CAPÍTULO V – Embaraçoso...
Por que não paravam de dar almofadadas em seu estômago? Já estava doendo. Aquele espanador de pó no nariz também não ajudava. E o que aconteceu com o racionamento de água? Aquelas fadas mordentes já estavam na bica há horas! Mas os mamutes insistiam em pular do quinto andar, e deixar aquela lanterna irritante em seus olhos. Colocaram um tijolo na almofada e largaram em seu estômago. Não podia respirar...
'- Ufff! Cof! Cof! Afffe!
Ann sentou-se abruptamente na cama. Ouviu um resmungo raivoso e constatou que havia derrubado Órion da sua barriga. O gato agora lançava um olhar de reprovação à dona, se enroscando aos pés da cama. A luz que lhe incomodava os olhos era a luz do luar, que entrava através da janela com as cortinas abertas. Olhou em volta; era cedo, muito cedo. O dormitório ainda estava às escuras, e os objetos não passavam de borrões maciços aos seus olhos. As cortinas da cama de Marlene estavam abertas, e não havia ocupante. Certamente era ela quem estava tomando banho, e daí o barulho de água.
Quando Tiago fizera o convite de Marlene disputar a vaga de goleiro, no dia anterior, a garota hesitara, mas acabou aceitando. E hoje, sábado, seria o dia dos testes. Ann torcia para que a amiga se desse bem, pois ela prometia ser boa, e o time estava precisando de um reforço à altura.
Levantou-se em silêncio, calçando as pantufas, que se assemelhavam a garras negras de um urso, e encaminhou-se até a janela. Abriu-a com cuidado, deixando que a brisa fresca da noite balançasse seus cabelos. Olhou para a lua crescente no céu; a última semana da lua crescente. Uma mão pousou em seu ombro.
'- Nervosa, Lene?
Marlene sorriu, desdenhosa, debruçando-se na janela, ao lado da amiga.
'- Nervosa, eu? Faça-me rir, Ann Hells. Apenas estou preocupada com o fato de que alguma goles ou balaço bem jogados possa me lançar até Marte.
Ann riu baixinho, e mirou Marlene de cima a baixo. De fato, a garota era um bom tanto mais baixa que ela, e também era magra. Certa vez, quando elas estudavam no quinto ano, um garoto nascido trouxa andava para lá e para cá com uma bola de futebol, um jogo trouxa. E eis que esse garoto acaba chutando a bola na direção de Marlene, e acertando a garota nos calcanhares, derrubando-a como a um pino de boliche, de tão leve era a menina. Lene só não fez o menino engolir a bola porque seu irmão, Louis, intercedeu.
'- Ah, sempre há essa possibilidade. Principalmente em um time com o Sirius de batedor. – comentou Ann.
'- Ele é... violento? – perguntou Lene, temerosa.
'- Oh, não. Só... se empolga, às vezes. Principalmente se o jogo é contra a Sonserina.
'- Certo. Que horas são?
Annie virou-se para o estranho relógio de Lily, postado na mesa de cabeceira dela. Era como uma ampulheta, mas havia uma ampulheta menor dentro da maior, e, no bulbo superior, ao invés de areia, estavam pequenos números, que, ao cair para o bulbo inferior, transformavam-se em números maiores. A ampulheta maior marcava quatro horas, e a menor, dezessete minutos.
'- Cedo. – respondeu ela. – Muito cedo. Quatro e dezessete.
Marlene suspirou, olhando as estrelas.
'- Bem, me desculpe se te acordei.
'- Tenho insônia. Eu não iria conseguir dormir mesmo, uma vez que me acordei. Mas me acordei por causa de Órion.
Ann pegou o gato no colo. Este ronronou, baixinho, e fechou os olhos. Contornando com o dedo as pintas brancas nas costas do bichano, Ann sorriu.
'- O que aconteceu? – perguntou Marlene, mantendo-se um pouco afastada do gato.
'- Ele pulou na minha barriga. Deixou-me sem ar. – respondeu Ann, simplesmente. – Você nunca gostou muito de animais, não, Lene?
