CAPÍTULO XII – Confusão de sentimentos
'- Vocês tomam nota das matérias para mim, então? Não quero sair prejudicado nos NIEMs, e aulas perdidas não vão me ajudar nisso. – dizia Remo Lupin para Sirius e Tiago.
Já estava na hora do treino de quadribol, e Remo falava-lhes na beirada do campo. Ann e Lene aproximaram-se.
'- Ué... não vai à aula, Remo? – perguntou Ann.
Remo pareceu embaraçado. Foi Tiago quem respondeu.
'- Bem, Remo vai faltar essa semana, porque, hm, uma tia dele morreu.
'- De novo? – perguntou Lene, erguendo as sobrancelhas.
'- De novo o que? – disse Remo, meio agressivo.
A garota cruzou os braços, acabando por abraçar sua vassoura.
'- Sua tia morreu de novo? Ela não havia morrido direito ou todos na sua família ressuscitam? Que não seja isso, pois a humanidade sofreria com você ressuscitando a toda hora, Lupin.
'- Não é da sua conta, McKinnon.
'- Também não era da sua conta saber onde estive no primeiro dia do ano letivo. Você é adepto da política "Faça o que eu digo, não faça o que eu faço."?
Sirius interviu.
'- Na verdade, são três irmãs, que moram em Nevada. Sabe aquele tipo de tia solteirona? O Aluado aqui tem três. Ou, pelo menos, tinha, agora tem só... uma ou duas. Uma, eu acho. – disse ele, contando nos dedos.
'- Passamos as matérias pra você, Aluado. Só não conte com História da Magia, pra isso, peça a Lily. Agora, andem, porque temos treino e não posso perder um minuto sequer com conversa fiada. – falou Tiago de modo rápido, sinalizando para eles montarem nas vassouras.
'- Vai voltar quando, Lupin? – indagou Lene, observando minuciosamente sua vassoura.
Ele ergueu as sobrancelhas, admirado. Quando percebeu o silêncio, a garota tratou de esclarecer.
'- Quero saber quanto tempo terei pra planejar seu assassinato.
Remo abriu a boca, indignado, mas Tiago berrou, já no alto.
'- Eu adoraria ver um barraco, mas precisamos treinar, sabem?
Annie saiu tranqüilamente do vestiário feminino, onde já havia tomado um bom banho após o treino, treino esse que correra perfeitamente bem. O time estava bem entrosado, e cometendo poucos deslizes. Se continuassem assim, o primeiro jogo contra a Corvinal seria fácil.
'- Mother's gonna make all your nightmares come true…- cantarolava ela baixinho, ao passar pelo vestiário masculino.
Subitamente foi puxada para dentro por alguém. Ouviu o barulho de uma porta se fechando, e uma varinha acendendo. Deparou-se com Sirius, de cabelos molhados e quase totalmente vestido. Tinha a camisa aberta, e essa estava meio úmida, dando a impressão de ele ter se vestido às pressas.
'- Sirius, o que aconteceu? É o vestiário masculino, ou melhor, o armário do vestiário masculino! – exclamou ela, encarando o rapaz que gesticulava exasperado, pedindo silêncio.
'- Calma! Quietinha, por favor. Não deixe eles – aqui ele fez um cômico gesto, apontando o vestiário, onde os garotos estavam – ouvirem isso. É que eu... hum, preciso de um favor.
Ela ergueu uma sobrancelha, incrédula. Sirius Black pedindo-lhe um favor? Era verdade que ele estava muito embaraçado, mas, ainda assim...
'- Depende muito – começou ela. – Quem tenho que matar?
Sirius riu em tom baixo.
'- É um pouquinho mais complicado que isso. É que, bem, você é uma garota, certo?
'- Nossa! Como ele é inteligente! – exclamou ela para o teto e acrescentou, sarcasticamente – Pretende fazer algo contra mim com essa informação?
'- Talvez... ah, o que eu quero dizer, é que você entende de coisas de garotas, não é? – perguntou ele, esperançoso.
'- Bem, não posso dizer que sou totalmente amiga da minha raça, mas, sim, entendo um pouco. Pretende virar garota e não sabe como me dizer, Sirius?
Ele acabou por rir junto dela.
'- Ora, falando sério, preciso de algumas dicas! Você sabe que não me dou muito bem com questões amorosas, mas... acho que estou a fim de uma garota.
