CAPÍTULO II –

O teto encantado do Salão Principal reproduzia um céu de um anil translúcido e densamente estrelado. Fez Annie lembrar-se de suas raras brincadeiras na infância, no quintal do casarão em Paris. Balançou a cabeça para espantar as divagações sem sentido, e forçou-se a prestar atenção no discurso do diretor de Hogwarts, Alvo Dumbledore. A longa barba branca agitava-se, presa ao cinto, permitindo que ocasionalmente pudessem ser vistas algumas mechas acaju, que persistiam, apesar da idade do velho.

Boa noite, e, mais uma vez, bem-vindos! Boas vindas aos nossos novos alunos, e aos antigos, um ótimo regresso! É sempre uma alegria muito grande poder vê-los de volta, tão animados e bem-dispostos! – Dumbledore abriu os braços em um gesto acolhedor. A luz das velas dançou em suas vestes azul marinho. Após um grande sorriso, continuou a falar, com voz ressonante – Antes que possamos matar quem nos consome, banqueteando-nos com magnífico cardápio, quero dar alguns avisos, que já são de praxe. Quero avisar que a Floresta Proibida é... hm... – Dumbledore pareceu em dúvida por um momento, pois coçou a barba com displicência, parando de falar.

Proibida? – arriscou Sirius, falando alto. Todas as cabeças do Salão voltaram-se para o rapaz, sentado bem na frente de Annie.

Dumbledore sorriu, seus olhos brilhando atrás dos oclinhos meia-lua.

Obrigado pela ajuda, Sr. Black. Creio que 'proibida' é a palavra correta. Sabem, lembro-me de que no tempo em que eu estudava, era comum que nós...

Prof. Dumbledore, com licença, mas acho que é melhor prosseguirmos... – disse uma mulher de aparência severa, numa voz quase cansada.

Ah, sim, me desculpem. Minhas divagações do tempo de colegial não devem ser do interesse dos senhores. Continuando: a Floresta Proibida é terminantemente proibida para os alunos de todas as casas e todos os anos, - ele lançou um breve olhar na direção dos Marotos - a menos que queiram estar à beira da morte. O nosso zelador, o senhor Argo Filch, me pediu para lembrar-vos de que não são permitidos objetos como bombas de bosta, rojões saltitantes, fresbees dentados e mais cerca de trezentos e quarenta e nove itens de uma extensa lista. Também não é permitido fazer magia ou ensaboar os corredores, como aconteceu ano passado – agora um discreto sorriso apareceu sob as barbas do diretor, que olhou diretamente para Tiago e Sirius.

"Quero avisar-vos ainda que este ano haver�, no lugar do tradicional baile de inverno, um baile medieval, que ocorrerá na véspera de Natal. Serão usados trajes típicos, que poderão com certeza serem encontrados em Hogsmeade. O baile será liberado para os alunos da quarta série em diante, a menos que seu par seja mais novo. Os testes para os times de quadribol serão realizados ao decorrer do primeiro mês do ano letivo, em vista da saída de alguns antigos jogadores dos times. Percebo que estão todos esfomeados, mas não se preocupem, eu ainda vou mudar o horário de meus discursos para o fim do banquete. E agora, um bom apetite à todos! Não se façam de rogados!"

Dumbledore disse algumas palavras sem sentido e, do nada, as travessas de ouro se encheram de comida. O ruído de conversas animadas e muitos risos encheu o salão, tornando a sinfonia de garfos e facas batendo em pratos uma música agradável.

Ahhhh! Bálsamo para minhas feridas! – disse Tiago, com um enorme sorriso por trás da montanha de comida variada que ocupava o prato.

Realmente, os elfos a cada dia se superam! – comentou Remo, observando atentamente as balinhas de hortelã, acrescentadas ao cardápio nesse ano.

Eishoshtábouuumm! – grunhiu Pedro de boca cheia, cuspindo farofa em Alice.

Pettigrew! Será que dava pra manter a comida dentro da boca ou tá difícil? – gritou a menina, passando o guardanapo no rosto.

Pedro corou e deu um sorrisinho sem graça, mostrando os dentes sujos de comida. Alice balançou a cabeça e pediu para que lhe alcançassem as costelas ao molho. Annie levou a mão para pegar a terrina, mas um outro menino, sentado ao lado de Sirius, alcançou-a para Alice. Quando as mãos dos dois se tocaram, o garoto sorriu, e Alice ruborizou e agradeceu.