'- Não que eu não goste. Acho que não me dou muito bem com eles, eles é que não gostam de mim. Mas sempre achei gatos meio traiçoeiros.
'- Gosto desse jeito imprevisível e independente deles. Às vezes, é necessário mesmo entre os humanos ser traiçoeiro. Questão de sobrevivência. – disse Annie, sentando-se na cama.
'- Credo Ann, de vez em quando você fala como uma típica Sonserina.
Ela deu de ombros.
'- Não é como se eu tivesse pensado antes de dizer isso. Acho que, por vezes, o sangue fala mais alto. Bem, já que não vou mais dormir, vou descer até o Salão Comunal.
'- Ahhn... vai, vai, porque eu preciso ir ao banheiro, sabe... dor de barriga. Eu não devia ter comido aquele empadão. – Lene curvou-se, as mãos sobre a barriga, e saiu andando engraçado até o banheiro.
Annie balançou a cabeça e desceu as escadas. Subitamente, sentiu frio, mas contando com a lareira acesa aquecendo a sala, não voltou para pegar um agasalho, desceu apenas com seu pijama branco, de mangas longas e um morcego estilizado bordado no peito. A calça larga cobria a parte de trás das pantufas, arrastando no chão.
Esperava que a sala estivesse deserta àquela hora, mas teve uma surpresa ao chegar no fim da escada. Alguém já havia acendido a lareira, e ela reconhecia perfeitamente bem aqueles cabelos lisos e tão negros, que chegavam a ser azulados. Pensou em subir sorrateiramente de volta ao dormitório, mas a voz de Sirius soou de trás do sofá.
'- Sem sono, Ann?
Ela estacou, uma das mãos ainda no corrimão de mogno.
'- Como sabe que sou eu, Sirius?
'- Quem mais anda de pantufas por aqui? E seus passos leves fazem pouco barulho, mas não acredito que alguém mais da torre lave os cabelos com xampu de guaraná, e use sabonete de camomila.
Ela andou até o sofá de três lugares, pondo-se de frente à Sirius. O rapaz estava com um pijama azul escuro, cujos quatro primeiros botões da camisa estavam abertos, deixando à vista uma parte da pele clara do peito. Como sempre, ocupava o sofá inteiro, deitado preguiçosamente sobre o tecido vermelho.
'- Cruzes, você é vidente, ou coisa parecida? – perguntou Ann.
'- Não sou vidente, nem "coisa parecida". Somente tenho um bom faro, e também bons ouvidos. A propósito, nada de errado com seu sabonete e xampu. Perfume suave e agradável, mas contrastante, uma vez que guaraná é estimulante e camomila, calmante.
Ela apenas levantou uma sobrancelha, indo se sentar na poltrona mais próxima, porém, mais distante da lareira acesa. Sentou-se na pontinha, encolhendo-se de frio. Sirius a observou, divertido.
'- Com frio? – perguntou.
'- Imagina. Estou vendo qual o menor volume que meu corpo pode atingir sem que meus ossos quebrem. – respondeu ela, sarcástica.
'- Certo, e, por que não se senta aqui? É mais próximo do fogo, obviamente, mais quente. – sugeriu Sirius, erguendo-se no sofá, e abrindo espaço para ela.
Ann hesitou por um momento, mas o frio congelante atingiu seus ossos, e ela acabou cedendo. Sentou-se de boa vontade no espaço aberto, ainda quente do calor do corpo do garoto.
'- Lendo? – Ann apontou o livro nas mãos dele.
'- Oh, não. Estou vendo se os pauzinhos do código de barra são proporcionais. – respondeu ele, no mesmo tom que ela usara anteriormente. – Bem, sim, estou lendo.
'- O que é?
Ele virou o livro nas mãos, uma expressão concentrada franzia sua testa.
'- Acho... bem, acho que é um livro... mas, claro, talvez eu esteja enganado. Pode ser um pingüim. – disse o garoto, rindo.
Ann cruzou os braços.
'- Você pode ser bem retardado, às vezes. Perguntei o título do livro.
'- É. Eu sei. Chama-se "Dom Quixote". Literatura trouxa. – informou Sirius.