Ela recebeu essa informação com um estranho impacto no fundo do estômago. Ignorando o zumbido irritante em seus ouvidos, ela ainda respondeu, com tanta frieza que assustou-se com si mesma.
'- No que exatamente você precisa de ajuda?
'- Bem, eu não sei exatamente como... chegar na garota. Convidá-la pra sair, ou conversar com ela.
'- Não seja rude, não a destrate, seja gentil e confiável. Não vá muito depressa, nem tão devagar. Seja engraçado, mas não palhaço. Seja agradável, animado, doce, e não seja meloso. Satisfeito?
Ela falou tudo aquilo muito depressa, para evitar insistência, e poder sair logo dali, antes que sua dor de cabeça piorasse. Já levara a mão à fechadura do armário, quando não conseguiu refrear a pergunta, que ela sabia que assolaria ainda mais seu humor.
'- Apenas posso... saber quem é?
'- Lucy Bosworth, sextanista da Lufa Lufa. – respondeu Sirius, prontamente.
Ela ergueu as sobrancelhas.
'- Esqueça tudo o que eu disse, Sirius. Apenas diga um "olá" e ela se jogará em seus braços.
Juntando toda a dignidade que pensava ainda possuir ela abriu a porta do armário e saiu dali para um vestiário agora vazio. Fez o caminho de volta para o castelo, mas agora não cantava, apenas se segurava para não quebrar sua vassoura ao meio.
Novamente Ann estava com a cabeça metida dentro do malão, procurando algo para vestir em meio à desordem total. Finalmente tirou de lá uma camiseta escura de mangas longas e apressou-se em vesti-la.
'- Annie, pelo amor de Merlin, arrume a gola dessa blusa! – ralhou Lily, que escovava os cabelos com paciência.
Ann parou de tentar vestir a calça jeans e jogar as roupas de volta ao malão ao mesmo tempo, para lançar um olhar de censura à amiga.
'- Lil, estou sem tempo até de fazer xixi, então por que diabos você acha que eu tenho tempo de arrumar a gola de uma blusa? Agora anda, ou vão fechar os portões.
Sem sequer pentear os cabelos, Annie puxou Lily pelo braço e a arrastou até o salão comunal, sob protestos da ruiva. Juntaram-se a Marlene e Jade no Salão Principal, de onde foram caminhando até Hogsmeade. O que Ann não pôde deixar de notar, foi que Alice simplesmente sumira, desde o dia anterior. Saíra do dormitório antes mesmo de elas acordarem.
'- Hey, Lene, o que tanto olha? – indagou Jade.
Marlene estava parada na calçada, olhando para o outro lado da rua, com uma expressão vidrada. Acompanhando o olhar da amiga, Ann viu uma vitrine de loja de artigos esportivos, com várias vassouras e uniformes expostos. Na frente da loja estavam dois garotos conversando, e uma mulher atarefada com suas sacolas de compras.
'- Ah, nada. Só achei aquela vassoura incrível. – respondeu ela, tirando os olhos da vitrine.
'- Qual, aquela preta de cerdas prateadas? Estilosa. – disse Annie, contorcendo-se para ver a vassoura por além dos ombros de um dos garotos.
'- Credo! – objetou Lily – Gostar de ver vassouras. Que graça tem isso?
'- Bem, Lil, eu já esperava esse tipo de reação insensível da sua parte. Óbvio que você não se importa com a suavidade de um vôo, com a beleza de um cabo bem polido, ou a maciez de cerdas aparadas. – comentou Ann.
'- Sabe, você fez um discurso digno de Tiago Potter. E não foi um elogio. Mas, no mundo trouxa, as vassouras só servem pra varrer. – tornou a ruiva.
'- Bem, Lily, você não parecia estar varrendo, quando eu apareci de surpresa na sua casa, nas férias. Ou muito me engano, ou aquela era uma tentativa frustrada de dançar bolero com a vassoura de palha. – disse Jade, com fingida seriedade.
Todas riram, menos Lene, que voltara à admiração silenciosa da vitrine. A mulher com as sacolas já estava muito à frente, mas os dois garotos continuavam lá. O mais magro, de cabelos claros e curtos olhou na direção delas, no que Marlene corou e imediatamente pareceu muito interessada nas próprias unhas.
'- Ooohh! Eu senti um clima? O mundo vai acabar, pois Marlene McKinnon está interessada num garoto! – exclamou Annie, debochadamente.