Ol�, Frank! – cumprimentou Annie, dirigindo-se ao rapaz, que tinha cabelos curtos e castanhos, e belos olhos negros.

Frank, cara! Como eu não tinha te visto aí! E então, beleza? - disse Sirius, entusiasmado, apertando a mão de Frank. Ele sorriu e cumprimentou todos da mesa com um "oi" generalizado.

Cheguei agora, estava resolvendo umas coisas com a McGonagall. – disse Frank, displicente.

Nada grave, eu espero. – pronunciou-se Remo, educadamente.

Frank fez um gesto com a mão.

Não, coisas com as aulas. Nada sério. – ele virou-se para Alice, que parecia beber suas palavras, e comentou – Alice... tá derramando...

Alice pareceu não entender. Apenas murmurou um etéreo "como?", sem desgrudar os olhos dele.

A terrina, Alice, tá derramando. – ele endireitou a travessa nas mãos da garota, sorrindo simpático.

Ela sorriu, sem jeito, e baixou a cabeça. Annie ouviu um ruído de irritação, e voltou-se para o seu lado esquerdo. Lily mirava Tiago com um olhar reprovador, pois o garoto devorava o empadão de rins com uma voracidade inacreditável.

Tomara que se afogue e morra de congestão. – murmurou a ruiva, cruzando os braços.

Um estranho brilho prateado inundou o prato de Tiago, fazendo-o cuspir a comida que tinha na boca e recuar. Por um momento, Ann achou que a praga de Lily fizera efeito, mas, lentamente, uma cabeça apareceu por entre o purê de batatas, e um fantasma emergiu, flutuando pomposamente acima da mesa da Grifinória.

Nick, amigo velho! Como anda essa morte? Tudo em paz? – berrou Tiago, apertando a mão translúcida do fantasma. Na verdade, ele apenas tinha segurado o ar onde deveria estar a mão de Nick Quase Sem Cabeça e agitado entusiasticamente. O fantasma deu um sorrisinho amarelo e lentamente afastou-se do garoto.

Potter! – exclamou Lily

Evans! Como vai? Há quanto tempo! – Tiago virou-se para ela e a abraçou. No segundo seguinte, havia uma jarra de suco de abóbora virada em sua cabeça. – Poxa. Não se pode mais nem cumprimentar as pessoas por aqui.

Potter! Esse seu cabeção respingou suco em mim!

Evans, pra começar, foi você quem me virou a jarra na cabeça. Automaticamente, foi você quem respingou suco em si mesma.

Claro que não! O problema é desse seu cabelo pontudinho que não retém líquidos!

Deixando a discussão entre Lily e Tiago de lado, Annie serviu-se da torta de frango e presunto e voltou-se para Remo, que havia mencionado seu nome.

O que foi, Remo?

Eu e Almofadinhas – ele apontou para Sirius, que sorriu bestamente – estávamos comentando sobre o Baile Medieval. Será bem interessante, não acha?

Realmente diferente! Sabe, eu sempre quis poder viver na Idade Média. Adoro cavalos, e fica meio difícil encontrar um nas ruas hoje em dia. – respondeu Annie, animada.

Mas na Idade Média não existiam banheiros ou, ou hidrantes! – exclamou Sirius.

Hidrantes. Sim, e o quê, me diga, você faz com um hidrante hoje ou em qualquer época? – Annie ergueu uma sobrancelha, parando o garfo a meio caminho da boca.

Sirius pareceu confuso por um instante. Chacoalhou a cabeça e estalou os dedos.

Ora, sabe, onde os cachorros faziam suas necessidades?

Sirius, você não está sendo coerente. – ponderou Remo, segurando o riso.

Annie não se deu esse trabalho: gargalhava com vontade.

Cachorros? Só podia ser! Sabe, e eu achei que você fosse mais inteligente. – riu ela

Ah, o que eu estou querendo dizer, é que não havia grandes avanços de civilização! Nem mesmo as coisas básicas haviam sido inventadas! – disse Sirius, indignado.

Básicas como... hidrantes? – Annie explodiu em nova gargalhada

Ah, que seja. Sabe, o Remo aqui estava pensando em convidar a Braker, sabe?

Sério, Remo? – Annie olhou a mesa da Corvinal, onde Jade Braker estava sentada bebendo suco de abóbora, conversando com algumas garotas. – Pelo que eu conheço da Jade, acho que ela aceitaria. Vocês combinam.