'- Miguel de Cervantes? – indagou Ann
'- Conhece?
Ela deu de ombros.
'- Lily tem esse livro, mas nunca passei da página cinco. Prefiro a coleção de Sherlock Holmes que ela tem. Já li quase todos.
'- Sobre o que são as histórias? – Sirius ajeitou-se no sofá, mirando a amiga.
'- Bem, o escritor é Arthur Conan Doyle, e são histórias de detetive, o famoso Sherlock Holmes. Boas histórias, bem envolventes. Mas eu não sabia que você conhecia literatura trouxa, Sirius!
Ele sorriu, conformado.
'- Remo está nos instigando a ter uma vida intelectual ativa.
Annie e Sirius conversaram ainda por um bom tempo. Talvez mais rindo que conversando, mas é fato que, aos poucos, as pálpebras da garota foram pesando, e o fogo da lareira tornando-se um borrão disforme e brilhante em seus olhos. Já não estava tão frio, e ela estava confortável naquele sofá. Sirius falava baixo, e o sussurro de sua voz forte foi misturando-se com seus pensamentos, até que Ann não pôde distinguir o que estava ouvido do que pensava. Lentamente, sua cabeça pendeu para o lado, encontrando apoio.
'- Ah, olha que bonitinho!
'- Bonitinho? Bonitinho? Sabe, não me importa se é bonitinho ou não, nós temos treino agora!
'- Deixa, vai! Está tão meigo!
Eram as vozes de Remo e Tiago... o que diabos os dois estariam fazendo no dormitório feminino? Pelo que ela se lembrava, a janela não deixava meninos entrarem... ou era a lareira? Não, espera... a escada! Claro, a escada não deixava meninos entrarem. E do que estavam falando? Ann não se deu o trabalho de abrir os olhos: sua cama estava tão quente.
'- O que está acontecendo aqui? – uma voz mais longínqua foi ouvida.
'- Isso, Lily, isso! Olha!
'- Ah, Tiago! Que fofo!
'- A coisa fofa pode atrasar nosso treino de quadribol!
Ah, sim. Eles tinham treino de quadribol hoje. Eram os testes? Talvez. Mas... não haviam sido ontem? Sua mente estava meio entorpecida pelo sono, mas ela ainda se recusava a abrir os olhos. Era impressão sua ou o espaço da sua cama estava reduzido? Tinha que tirar Órion de cima de seu ombro... gato louco. O lugar que escolheu pra dormir. Mas ela estava com preguiça de se mexer, e, agora, uma outra voz feminina entrava na confusão.
'- Mas que d... Uau! Alguém tem uma máquina fotográfica?
'- Fala baixo, Lene!
'- Olha, ele está sorrindo!
'- Remo, pode me soltar?
'- Ah, Tiago! Você vai estragar o momento!
'- Momento? Olha, um atraso não é nada bom para o time! Se fosse em outra ocasião, tudo bem, mas são o meu batedore a minha artilheira que estão...
Do que Tiago estava falando? Finalmente, a curiosidade venceu, e vagarosamente, Annie abriu os olhos. Diferente do que esperava, não viu a o tecido cinzento da fronha de seu travesseiro. Aliás, era impressão sua, ou seu travesseiro estava se movendo lentamente, de cima para baixo? Ela foi movendo a cabeça, aos poucos, algo que se parecia com uma pele clara foi entrando em seu campo de visão. Um, dois, três, quatro botões transparentes e abertos. Onde acabava a gola escancarada de uma camisa, começava um pescoço, e, subindo um pouco mais a vista, ela pôde constatar que o corpo pertencia (oh, Deus!) à Sirius Black.
Ele tinha a cabeça suavemente inclinada para frente, o que a fez pensar que antes ele se apoiava na cabeça dela. As linhas regulares de seu maxilar estavam relaxadas, e a boca entreaberta, deixando à vista os dentes retos e brancos, até os caninos estranhamente afiados e pronunciados, atípicos dos humanos, pressionando os lábios suaves. Alguns fios do cabelo negro, sem um corte definido estavam sobre o nariz reto, e as pálpebras cerradas escondiam o índigo translúcido de seus olhos. Um sensível sombreado lhe tomava a face, resultado de uma barba precoce crescida durante a noite. Ann admirou-se de conseguir ter notado tantos detalhes nos poucos segundos que ficou a olhar o rapaz.