'- Como a vassoura é interessante, não, garotas? – disse Lily, irônica.
'- Realmente, Lene, aquela vassoura de cerdas claras que acabou de apontar pra você é muito bonita! – opinou Jade, também irônica.
'- O que você acha de irmos olhar a vassoura mais de perto, hein, Lene? – perguntou Annie, e, sem esperar resposta, começou a puxar Marlene pelo braço.
'- NÃO! - berrou a garota, tentando se desvencilhar da amiga – Vocês estão loucas? Não vou ver vassoura nenhuma! Daqui eu não saio!
'- Ah, vai! Vamos lá, nem que seja só pra olhar! Ele parece ter gostado de você! – disse Lily, persuasiva.
'- Não. – Lene agarrara-se a uma árvore, para não ser arrastada dali.
'- Lene...
'- Não, Lily!
'- É medo?
'- Não, Ann, só não quero!
'- Se ele gostou de você, e você dele, qual o problema em conversar com o cara?
'- Jade, quem disse que eu gostei dele? Aliás, nós não temos que comprar as tais vestes para o baile? Então, estamos perdendo tempo. Vamos logo. – disse Marlene, decidida.
Ann parou com os esforços de tentar desenroscar a amiga do tronco da árvore, ao qual se agarrara como se dele dependesse sua vida. Vendo que muitas pessoas as olhavam curiosas, por conta dos gritos, e, talvez também porque não era tão comum uma garota dependurar-se a uma árvore na rua, ela deu um sorrisinho sem graça, e iniciou o caminho até a Trapobelo, que ficava a umas duas quadras dali. Logo as outras juntaram-se a ela, e, por algum tempo, o único som que se ouvia era seus passos quebrando as folhas secas do chão.
'- Ele estava rindo. – disse Lily, abruptamente.
'- Quem? – perguntou Ann.
'- O garoto. O garoto estava rindo, enquanto tentávamos tirar Lene daquela árvore.
'- Não o culpo. – murmurou Marlene. – Deve ter pensado que somos loucas.
'- Ele por acaso está errado? – indagou Jade, bem humorada.
Elas riram, e fizeram o resto do percurso conversando banalidades, e gargalhando escandalosamente. Annie notou vagamente o quão idiotas todas elas podiam ser, quando não se preocupavam em medir as palavras. Talvez tanto quanto os Marotos. Sorriu com isso, concluindo, como tantas vezes já concluíra ao achar que estava sendo escandalosa demais, que eram adolescentes, e, se não fizessem besteiras agora, quando fariam? Nem mesmo os discursos da Profa. Minerva sobre responsabilidade a deixavam culpada.
Marlene, talvez a mais contida delas, apontou a loja de roupas, fazendo as outras pararem. Elas entraram, e Annie viu-se dentro de uma das mais fantásticas lojas em que já estivera. Era muito espaçosa, pintada de cores fortes, onde o laranjado predominava. Dezenas de fileiras de cabides estavam suspensos no ar por mágica, dividindo as roupas em diversas categorias, que iam desde fantasias até roupas trouxas. As velas coloridas davam ao ambiente um ar acolhedor, e os vendedores eram excessivamente simpáticos.
Em pouco tempo, Annie achou o que queria: um vestido de época longo, cuja barra arrastava cerca de cinco centímetros no chão, de mangas compridas e um decote quadrado. Tinha bordados em fio de prata pelo corpete e na barra, e era de um azul petróleo, o qual, ela constatou tristemente, acentuava a clareza de sua pele. Conformada, e também sem paciência de provar mais algum vestido, acabou por comprar esse mesmo, e também sapatos fechados, da mesma cor, e um salto discreto.
Lily provava agora o sétimo vestido, e Jade e Lene também não haviam encontrado ainda algo a seu contento. Cansada de esperar, Annie acabou por avisar às amigas que iria comprar o que precisava, e as encontraria mais tarde, no Três Vassouras. Pagou os vinte galeões que o vestido e o sapato lhe custaram, e saiu para a rua apinhada de estudantes eufóricos. Bastou dar apenas uma olhada para o céu para saber que logo choveria. Sendo assim, tratou de fazer o que tinha de fazer logo.
Deu uma rápida passada numa loja de artigos para quadribol, onde comprou um líquido especial para polir vassouras, e também uma espécie de chave para regular a precisão do toque de direção, pois quando inclinava-se para a esquerda, sua vassoura desregulada virava para a direita. Comprou também uma pena nova e um tinteiro, até que finalmente resolveu ir até o Três Vassouras, crendo que as garotas já deviam ter acabado o ritual de escolher vestidos.
