CAPÍTULO IV – A Tão Esperada Trégua
'- Agora já CHEGA!
Tiago Potter passava pelo buraco do retrato da Mulher Gorda, com uma cara de dar medo, e parecendo muito careca. Sua pele estava coberta de uma substância azulada e gelatinosa.
'- Pontas, o que voc... – Sirius virou-se para o amigo; abriu a boca e fechou-a novamente. Caiu na risada logo em seguida. – Ah! Pontas, Pontas! A Evans ainda vai te deixar... careca! Há!
'- Feche o bico, Almofadinhas. Mais uma detenção dessas e eu acho que não sobrevivo.
Ann olhou Tiago de cima a baixo. Tentando segurar o riso, comentou.
'- Hm... os casos de calvície começam cedo na sua família, Tiago? Eu não sabia que você estava predestinado a se parecer com um ovo!
'- Annie... você e Sirius têm sua parcela de culpa nisso! Melhoraram da dor de barriga, que misteriosamente atingiu Sirius na cabeça, e você na garganta? – perguntou Tiago, irônico.
Ela calou-se. Sirius fez o mesmo. Pedro Pettigrew engasgara com chocolate, ao rir de Tiago. Remo aproximou-se do amigo, com a varinha em punho.
'- Abaixe a cabeça, Tiago.
O outro obedeceu. Suas orelhas pareciam estranhamente angulosas e destacadas, com a falta de cabelo. Annie notou que até as sobrancelhas finas e curiosamente organizadas de Tiago haviam sumido. Remo murmurou um feitiço, e os cabelos bagunçados e as sobrancelhas de Tiago cresceram novamente.
'- Agora, limpar! – a gelatina azul sumiu. – O que você fez, Pontas?
'- Não fiz nada, Remo! Evans é quem endoidou! Só porque eu estava querendo parar de catalogar aquelas plantas um pouco e conversar! – disse Tiago, indignado.
Haviam passado cerca de duas semanas da noite em que Ann e os amigos resolveram fazer um plano para juntar Lily e Tiago. Desde então, tinham dado jeitos para que os dois ficassem sozinhos em salas, ou então, conseguiam uma detenção coletiva, da qual escapavam, deixando apenas Tiago. Tinham esperanças de que eles começassem a conversar, de maneira civilizada, mas todas as vezes, Tiago voltava com algum tipo de seqüela.
Naquela manhã, Ann e Sirius acabaram soltando os marrecos que seriam usados na aula de Transfiguração. A professora Minerva foi obrigada a paralisar a aula, e os dois deram um jeito de meter Tiago na confusão. Assim, os três ganharam detenção, que teria que ser supervisionada por Lily, uma vez que Remo estaria muito ocupado fazendo sua ronda. Porém, na hora H, Sirius e ela inventaram uma dor de barriga mal planejada, mas que convenceu Lily a deixá-los ir até a ala hospitalar.
Tiago agora se sentava na poltrona em frente à lareira. Remo sentara-se na poltrona ao lado, e Ann dividia o sofá de três lugares com Sirius.
'- Só conversar, Tiago? Por favor! Você tinha que fazer algo idiota, não? – falou Remo, exasperado.
'- Eu juro que era só conversar! A Evans leva as coisas muito a sério. – Tiago estava visivelmente indignado e aborrecido.
Tiago fixou o olhar em algum ponto atrás de Ann. Ela voltou-se. Lily caminhava em direção à lareira, acompanhada de Marlene e Jade.
'- Braker? O que diabos você está fazendo aqui? Se perdeu? Você é da Corvinal!– Pedro estava de boca cheia, mas não se deu o trabalho de engolir para fazer a pergunta.
'- Que agressividade, Pettigrew! Lily me deixou entrar, uma vez que há poucos alunos por aqui, há essa hora. Olá, pessoal! – respondeu Jade, animada; havia tirado a gravata azul e prata, e, sobre o brasão da águia da Corvinal, colara um cartão de Sapo de Chocolate.