Mas, seu estado de desespero aumentou ao perceber sua posição: deitada sobre o peito de Sirius, cuja mão esquerda pousava em seu ombro, e o braço direito apoiava a cabeça. Estavam deitados no sofá vermelho do Salão Comunal, com o que parecia uma audiência a olhá-los. Tiago, Remo, Lily, Marlene e Alice tinham expressões distintas na face; Tiago era contido por Remo, e parecia impaciente, Lily, e Alice obviamente achavam tudo aquilo muito lindo e engraçado, e Marlene, estava quase gargalhando. O que mais a incomodava era o sorrisinho insinuante de Remo.
Annie ouviu um pequeno gemido, e a mão de Sirius escorregou de seu ombro para a cintura. Ela arregalou os olhos, ainda atordoada e sonolenta, mas logo o rapaz também acordou, parecendo igualmente confuso. Passou uma mão pelos cabelos, e olhou em volta. Pousou os olhos em Ann, que tentava sem muito sucesso desenroscar-se dele.
'- Eu... perdi alguma coisa? – perguntou, com voz incerta.
'- Bem – tartamudeou Ann – acho que acabamos cochilando por aqui.
Ela ouviu um claro "Oooohn!" vindo de Lily, e lançou-lhe um olhar mortífero. Sirius livrara sua cintura, e ela pôde levantar.
'- Vocês podiam ter escolhido um dia melhor para "cochilar" e perder a hora, hein? Temos os testes para o time... agora! – disse Tiago, irritado.
'- Gaaahh! Os testes! Atrasados! Estamos atrasados! – subitamente, Ann notou o que já deveria ter feito, e subiu correndo as escadas para o dormitório, seguida pelas outras garotas.
'- Vem cá, Ann, o que aconteceu mesmo ali em baixo, han? – indagou Lily, desviando-se de uma meia.
Annie revirava seu malão, atirando as roupas para cima, em busca do uniforme de quadribol.
'- Oh, mèrde! Oui, oui, ond... o que? Nada, Lily, não aconteceu nada! Eu e Sirius conversávamos, e acho que cochilamos, apenas isso, certo? Dei sorte de ninguém ser louco de acordar tão cedo num sábado, então só vocês viram a... han... embaraçosa cena.
'- Nesse ponto você tem razão. E por que vocês conversavam àquela hora da madrugada?
'- Não sei, perdi o sono, e Marlene achou o caminho para o troninho do banheiro. Então desci. Mèrde, mèrde! Stupide!
Ela praticamente cavava um buraco entre as roupas, atirando tudo ao alto. Parou por um momento, ali estava uma roupa que não era sua. Ergueu um suéter de lã preto e uma calça jeans azul escura. Logo compreendeu que o estúpido elfo doméstico míope devia ter posto as roupas de David por acaso, no malão dela. Daria um jeito de devolver depois. Jogou também aquelas roupas para trás de si mesma, até encontrar o que queria.
'- Voilà! – gritou, triunfante.
Minutos depois, elas desciam para um salão comunal deserto, a caminho do salão principal. Ann já ia vestida com o uniforme, mas Marlene teria de encontrar algum que lhe servisse no vestiário. A garota recriminou-se em pensamento o caminho inteiro, por ter adormecido, e ainda, acordado deitada junto de Sirius Black. Fora realmente estúpida, e agora estava realmente embaraçada. Mas teria de encará-lo, cedo ou tarde.
'- Belo dia, não, garotas?
Annie virou-se em tempo de ver Lene ser puxada pelo irmão para um grande abraço.
'- Hey, Lou, caiu da cama? – perguntou Alice, rindo das tentativas de Marlene de se desembaraçar do irmão.
'- Ora, eu precisava ver os testes da minha irmãzinha! – disse ele, animado, mas acrescentou em tom pretensamente despreocupado – Principalmente quando ela já deveria estar de cama.
