Capítulo 7 - Desespero

- Gina! - gritou Luna ao avistar a amiga saindo de um carro preto seguida de dois bruxos. Todos na estação olhavam para ela.

- Vamos passar logo da barreira, não agüento mais ser perseguida por esses homens - disse, empurrando seu carrinho e passando a barreira mágica com Luna em seu encalço.

Não havia nenhum bruxo que não se afastasse quando chegava. Era bem verdade que era tão temida quanto se um dementador estivesse ali. Mas tudo tinha uma razão. Todos acreditavam que era partidária de Voldemort e estivesse mentindo para se safar.

Guardaram seus malões e foram à procura de uma cabine. Teriam que se sentar sozinhas, pois ninguém chegava perto delas. Até Colin Creevey, um amigo muito engraçado de Gina, começava a evitá-la. "Claro, - pensou - fizera seu ídolo sofrer".

A chegada ao castelo foi um pouco reconfortante. Mas não como antes. Todos mantinham uma certa distância delas mas de certa forma isso fazia parte. O pior era ter que agüentar as piadinhas sem graça sobre sua família. Isso estava ficando mais freqüente. Todos os professores estavam de olho nela e não podia mais andar sozinha pela propriedade. Dumbledore volta e meia a chamava em sua sala, para lhe explicar o que estava sendo resolvido pelo Conselho. Mas nada a seu favor . Até última ordem ficaria presa. Essa historia toda a estava cansando muito. Sentia raiva por ter sido tão estúpida. Tinha ódio por ter uma curiosidade tão aguçada que a fizera entrar na parte proibida do Beco e se deparar com Cho. Mas essa mesma curiosidade a fazia sentir nervoso em pensar em quem lhe lançara a Maldição. Era impossível saber quem. Mas isso a fazia definhar cada vez mais.

Os estudos já não a interessavam mais. Os professores começaram a se preocupar com seu futuro, pois estava cada vez pior em todas as matérias. Até Transfiguração, que um dia a atraíra, não fazia diferença da aula de Poções. Andava sempre de cabeça baixa, não comia direito e volta e meia desmaiava na sala comunal. Na verdade tudo se passava muito rápido em sua cabeça. Logo que saísse dali ela iria pra prisão. Isso se não a entregassem aos dementadores. Aí sim sua vida pioraria. Já não evitava o choro mas agora parecia não querer mais cair. Não tinha forças pra chorar, pra rir, gritar. Era como uma alma morta andando, dando voltas em torno de um futuro que a aguardaria de qualquer jeito. Não tinha jeito mesmo. Era um futuro inevitável e tinha que aceitar. Moody era o único ainda a conversar com ela e até se propôs a dar aulas extras de Defesa Contra as Artes das Trevas. Ela aceitou de bom grado, pois sabia que enfrentaria muitos perigos ainda em sua vida.

O fim do ano letivo foi um certo alívio. Mas ao mesmo tempo a dor aumentava cada vez mais. Deixaria todo o conforto de seu dormitório para sempre. Passaria a dormir em uma masmorra fria e solitária. Sem seus poucos amigos que restavam. Seus pais já não a queriam mais. Harry já não a queria mais. Ninguém a queria mais. "Talvez um dementador me queira", foi um pensamento que a fez sorrir pela primeira vez em tempos.

A volta no trem fora engraçada. Ouvia Luna falando o que faria quando chegasse em casa e em que podia trabalhar. As duas riram um pouco com as objeções de Luna ao dizer que poderia se casar com um dementador e salvar Gina na "hora H". Mas Luna no fundo estava preocupada com a amiga. Só não queria piorar a situação. A despedida não foi algo emocionante pois o pai de Luna logo tratou de levar a filha embora quando a viu com Gina.

Estava sentada, esperando alguém do Conselho ir buscá-la, mas lhe ocorreu que talvez não precisasse ir para a cadeia de novo. Levantou-se do malão e correu para o estacionamento trouxa da estação.