NÃO! SIRIUS É QUE ESTÁ SEND... Você disse que ela aceitaria? – indagou Remo, muito corado.

Annie tomou um gole de suco de abóbora antes de responder.

Olha, eu tenho quase certeza que sim. Vocês dois se dão bem juntos. Hm, são parecidos.

Sim, os dois já inalaram a poeira existente em todos os livros daquela biblioteca. – comentou Sirius

Remo voltou-se para Sirius, ligeiramente irritado. Em seus olhos caramelo brilhava um fogo amarelado.

Almofadinhas, vá molhar um hidrante v�! Ou então vá tomar um banho pra acabar com essas pulgas!

Sirius ergueu as mãos, em sinal de rendição.

Ei, ei, ei, Lobinho! Calma aê! Fica frio, Aluado. Mas você deveria agir logo, se quer realmente convidar a Braker, caso contrário, vai perder a chance de se dar bem com uma garota ao menos uma vez na vida.

Remo bufou e revirou os olhos.

Acaso você já tem um par, hein, Don Juan?

Eu, meu caro Aluado, não preciso me preocupar com isso. Garanto que o colégio inteiro vai me convidar. Só preciso escolher uma.

Sei. – resmungou Remo – Já sabe com quem vai, Annie?

Annie hesitou um instante.

É meio cedo pra pensar nisso, o ano nem começou direito, e depois, eu não sei se vou nesse baile. Não estou a fim de que a cena do ano passado se repita.

Ela ainda lembrava-se bem demais do que acontecera. Ela havia ido ao baile com Amos Diggory, um setimanista da Lufa-lufa, e os dois discutiam em uma mesa, enquanto os outros dançavam. Discutiam porque Diggory tentava convencer Annie a tornar as coisas mais fáceis para o time de quadribol da Lufa-lufa durante a final. Ela estava inconformada, pois o garoto dizia que se ela "gostasse realmente dele, não o humilharia fazendo-o perder o campeonato". Annie era artilheira da Grifinória, e o rendimento do time poderia cair muito se ela resolvesse jogar mal. Ao ouvir tamanho disparate, ela começara a gritar com o lufa-lufa, e este também se exaltara, dirigindo xingamentos um tanto baixos para cima dela. David, que passava por ali, viu toda aquela confusão, e, talvez entendendo, talvez não o motivo da briga, aproveitou para cerrar dois belos socos no maxilar de Diggory, e o arrastou pelo colarinho até lago, onde o atirara com toda a força.

Não era do costume de David usar métodos trouxas para humilhar ou provocar brigas, mas Annie sabia que o irmão fazia isso apenas quando estava bastante irritado. O saldo da surra foi bem desfavorável à Diggory, que acabou ganhando um maxilar deslocado, três dentes quebrados e fundos arranhões por onde fora arrastado até o lago. Tudo isso fora um banho junto com a Lula gigante e a vergonha pública. Depois do incidente (que forneceu uma detenção à David), praticamente todos os garotos de Hogwarts trataram de ficar longe da "irmã do Hells", temendo nova reação violenta por parte do rapaz. Mesmo com todos achando que aquilo fora para protegê-la, Annie sabia que o irmão apenas se vingou do balaço que Diggory havia lhe acertado no jogo Sonserina x Lufa-lufa no último sábado. Ele apenas aproveitou a oportunidade para descontar a fratura no crânio que havia ganho do lufa-lufa.

Annie fora bruscamente tirada de suas lembranças pela voz animada de Sirius.

Ah, pelo menos uma vez na vida o Hells fez algo que preste! Aquele banho no lago foi lindo! Ainda lembro da cara de tacho do Diggory, quando quebrou aquele rostinho delicado! Duas semanas como múmia! H�!

Sirius! David Hells passou dos limites naquele dia, nada justifica uma atitude daquelas... – começou Remo - apesar de que a Lula gigante pondo Diggory de volta na margem pelas cuecas foi realmente uma bela cena.

Humpf! Por causa daquilo eu posso morrer solteira, se depender dos garotos que viram a cena. David conseguiu espantá-los, mesmo que esse não tenha sido o motivo do showzinho.

Ah, Ann, admita que a visão das cuecas molhadas e da falta de dentes do Diggory foi recompensadora! – Sirius deu uma piscadela, segurando a jarra de suco.