'- Não esquenta, Lou. Vai ficar tudo bem, Lene faz os testes, e depois você leva ela. Não vai acontecer nada. – argumentou Lily.
'- Claro! – reforçou Lene – Já sou grandinha, mano, sei me cuidar. E você sabe que eu já venho... sentindo o que vai acontecer um pouco antes de acontecer. Ou seja, desencana.
'- Bem, Lene, grandinha acho que você nunca será – rebateu ele, rindo após levar um quase chute da irmã – Mas talvez saiba se cuidar. E o que aconteceu com a Senhorita Bom Humor, que hoje está tão calada?
Louis jogou o braço por sobre os ombros de Ann, como fazia com Marlene. Saíram do Salão Principal vazio para um dia ensolarado que mal começara.
'- Nada não, eu só...
'- Ela está tentando processar os acontecimentos da noite. – intrometeu-se Lene, no que Ann soltou um gemido de sofrimento.
'- Sabe, o de acordar ao lado de Sirius Black – ajuntou Alice.
Louis agora parecia dividido entre a curiosidade e a preocupação.
'- O que querem dizer?
'- Eu e Sirius estávamos conversando quando adormecemos no sofá e só acordamos hoje de manhã. Apenas isso.
O professor surpreendeu-se, mas depois sorriu.
'- Certo, se foi apenas isso. Mas eu gostaria de ter visto a cena!
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Ann e Marlene foram até o vestiário, enquanto Louis e as garotas sentavam-se na arquibancada. Lene conseguiu achar um uniforme que não lhe sobrasse trinta centímetros de barra, e agora elas já estavam em campo, onde o time e os outros candidatos já se preparavam para começar os testes.
A garota receou em encontrar Sirius, achando que ficaria enrolada, sem saber o que dizer, ou talvez que tivesse de pedir desculpas. Porém, ao vê-lo se comportando tão naturalmente quanto antes, sentiu-se à vontade para fazer o mesmo.
'- Ótimo, Garish, pode descer. Agora você, Marlene, quero que voe e defenda as goles que Annie, Dereck e Kirstye lhe mandarem, ok? – gritou Tiago, sinalizando com os braços abertos.
Os testes para batedor do time já haviam sido realizados, e os cinco candidatos não foram tão mal. De fato, parecia a Ann que Bones saíra-se muito bem. Dois goleiros já tiveram sua chance, mas defenderam cerca de cinqüenta a setenta por cento das goles mandadas.
'- Eu sei o que um goleiro tem que fazer, Senhor Capitão. – rebateu a garota, alçando vôo.
Marlene, após pegar o jeito com a velha vassoura Winlance do colégio, acabou se saindo muito bem: defendeu de oitenta a noventa por cento das bolas lançadas pelos artilheiros.
'- É a última agora, capricha, Dereck! – Tiago voava perto deles, para acompanhar o desempenho de Marlene.
Dereck Hanson preparou-se para lançar a bola, mas parou a meio caminho: Lene estava estática, sua vassoura gradativamente perdendo altitude. Ela tinha a boca aberta, e tremia visivelmente. Fechou os olhos com força, segurando um grito. Despencou da vassoura, mas sua velocidade diminuiu cerca de um metro antes de bater no chão, portanto não machucou-se na queda. Louis veio correndo até o campo, a capa enfurnando-se às suas costas. Lily e Alice vinham um pouco atrás. Guardou a varinha: óbvio que fora ele quem fizera Marlene desacelerar. Ele ajoelhou-se ao lado da irmã, murmurando palavras em uma língua estranha, mas que lhe pareciam ter sentido. Lene ainda estava desacordada, e formou-se uma pequena aglomeração em torno dela.
O professor pegou a garota no colo, e murmurou num tom urgente.
'- Vocês, meninas, quero que fiquem aqui. Ela vai ficar bem. Fiquem aqui, por favor.
Num passo acelerado, foi até o castelo. Quando viram sua silhueta tornar-se um mero borrão escuro, Tiago e Sirius lotaram-nas de perguntas.
'- O que aconteceu?
'- Ela morreu?
'- Por que o desmaio?
