Inuyasha procurou por toda Tóquio o dia todo, embora Yuri o houvesse avisado que Gabriel sabia muito bem se esconder. Ao amanhecer Lealdade voltou para o tridente e ele pôde sair para procurar o raptor da moça. O cheiro dele ainda era vivo nas narinas do meio youkai, ele cheira a sangue humano e terra de cemitério, pensou Inuyasha pensativo sobre o telhado do sobrado. Yuri permanecia sentado na varandinha em uma cadeira de palhinha, os olhos fechados, com ar compenetrado. Ouvindo os suspiros de Inuyasha, por fim ele falou:

Ei homem cachorro, não é pra se preocupar tanto.

Inuyasha desceu indignado:

Como não é pra se preocupar? A sua prima, nas mãos daquele sujeito asqueroso?

Yuri abriu os olhos.

O Gabriel, apesar de tudo, não machucaria a Shanara. Você vai ver, quando ele se cansar de mantê-la com ele vai soltá-la e ela virá pra casa...

Você confia demais nesse cara...

De repente o vento trouxe um cheiro de flores até o nariz dele. Saltou repentinamente e voou até a rua. Shanara acabava de virar a esquina, andando devagar e com a cabeça baixa. Sobre o corpo usava uma capa comprida que cobria as pernas nuas, ainda com a roupa de dormir. Estava descalça e tremia bastante, pois naquele dia o tempo esfriou estranhamente. Inuyasha correu até ela e a pegou no colo, terminando o trajeto até o sobrado. Yuri observou os dois entrarem da sacada e sorriu aliviado. Ela estava bem.

Obrigada Inuyasha... por me carregar até aqui...

Cale-se – disse ele docemente – vou levar você para o quarto para que descanse.

Ela sorriu. Deitou-a na cama e a cobriu, e ela imediatamente adormeceu. Yuri se aproximou e afagou os cabelos da prima suavemente.

O maldito aproveitou-se dela a noite toda e ela está exausta.

Inuyasha não pôde mais conter a sua raiva.

Quando eu puser minhas mãos naquele maldito, eu vou fazer ele em pedaços – rosnou serrando os punhos violentamente.

Os dois desceram as escadas em silêncio.

Então eu vou indo.

Não vai esperar ela acordar? Disse Yuri.

Preciso voltar. Mas virei vê-la.

Dizendo isso saiu da casa e correu pelos telhados em direção do poço come-ossos.

Você disse um vampiro? Exclamou a velha Kaede.

Sim. – Inuyasha mordia um pedaço de bolinho de arroz, deitado num canto da cabana da velhota.

Agora que você falou eu me lembrei de uma lenda muito antiga – falou Miroku – é sobre um deus dragão que tinha poderes inimagináveis. Certa vez um sacerdote muito poderoso lutou contra esse dragão e forjou com as escamas dele doze armas sagradas, e dentro de cada uma selou o espírito de um youkai, e o que já era forte ficou ainda mais. Mas esse dragão tinha um irmão, que era temido por se alimentar do sangue de humanos e de youkais, e ele prometeu vingar a morte do irmão, mas foi selado pelo mesmo sacerdote, usando as armas que tinham sido forjadas com as escamas do deus dragão. Após isso ele morreu e as armas foram levadas por discípulos desse monge para outros lugares distantes, pois as armas que selaram o demônio poderiam também soltá-lo de seu lacre.

Inuyasha se levantou e fitou Miroku.

E você acha que as tais armas estão no mundo da Kagome, e o tridente da Shanara é uma delas Miroku?

Eu não tenho dúvidas que existe uma relação entre essa lenda e a sua amiga Inuyasha. E o tal vampiro pode ser um dos servos do dragão irmão do que foi morto pelo sacerdote.

Você pode ter razão mas... a Shanara não é uma sugadora de sangue.

Talvez o demônio queira juntar novamente as armas mágicas e romper o lacre que o mantém preso, por isso o servo dele a capturou e a transformou.

Sim, você pode estar certo.

Um cheiro familiar fez Inuyasha dar um pulo e ficar de pé. Todos saíram e Shanara estava na frente da cabana, sorrindo.

Oi! Voltei!

O meio youkai a encarou indignado.

Sua boba, o que faz aqui? Devia estar descansando agora, por que veio até aqui?