Ela deixou os ombros caírem, dando fim à gesticulação que começara pouco antes.

É. Foi. Aquele mané queria que eu facilitasse as coisas pro time da Lufa.

Sirius soltou um rosnado muito parecido com o de um cão. Ouviu-se o ruído dos alunos deixando o Salão Principal; o banquete havia acabado. Sonhando com sua cama macia e quentinha, Ann deu a discussão por encerrada, acenando um "tchau" para todos e subindo até o dormitório feminino da Grifinória, acompanhada por Alice. Lily saiu para mostrar aos alunos calouros a torre, acompanhada de Remo, e lançando olhares fulminantes à Tiago.

Chegaram ao retrato da Mulher Gorda, e disseram a senha "Toupeiras raivosas". O retrato rodou para o lado e as duas garotas puderam passar. Annie subiu quase correndo as escadas do dormitório feminino do sétimo ano, para encontrar lá todos os seus pertences junto da sua cama de dossel. Trocou as vestes de Hogwarts pelo pijama escuro e atirou-se embaixo das cobertas. Já podia sentir os olhos quase fechando-se, ao que uma voz fina e estridente surgiu, acompanhada de uma outra, meio rouca.

Sabe o que eu disse então? – perguntava a voz fina – Esse vestido é o mais brega que eu já vi!

Guinchos, que provavelmente indicavam risadas, e uma falsa risada rouca ecoaram pelo quarto.

Menina! Você jura? Ai, eu também teria dito isso! – dizia a outra voz.

Annie meteu a cabeça para fora do cortinado púrpura.

Ei, será que dá pra calar a boca, vocês duas?

Duas garotas; uma muito alta e magra, com cabelos curtos, loiros e escorridos, e a outra, de cabelos castanhos com mechas loiras visivelmente falsas e a pele morena, pararam indignadas.

Só podia ser você. O que houve, Hells, o bebezinho quer nanar, é? – guinchou a loira.

Na verdade Gilly, estou preocupada que essa sua voz de espírito agourento quebre os vidros, e tenhamos que dormir ao relento. – Ann voltou para dentro do cortinado, não deixando espaço para réplicas. Ainda pôde ouvir os murmúrios raivosos da loira, seguindo até o extremo do quarto.

Panacas – sussurrou Alice.

Tem toda a razão. – Annie adormeceu ao terminar de dizer a última palavra.


- Aaaniiiiie! Acoooooordaaaaaaa! – alguém berrava

Paf! – uma travesseirada acertou a cabeça de Ann com força.

Il aille pour l'enfer! – resmungou a garota, escondendo o rosto com o lençol.

Terra para Annie! Estamos na Inglaterra, portanto, fale Inglês, garota! – dizia Lily

Ótimo, então, vá pro inferno! – berrou Ann, de baixo dos lençóis.

Ei! – fez Alice – Não temos culpa se você não se satisfaz com poucas horas de sono, como todos os mortais! Nós temos aulas agora, e não podemos nos atrasar! – Alice puxou as cobertas de Ann, fazendo-a rolar até o chão.

Mèrde! Não faça mais isso, Alice! – gritou a garota, acertando o travesseiro na amiga.

Alice pegou o travesseiro, jogando-o de volta na cama. Ann sentiu um perfume enjoativo, e logo Gilly e a outra garota passavam por elas, esvoaçando as vestes negras, andando em um passo parecido com o de uma girafa.

Que boca suja, Hells! Totalmente sem educação. A propósito, quando dorme você parece um urso.

Ann sorriu de maneira maléfica, respondendo em voz macia.

E você age como uma galinha. Em tempo integral.

Gilly meramente fez cara de ofendida e saiu batendo a porta. Annie levantou-se do chão e foi tomar um banho, antes de se vestir.

Quando voltou do banheiro, enrolada em uma toalha, Lily e Alice conversavam sentadas em sua cama, já vestidas.

Estou ficando apavorada com os NIEMs – dizia Lily, numa voz sumida.

Você devia é parar de se preocupar tanto, Lílian Evans. – respondeu Annie, vestindo a saia preta e a camisa branca.

Alice concordou com a cabeça.

Se já foi um saco agüentar você no quinto ano, com os NOMs, imagina agora.

