não que isso fosse muito problema para eles. O espírito de paz que os dominara parecia ter desaparecido, até Harry estava ansioso para sair à noite e passear pelo castelo. Sábado amanheceu ensolarado e perfeito para uma visita a Hogsmead. Harry foi o primeiro a ficar pronto, seguido de Rony. Allan e Lowell estavam acabando de se arrumar quando Neville acordou e saiu discretamente para o banheiro.

"Andei pensando..." – começou Rony, enquanto desciam as escadas.

"Milagre!" – interrompeu Allan.

"... Em irmos ao campo hoje." – concluiu Rony, lançando um olhar mortal a Allan.

"É, ótima idéia. Faz muito tempo que não vamos lá..." – comentou Lowell.

"Mais precisamente desde que fomos proibidos de ir a Hogsmead no ano passado." – observou Ally.

Haviam chegado ao final da escada e Ally os esperava impaciente, as mãos nos bolsos da calça. Harry suspirou cansado e passou as mãos pelos cabelos, sem se dar conta que apenas repetia o gesto mais famoso do pai. Lowell insistiu em tomar café da manhã antes de ir, embora Ally dissesse que isso era desnecessário, uma vez que podiam ir ao Três Vassouras. Harry se sentou e começou a comer automaticamente, observando os alunos chegarem aos poucos ao Salão Principal.

"Harry, você está me ouvindo?"

"Claro Anne. Não sou surdo, sabia?"

A menina bufou, cruzando os braços e recostando-se na cadeira. O Três Vassouras estava lotado de estudantes de Hogwarts, afinal, era dia de visita a Hogsmead. Havia um grupo particularmente grande da Grifinória sentado do outro lado do bar. E ele ali, perdendo seu tempo com sua namorada enquanto podia estar se divertindo?

"E pelo jeito também não está cego! Dá para disfarçar que você está olhando para outra garota enquanto eu estou do seu lado?"

Para Harry já era demais. Que menina possessiva! Em um mês de namoro conseguiram brigar mais do que um casal de vinte anos de convivência.

"Se não está satisfeito com o que tem, problema seu. Se duvidar, tem uma fila de meninas me esperando lá fora." – respondeu ele friamente.

"Ah, claro, havia me esquecido que o Sr. Popular não agüenta ficar preso a uma só menina! Quer saber, cansei de você Harry."

E levantando-se aborrecida saiu da mesa, sem lançar um último olhar a ele. Ótimo, porque ele também já havia cansado dela. Iria interpretar a última frase de Anne como um fora. Pronto, estava livre. Hora de ir à caça. Levantou-se, sentindo os ombros bem mais leves e saiu do bar. Uma brisa leve soprava pelas ruas movimentadas do povoado. Harry procurou por todos os cantos algo para fazer, já que Ally devia estar se divertindo no castelo cumprindo a detenção que Snape lhe aplicara, Allan dissera que havia arranjado companhia e Lowell e Rony provavelmente deviam estar andando por aí. Seus pés começaram a traçar um caminho sem que ele se desse conta do que estava fazendo. Quando seu olhar voltou a focar o ambiente, ele se viu na pequena praça do povoado. Havia um chafariz discreto e alguns bancos ao seu redor. Sentada num deles, torcendo as mãos compulsivamente, estava Amy. Que praga! Para todo lugar que ele andava achava essa garota. Aquilo estava começando a dar nos nervos. Hoje, no entanto, ela parecia mais bonita. Tinha feito alguma coisa no cabelo, porque eles estavam lisos e soltos. Harry sorriu marotamente consigo mesmo. Era só sua impressão ou ela estava esperando alguém?

"E aí Black!"

Pronto, achara sua diversão. Harry sentiu Amy tremer à distância, torcendo ainda mais as mãos, ignorando-o o máximo que conseguiu. Esse gesto só serviu para aumentar seu espírito implicante, fazendo com que ele se sentasse propositalmente ao seu lado.

"Então, Amélia" – provocou Harry – "O que você faz aqui, sozinha, num dia tão bonito?"

"Com certeza o contrário de você" – replicou ela, erguendo os olhos azuis escuros, que estavam brilhando maliciosamente por trás dos óculos – "Afinal, a Copper finalmente lhe deu um pé na bunda? Ou suas queridas fãs o abandonaram?"

"Não, na verdade, eu estava sentindo falta da sua graciosa presença, Amélia" – provocou ele, novamente.

