Kikyou olhava incrédula para o seu salvador.

Mas afinal quem é você? Porque me protegeu?

Meu nome é Kamala – disse o rapaz sorrindo – você teve sorte de eu aparecer, as pessoas que lutam com Shanara raramente saem ilesas.

O rapaz era alto, tinha longos cabelos amarrados em uma trança e manejava uma espada enorme. Kikyou sentiu uma aura estranha vinda dele e da arma que possuía.

Bem, é melhor eu ir buscar a Shanara antes que ela cause mais problemas. Até mais!

Saltou em direção a floresta e sumiu. A sacerdotisa permaneceu parada lá, ainda tentando entender a situação.

Shanara estava pensativa ao lado do poço come-ossos. Inuyasha sentado perto tentava imaginar o que ela estaria esperando.

Ei, quem era o sujeito que protegeu a Kikyou?

Porque, está com ciúmes?

Ora, é claro que não sua boba! – ele olhou para o outro lado zangado. Ela sorriu.

Ele está vindo...

Inuyasha ficou de pé, farejando o ar.

Tem razão... sinto o cheiro dele.

Um vulto encoberto pela escuridão se aproximava caminhando. Shanara sorriu e caminhou em direção ao desconhecido, não ligando para os protestos de Inuyasha.

Sabia que era você... Kamala.

O rapaz sorriu e abraçou Shanara fortemente. Inuyasha assistia a tudo atônito. Depois disse irritado.

Quem é você? O que fazia rondando o vilarejo, ein?

Inuyasha – virou-se para ele feliz – este é Kamala, o meu namorado.

O meio youkai caiu pra trás.

O quê? Namorado? Que historia é essa, afinal?

Ele se lembrou do beijo e dos olhares que ela lançou para ele desde que se conheceram e não pode deixar de se indignar.

Ora...sua...

Mas Shanara o interrompeu.

Sabe... a gente tinha brigado... mas no fundo eu adoro esse anjo indecente... é assim que as mocinhas chamam esse pervertido!

E lançou um olhar gelado para ele, que notou e se encolheu um pouco.

Sabe como é... as garotas me perseguem, não posso fazer nada Narinha... – tentou justificar o rapaz. Depois olhou para Inuyasha e se aproximou dele.

Então você é o tal homem cachorro. Me diga vira-lata, que relações manteve com a minha garota todo esse tempo?

Os dois se olharam friamente. Shanara acalmou os ânimos e pegou os dois pela mão.

Vamos pra aldeia! Quero que conheça meus novos amigos!

Os dois rapazes não conseguiram segurar a moça e a acompanharam até o vilarejo.

As apresentações foram feitas. Sango se encantou com Kamala, para desespero de Miroku. Shanara sussurou no ouvido de Inuyasha.

Se você acha o Miroku um safado, ainda não conheceu o Kamala! Ele é terrível, e o pior é que todas caem na conversa dele.

Hum! Rosnou Inuyasha – então porque você disse que era namorada dele ein? Se sabe que ele é um pervertido?

Sossega Inuyasha! Nós terminamos antes de eu vir para o Japão! Justamente por ele ser tão mulherengo. Mas eu gosto muito dele, assim como eu gosto de você. – abaixou o olhar.- me desculpe pela Kikyou, eu não queria magoar você, não sei o que deu em mim, talvez ciúme, eu acho...

Ele suspirou.

Não se preocupe mais Shanara. Eu sei que você perde a razão por causa da maldição que há em sua alma, e estarei aqui caso precise, confie em mim.

Obrigada...Inuyasha...

A moça encostou-se no ombro do meio youkai, que ficou corado. Seus olhos se voltaram para Kamala, que se insinuava para Sango, que Miroku rapidamente puxou pra seu lado.

Ei trancinha! Quer dizer que foi você que salvou a Kikyou, não foi?

O rapaz tirou a katana que trazia nas costas e a pousou no chão. Depois começou a falar.

Sim, se eu não tivesse chegado a Shanara teria cortado ela em duas com Lealdade. Sorte dela eu estar com minha Força comigo.

A katana muito longa emanava uma energia sinistra igual a do tridente de Shanara. Kaede falou então.

Sua espada tem uma energia poderosa. De onde ela vem?

Não sei – fechou os olhos – na verdade ela veio até mim uma certa noite, não sei como nem porque. Tinha a forma de um dragão, e pensei até que estivesse sonhando. De manhã ela estava ao meu lado na cama.

Comigo foi parecido – disse Shanara – Lealdade veio a mim uma noite, e estou com ele até hoje.

Hum. – a velhota olhou para Miroku e assentiu.

Bem, a conversa está boa – se levantou Kamala – mas temos que ir Shanara, o Yuri me pediu pra levá-la pra casa, pois o Gabriel te perseguiu até aqui. – falou colocando a katana de volta na bainha. – espero que ele apareça, pra receber de mim o que merece.

Sim... – ela se levantou. – até mais a todos. Inuyasha?

Hã? – ele se levantou com um salto.

Posso falar com você em particular lá fora antes de irmos? Pode ser Kamala?