Sorrindo, ao ver o quão estranha Jade podia ser, Ann examinou a sala. De fato, havia apenas um pequeno grupo de segundanistas, montando uma pilha de taças de vinho, que, ao serem acordadas, atingiam uma cor avermelhada, e mordiam o que estivesse próximo. Um pouco mais afastados, dois sextanistas beijavam-se em um canto escondido nas sombras, alheios à tudo.
Lily, ao ver o casalzinho, foi até eles, e pigarreou alto. Os dois adolescentes viraram-se, envergonhados. Com um gesto imperativo, Lily fê-los voltarem até seu dormitórios. A garota, de cabelos crespos, até tentou passar despercebida e seguir para o dormitório masculino, mas a Monitora-chefe a agarrou pela blusa e colocou-a no caminho certo. Lily voltou para perto do grupo. Logo, punha a mão na cintura e olhava com desagrado para Tiago.
'- Já voltou de sua ronda, Remo? E a dor de barriga, passou, hein, Ann... Sirius? Potter, achei que havia conseguido arrancar essa mata fechada que cobre sua cabeça, mas pelo jeito me enganei.
Tiago levantou-se. Seus olhos castanho-esverdeados brilharam à meia luz. Ele cerrou os punhos.
'- Não quero mais brigas por hoje, Evans. Antes que eu me esqueça, Sirius e Annie, semana que vem começaremos os testes para arranjarmos o goleiro e o artilheiro que faltam, ok? Então, por obséquio, não me arranjem uma merda de outra detenção.
Tiago subiu as escadas do dormitório sem sequer olhar para trás. Lily o seguiu com o olhar. Parecia querer arrancar a cabeça do garoto. Mais por não saber o que fazer, pegou um tinteiro que estava sobre a mesa e atirou-o com toda a força na parede. A tinta preta imediatamente começou a escorrer, manchando o papel de parede. Lily expirou com força, atirou os cabelos para trás, empinou o nariz, e, também sem olhar para trás, e sem dizer nada, saiu pelo buraco do retrato.
Marlene sentou-se novamente no pufe ao lado das poltronas, e Jade sentou-se confortavelmente no braço da poltrona de Remo. Este ficou imediatamente calado, seus olhos se arregalaram, e ele parou de se mexer. Lentamente, seu rosto, antes pálido, foi adquirindo um intenso tom vermelho.
Ann e Sirius travavam uma espécie de guerra pelo espaço do sofá. Era visível que logo alguém iria parar no chão.
'- Sirius, dá pra deixar de ser espaçoso! Você está ocupando os três lugares!
'- Hey! Quem está me empurrando é você, Francesinha!
'- Quer parar de se mexer? Tira esse braço daí!
'- Espera! Vamos resolver. – Sirius sentou-se no primeiro lugar do sofá, virou-se de costas e apoiou-se em Annie. Jogou as pernas por cima do braço do sofá. Ann resolveu fazer o mesmo; apoiando suas costas nas do garoto.
'- Se der cãibra eu te jogo desse sofá sem qualquer remorso. – avisou ela.
Marlene olhou a briga dos dois com irritação.
'- Será que as senhoritas pararam de disputar o magnífico e raro sofá vermelho? Podemos continuar a discussão?
'- Só depende dela. – Sirius deu de ombros.
'- Ok, sobre o que vocês estavam discutindo, então? Sobre o tinteiro espatifado? – indagou Ann, mirando o filete de tinta, que agora atingia o rodapé.
Marlene revirou os olhos, entediada.
'- Ah, claro, com certeza. Estamos muito preocupados, pois o barulho causado pelo vidro quebrado pode resultar em um superaquecimento da Terra e no derretimento das calotas polares. Talvez todos nós tenhamos nossos ossos pulverizados. Não seja estúpida Ann! – disse a garota, de um fôlego só, num tom sarcástico.
Remo lançou um olhar claramente reprovador à Marlene.
'- Estávamos discutindo o fato de Lily e Tiago não serem capazes de dialogar um com o outro, e terem necessidade de ficar sozinhos após as brigas. Também deixamos claro que o plano não está dando certo, mas, óbvio, McKinnon não podia simplesmente dizer isso, já tinha que partir para a agressividade. Típico dos ignorantes.