'- Ela não vai poder jogar?
'- N...
'- Cala a boca, Tiago! – Lily estressou-se. – E você também, Sirius. Chega de perguntas, certo?
Tiago abriu os braços, indignado.
'- Lily! É a minha goleira que caiu de quase vinte metros! Nosso time não pode ficar desfalcado!
Alice ergueu uma sobrancelha.
'- Sua goleira? Quer dizer que Lene já foi escolhida para fazer parte do time? – ela deu um pequeno pulinho – Ah, eu preciso contar isso pra ela quando ela acordar!
'- Partindo do pressuposto de que ela vai acordar, claro. – comentou Sirius, displicente.
'- Sirius! – repreendeu Annie
'- Sim, Ann? – disse ele, inocentemente.
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Após Tiago anunciar aos candidatos que o batedor, Edgar Bones e a goleira, Marlene McKinnon, já haviam sido escolhidos, ele, Sirius, as garotas, mais Remo e Pedro, que juntaram-se ao grupo já às portas do castelo, seguiram para o Salão Comunal, a fim de tomar café da manhã.
'- Ow, Pontas, agora são só oito horas da manhã! Iniciar os testes às seis? Você não tem coração? – perguntou Sirius, bocejando escandalosamente.
'- Pontas virou um cara responsável e aplicado só no ano passado, quando virou capitão do time. Pena que seja apenas na área esportiva. – comentou Remo, num tom leve.
As garotas sentaram-se à mesa ansiosas por notícias da amiga, mas não podiam tocar no assunto perto dos Marotos. Lily então logo se enfiou atrás do seu exemplar do Profeta Diário, que acabara de ser entregue pela habitual coruja-das-torres. Minutos depois, Jade juntava-se à elas, acabando por trazer junto Mark Lovegood. Annie logo ficou de mau humor, não só pela aparição de Mark, mas também por lembrar que teria que aturá-lo durante as aulas de Herbologia e Adivinhação durante aquele dia também.
'- A amiga de vocês não vai ficar na Ala Hospitalar. – afirmou o garoto.
Um pouco surpresa, Ann retrucou.
'- E o que você tem a ver com isso?
'- Bem, não. – continuou ele, agindo como se Ann não tivesse dito coisa alguma – O Prof. McKinnon não seria irresponsável. Jade, você achou aquele botão que estava procurando?
Jade balançou afirmativamente a cabeça, e colocou sobre a mesa um botão grande e escuro, do tamanho de um galeão, parecendo de madeira. Logo depois, pegou dois palitos de dente e inseriu nos buracos por onde deveriam estar passando a linha de costura. Mark sorriu em afirmação.
'- Sim, tenho certeza que assim funcionará.
Antes que Annie pudesse perguntar que maluquice toda era aquela, sua atenção foi voltada para Lily, que dera um gritinho agudo e fechara rapidamente o jornal.
'- O que aconteceu, Lil?
Ela tentava esconder o jornal entre as vestes, mas mantinha involuntariamente os olhos arregalados.
'- Nada. Absolutamente nada. Me queimei com o café.
'- Lily, você está bebendo suco de abóbora. Gelado. O que tem nesse jornal? – Ann tentou alcançar o jornal.
'- Olha, eu acho que não é uma boa idéia, sabe, você não... – a ruiva ainda tentava a todo custo tirar o Profeta do alcance da amiga, mas a voz severa de Minerva McGonagall as interrompeu.
'- Senhorita Hells? Pode me acompanhar, por favor? – a professora a olhava do alto dos óculos quadrados, e mantinha uma mão em seu ombro.
'- Ah, os marrecos! Não professora, eu sei que não cumpri a detenção, mas foi dor de barriga, entende, eu não ia querer fic...
A professora interrompeu seu discurso de desculpas esfarrapadas.
'- Não é isso, Hells. Apenas me acompanhe até a sala do diretor, sim?
Ainda atordoada, e agora curiosa, ela seguiu a professora até as portas do Salão, onde, para a sua surpresa, estava seu irmão, encostado à parede, em toda a sua arrogância. Olhou-a e ergueu uma sobrancelha, o que vindo dele era um claro sinal de curiosidade controlada.