"Se me chamar assim novamente, Harry querido, você pode dar adeus a sua preciosa vida."

"Você não consegue fazer ameaças de morte decentes."

"Estou perdendo a pouca paciência que tenho, Potter. Dê o fora daqui."

Em resposta, Harry apenas cruzou os braços e continuou a encará-la.

A próxima coisa que Harry viu foi uma mão delicada entrando e saindo de seu campo de visão. Piscando com força, as imagens foram se tornando mais nítidas, principalmente os olhos de Ally, que estavam encarando-o de tão perto que ele levou um grande susto, caindo da cadeira em seguida.

"Ally, não faça isso!" – exclamou ele aborrecido, enquanto massageava as costas e se levantava.

"Você ficou estranho... Começou a olhar para o nada, achei que estava entrando em transe." – justificou ela, enquanto Allan oferecia uma mão a ele e o levantava.

Harry bufou baixinho, fazendo Rony rir. Quando ergueu os olhos para se sentar novamente, seu olhar encontrou o de Amy, que estava observando com a testa levemente enrugada. Quando percebeu o que estava fazendo, ela desviou a atenção e voltou a escutar o que Neville lhe dizia, muito contente. Harry permaneceu quieto todo o caminho até Hogsmead e só se deu conta que estavam no povoado quando Allan se separou deles – com Ally acompanhando seus passos de uma forma quase obsessiva.

"Campo, então?" – perguntou Lowell, e Rony confirmou entusiasticamente com a cabeça.

Começaram a seguir pelo mesmo caminho que dava ao Cabeça de Javali, mas viraram uma rua antes de chegar ao bar. Caminharam em silêncio, virando novamente à esquerda e depois indo por uma subida, se depararam com um beco, optaram pela direita desta vez. Harry estava começando a se cansar dessa caminhada sem sentido quando Ally deu um pequeno grito de felicidade. Lowell desceu correndo as escadas e Rony o acompanhou animado, deixando um boquiaberto Harry no começo da escadaria. Estava olhando para um enorme campo, com o gramado extremamente verde e brilhante. Um pouco mais adiante começava a Floresta, com suas gigantescas árvores e aparência sombria – embora ainda fosse manhã. Acompanhando os amigos, ele percebeu que a grama era alta e fofa e que as flores que estavam distribuídas irregularmente eram lírios brancos. Ele se largou no meio do gramado, fechando os olhos para o sol forte...

"AI!" – berrou ele, quando um corpo se chocou violentamente com o dele.

O peso sobre ele foi aumentando gradativamente, fazendo com que ele abrisse os olhos – e encontrasse os três amigos em cima dele, rindo abertamente. À medida que ele gritava, foram saindo de cima dele e o ar foi voltando rapidamente aos seus pulmões.

"Eu tinha me esquecido de como era bom ficar assim..." – suspirou Ally, deitada ao seu lado.

Harry fechou os olhos, deixando sua mente o mais vazia que pôde... Se ele estivesse praticando Oclumência, Snape teria ficado muito satisfeito com seu esforço... Talvez Neville tivesse recebido aulas de Oclumência também. Harry estava começando a sentir falta de trocar algumas palavras com o colega – seria interessante saber de sua vida agora. Uma gota fria caiu levemente pelo seu rosto e deslizou até se perder no gramado.

"Não tem graça." – resmungou ele, quando isso se repetiu.

"Ah, não acredito que está chovendo!" – resmungou Rony.

Ele abriu os olhos e se levantou calmamente, enquanto Lowell já ia se encaminhando para as escadas. Voltaram conversando animadamente, procurando se preocupar o menos possível com a chuva, que ia aumentava gradativamente. Chegaram ao Três Vassouras completamente molhados e rindo. Escolheram uma mesa na lateral, que ficava de frente a porta de entrada e próxima a uma roda de garotas da Corvinal. Rony se adiantou em ir buscar as cervejas amanteigadas.

"Espero que essa chuva passe logo..." – suspirou Ally, enquanto Rony voltava com as bebidas.