Quando pisou fora da loja, um pingo de chuva atingiu seu nariz. Logo muitos deles vieram, até virarem uma chuva torrencial. Ela fez um pequeno feitiço para diminuir suas compras e impermeabilizá-las, fazendo-as caber no bolso e ganhou a rua. Sem se importar com o molhado, Annie caminhava devagar, imersa em seus pensamentos confusos. Seus cabelos molhados escorriam sobre o rosto, e as roupas encharcadas tornaram-se pesadas.
O barulho ensurdecedor das trovoadas e dos grossos pingos de água batendo no chão a impediam de ouvir muita coisa, portanto, assustou-se ao sentir uma mão quente em seu ombro gelado. Voltou-se e viu à sua frente um par de olhos azuis brilhantes. Mark Lovegood mantinha no rosto seu habitual sorriso calmo, e estava também todo encharcado. Na verdade, a visão do garoto fez Annie rir: Mark arregaçara as calças até os joelhos, e seus tênis pareciam ter sido consertados com fita adesiva cinzenta, daquelas que os trouxas usam. Mas o que mais estava fora de contexto ali era um cinto de couro preto, que, ao invés de estar em seu lugar habitual – a cintura – estava afivelado em torno da cabeça do rapaz. Annie, contra vontade, sorriu.
'- Para onde você está indo? – perguntou ele, em tom baixo, mas ela conseguiu escutar.
'- Três Vassouras. – respondeu ela, no mesmo tom.
'- É. Eu também. Estava procurando Xilótopos no lago de Hogsmeade, sabe. – Mark mostrou um estranho objeto que segurava, semelhante a uma vara de pescar com um vidro redondo na ponta.
'- Xi... quem? – indagou ela, confusa.
Mark sorriu. Correu a mão pelos cabelos molhados, mas ainda assim espetados.
'- Xilótopos. Seres serpentínideos que moram no fundo de rios lodosos, e aparecem principalmente no outono. Como o Monstro do Lago Ness. – esclareceu ele.
'- Ora, isso não existe! – protestou Annie, aumentando o tom da voz.
'- Existe sim.
'- Alguém tem provas de que existe? – perguntou ela, com as mãos na cintura.
'- Alguém tem provas de que não existe? – rebateu Mark.
Annie deixou cair as mãos.
'- Ora, é impossível discutir com você. – constatou finalmente.
Por algum tempo caminharam em um silêncio confortável, observando a chuva lavar as ruas e arrastar as folhas caídas das calçadas. Ao passarem pelo Madame Pudifoot Annie olhou casualmente para a vitrine, e a cena que viu fez seu estômago revirar: Sirius Black e Lucy Bosworth estavam juntos, sentados à uma mesa da frente. Sirius estava de costas, e ela não pôde ver sua expressão, mas Lucy falava sem parar, parecendo muito animada. Imediatamente, Ann andou mais depressa, tentando não ser vista, nem ver algo que estragaria ainda mais o seu dia. Já havia passado da cafeteria, quando Mark disse, em voz baixa.
'- Deve ser difícil para você, não?
'- Do que está falando? – inquiriu ela, meio agressiva demais.
'- Você sabe, passar por aqui justo nessa hora. Isso é o que chamam de estar no lugar errado, na hora errada.
'- Mas que d... – Ann interrompeu sua fala, pois ouvira a voz de Sirius gritar seu nome.
Estacou. Voltou-se lentamente, prendendo a bílis amarga que subira pela sua garganta. Tentou sorrir.
'- Olá, Sirius.
'- Oi, Ann, oi, Mark. Pra onde está indo, Ann? – perguntou ele, agora embaixo da chuva, como os outros dois.
'- Três Vassouras. – respondeu ela, simplesmente.
'- Ótimo! Vamos com vocês! – exclamou Sirius, mas, subitamente, pareceu perceber algo, pois ficou embaraçado – Eu... não estou atrapalhando nada, estou?
Ele olhou de Annie para Mark, e quem respondeu foi o rapaz, com sua habitual placidez.
'- Absolutamente. Encontramo-nos por acaso, e apenas estamos indo para o mesmo lugar.
Sirius sorriu um sorriso exageradamente grande.