Marlene estreitou os lábios. Virou-se lentamente para Remo, e prendeu o olhar dele no dela. Aos poucos, a expressão do garoto se suavizou, e ele tinha um ar vidrado, alheio. Remo começara a se levantar, mas fazia isso com relutância, como se fosse puxado por uma força maior.
'- Lene! – gritou Ann, horrorizada.
Marlene piscou, afastando o olhar. Remo caiu novamente na poltrona. Assustada, Jade ajoelhou-se ao seu lado.
'- Marlene, o que você acha que ia fazer? Está louca? – Jade chacoalhava os ombros de Remo, a visão do rapaz parecia ter entrado em foco novamente.
Subitamente, Annie notou Sirius, que se mexia no sofá. Sentiu a cabeça do garoto, que antes estava apoiada molemente no encosto, chocar-se contra a dela. Ele pareceu acordar.
'- Ahn... perdi alguma coisa? – falou, com voz mole.
Ficou óbvio para Ann que Sirius também teve um lapso de consciência.
'- Nada, Sirius, acho que você cochilou.
Remo arregalou os olhos, ao ver Jade tão próxima dele.
'- Ah, eu... – balbuciou, torcendo as mãos – o que foi?
'- Nada, Remo. Continue. – disse Jade, voltando a se acomodar no braço da poltrona.
Marlene bufou e revirou os olhos. Deixou-se cair no pufe, com os braços cruzados.
'- Claro. Então, está mais que óbvio que teremos que partir para uma outra tática. Talvez – ele fez uma pausa – tenhamos que ter uma conversa esclarecedora com eles.
Fez-se silêncio. Olhares assustados sobre Remo Lupin. Ann abriu a boca.
'- Conversa esclarecedora? – começou ela
'- Quer, dizer, diálogos, palavras, sentimentos envolvidos e revelados? – continuou Sirius, igualmente estupefato.
'- IMPOSSÍVEL! – berrou Marlene. – Lupin, volte à realidade! Uma conversa! Com Tiago e Lily! Você é suicida?
'- Nem todos somos intolerantes e precisamos partir para a ignorância para resolver as coisas, McKinnon. Mas, sim, eu sei que você é uma exceção.
'- Olha aqui, Lupin, eu apenas não tolero perguntas idiotas ou suposições absurdas. Tento manter as coisas em um plano no qual qualquer pessoa dotada de um mínimo de inteligência não se sinta ofendida em participar da conversa. – Marlene obviamente tentava se controlar, apesar de já estar bastante exaltada.
'- Parem de brigar! – disse uma voz imprecisa. Jade cruzara os braços e levantara-se. – Que saco! Remo, não sei o que está acontecendo com você, e Lene, vê se dá um tempo, ok?
Remo recostou-se na cadeira, um semblante soturno. Marlene, numa atitude infantil, mostrou a língua ao garoto.
'- Talvez – continuou Jade – talvez conversar seja uma boa. Vocês, garotos, conversem com Tiago, que nós falamos com Lily.
'- Ah, Jade, eu posso esperar você voltar de lá, sabe, pra te acompanhar até a sua torre. – disse Remo, numa voz baixa e hesitante. – Se você quiser, claro.
'- Ah, eu... quer dizer, não precisa, eu... – rebateu Jade, olhando para o chão.
'- É que eu sou monitor, sabe, então se algum professor visse você comigo, bem, não poderiam, sabe, te dar uma detenção.
Jade sorriu, e fez um gesto afirmativo. Remo corou, Sirius segurou uma risada anasalada, e Marlene revirou os olhos.
O buraco do retrato rodou; Lily e Alice passaram por ele. Lily, meio cabisbaixa demais, apenas ensaiou um "boa noite" para o grupo, e subiu. Alice deu de ombros, subindo atrás da ruiva. Ann levantou-se abruptamente, fazendo Sirius cair no chão com um estrondo e resmungar, indignado.
'- Essa é a nossa deixa! – disse ela, enérgica.