Harry aceitou a sua de bom grado e tomou um longo gole, olhando fixamente para um ponto qualquer do bar, distraído. Demorou alguns segundos para ele perceber para quem estava ali. Hermione. Os cabelos castanhos estavam presos em uma trança, o rosto estava mais cheio e a pele mais branca do que ele se lembrava, como se ela não tivesse tomado sol por algum tempo. Estava conversando animadamente com Amy, aparentemente em francês – a julgar pelo modo com que seus lábios se moviam e a cara de desentendimento de algumas pessoas que estavam na mesa ao lado. Tenho que falar com a Mione, pensou ele imediatamente, mordendo os lábios, mas a Amy está com ela... Vamos Harry, pense, pense... A carta! Ele tateou os bolsos da calça e a achou, agora ele a estava carregando para onde quer que fosse. Um sorriso vitorioso começou a se espalhar pelos seus lábios.

"Harry, acho que você está bebendo cerveja amanteigada demais." – comentou Lowell, erguendo as sobrancelhas. – "Por que você está rindo sozinho?"

"Nada... Só estava me lembrando de umas coisas."

"Sei..." – murmurou ele em resposta.

Rony agora olhava disfarçadamente por cima de sua cerveja para Hermione, acompanhando-a falar de longe. Harry segurou o riso, começando a pensar em como chegaria para conversar com Mione.

"Ainda não fomos à Dedosmel." – lembrou Ally, consultando o relógio.

"Falta muito tempo para o passeio acabar, podemos ir depois." – disse Lowell, distraído.

"Além do mais, ainda está chovendo um pouco." – concordou Rony.

Ally lançou um olhar aborrecido aos dois, olhando para fora e vendo a chuva diminuir. Amy se levantou, puxando uma sacola da cadeira, sendo acompanhada por Hermione. Rony deu um muxoxo de desaprovação. Harry esperou que as duas tivessem saído do bar para depois segui-las.

"Harry, aonde você vai?" – perguntou Ally, fazendo menção de se levantar também.

"Acho que deixei cair dois galeões do bolso enquanto corríamos." – apressou-se em dizer. – "Já volto."

Deixando os três amigos, ele saiu apressado para fora do bar. A chuva se reduzira a uma leve garoa. Hermione e Amy estavam paradas um pouco mais adianta, conversando rápido em francês...

"Black!"

Amy revirou os olhos, sem desviar a atenção da conversa. Harry parou ao seu lado, chamando-a novamente. Ela não teve como ignora-lo.

"O que você quer, Potter?" – perguntou rispidamente.

Sem pestanejar, Harry tirou a carta do bolso e a estendeu a menina.

"Achei essa carta no Salão Comunal, jogada no chão." – ele respondeu, tentando parecer o mais verdadeiro possível.

Amy puxou a carta violentamente de sua mão e olhou rapidamente o destinatário, antes de erguer os olhos, furiosa – exatamente o que Harry queria.

"Você" – murmurou ela, trêmula e com as bochechas coradas de raiva – "anda interceptando minha correspondência?"

Ele abriu a boca para responder, mas Hermione, que estivera calada até o momento, riu levemente e falou, num inglês carregado.

"Como se chama?"

"Harry Potter." – respondeu ele imediatamente, sorrindo.

"Muito gentil de sua parte devolver a carta da minha amiga."

Amy abriu a boca, provavelmente indignada por ter descoberto a real intenção de Harry em vir fazer esse favor a ela, mas ele não deixou que ela falasse – não queria perder essa oportunidade de falar com Mione.

"E você?"

"Hermione Granger. Então, você está na mesma casa que Amy?"

"Sim." – respondeu ele com orgulho – "Grifinória com certeza é a melhor casa de Hogwarts."

"Não sei... Pelo que andei lendo Corvinal também me parece muito boa."

"Acredite... Se você estudasse lá com certeza estaria na Grifnória." – sorriu Harry.

Amy estreitou os olhos para Harry, mostrando claramente que não estava gostando nada dessa conversa. Mione também devia ter percebido, porque falou logo em seguida.

"Bem, foi um prazer conhece-lo, Harry. Espero encontra-lo numa outra oportunidade."

"Eu também."

Harry estendeu a mão e Mione a apertou, sorrindo. Em seguida, Amy puxou-a em direção a loja de pergaminhos, sem dar importância a chuva que parecia estar aumentando novamente.

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N.A. : Não era minha intenção demorar tanto para postar, eu juro. Eu não gostei muito desse capitulo, mas... Obrigada Lele Black, Gustavo (desculpas pela demora, espero que você continue lendo.. e obrigada pela sugestão), Flávia (gostou? Nossa, que bom nn) e ang. Próximo capítulo, espero não demorar tanto.