'- Oh. Que bom. Quero dizer, certo, então. Vamos, Lucy! – ele chamou a garota, que estava parada na porta do Madame Pudifoot, como se não quisesse se molhar.
'- Sirius, eu não vou sair na chuva! – berrou ela de lá, confirmando as suspeitas de Ann.
'- Certo, então, eu vou ao Três Vassouras, ok? – respondeu Sirius.
A garota hesitou. Como se fosse derreter, pisou na rua molhada. Imediatamente, suas sandálias de salto encheram-se de água, e ela bufou. Com uma cara de poucos amigos, aproximou-se dos três.
Lucy Bosworth fazia realmente o tipo modelo: alta, magra e imperdoavelmente bonita. Olhos verdes e cabelos loiros, muito lisos e longos. Sua pele de um moreno saudável agora arrepiava-se com o contato da água. A garota mirou Mark de cima a baixo, e, quando seus olhos pousaram-se nas calças arregaçadas e depois no cinto na cabeça, ela não riu, e sim assumiu uma expressão de repugnância. Logo depois fora a vez de Annie ser meticulosamente examinada. Lucy não conseguiu esconder o desprezo no rosto, e parecia até mesmo horrorizada. Annie estava consciente de que, com os cabelos encharcados e bagunçados, as roupas molhadas e as botas castanhas enlameadas, sua aparência não era muito boa. E ali, na frente de uma garota que, mesmo molhada, conservava-se linda, ela foi tomada por um estranho sentimento de inferioridade, que nunca experimentara antes. Achava a si própria horrível, e estava odiando cada centímetro de sua forma física. O restinho da auto-estima que a conservava em pé foi embora, quando Lucy agarrou-se a Sirius e começou a caminhar, batendo seus saltos contra o calçamento. Ann simplesmente suspirou, e passou a chutar cada poça d'água que via pela frente, tentando controlar a própria raiva.
'- Quem é você? – perguntou Lucy para Mark, sem muita polidez, quando viravam a esquina.
Pela primeira vez desde que o conhecera, Annie ouviu Mark responder algo num tom diferente do calmo e etéreo que sempre usava.
'- Mark Lovegood. – disse ele, secamente.
'- Hunf. E você? – Lucy voltou-se para Ann.
'- Ann Hells. – respondeu Annie, bruscamente.
'- Hells? Você é filha daquele que foi morto por Você-Sabe-Quem? Acaso você é uma Comensal também? – indagou Lucy, numa voz fina.
Sirius pareceu incomodado, pra não dizer irritado.
'- Olha, Lucy, ela não tem nada a ver com isso, ok? Não fale do que não sabe.
'- Nossa, Sirius. Que jeito de falar comigo. – protestou a loira, com voz chorosa.
'- Preste mais atenção no jeito como você fala com as pessoas, Lucy. – disse Sirius, abrindo as portas do Três Vassouras.
Os quatro adentraram o bar, que estava tão seco e aquecido quanto lotado: mal tinham espaço para se moverem por entre as mesas, e risos alegres povoavam o local. Fizeram feitiços para secar as roupas e os cabelos, e, novamente, os cabelos castanhos de Annie voltaram a cair em ondas desalinhadas. Mark tirou o cinto da cabeça, deixando-o aberto em torno do pescoço. Encaminharam-se para uma das únicas mesas vazias, no fundo do bar, e sentaram-se. Mesmo não tendo mais as roupas molhadas sobre o corpo, Ann tremia de frio. Tentava manter suas mandíbulas paradas, quando sentiu algo quente cobrir suas costas. Virou-se para o lado, e constatou que Mark acabara de tirar a enorme jaqueta bege de moletom que usava, e colocou gentilmente em suas costas.
'- Ora, Mark, não é preciso... – começou ela, fazendo menção de tirar a jaqueta.
O rapaz a impediu, com um sorriso sincero.
'- Melhor que pegar um resfriado... ou não?
Ela acabou por sorrir, agradecida.
'- Bem, obrigada. – murmurou.
'- Oh, Sirius, eu estou com frio, sabe? – disse Lucy, sugestivamente.
'- Você não quer que eu fique pelado, quer? – perguntou ele, impaciente, apontando para a própria camiseta de mangas compridas.
A garota lançou à Sirius um olhar magoado.
'- Bom, Bosworth, não sei o que te deu na cabeça para sair num dia de frio vestida assim. – comentou Annie, num tom pretensamente leve.