'- Vamos! – emendou Jade.
'- Ao sacrifício... – continuou Lene.
As três saíram em carreira desabalada até o dormitório, sob o olhar espantado de Sirius e Remo. Após quase despencarem da escada, abriram a porta com força.
'- Ah, oi... – disse Lene, baixo para não acordar Gilly e sua amiga.
'- Aqui, garotas. – disse uma voz de dentro de uma das camas de dossel.
Jade afastou as cortinas avermelhadas. Lily e Alice sentavam-se no colchão, de frente uma para a outra. Alice fez um movimento com a varinha, as camas de Ann e Marlene se juntaram à cama de Lily. Acomodando-se dentro do "forte" formado pelas camas, as garotas começaram a conversa já planejada, porém ainda meio hesitantes.
'- Eh, Lil, vem cá, o que Tiago fez na detenção? – perguntou Jade, incerta.
Lily empalideceu. Até suas poucas sardas perto do nariz pareceram sumir. Ela arregalou os olhos amendoados.
'- Ah, ele – balbuciou – você sabe, ele não queria catalogar as plantas, e, meio que... tentou me enrolar, sabe... tipo... conversando coisas fúteis... e, eu sei que ele não tinha boas intenções!
Ann ergueu uma sobrancelha. Olhou para a amiga de um jeito inquiridor.
'- Então, você faz aquele escândalo só porque ele quis conversar?
'- É óbvio que ele não queria só conversar! Tinha algo mais por trás! Não dá pra confiar no Potter!
Marlene perdeu a paciência.
'- Ah, por favor, Lílian, o garoto não é um trasgo, ok? Você poderia dizer exatamente quais as razões pelas quais você... hm... odeia o Tiago Potter?
Lily pegou uma mecha de seu cabelo liso, e começou a enrolá-lo no dedo indicador. Pareceu meio sem-graça.
'- Certo. – disse, um pouco mais confiante – Ele vive azarando os outros pelos corredores. Está sempre metido em confusões. É estúpido e arrogante. Tem um ego maior que a bunda do Hagrid. Se exibe por aí com aquele pomo idiota dele, ou aquela tal vassoura adorada. Sai com milhares de garotas por ano. Faz questão de me aborrecer, me chamando pra sair todo santo dia, e, finalmente, mas não menos importante, ele parece sentir prazer em não pentear os cabelos.
Fez-se silêncio no dormitório feminino da Grifinória.
'- Vamos por partes – sugeriu Ann, ajeitando-se na cama. – Você já viu Tiago azarar alguém esse ano?
'- Bem, não, mas... – começou Lily.
'- Já viu Tiago metido em alguma confusão na qual a culpa foi exclusivamente dele, e não minha, ou do Sirius?
'- Bem, não, mas...
'- Admita que ele está bem menos exibido, parece ter controlado seu ego gigantesco. Você não vê mais o Tiago se gabando para os outros por aí.
'- Bem, não, mas...
'- Desde o ano passado, Tiago só arranjou duas namoradas, e até que foi um namoro firme, nos dois casos. Ou seja, ele deixou de azarar as garotas, e apenas se divertir com elas.
'- Bem, sim, mas...
'- Tiago já te chamou para sair esse ano?
'- Não, só que...
'- Pettigrew sente prazer em não tomar banho. Marlene sente prazer em tomar café frio. Remo sente prazer em respirar a poeira de livros velhos. Sirius sente prazer em manter sua cadeira somente em dois pés. Eu sinto prazer em não vestir o uniforme escolar correto. Jade sente prazer em fazer aquelas experiências loucas dela. Alice sente prazer em observar o Frank. Você sente prazer em combinar a cor da calcinha com a cor da sua camisa. Qual o problema em Tiago sentir prazer em não pentear os cabelos, criatura de Deus?
Lily calou-se. Alice tomou a palavra, num tom conciliador.
'- Lily, Tiago está mudando. Mudando por você. Será que você não pode fazer um esforço para enxergar isso. Admita para si mesma que o ama. Dê uma chance à ele.
