O vento mudou de direção naquela noite. Todos dormiam, menos Inuyasha e Kamala. O hanyou como sempre não conseguia dormir, tinha que ficar vigiando seus amigos. Kamala sofria de insônia desde que deixou Shanara sozinha na casa do pai dela no dia que ela foi mordida e transformada por Gabriel. Maldita bebedeira! Naquele dia ele tomou um porre daqueles, e mal conseguiu chegar em casa. Sua mente foi assaltada por pensamentos ruins. Olhou pra Shanara que dormia ao lado de Inuyasha. Ela gosta do sujeito, pensou suspirando. Ele não a deixa sozinha, ao contrario de mim.

O hanyou percebeu que Kamala não pregara o olho até aquele momento. Quase que sussurrando perguntou ao rapaz.

- Ei, não vai dormir? Eu estou vigiando, se ainda não percebeu...

- Durmo quando quiser.

- Hum... – rosnou Inuyasha. – você tem queixo duro mesmo ein seu trancinha.

- Ei vira-lata, percebeu que o vento a toda hora muda de direção, como se procurasse algo?

Inuyasha farejou o ar. Um cheiro familiar chamou a atenção dele.

- É a Kagura! Acorde todos, temos que ir! Ei Kagome! Acorde, precisamos sair daqui!

-...o que... que foi Inuyasha, que horas são?

- Precisamos sair daqui, é perigoso. Shanara, acorde!

A moça não esboçava reação. Inuyasha tocou sua face e afastou a mão subitamente. Ela estava fria como um cadáver. Tirou o cobertor de cima dela e encostou a cabeça em seu peito, tentando ouvir. Suspirou aliviado ao ver que o coração dela ainda batia, mas muito lentamente. Kamala ao ver a face assustada do hanyou quis saber.

- O que foi? Que cara é essa vira-lata?

- É a Shanara... ela está gelada como um cadáver.

- Como? – disseram todos ao mesmo tempo.

- Essa não... – Kamala arregalou os olhos. – ela precisa de ... senão ela morre...

- O que? – Inuyasha não escondia a ansiedade.

Não tiveram tempo de falar, a mestra dos ventos já os havia localizado. Uma legião de youkais caiu sobre eles como uma chuva demoníaca. Sango rapidamente montou na Kirara que já se transformava e puxou Miroku pelo hábito, no qual também se agarrou Shippou. Kamala na hora do desespero invocou Força e pegou quem estava mais próximo dele, Kagome, levando-a consigo para o céu. Inuyasha pegou a garota inconsciente mas seus saltos não o livraria dos youkais, mas nesse momento Lealdade saiu do tridente e rechaçou os monstros com um raio poderoso, dando ao hanyou tempo de tirar Shanara do local.

Correu o quanto pode com ela no colo, seguido pelo lobo, que destruía qualquer youkai que os seguisse. Ele perdeu a conta de quanto tempo ficou fugindo. Logo nenhum youkai podia ser visto. Nem os companheiros de viagem.

Chegaram a uma clareira na floresta, onde uma fonte jorrava água quente, formando um laguinho escondido. Não nos acharão aqui, pensou Inuyasha ofegante, colocando a moça sobre a relva rala que crescia por ali. Tocou seu rosto e percebeu que ela perdia a cor.

- Está branca como neve... Shanara...

Seu corpo estava frio, diferente do dia em que eles se amaram. Cobriu-a com sua capa vermelha e o contraste da cor da veste com a pele deixou ainda mais claro que ela estava morrendo. Mas porque não disse nada, garota idiota. Lembrou das palavras de Kamala: ela precisa de... sangue. Claro, fazia quanto tempo ela não bebia sangue, havia chegado na era feudal a algum tempo.

- Garota estúpida! Devia ter ido pra casa... o que eu vou fazer?

Pensou em matar um aldeão e trazer o sangue, mas refletiu. Se ela própria não desejava fazer isso, ele também não faria. E não seria certo, como você é idiota Inuyasha, praguejou baixinho. Mas precisava pensar rápido, pois ela precisava de sangue o mais rápido possível.

Olhou o rosto sereno dela. Até a morte fica bonita nela, pensou finalmente. Pegou uma folha larga que crescia por ali, fez um cone e com as garras cortou os pulsos, derramando sangue dentro. Depois de colher uma boa quantidade, amarrou um pedaço de trapo no ferimento e pegou a moça no colo. Levou o copo improvisado á boca dela, que sentiu o cheiro do sangue, abriu os olhos e sorveu o liquido vermelho.

- Devagar... corrigiu o hanyou. Aos poucos a cor voltou ao rosto dela. Terminando de beber, fechou os olhos novamente e quando abriu novamente eles estavam amarelos. Chorou ao ver Inuyasha segurando-a nos braços.

- Inuyasha... este sangue...

- Não se preocupe! – disse ele ríspido. - não matei ninguém para consegui-lo.

O cheiro do sangue dela é de youkai, pensou Inuyasha, fitando os olhos amarelos dela. Ao se acalmar, ela voltou ao normal.

- Inuyasha... onde conseguiu sangue? – ela se sentou vagarosamente e percebeu o ferimento coberto pelo trapo. O cheiro do sangue não deixava a menor duvida.

- Você... se cortou pra me alimentar?

- Não pense mais nisso. – pegou-a e colocou-a encostada no lobo Lealdade, que se deitara e aninhava a sua mestra entre seus pêlos, aquecendo-a. – pelo menos pra isso o lobo maldito serve afinal.

Lealdade rosnou em desaprovação. Depois virou-se para ela e lambeu sua face agora mais vivaz. Ela sorriu.

- Obrigada, Lealdade. Onde vai Inuyasha?

- Não se preocupe. Só vou pegar lenha pra acender uma fogueira. De qualquer maneira está segura agora. Não nos encontrarão.

Ela suspirou. Sentiu o gosto do sangue de Inuyasha nos lábios e isso a encheu de horror. Em que tipo de monstro eu me tornei afinal? As lagrimas voltaram a rolar pela face de Shanara. Ela se levantou cambaleante e quando foi andar caiu, mas foi amparada pelo hanyou.

- Ei sua idiota, o que está fazendo? Fique quietinha ou então te amarro naquela árvore, entendeu?

Ele já havia acendido o fogo e envolveu Shanara na sua capa, deitando-a no seu colo. Ela pegou a mão de Inuyasha e beijou-a. Ele ficou pasmo com a atitude dela.

- Obrigada, Inuyasha.

Seus olhos se fecharam. Enquanto ela dormia tranqüila novamente, em seus braços, a cabeça do hanyou não parava de pensar. Ela é como a Kikyou, que precisa de almas mortas pra continuar nesse mundo. Shanara precisa do sangue como ela precisa dos espíritos. Inuyasha serrou os dentes num rosnado silencioso. Não deixaria acontecer novamente o que aconteceu com a Kikyou, não com essa mulher que despertara nele sentimentos adormecidos a muito tempo. Com a Shanara seria diferente, custasse o que custasse.