Lucy olhou para o vestido cor de rosa que usava, que ia até os joelhos e não tinha mangas.
'- São atitudes como essa que me fazem questionar a sanidade mental dos seres humanos. – disse Mark, num tom pensativo.
Annie e Sirius acabaram por rir, o que deixou Lucy realmente furiosa.
'- Quem é você para falar em sanidade mental, hein, seu anormal?
Mark permaneceu imperturbável, e Sirius gargalhava. Annie acompanhou-o na gargalhada, mesmo sem saber exatamente se tinha motivos para rir.
'- Sirius, pare de rir! Nunca esperei isso de você! – falou Lucy, e depois, virou-se para Ann. – Já você, Hells, achei que só risse enquanto tortura pessoas.
A garota passara dos limites. Ann parou de rir, e levantou-se, apoiando as mãos na mesa e olhando ameaçadoramente para Lucy.
'- Cale-se, Bosworth. – disse entre dentes – Pare de falar sobre o que não tem conhecimento, sua garotinha fútil!
A outra também se levantara, e provavelmente haveria briga ali, caso Sirius não tivesse postado-se no meio das duas, separando-as.
'- Lucy, pare com isso! Annie, não aceite provocação! Onde está o bom senso das duas? Sentem-se, agora!
Lucy sentou-se, os olhos marejados e um olhar "como-você-pôde-fazer-isso-comigo?" para Sirius. Annie ainda estava em pé. Como que prevendo que da recusa dela a acalmar-se sairia confusão, Mark puxou-a pela mão e fê-la sentar na cadeira.
Enquanto Lucy ainda tentava segurar as lágrimas - sem muito sucesso, diga-se de passagem - e Annie bufava, de braços cruzados, Sirius, na tentativa de acalmar os ânimos, foi buscar algo para beberem.
'- Aqui. – disse ele, equilibrando canecas e copos nas mãos.
Por alguns momentos, ficaram bebendo em silêncio, e Annie aproveitava para esquentar as mãos na caneca quente de café com creme. Lá fora a chuva ainda caía incessantemente, fazendo muito barulho contra o teto de zinco do Três Vassouras. Sirius e Lucy, aparentemente esquecidos da briga, trocavam sorrisinhos, e, cedo demais para os padrões de Annie, engataram um daqueles beijos de desentupidor de pia. Surpresa por ter conseguido sentir-se enojada, chateada, irritada, constrangida, triste, raivosa e mau-humorada ao mesmo tempo, ela revirou os olhos e mudou o foco da sua atenção para a bebida fumegante da caneca de Mark.
'- Se você me dissesse que aqui dentro tem até patas de quimera, eu juro que acreditava. – disse ela ao garoto. – O que é isso, Mark?
'- Hm... não tenho muita certeza... mas, sabe, sei que tem pistache aqui dentro. Matar eu acho que não mata. – respondeu ele, pensativo, e mexeu no dragãozinho de açúcar preso na ponta de um canudo.
'- HEY, CAMBADA! Vocês por aqui? – Annie ouviu a voz de Tiago Potter berrar, acompanhada logo depois pela visão do rosto sorridente do maroto.
Junto dele estavam Lily, Marlene, Jade e Pedro. Sem muita cerimônia, ele foi juntando cadeiras vazias das mesas ao redor e colocando em torno da mesa onde Ann estava.
'- Pessoal, essa é a Lucy. Estamos saindo juntos. – disse Sirius ao grupo, apresentando uma Lucy mal-humorada por ter sido interrompida no meio da... troca de salivas. Sirius foi dizendo o nome de cada um, ao que eles acenavam com a cabeça.
'- Acabaram finalmente de fazer as tais compras, garotas? – perguntou Annie, no que as outras garotas sorriram.
'- Claro! – respondeu Lily. – Mas tivemos de convencer Jade a não comprar um kilt xadrez.
'- Ah, era bonitinha a saia! Eu gostei dela, não sei porque vocês não deixaram eu experimentar. – resmungou Jade.
'- Considerando que o kilt é uma vestimenta escocesa, usada por homens, você não ficaria muito bem nela, J. – comentou Marlene, e o resto do grupo riu.
'- Eu sou de família escocesa. – disse Mark, sonhadoramente.
'- Você usa saias? – perguntou Sirius, gozador.
Mark voltou seus olhos claros para ele, erguendo suavemente as sobrancelhas.
'- Não. Eu não. Você usa? – ele devolveu a pergunta.