'- Quem... quem disse que eu o amo? – perguntou Lily, numa voz sumida.
'- Está escrito na sua testa, Lily querida. – disse Jade, sorrindo maternalmente – Acha que é capaz de aceitar uma trégua?
'- Uma trégua? O que vocês propõem?
'- Tente deixar o velho hábito de discutir com Tiago de lado, e procure vê-lo de outra forma. Como uma pessoa que você acabou de conhecer. Esqueça o passado. Veja o Tiago Potter do presente! Você vai ver como ele pode ser divertido, Lil! – disse Lene, animada.
A ruiva parecia estar travando um violento confronto interno; de um lado, todos os seus princípios, e seu objetivo de vida (odiar o Potter), e, do outro, uma trégua, intimamente sonhada, e talvez uma relação amigável, que era assustadoramente tentadora para Lily. Ela ficou em silêncio por um longo tempo. As garotas quase nem respiravam, olhando-a com avidez.
'- Bem... – disse, finalmente - se Potter se comportar, e colaborar com isso, eu até posso fazer um esforço e dar essa... hm, trégua. Estou cansada de brigar, realmente.
'- Ótimo! – exclamaram as outras quatro, em coro, batendo palmas.
Lily sorriu.
'- Vocês combinaram isso, não foi? – um sorriso maroto formou-se em seus lábios.
"Aviso aos alunos do terceiro ano em diante:
Daqui a duas semanas, no sábado, dia 16 de outubro, será realizada a visita ao povoado de Hogsmeade. Aos alunos do terceiro ano, necessário apresentar autorização.
Atenciosamente,
A monitoria."
'- Aí está. Vamos comer, estou faminta! – Lily desviou o olhar do pergaminho que acabara de fixar no mural do salão comunal.
'- Hm, poderemos comprar as vestes para o Baile Medieval! – disse Alice, animada.
'- Preciso de uma pena nova, e meu estoque de doces acabou. Também preciso de líquido para polimento de vassouras... não sei se terei tempo de comprar vestes. – comentou Ann, com uma careta.
'- Essa é a pior sexta-feira que eu já vi! Sextas-feiras costumavam ser boas! – resmungou Marlene, gesticulando.
'- O que há de errado com essa sexta, Lene?
'- Elementar, minha cara Lily. Aula dupla de Poções, Adivinhação, dois tempos de História da Magia, e, pra coroar, Aritmancia! Claro, não vamos esquecer que a Marlene aqui ainda não vez a redação de Transfiguração, não fez o desenho de Trato das Criaturas Mágicas, e, óbvio, vai passar todo o seu fim de semana de cama, com crise de asma. Não que Lou seja chato, não, adoro meu irmão, mas não é exatamente o que eu tinha programado para meu fim de semana.
'- É... dia desastroso. E está chovendo. – disse Alice, meio deprimida.
'- Nada de ruim na chuva! Eu gosto de chuva!
'- Você é louca, Ann. Pessoas normais não gostam de dias chuvosos. – observou Lene.
'- Bem, acho que não sou normal, então. Eu também adoro o inverno.
'- Gosta de passar frio?
'- Bem, Lil, melhor que passar calor. Gosto de poder me cobrir à noite, e tomar um bom banho quente.
Na verdade, criada no clima frio da França, Annie abominava os verões mormacentos da Inglaterra. Só serviam para que acordasse molhada de suor, e se sentisse indisposta pelo resto do dia. Felizmente, a temporada do calor estava chegando ao fim, e logo o friozinho agradável do outono tomaria conta do castelo de Hogwarts.
As quatro grifinórias sentaram-se à mesa do café da manhã. Alguns lugares à frente estavam os Marotos, fazendo um estardalhaço e gargalhando alto. A trégua de Lily e Tiago estava funcionando muito bem, e os dois haviam discutido apenas uma vez naquela semana. Ann enchia sua xícara com café, Marlene, sentada à sua frente, já devorava sua segunda torrada. Alice foi quase correndo cumprimentar Frank, e Lily pagou à coruja que aterrissara em sua torta de maçã, trazendo o Profeta Diário.