Seu cérebro ainda vai fundir e escorrer pelo nariz, quando você espirrar. – Ann notou os olhares estupefatos das outras, e parou seu exercício de tentar calçar as botas segurando-se apenas em um pé. – Que foi? – perguntou, ainda na posição hilária: um pé calçado com a meia branca no chão e o outro erguido no ar, com a bota preta calçada até os tornozelos, equilibrando-se precariamente.

Lily sacudiu a cabeça e Alice ergueu as sobrancelhas.

Nada, nada. Vocês vêm, Annie, Alice?

Calma, peraí.

Ann olhou-se no espelho da grande penteadeira de mogno, prendendo os cabelos no estilo "gatinho", com a parte de cima presa e a de baixo solta. Soprou algumas mechas ondeadas que permaneciam em seu rosto, deu um nó na gravata vermelha e amarela, e virou-se em um saltinho.

"Prontio!" – disse ela – 'Simbora, cambada!

Merlin, que vocabulário. – resmungou a ruiva.

As três desceram a escada em espiral até o Salão Comunal da Grifinória. A sala redonda e grande tinha uns poucos ocupantes àquela hora, entre eles, os quatro Marotos, que desciam a escada do dormitório masculino.

Tiago Potter foi o primeiro a notá-las, e chegou na frente de Lily, passou a mão pelos cabelos negros e colossalmente despenteados, cumprimentando-a cortesmente.

Bom dia, Evans! Dormiu bem? – e acrescentou com um sorriso cafajeste – Sonhou comigo?

Graças a Merlin não tive pesadelos, Potter. – respondeu Lily, friamente, fechando a cara.

Remo cumprimentou-as com um sorriso simpático, parecendo muito pálido e doente, como sempre, e Pettigrew não esboçou reação alguma. Sirius bocejou longamente, esticando os braços de uma maneira perigosa, que fez as pessoas a dois metros dele se distanciarem.

B-bom d-d-diia, garotas! – ele sorriu, sonolento.

Bom dia – responderam as três, em coro.

Annie notou que o garoto parecia ter se vestido dormindo, uma vez que a gola de sua camisa estava amarrotada, e a gravata frouxa. Sem parar para pensar, a menina levou as mãos à camisa dele, arrumando o colarinho e acertando o nó da gravata vermelha e amarela. Sirius apenas olhou para baixo e agradeceu, sorrindo, mas todos os outros olharam a cena com crescente estupefação.

O que estão olhando? – perguntou Sirius, erguendo uma sobrancelha.

Nada, esquece. – murmurou Tiago, arrastando os outros dois para o buraco do retrato.

Annie voltou-se para as amigas, convidando-as a seguirem para o Salão Principal também. Não esperava – e muito menos entendia – as caras de espantadas das duas.

Vocês estão passando bem?

Eu é que pergunto, Ann. – respondeu Lily – O que foi aquilo que acabou de fazer?

O quê? Respirar?

Não! Aquele negócio de arrumar a camisa do Sirius, como se fosse casada com ele! – Alice quase gritou, gesticulando.

Agora quem parecia achar que as duas enlouqueceram era Ann. A menina pôs a mão na testa de Alice, que comentou um tanto exasperada.

Sabe, minha mãe vive fazendo isso nas vestes do meu pai! Isso não se faz, a menos que esteja casada ou namorando o cara, algo assim.

Vocês estão ficando loucas. Apenas vi a gravata desarrumada e quis ajudar meu amigo. Não pensei direito no que estava fazendo, mas, certamente, não sou namorada, muito menos casada com ele. Além disso, Sirius também não pareceu ter visto nada de mais.

Claro, vocês dois são loucos avoados. Ah, querem saber, vamos tomar café. Estou morrendo de fome.

Tudo bem, Lily. – Annie passou pelo buraco do retrato, meio pensativa. As outras duas vinham na sua cola, ainda discutindo o acontecido. Ela não via nada de mais.

No Salão, as longas mesas das quatro casas estavam dispostas como o costume. Na mesa dos professores, o Prof Dumbledore conversava animado com a Prof McGonagall, enquanto o professor de feitiços, Flitwick, estava sentados sobre seus habituais cinco livros, para poder alcançar o tampo da mesa. O anãozinho balançava os pés e parecia comentar algo com os professores Sprout, de Herbologia, e Louis McKinnon, de Defesa Contra as Artes das Trevas.

As meninas sentaram-se em lugares próximos, e logo começaram a conversar. Quando estavam quase acabando de comer, Annie parou sua torrada a meio caminho da boca. Ouviu vozes e risadas, que sabia exatamente a quem pertenciam. Precisava tirar Lily dali.