Claro. – resmungou o rapaz um tanto irritado. – mas seja breve Narinha, senão é capaz de se encher de pulgas do vira-lata.

O que? – Inuyasha ia brigar, mas foi carregado por Shanara.

Os dois se afastaram um pouco da cabana. Shanara pegou as mãos de Inuyasha e as colocou em seu rosto. Ele corou.

Irá me ver? – seus olhos brilhavam à luz da lua.

Er... claro, mas – seus olhos faiscaram – e o trancinha?

Não se preocupe. – disse ela abaixando o olhar – logo ele conhecerá uma japonezinha e nem olhará pra mim. Além disso... se você não for eu virei atrás de você, e sabe disso.

Shanara...

Ela o beijou nos lábios suavemente. Sua respiração acelerou e ele se entorpeceu com o cheiro de flores que ela emanava. Silenciosamente ela se afastou, chamou Kamala e os dois saíram andando pela floresta, em direção ao poço come-ossos. Inuyasha ficou vendo-os se afastar e se perguntou porque aquela garota estranha o deixava tão confuso.

No outro dia foi Inuyasha quem foi atrás de Shanara na era atual. Aconteceu quando ele foi ver a Kagome e ela o expulsou de casa pois queria estudar. Pois bem, ele ficou com raiva e foi ver a mocinha guerreira. Eram nove horas da noite quando o hanyou saltou até o parapeito da sacada do quarto do sobrado, farejando o ar. Ela não está aqui, pensou ele frustrado. De repente um toque o fez virar-se de pulo.

Quem...! Ora, é você...

Shanara riu da cara de Inuyasha.

O que faz por aqui? Sentiu saudade...

Ela permanecia agachada em cima da grade do parapeito, como uma gata. Ele se sentou no chão e falou zangado.

A Kagome me expulsou. Disse que tinha que estudar.

Ora isso é normal... ela é uma garota normal, e garotas normais precisam estudar, sabia? Se não, no futuro não serão nada na vida. Deixe ela estudar em paz Inuyasha!

Feh! Então você não é normal mesmo não é? Você nem estuda.

Claro que estudo. – ela desceu da grade e se sentou ao lado dele, fazendo cafuné nas orelhas dele. – acontece que estamos de férias, o Yuri, o Kamala e eu. Lá onde a gente mora a escola funciona diferente sabia? Mas mudando de assunto... você sentiu saudades não foi?

Ele fechou a cara mas não deixou de corar.

Er... é que eu queria alguém pra conversar, só isso. E você, bem temos coisas em comum.

Sim... – disse ela um pouco triste. – mas deixa isso pra lá, que tal um passeio pela era feudal? Adorei aquele lugar!

Ele suspirou e acabou concordando. Shanara subiu nas costas de Inuyasha e este se pôs a saltar até o templo Higurashi.

No caminho, ele pensava o quão tinha sido estranho o encontro com essa mulher. Que motivos teria o destino quando cruzou seus caminhos. E por que era tão forte a influência dela sobre ele.

Um cheiro conhecido o fez parar no galho de uma árvore.

Esse cheiro... sangue e terra de cemitério...

Gabriel? – pensou Shanara já se preparando para o pior.

Não. Tem cheiro de incenso, e ele não tinha esse cheiro...

Shanara estreitou os olhos, prevendo a chegada de uma pessoa que já conhecia bem. Um bater de asas os fez virarem-se e uma mulher descia suave até o chão.

É você... Trovoada Negra?

Quem mais? Guerreira da lealdade...

Era uma figura bela, porém sinistra. Sua pele era branca como cera. Tinha cabelos vermelhos, curtos e lisos. Parecia uma mulher normal, mas as enormes asas negras denunciavam a origem sobrenatural dela. Inuyasha desceu da árvore e ficou frente a frente com ela. Shanara o agarrava, já pensando no destino que a aguardava.

Inuyasha, ela é serva de Gabriel, é Trovoada Negra.

Feh! Quem quer que seja não é páreo pra minha Tessaiga!

A mulher continuava parada observando seu adversário.

O que você faz para que todos os homens sintam vontade de protegê-la, Shanara? Além do Anjo Indecente, conseguiu... um cão de guarda?

Inuyasha não se conteve mais.

Cale-se sua maldita! – Trovoada Negra saltou para esquivar-se do golpe da Tessaiga, e do ar lançou seu ataque, uma chuva de penas negras. Só quando sentiu que elas lhe rasgavam a pele, Inuyasha desviou do ataque e lançou a ferida do vento contra a elfa negra, que sumiu em meio aos escombros e poeira que voaram.

Droga, ela fugiu! - Praguejou Inuyasha.

Shanara olhou o céu.

Ela queria te testar Inuyasha. Provavelmente a mando do Gabriel. Ele me observa o tempo todo, veja.

Um morcego branco voou rumo a escuridão. A vida dela está nas mãos daquele maldito, pensou o hanyou. Os dois finalmente chegaram ao poço, saltando nas profundezas da era feudal.

Caminharam em silêncio até o vilarejo.