A garota abriu o jornal, e começou a folheá-lo. Não demorou muito, e Ann foi despertada de seus devaneios à respeito do sabor do recheio da torta apetitosa postada à sua esquerda, por uma exclamação de espanto da amiga.
'- O que foi, quem morreu, Lil? – perguntou, divertida.
Lílian a encarou com uma expressão próxima ao assombro.
'- Quinze trouxas e Dories Olivaras. – respondeu, numa voz baixa.
'- Como?
'- Os tais Comensais da Morte, Ann. Atacaram novamente, e mataram quinze trouxas e a filha do senhor Olivaras, da loja de varinhas.
A garota estacou o movimento de mexer o café, e colocou as mãos na cabeça. As coisas estavam piorando. Voldemort voltou com seus ataques, e, ao que parecia, estava tendo sucesso. Só no ano passado, quatro tradicionais famílias bruxas foram totalmente dizimadas, e quase cem trouxas foram mortos, em ataques à cidades ou lutas contra os aurores. Também o Ministério da Magia estava perdendo cada vez mais funcionários; Moody, o chefe da repartição dos Aurores, divulgou publicamente um pedido aos cidadãos, para que se alistassem e tentassem fazer o curso preparatório.
'- Voldemort está pondo suas asinhas de fora novamente... achei que essas emboscadas só fossem acontecer no fim do ano. – respondeu Annie, vagamente.
'- Como assim, você achou? – perguntou Lily, erguendo uma sobrancelha.
Ann olhou para a amiga com olhos desfocados. Numa voz vagarosa e pensativa, respondeu.
'- Esquece-se com quem, e onde moro, Lil?
'- Eh, eu... sinto muito. Esses ataques estão cada vez piores. Me preocupo com o que eles ainda podem fazer. Eles só querem se divertir, ou esses massacres têm algum propósito racional, Ann? – perguntou Lily, mirando o jornal.
'- O massacre aos trouxas, para os Comensais é diversão, mas, para Voldemort, faz parte do grande plano que ele mantém há algum tempo, creio eu. Já os bruxos, são mortos porque representam alguma ameaça, ou então porque algum dia foram úteis, mas deixaram de ser.
'- Não é exatamente um propósito racional. – comentou a ruiva.
'- Eles não agem racionalmente. Não faz parte da natureza desse tipo de gente. – ela jogou os longos cabelos ondeados para trás, afastando-os do rosto.
Lily chacoalhou a cabeça, como que para espantar certos pensamentos. Sem dizer nada, voltou sua atenção novamente para o Profeta Diário, que tinha como capa uma foto do time dos Chudley Cannons.
Annie encontrou com o olhar o irmão, na mesa da Sonserina. David também lia o jornal, e conversava ocasionalmente com Bellatriz Black, sentada ao seu lado. Régulo freqüentemente tocava o ombro da prima, para fazer algum comentário. Bellatriz parecia exultante, assim como o irmão de Sirius, mas David mantinha um olhar cético. Ainda pensativa, Ann pousou a colher de café no prato. Subitamente, sentiu uma respiração compassada à sua direita; virou-se, pois ali deveriam existir alguns lugares vazios. Mas acabou dando de cara com Mark Lovegood, e, um pouco mais adiante, Jade Braker. Ela mirou o rapaz, sua irritação crescendo assustadoramente.
'- O que você está fazendo aqui?
'- Bom dia para você também, Ann. – respondeu Mark, distraído.
'- Ah, com certeza, era um bom dia, até você se abancar por aqui, ô, Cabeça de Agulha!
Mark mexeu seu suco de abóbora com um garfo. Pousou na garota seus olhos estranhamente místicos, emoldurados pelos cílios longos e claros.
'- Os incomodados que se mudem. – respondeu, de maneira calma, com um sorriso no rosto.