Lily, você não tem que distribuir os horários de aula, ah, eu acho que tem.

Oh! Droga! Me esqueci, agora sou Monitora-chefe, não é? Vou falar com McGonagall, volto logo. – e saiu apressada da mesa.

Annie olhou para Alice, que parecia entretida demais em uma encantadora e monossilábica (por parte da garota), conversa com Frank Longbottom. Ann levantou-se e se dirigiu à mesa da Sonserina, lugar de onde vinham as vozes exaltadas.

E então, Seboso, como foram as férias? – dizia Tiago

Ora, certamente o Ranhoso aqui fez um grande sucesso no ramo de gordura enlatada! Produziu quantos litros durante essas férias? Hein, Snape? – a voz maldosa de Sirius se fazia ouvir

Sirius e Tiago estavam em pé, as varinhas frouxas nas mãos, e Sirius girava entre os dedos uma varinha extra, estranhamente curta e fina. Na frente deles, um garoto de ombros angulosos, cabelos engraxados e compridos e uma pele macilenta e meio acinzentada parecia imobilizado. Nenhum de seus companheiros de casa parecia disposto a defendê-lo.

Já disse, mas não me importo de repetir, Potter e Black – a voz desagradável dele era pausada, cheia de ódio reprimido – Vocês. Me. Pagam.

Ranhoso! Ainda não desistiu de transformar nossas vidas em um grande balde de sebo? – Sirius tinha um brilho obsessivo nos olhos, e um sorriso doentio estampado no rosto.

Annie tocou o ombro de Tiago, que tinha o mesmo sorriso maníaco para cima de Snape, e murmurou:

Tiago, não é uma boa idéia arranjar encrenca na frente de todos os professores... – ele não parecia se importar, seu olhar maldoso persistia – e, Lily está vindo aí, ela não vai querer ver você azarando o Ranhoso de novo.

O argumento pareceu surtir efeito. O ânimo de Tiago pareceu murchar, e ele olhou para todos os lados do Salão Principal, antes de cochichar algo à Sirius, que teve a mesma reação do amigo: seu sorriso se desfez, e o brilho dos olhos sumiu de repente.

Ok, Ranhoso, nós estamos de bom humor, portanto, você está com sorte. – Tiago deu as costas à Snape, e começou a andar de volta para a mesa da Grifinória.

A propósito, Snape, tome seu palito de dente – Sirius atirou a varinha de volta ao garoto, repetindo o trajeto de Tiago.

Ann meramente lançou um olhar de desprezo ao sonserino e deu as costas. Começou a andar, e a contar baixinho.

Um... dois... tr...! – a mesa da Sonserina explodiu em gargalhadas. Logo o Salão Principal inteiro resolveu rir também.

Annie se virou e apenas lançou uma piscadinha marota para Snape, que ainda não entendia o porquê de todos estarem gargalhando. O fato era que o garoto estava com os cabelos oleosos agora da cor rosa-mais-que-choque, e suas vestes tinham adquirido a textura, forma e transparência de uma camisola de seda. Gargalhando também, ela seguiu seu caminho para a mesa da Grifinória, mas foi interpelada no caminho por alguém que estava provavelmente tentando sufocá-la.

Francesinha! Essa foi incrível! – a voz de Sirius soou muito próxima de seu ouvido, fazendo seus pelinhos da nuca se arrepiarem de uma maneira estranha. Só então é que ela percebeu que a tentativa de sufocamento era um daqueles abraços de urso do maroto.

Uff! E... eu... – estava realmente difícil articular uma frase decente. Não só pela falta de ar, mas também pela proximidade, e pelo calor do corpo de Sirius, que a estava deixando meio entorpecida.

O rapaz largou-a, com um enorme sorriso encantado no rosto. Tiago se aproximou, quase chorando de rir. Tomou fôlego e segurou-a pelos ombros.

Lindo! Ranhosinho ficou tão fofo! – deu um beijo na bochecha dela e recomeçou a gargalhar.

Quando ele vai perceber? – perguntou Sirius, enxugando as lágrimas de riso.

Pelo jeito – Remo apareceu de repente. Ele nunca gostou de se meter nas confusões dos amigos, então preferia se afastar – nunca. Você combinou aqueles dois feitiços, Ann?

Sim, o ilusório e o da ignorância. Só vai descobrir quando contarem pra ele.