O seu primo sabe que veio srta Shanara? – perguntou Sango a mocinha, que beliscava um bolinho de arroz, sentada displicentemente num canto da cabana.

Deixei um bilhete. Acho que aqui estou mais segura que lá, o Gabriel ainda não sabe do poço.

É, tem razão. Sabe, é estranho pra nós que alguém da era da Kagome esteja entre nós, até hoje ela era a única visitante de lá.

Pois saiba que eu adorei conhecer vocês. – ela tirou uma lasquinha do bolinho e ofereceu a Kirara, que ronronava deitada a seu lado.

Inuyasha, que até aquele momento permanecia calado, se levantou e saiu. Miroku olhou maliciosamente a saída do amigo e comentou.

Sabe, o Inuyasha fica muito depressivo quando a Kagome não está aqui. Acho que ele precisa de uma companhia agradável esta noite.

Sango olhou gelidamente o monge.

Houshi-sama... que comentário sem pé nem cabeça.

Ele tem razão. – falou Shanara se levantando. – vou fazer companhia pra ele, com licença.

Quando a moça saiu, Sango não se conteve. Jogou a comida que estava comendo no monge, que com agilidade se desviou.

O que é isso Sangozinha! Só estou querendo ajudar!

Cale-se, ou jogo a panela toda em você Miroku, seu descarado!

Na colina, Inuyasha olhava o céu pensativo. Shanara se aproximou e sentou ao seu lado.

Pensando nela, não?

Anh?... o que disse?

Naquela miko... a tal de Kikyou.

Ele desviou o olhar.

Não. Pensava nos problemas que tivemos até agora por causa da jóia.

Sim. A tal que você quer pra se tornar um monstro completo.

Peraí! – ele se levantou e a olhou furioso. – Quem disse que eu vou me tornar um monstro?

Já me contaram tudo. Sobre seu pai, os youkais, a maneira que você fica quando seu sangue youkai toma o controle. – ela se levantou também e se pôs frente a frente com ele, fitando seus olhos profundamente. – Inuyasha, não queira se tornar algo que não sabe se poderá controlar, não queira um poder desses achando que será o mesmo Inuyasha.

Ela tocou a face do hanyou com as pontas dos dedos.

Você não sabe as conseqüências disso. Você, após essa transformação, não sabe se continuará sendo o Inuyasha que todos nós gostamos, ou se o sangue de youkai que corre em suas veias fará de você um monstro.

Shanara...

Olha, o que eu estou dizendo é que nunca saberemos do que somos capazes quando o lado negro de nosso coração toma o controle. Pense bem no que quer pra sua vida meu querido...

Inuyasha desejava se tornar um youkai completo, mas sempre achou que com isso podia se tornar forte e proteger aqueles que amava, mas as palavras daquela humana o deixaram confuso. Sem dizer mais nada ela caminhou em direção ao vilarejo, mas o hanyou a segurou pelo braço e a fez se virar para ele. Ela pôde sentir a força que vinha do olhar dourado de Inuyasha. De fato aquele rapaz estranho a deixava tonta, com aquele olhar macio mas ao mesmo tempo cortante como o fio da Tessaiga.

O que sabe sobre mim para querer me dar conselhos, ein sua humana boba? Sempre vivi sozinho, porque perdi todos a quem amava. Neste mundo se não formos fortes, não somos nada.

E quem disse que a força vem dos punhos, de uma espada ou de uma jóia? A verdadeira força está naqueles a quem amamos. Ou você ainda não sentiu o quanto fica forte quando defende quem você ama?

Ele a largou e sentou-se novamente.

Então porque a Kikyou morreu? Porque não pude salvá-la quando aquele Naraku maldito a matou?

Inuyasha... você não sentia pela Kikyou nem metade do amor que tem pela Kagome. Sei disso porque você está sempre falando dela, do trabalho que dá protegê-la dos perigos desse mundo. Você não percebeu o quanto fica forte para protegê-la? O fato da Kikyou ter morrido não altera esse fato. A Kikyou decidiu morrer. Ainda não entendeu?

Ele a fitou irritado. Ela continuou.

O Naraku usou de artifícios sujos contra vocês dois, pelo que me contaram. Mas ela era uma miko, podia ter se salvado, mas preferiu morrer, com a jóia de quatro almas nas mãos. Ela usou de muita força naquela hora, ela foi mais forte que o Naraku, que eu ou você. Ela poderia ter te matado, mas em vez disso o lacrou, pra te proteger. Mesmo ferida, ela te protegeu! E ao morrer, protegeu as pessoas pois levou a jóia amaldiçoada para o outro mundo. Entendeu? A força da Kikyou foi a força do amor.

Ele abaixou o olhar. Ela se ajoelhou ao lado dele e ficou com o rosto próximo do rosto do meio youkai.

Não se torture mais meu querido...

Os lábios quentes de Shanara tocaram os dele suavemente. Eles se entregaram a paixão do momento, e foi com lágrimas nos olhos, lagrimas de felicidade e paz, que os dois jovens viveram uma noite de amor...