'- Por aqui. O Prof. Dumbledore tem algo para conversar com vocês, apesar de que eu não sei se já sabem ou não. – informou a Prof. Minerva, mas, pela cara que Dave fizera, obviamente ele sabia tanto do assunto quanto Annie.
Ao pararem nas gárgulas que guardavam a sala de Dumbledore, a professora hesitou em dizer a senha, claramente embaraçada.
'- Bunda de trasgo. – disse finalmente, numa voz relutante.
Ann reprimiu uma risada. As gárgulas moveram-se para o lado, deixando a mostra uma escada em espiral, que permanecia em movimento para cima. Ao pisarem o primeiro degrau, a passagem atrás deles fechou-se, e logo viam-se em frente a uma lustrosa porta de carvalho. McGonagall bateu duas vezes com os nós dos dedos, e, sem esperar resposta, abriu a porta, deixando que os dois entrassem no escritório de Dumbledore.
Annie já havia vindo ali duas ou três vezes antes, mas a grande sala sempre parecia ter algo novo para ser observado. O que ela mais gostava ali era Fawkes, a fênix, que hoje estava adulta, e balançava as asas em todo seu esplendor.
'- Obrigado, Minerva. Por favor, senhores, sentem-se.
Dumbledore estava sentado à mesa, mas levantara-se para recebê-los. Agora juntava a ponta dos longos dedos, numa expressão compenetrada. David sentou-se com visível relutância, e encarava o diretor com desprezo. Balançava rapidamente a perna esquerda, num gesto de impaciência. Ann conhecia bem as manias do irmão, por vê-las em si mesma. Controlando a própria perna, que sem que ela percebesse já se mexia, ela também observou Dumbledore. Os olhos muito azuis do diretor passeavam de um para outro, por sobre os óculos pequenos. Finalmente falou.
'- Pelas suas expressões surpresas, devo acreditar que ainda não sabe de nada do que aconteceu. Deduzo então que é melhor eu contar logo o que aconteceu. – ele fez uma pausa, como se buscasse um jeito de melhor falar – O casarão dos Hells em Paris sofreu um ataque hoje. A mansão ainda está em pé mas...
Annie entendeu o porquê de Lílian não querer deixá-la ver o maldito jornal. A amiga talvez quisesse poupá-la, ou contar a ela de outra forma, mas agora não importava. Dumbledore retomou a palavra, agora em uma voz incisiva, porém gentil.
'- Sinto informá-los, mas seu pai, John Hells, está morto.
N/A: Querem um conselho: preparem a arca, vai acontecer um dilúvio. Eu atualizei em uma semana! OOOOHHH! Mas, falando sério, o que acontece é que a semana de provas acabou, e o bimestre foi oficialmente encerrado, o que indica que terei mais tempo para a fic.
É, eu sei que disse que teria drama/angst nesse capítulo, mas não foi o que aconteceu. Na verdade, esse capítulo nem estava nos meus planos, mas fluiu com uma facilidade tão grande que seria um insulto a mim mesma não postá-lo. Sei que está bem babaca, mas... O que eu sei é que o drama vai acontecer a partir dessa última frase desse capítulo.
Oh, claro, a senha da sala de Dumbledore, "Bunda de Trasgo", eu vi numa fic, não lembro o nome e não lembro o autor. Quem souber, diga-me, para que eu possa dar os devidos créditos.
N/A2: A questão das reviews. Eu sei que pode parecer chato ficar pedindo que vcs revisem. Mas, entendam o que as reviews significam para mim: consideração. Sabem, eu não peço reviews só por pedir. Eu quero sugestões, críticas, idéias e opiniões. Até mesmo elogios, pq não? Mas se a pessoa comenta, é pq a fic, de alguma maneira, interessou a ela. Essa pessoa não ficou simplesmente indiferente. Pode ter ficado encantada, incrédula ou até revoltada. E é aí que nós, escritores, atingimos nosso objetivo. Agora, os agradecimentos à galerinha maneira que revisou:
Silverghost: Ah, meu Eru! Eu quase tive um ataque! Sério! Vc deve saber que é uma das maiores "fanfiqueiras" ou melhor, ficwriter daqui do Fanfiction, não? Olha, foi Hades (junto com as fics da Manza), que me incentivou a escrever tb! Saber que vc pode pegar pequenas informações e idéias, e transformá-las em algo grande, é incrível.