Foi a gota d'água. Ela não sabia exatamente o porquê de Mark a irritar tanto, mas era fato que a irritava. Amaldiçoando cada fio daquele cabelo espetado, Ann abriu a boca em indignação, e pousou o garfo e a faca de maneira tão forte nas bordas do prato, que a colher de café dentro deste descreveu um arco de cento e oitenta graus no ar, rodopiou e provavelmente atingiria a cabeça de alguém, na mesa da Lufa- Lufa. Mas a colher fora parada no ar; Marlene levantou-se com agilidade, e, com o corpo descrevendo uma volta graciosa, pegou sem muita dificuldade o utensílio que voava.
'- Hey, McKinnon! – a voz de Tiago Potter foi ouvida.
Marlene virou-se; no segundo seguinte, apoiou o pé no banco, elevou o corpo e aparou com a mão um copo vazio, que havia sido lançado na sua direção. Olhou para Tiago, aborrecida.
'- Potter, você queria quebrar minha cabeça?
Tiago a olhava encantado. Levantou-se vagarosamente, com um enorme sorriso enfeitando-lhe o rosto. Abriu os braços, e disse, muito alegre, sob o olhar curioso dos grifinórios sentados à mesa.
'- Marlene, o que você acha de disputar a vaga para goleiro do time da Grifinória?
N/A: E, pra quem achava que essa fic não ia vingar (eu)... aí está o quarto capítulo:) Ok, ok, eu sei, Lily aceitou a trégua com Tiago relativamente rápido, mas eu não teria bala na agulha pra escrever mais e mais brigas dos dois. Resolvi juntá-los de uma vez.
Aliás, pessoas daí, quero avisá-las que a parte "água com açúcar" da fic termina por aqui. A partir do próximo capítulo, a coisa vai adquirir um aspecto de drama/angústia. Eu tentei, juro que tentei, mas não sei escrever comédia romântica. Além do mais, romancesinhos melosos não são pra mim. Ok? o.O
E aí, gostaram do capítulo? Hm... sei não... Bem, eu estava fazendo as contas hoje, a partir da linha do tempo pra fic que eu montei, e descobri que vai ter cerca de 20 capítulos, mais ou menos. Pra mim conseguir pôr tudo o que eu tenho na cabeça, vai mais ou menos por aí, e ainda a continuação pós-Hogwarts e uma fic isolada, com songs de alguns momentos. É coisa pra caramba, mas um passo de cada vez.
Outra coisa (calma, já tá acabando), vcs acham que a ambientação está ficando exagerada? Do tipo, muita narração e pouco diálogo? Ah, eu tenho necessidade de descrição! Preciso passar ao leitor o que eu imagino na minha cabeça louca! Mas... é ruim?
N/A2: Reviews! Respostas das reviews:)
ArthurCadarn/Lemon: Espera, eu vi direito? Um garoto! Um garoto comentando na minha fic! Ah, entendam a euforia, pq eu acho que pra cada 200 meninas, apenas 1 menino lê/escreve fics! Vc gostou da fic? Cara, valeuzão! Tô continuando! Apareça sempre!
Miri: Obrigada! Que bom que vc gostou! E a Lene e o Remo... hm... veremos, ok? Adoro a Marlene... mas acho que gosto mais do irmão dela...hehe.
Mia Moony: Olá, guria! Olha, vc e a Liz vão ter bem mais motivos pra ficar com ciúme do Remo... vc provavelmente vai querer me matar. Obrigada, sei que sou demais. Hehe, brincadeira. Ah, Mark é meu xodozinho! É tipo, personagem de estimação: vc cria e é só seu. Claro, que o Sirius é apaixonante por natureza e tals... mas não vamos inchar o ego dele, do Remo e do Tiago. A Lily... esquentada sempre... e Ann... parecida comigo (uh!). Que tal pararmos com essa "guerra de reviews", ahn? Hehe.
Então... está aí. Sustento o que eu disse: quem leu e não postou review, que vá à merda (tudo muito respeitosamente, e sem ofensas). As reviews são o único salário de um escritor de fics, e, sem salário, não há trabalho. Ah, um beijão pra quem comentou, ok? Adoro vcs! Até a próxima atualização, que virá... algum dia, provavelmente. Té mais.
