Shanara acordou tonta pelo efeito do veneno. Olhou ao redor e não reconheceu aquele lugar. Estava em um aposento escuro, com algumas lamparinas tentando quebrar a escuridão. Se sentou enjoada e avistou uma sombra que se aproximava dela. Uma voz cortou o silencio.

- Então você é a nova amada de Inuyasha, não é?

Ela nunca tinha visto Naraku, mas pôde sentir a sua presença maligna e imediatamente a reconheceu como a mesma que sentira na Kagura.

- Você... é o Naraku? – sua voz era fraca.

- Em pessoa.

Ele saiu da penumbra e ela conseguiu ver a face pálida do hanyou.

- O que.. você quer de mim?

- Você é muito especial garota, não sabe o quanto.

Ele se aproximou mais dela e tocou seu rosto. Ela quis se afastar mas estava fraca demais. Kohako apareceu ao lado de Naraku com um cálice dourado e este o ofereceu a Shanara. Assim que sentiu o cheiro do sangue seus olhos mudaram de cor e as pupilas ficaram finas. Ela se transformara.

- Vê? – disse finalmente Naraku – você tem um dom muito especial minha cara, e quero que se una a mim. Garanto que lhe darei mais desse liquido precioso, que sei que você precisa.

Ela juntou suas forças para jogar o cálice longe.

- Eu não quero!

Naraku riu.

- Mudará de opinião.

Em suas mãos estava um fragmento da jóia de quatro almas. Quando esse foi colocado na testa dela, imediatamente a alma negra dela corrompeu-o deixando negro. Os caninos de Shanara eram agora maiores que antes.

- Deve agradecer ao Inuyasha pelo sangue que ele lhe deu. Era o que faltava para que sua alma negra tomasse o controle, aliado por esse fragmento de jóia. Com o sangue de meio youkai sua face sinistra será absoluta.

Ela não dizia mais nada. A energia sinistra começou a aumentar, para alegria de Naraku.

- Agora, invoque o servo da arma.

Ela piscou ante a ordem do hanyou. Ainda tentou lutar, mas inutilmente. Levantou uma das mãos para o céu e uma luz brilhou dentro do castelo.

Longe dali, Inuyasha farejava o ar a procura do cheiro dela. Junto dele estava Kamala, de braços cruzados, calado. Kagome só observava.

- Ei vira-lata, vai demorar para achar a Shanara?

- Cale a boca! Maldição, não sinto o cheiro dela em lugar nenhum, mas que droga!

Kamala carregava Lealdade preso a uma bainha feita de cordas. De repente a arma começou a vibrar.

- Mas... o que é isso afinal? – ele se assustou com a reação do tridente.

- O que foi trancinha? – Inuyasha quis saber.

- É o tridente, está vibrando... espere isso significa que...

A arma mágica sumiu numa luz e o lobo Lealdade apareceu. Olhou um momento para os lados e escolheu um em particular, saindo voando. Kamala invocou Força e carregou Kagome para o seu dorso gritando desesperado.

- A Shanara o invocou! Se o seguirmos ele nos levará até ela!

- O que? Ei espere por mim! – ele só teve tempo de agarrar a cauda do dragão e sair voando.

Eles seguiram o lobo por um breve momento e avistaram quando ele desceu em um castelo no alto de um monte. Kagome exclamou:

- Sinto a presença de fragmentos da jóia de quatro almas!

- Naraku! – gritou Inuyasha, os olhos brilhando de raiva.

Ele desceram e viram o lobo adentrar correndo no castelo. Kamala chamou Força e ele se transformou novamente numa espada. Inuyasha sacou Tessaiga e Kagome retesou o arco, apontando para o portão do edifício.

- Um fragmento está se aproximando!

Quem pode ser? Pensou Inuyasha. O Kohaku talvez, mas para a surpresa de todos quem saiu foi Shanara, totalmente transformada e com o tridente nas mãos. Ela parou e fitou o grupo sem dizer uma palavra.

- Gostou da surpresinha, Inuyasha?

Todos olharam. O ser com pele de babuíno estava no alto da muralha, rindo sadicamente.

- Naraku! O que fez com ela seu maldito!

- Você fez isso! Graças ao seu sangue o espírito negro dela tomou o controle, agora ela é um demônio sedento de sangue e que obedece a mim, Naraku!

Kamala cerrou os olhos transbordados de ódio. Mais um maldito demônio querendo se aproveitar da Shanara. Inuyasha nem pensou duas vezes, saltou sobre onde o hanyou estava, mas a trajetória da Tessaiga foi interrompida pelo tridente de Shanara. A força dela é incrível, pensou ele ainda atordoado. Num voleio rápido ela jogou longe a espada de Inuyasha e tentou cortá-lo ao mesmo tempo, mas a agilidade do hanyou o salvou. Mas a lamina de Lealdade o feriu de raspão na barriga. Ele caiu ao chão e ficou de pé. A Tessaiga fincou no solo a alguns metros dele. Os dois ficaram frente a frente. Os olhos de Shanara, tão puros, agora estavam cheios de maldade, amarelos e frios. Ela sorriu e os caninos alvos apareceram compridos e afiados. Sua face outrora doce agora era do próprio demônio. É minha culpa, pensou Inuyasha abaixando o olhar. Kamala que até o momento assistia gritou para o hanyou.

- Ei vira-lata, o que está fazendo! Se ficar parado ai ela vai te matar!

- Eu... não vou levantar a minha mão para ela trancinha... eu não posso... – as palavras de Inuyasha arrepiaram Kamala. Kagome abaixou o olhar e suspirou, finalmente entendendo o que se passava entre eles, depois de tanto tempo ela enfim percebeu. Kamala se recuperou da surpresa e voltou a gritar.

- Pelo menos se defenda idiota!

Mas teve que agir, pois nesse momento Shanara avançou sobre Inuyasha, que estava parado, impassível. Ele não saiu do lugar e quando ia ser atravessado pela lamina do tridente a de Força se atravessou no caminho. Uma voz ecoou no vazio, era Kagome.

- Kamala! Ela tem um fragmento da jóia na testa! Você precisa tirar, ai ela volta ao normal!

- Fragmento?

Ele fitou bem o rosto da mocinha tentando ver o tal fragmento, mas não conseguia ver nada.

- Não consigo ver! Mais que droga!

Ele a repeliu e ela saltou para trás. Nesse momento uma ventania atravessou os presentes e eles só puderam ver quando Kagura saia voando, com Shanara junto, sumindo em meio ao miasma de Naraku, que também tinha desaparecido.

- Mas que droga! Inferno!

Kamala fincou Força no chão e andou até uma parede, dando um murro, que fez um enorme buraco. Ainda praguejava quando Kagome se aproximou de Inuyasha, que permanecia parado no mesmo lugar. Ela tocou seu ombro.

- Inuyasha...

Ela só pode ouvir ele sussurar baixinho.

- Novamente... minha culpa...