Obrigada pelos elogios! E o Mark vai aparecer bastante ainda... ele vai meio que fazer parte da turminha principal. E Tiago e Lily ainda vão demorar pra começarem a namorar... muita água vai rolar por debaixo da ponte... Tentarei atualizar depressa, ok?
Mylla Evans: Oh, a quantia que eu ri com o "jeito psicopata do Mark"! hauehaeuh! Mas vc tem razão... ele é meio... psicopata... ehehe. "Gradicida" pelos elogios! E o Remo... é enrolado mesmo... mas ele vai se ajeitar, pode deixar. Tentarei colocar mais a Alice e o Frank juntos, ok? hehe. Talvez role alguma eleição pra ele participar... ah, besteira minha. Aqui está o capítulo!
THATINHA POTTER: Sabe, eu não imagino a Lily jogando quadribol não... não sei pq. Mas, não se preocupe, vai ter algo bem escandaloso nesse pedido de namoro, pode deixar. Olha, vou ficar te devendo a explicação do cadastro... isso pq eu fiz tudo meio às pressas, e não lembro dos passos... só o que eu lembro é que a gente tem que esperar algum tempo após feito o cadastro para poder postar. São três dias, eu acho. E a seção publicidade estará ali embaixo, ok? ;)
Mia Moony: Oh, cara, vc tá inchando meu ego. Sério. Mas... continua, eu gosto! Hehe. Sim, vc vai sofrer. Seu Reminho vai dar o que falar. A Lene... hm... vc vai descobrir... cedo ou tarde, isso eu garanto. Mas eu achei que vc já tinha uma pista. Sou sociável? E a Ann não é? Hm... tenho que trabalhar isso. Sim, 20 caps. E agora eu não desisto de escrever isso nem que me paguem! Acho que a Luana não leu a minha fic não... E em quem vc acha que eu me inspirei pra fazer a Lene, hein? Acho até que vc vai se reconhecer em uma situação desse capítulo. E vai querer me matar.
Fica triste com a falta de reviews não, miga! Sua fic tá legal! Vou passar nela hoje, beleza?
ArthurCadarn/Lemon: Eu tb adoro fics T/L! A gente tem mais... liberdade com eles. Mas, cara, eu passei na sua fic! Tá super legal, quando vc vai atualizar, hein? Tô curiosa pra saber o que vai acontecer! E vc tem talento sim! E a action T/L só vai rolar daqui a algum tempo... Tiago tem que aprender a se comportar, antes! ;)
Cristina Melx: Puxa, valews! Dave? Irresistível? Hm... ok, não posso dizer que não gosto dele. E não vou desistir de escrever isso aqui mesmo! Principalmente pq eu já tenho até a última frase do último capítulo na minha cabeça... agora é só passar pro pc (a parte difícil).
Sabem, acho que esse negócio de mandar todo mundo à merda está funcionando. Como disse a Mylla, poupem uma viagem à merda, certo? Heheheh. Um beijo pra quem comentou!
N/A3: Ah, agora, o Momento Outdoor da fic Exceção às Regras!
Pessoalzinho, passem na fic da minha miga Mia Moony! É T/L, mas tb vista por uma amiga da Lily. Tá bem maneira, e ela tá se esforçando pacas pra escrever. Ela atualiza quase que semanalmente! Ora, hoje, aqui na minha, foi uma exceção, não se acostumem! Mas, passem lá, ok? É uma sugestão. O nome da fic é Liz Hollowe.
E, a THATINHA POTTER tá procurando alguém pra fazer uma fic T/L. Quem quiser fazer parceria com ela, o e-mail tá na review que ela deixou aqui, ok?
Eu fico por aqui, até a próxima atualização! Não contem que será semana que vem, ok? he. Adiós, muchachos!