Sirius ergueu uma sobrancelha e tirou os cabelos negros dos olhos, piscando abobadamente. Todos riram da expressão dele, e este logo acabou por rir também, uma risada que se assemelhava a um latido.
'- Um a zero pro Mark, Almofadinhas! – disse Tiago, divertido.
'- Opa! – sem querer, Annie bateu em sua caneca, derramando café quente no colo de Sirius.
Ele levantou-se, e, segurando o cós das calças longe do corpo, disse, numa voz falsamente indignada, deixando transparecer sua diversão.
'- Oh! Ann! Você matou meu "amiguinho"!
Fez-se um breve silêncio depois disso; silêncio esse logo quebrado pelo coro de gargalhadas nas quais a mesa toda irrompeu, chamando atenção do bar inteiro.
'- Sirius... – disse Pedro, por entre as risadas – Você acaso tinha um "amiguinho" para ser morto?
'- A questão não é essa... – falou Annie, tentando recuperar o fôlego – A questão é que não se pode matar um defunto!
'- Ah, assim vocês me ofendem! Estão duvidando da existência do meu "amiguinho"? – perguntou Sirius, limpando as calças com um feitiço.
'- Ora, se ele existia, agora não existe mais! – disse Tiago, ainda rindo. – Annie carbonizou ele!
'- Agora a culpa é minha, é? Não quero ser tachada de assassina! – protestou ela.
'- Dá pra parar com as besteiras? Puxa, vocês não tinham um assunto melhor não? Jade vai morrer daqui a pouco! – ralhou Lene, de braços cruzados.
De fato, Jade ria tanto que provavelmente perderia o ar em poucos minutos. Dobrara o corpo e chacoalhava-se silenciosamente, comprimindo a barriga com as mãos.
'- O que, exatamente, nós pretendemos fazer? – perguntava Jade, rodeando a cadeira de Lily.
Quase uma semana depois, Lily, Ann, Marlene e Jade estavam na biblioteca, pensando em algo para fazer Alice confessar onde passava tanto tempo. Desde a semana passada, Alice vinha sumindo de repente, chegando tarde no dormitório e fingindo que não sabia do que as amigas falavam, quando lhe perguntavam o que acontecera. Annie achava, assim como as outras, que Frank Longbottom estava metido nisso, mas precisavam ter certeza.
'- Eu não sei direito. Pensei até em Veritasserum. – respondeu Lily. – Mas eu não teria coragem de dar Veritasserum pra minha amiga.
'- Eu teria coragem. Mas, claro, se achássemos Veritasserum em algum lugar. E pra fazer leva um tempão, até lá Alice já pode até ter casado que nós não descobriríamos. – disse Lene, com uma careta.
'- Podíamos segui-la! Sabe, como nos filmes trouxas de espionagem, que a Lily vive falando! – sugeriu Ann, sorridente.
'- É uma idéia... mas, como sair na calada da noite sem que ninguém perceba? Vão ver que fugimos! – ponderou Lene.
'- Nesse caso, uma poção funciona! – disse Jade, sorrindo de uma maneira que seus olhos estranhamente prateados brilharam. – A Poção da Réplica!
'- Que raio de poção é essa, que eu nunca ouvi falar? – perguntou Lily, desconfiada.
Jade assumiu uma expressão solene e orgulhosa.
'- Nunca ouviu falar ainda, pois eu que inventei!
'- E funciona?
'- Claro, Lene!
'- Sei não, hein. – continuou Marlene – Inventada pela J, não deve ser boa coisa. Não vai explodir não?
'- Que falta de confiança, Lene! Eu testei no gato do Mark!
'- Aquele gato cinzento esquisito? O Mark deixou você testar alguma coisa nele? – inquiriu Lily, franzindo a testa.
'- Na verdade – Jade disse, numa voz culpada – ele não sabe. Mas o gato não morreu! Foi duplicado temporariamente, apesar da réplica ser uma mera névoa com forma! Se ninguém tocar, ninguém vai saber que não estamos no dormitório!
Lily fechou o livro que olhava estrondosamente.
'- Isso vai contra todas as normas da Monitoria... mas, vamos fazer essa poção! E descobrir de uma vez por todas o segredo de Alice!