Ou seja, - tornou Tiago – NUNCA. Ninguém vai ser louco de não curtir com a cara do Ranhosinho...

O que disse, Potter? – Lílian chegou por trás do maroto, que pulou de susto.

Ah, só que ninguém é louco de não me achar...

Certo, Potter, acho que não quero saber o resto. Seu egocentrismo me enoja – Lily puxou um papel da pilha que carregava – Aqui. Seu horário – empurrou com força para as mãos de Tiago. – Se é que você sabe ler.

Lily distribuiu os horários sob o olhar magoado de Tiago, mas ela não pareceu perceber. Findo os papéis, foi sentar-se ao lado de Jade, na mesa da Corvinal. Annie apenas sorriu diante da gozação que Snape ainda sofria, e foi com ela.

A garota sentou-se do lado esquerdo de Jade, onde havia um lugar vago. Parecia que haviam interrompido a conversa dela com o garoto da frente.

Ol�, Ann, Lily. Esse – ela apontou o rapaz – é Mark Lovegood.

Annie deteu-se na aparência do garoto; certamente ele chamava atenção. Tinha feições bonitas, que seriam quase afeminadas, se não fosse pelo queixo firme. Seus cabelos de um loiro muito claro eram totalmente espetados para cima, com uma impressão de que estavam sempre molhados. Os lábios rubros e cheios permanentemente afastados, e um olhar vago e alheio a tudo pairava sobre os grandes olhos de um azul muito claro. O que acentuava esse olhar vazio eram as sobrancelhas retas, mas que na altura das têmporas faziam uma sensível curva para cima, dando um ar desafiador, inusitado naquele rosto sonhador.

Mark pareceu sair de suas divagações. Mirou as duas grifinórias com um ar levemente interessado.

Olá. Vocês são da Grifinória. – não havia tom interrogativo em sua frase.

Bem, sim. – Lily estava quase desconcertada – Prazer, Mark.

É. Mas estão aqui na Corvinal. Você – ele apontou para Lily – é a Monitora que gosta do Potter.

QUE? – Lily ficou da cor dos cabelos, e arregalou mais ainda os olhos verde esmeralda.

Annie começou a rir, Jade parecia não saber se ria ou se tentava ajudar Lily, que engasgara com o susto.

E você – agora Mark dirigia-se à Ann – foi perseguida pela sua vassoura no jogo contra a Sonserina, ano passado.

Ela parou abruptamente de rir. Olhou para ele com irritação.

EU SEI. Precisa me lembrar disso?

Sim. Aprenda com seus erros. – ele deu de ombros, e sorriu.

Quer dizer que eu preciso aprender a voar?

Quero dizer que você precisa aprender a lançar um feitiço reparador que preste na sua vassoura.

Quero ver você fazer melhor, então, seu corvinal metido à inteligente!

Nah. Não preciso mostrar que sou realmente mais inteligente. O chapéu seletor fez isso.

Annie fez um barulho estranho, algo como uma tosse e um rosnado. Se Jade estava tendo algum avanço em acalmar e desafogar Lily, foi logo interrompida. Ann puxou a mão da ruiva e tirou-a violentamente da mesa da Corvinal. Voltou-se para Mark.

Seu... lunático convencido! – realmente não pôde pensar em nada melhor para dizer.

O rapaz nem ouvia mais. Comia sua torrada despreocupadamente, uma mancha de geléia pintava sua bochecha de roxo.


N/A: É realmente gratificante abrir sua caixa de e-mails e descobrir que ninguém se prestou a comentar sua fic. NÃO. ESTOU SENDO IRÔNICA. Ah, qual é, aposto como teve pelo menos uma viva alma que leu. Não é possível. Dava pra xingar? Ao menos dizer que isso aqui tá uma baita merda? Ahn? ��'

N/A2: Comentei que as atualizações seriam mensais. Mas essa falta de reviews está me desmotivando. Esse capítulo está particularmente sem graça. Obrigada. Aliás, perdoem os erros, não tenho beta. Quem beta as fics aqui é meu alter-ego. Do tipo "Eu e eu mesma". Então... errar é humano, e perdoar é divino. Sejam divinos e perdoem!

N/A3: Que fique claro que estou escrevendo isso pra pura satisfação pessoal. Não espero que vocês gostem. (deu pra ver que estou sendo irônica de novo?)

N/A4: Tchau. Acabou.