Ora, é assim que me recebe seu mal-educado? Se você se incomoda com a minha presença eu vou embora agora mesmo!

Ela virou as costas irritada e saiu andando. Inuyasha correu até ela.

Espere aí! Precisamos conversar! Ei, volte aqui sua idiota!

Ela se virou mais irritada ainda. Tirou o tridente das costas e lançou-o quase pegando nos pés de Inuyasha, que se não tivesse pulado estaria sem os pés.

Ei sua louca, o que pensa que está fazendo, quer me matar é?

Lealdade!

O lobo apareceu e sentou-se sobre o pobre Inuyasha. Ela voltou até a velha Kaede e o monge Miroku.

Desculpem o mal jeito, mas eu detesto grosseria!

Os dois não contiveram a gota que surgiu na cabeça.

Mais tarde, sentados ao redor da fogueira, todos conversavam animadamente. Inuyasha ainda estava emburrado por causa da lição que Shanara lhe dera. Miroku naturalmente perguntou a Shanara se ela gostaria de ter um filho dele, e para seu espanto (e alegria) e para o desespero de Inuyasha ela respondeu que sim, sorrindo abertamente. Mas as más intenções de Miroku foram cortadas pelo soco que este levou da Sango.

A conversa ia animada, quando um vulto adentrou pela porta. Era Kikyou, que ao ver Inuyasha fez uma expressão fria.

Kaede, vim ver você mas percebo que está com visitas. Voltarei outro dia.

Saiu rapidamente. Shanara percebeu o olhar de Inuyasha e um sentimento negro se formou em sua mente. Ele saiu logo atrás de Kikyou e Shanara o seguiu. Ao ver a angustia nos olhos de Inuyasha o lado negro tomou conta dela. Com um salto ela se colocou na frente de Kikyou. Inuyasha quis impedir mas uma barreira impediu que ele se movesse. Shanara friamente começou a falar.

Você é a tal Kikyou, que magoou os sentimentos de Inuyasha? Você vai me enfrentar agora!

Quem é você, mera humana, por acaso gosta dele? Pode ficar com ele pra você se quiser.

Soube que era uma morta-viva, estou com muita vontade de mandá-la de volta para o nada...

Kikyou armou seu arco e disparou contra Shanara, mas com um único movimento de seu tridente transformou a flecha em pedaços, em pleno ar.

Shanara, pare com isso! – dizia Inuyasha – droga, eu preciso quebrar essa barreira... – sacou a Tessaiga e tentou em vão destruir a barreira que Shanara fizera. – mas que droga, tire essa barreira agora mesmo, ouviu sua idiota!

Mas ela nem ouvia. Kikyou correu para a floresta, e Shanara a seguiu. Quando os outros foram sair da cabana, viram que havia uma barreira impedindo-os de sair.

Inuyasha, aqui também tem uma barreira! – gritou Miroku.

Maldição! Aquela idiota vai matar a Kikyou, droga! – gritava, tentando em vão quebrar a barreira.

Na floresta, Shanara alcançou facilmente a sacerdotisa. Os youkais dela a colocaram no alto de uma arvore, que continha uma barreira mágica, mas Shanara facilmente a quebrou com o tridente. Kikyou armou novamente seu arco e Shanara riu.

Isso não funciona contra mim. Você vai morrer.

Shanara voou sobre a sacerdotisa, mas uma lâmina cortou a trajetória do tridente. Um vulto saltou sobre a árvore e pegou Kikyou nos braços e fugiu pela floresta. Shanara não conseguia mais vê-los. O lado negro dela recuou e ela voltou ao normal. Ainda um pouco confusa voltou ao vilarejo. Inuyasha quase desfaleceu de tanto gritar.

Sua idiota, o que você fez com a Kikyou? Me solte agora mesmo!

Cale-se Inuyasha – disse ela suavemente. – eu não a matei, alguém a salvou de mim... felizmente.

Ele suspirou aliviado. A barreira se desfez e ela aproximou-se dele.

Desculpe Inuyasha... eu não queria machucá-la, não sei o que deu em mim.

Ele suspirou.

Eu entendo... também fui dominado pelo mal algumas vezes... mas você disse que alguém a salvou?

Sim, e eu já sei quem foi...