N/A: Sétimo capítulo! Nem acredito! Acho que esse é o único projeto que eu estou realmente levando a sério. E então, o que acharam? Deu pra perceber que vocês querem é romance. Não os culpo. Agora que estou escrevendo, estou pegando o jeito e gostando. Mas, digam lá, estou confundindo a cabeça de vocês, com essa história de Sirius-Mark-Annie? Ohhh, eu adoro confundir a cabeça dos outros! Fiquem calmos que tudo será esclarecido. Eu gosto bastante desse capítulo. Não resisti a fazer um Mark fofinho. E, antes que eu esqueça, o apelido da Jade - "J" - é em homenagem à minha prima que tem o mesmo nome, e, obviamente, apelido. Pronuncia-se "Djei" e não "Jota" ok? Sei que é besteira, mas eu quis colocar. E a música que a Ann estava cantarolando é "Mother", do Pink Floyd. Adoro Pink Floyd, e adoro essa música.
N/A2 (Fatos Reais): Quero deixar claro que eu muitas vezes preciso passar fatos que vivem me acontecendo para a fic. Assim, eu, como a Lene, me agarrei a algo para não ser arrastada pelas minhas amigas para falar com um garoto e fiz um escândalo um pouco maior que o dela. E o papo sobre o "amiguinho" fomos eu e minhas amigas Jéssica e Mia Moony que tivemos, durante uma conversa totalmente improdutiva às três da manhã. Relevem, por favor.
N/A3: Agradecimentos!
Mylla Evans: Capítulo mais alegre! ... ah... adoro suas gracinhas! Não me importo em levar bronca! Hehe... É, pai da Annie mau mesmo... cara ruim feito o cão. Ele é bem mais cruel do que eu mostrei nesse cap... ele é... MAUZÃO! MWHAUAHAUAHAU! Credo. Ignore o surto. E vc vai se surpreender com o Dave! A Ann... poderosa? XD! Eu criei um monstro! Nem era a minha intenção... hauehaeu! Olha, eu não sei qual é e acho que não quero descobrir a envergadura "bundal" do Hagrid não... hauahauah! Oh! Meu Lou é inegociável, invendável e imprestável! Opa... imprestável não. Me empolguei. ' Não sou muito fã da Kikyou não... acho ela meio infame. Mas podíamos montar um fã clube para o Sesshy-kun, que tal? Hauehaeuaheu! A propósito... adicionada! Apesar de eu não me achar engraçada... e continuo agradecendo pelos elogios à fic!
Mia Moony: Bem, miga, acho que estou deixando muito de lado T/L... estou apostando demais nos personagens originais '. Você está doente? Dizendo que não é inflação de ego gratuita? Assim, eu só tenho que agradecer! E... não te mandei esse capítulo tb... mas foi por achar que vc vai gostar mais de fazer uma N/A no próximo... heehehe. Vc entenderá. E... quanto ao garoto... a obsessão parece ter mudado de lado -.- Estou procurando fazer a Lene o mais parecida possível com vc, apesar de não ter uma certeza muito clara sobre o que vc faria em certas situações. E... eu tb te adoro! Ufff. Que ninguém me ouça. -.-
Cristina Melx: O David... ele é uma coisinha fofa e má. Pelo menos eu o considero assim ' Mark... Sirius... nem eu tenho certeza. Pelo menos não agora. Mas venhamos e convenhamos.. não tem como não se irritar com o Mark. Hehe. Mas eu o adoro. Realmente, as reviews que vcs deixam me deixam nas nuvens! Obrigada mesmo pelos elogios, ok?
Adriana Black: Então a descrição não ficou enfadonha? Eu tenho uma ligeira necessidade de escrever sobre fatos passados, em forma de flashback -.-' he. E... atualizei... mas não tão logo, né? He.
Let Potter e Bella Lupin: Caramba, vc realmente resolveu tirar o atrasado, não? Hehe... o que posso dizer... adorei! Vc está enchendo a minha bola... hehe. Eu escrevo bem? Obrigada! E que bom que vc achou o capítulo seis o melhorzinho até agora... eu tb acho ' hehe. Já passei na sua fic! Muito legal... continue, ok? Valeu pelos comentários!
Bem, quero agradecer realmente à galerinha gente fina que lê e deixa comentário... ao pessoal que lê e não deixa tb, pois cansei de mandá-los à merda. Enfim, escrever essa fic está sendo como que uma válvula de escape para mim. Grande parte das frustrações e problemas nos quais eu me meto são aliviados com as reviews simpáticas e divertidas de vocês. Grazia.Um beijo enorme para todos, e até a próxima!