- Desculpa Dumbledore, eu sei que o senhor confia em mim. Mas eu não - disse enquanto transfigurava o carrinho e o malão em algo pequeno e leve, que pudesse caber em seu bolso. Escondeu-se atrás de um carro, vendo que um preto havia parado na porta e logo dois bruxos entravam na estação. Virou-se de costas e acenou para o primeiro táxi que passou. Não sabia bem aonde ir mas servia qualquer lugar longe dali. Quando o homem a perguntou disse "Vai indo que eu te aviso. Mas vá rápido, por favor!".

O homem andou um bocado com Gina lhe dizendo aonde ir. Entravam em lugares cada vez mais escondidos e escuros. Deviam estar longe do centro de Londres mas ela já não se importava com isso.

Uma certa hora o homem parou o carro e trancou as portas. Gina olhou bem e ele sorriu. Só então reparou que o cara era muito feio e barrigudo e que a estava cantando.

- Agora, garota, se você não se importar, vai tirando a roupa - disse, apontando algo preto com o cano longo... Que deduziu ser uma arma trouxa. Por um momento sua respiração vacilou e empunhou a varinha. Com um movimento o cara estava estuporado e Gina fora do carro.

Andou um pouco pela rua escura em que pararam. O medo começava a lhe tomar conta. Ela olhava incessantemente para todos os lados, com certo medo de o homem acordar e segui-la com aquela arma. Não sabia bem mas ouvira falar que fazia um estrago muito grande.

Quando andou mais um pouco se deparou com um beco sem saída. Nervosa e com dor de cabeça, Gina se recostou na parede e respirou. Então viu alguém vindo em sua direção. Por um instante achou que fosse um auror, pois trazia algo reluzente nas mãos. Mas depois foi perceber que era outro homem, com uma arma muito mais brilhante. Sua respiração falhou de novo e seu coração disparou. Procurou a varinha dentro das vestes mas não encontrou. "Droga, justo agora?" Por dentro pedia perdão. Começou a chorar incessantemente e escondeu o rosto nas mãos frias. Não havia feito nada certo desde que tivera uma certa conversa com Harry, no último dia de aula do ano anterior. Algo a incomodava e a fazia se sentir injustiçada. A fazia se sentir ridiculamente estúpida por sobreviver tanto tempo pensando em algo que não existia. Num amor que nunca daria certo. Porque não era boa o suficiente para ele. E matara a pessoa que ele amava. Isso era imperdoável.

- Vai me procurar agora? - uma voz perguntou em sua cabeça. Sabia quem era e que não adiantaria olhar pros lados que não o veria.

- Vá embora Tom...

- Você precisa de ajuda! E sabe que eu posso te ajudar!

- Me ajudar como? Matando o resto do mundo?

- Não interessa como, eu sou a única pessoa que pode te ajudar e você sabe disso. Esse homem logo atirará e você morrerá de vez.

- Isso será ótimo!

- Não minta pra si mesma, Gina. Sabe que não quer morrer até provar sua inocência!

- Não tem como eu fazer isso...

- Tem sim... Encontre-me. Queira me encontrar! Basta isso! Eu não vou obrigá-la a nada, não vou. Se você quiser eu a deixo morrer agora mas quero que saiba que seria uma mente maravilhosa desperdiçada. Porque somente eu sei que você é maravilhosa.

- Você não tem nada de bom Tom...

- Tenho sim. Odeio admitir mas sinto pena. E sinto remorso também, por saber que desde que eu te encontrei você mudou muito. Quero apenas concertar.

- Não minta...

- Me encontre - a voz sumiu. Gina sabia que era errado mas ele estava certo. Era a única pessoa que poderia ajudá-la se quisesse ser salva. Um plano rápido passou mentalmente pela sua cabeça e dessa vez não foi desperdiçado. Fechou os olhos e pensou em Tom. "Me ajude, por favor!", pensou e logo ouviu passos ao seu lado. Um vulto negro havia parado em frente ao sujeito com a arma e em segundos o homem se encontrava morto. Gina levantou.

- Não precisava ter matado! - gritou, olhando bem para o encapuzado. Era como uma roupa de dementador, com certas diferenças. O capuz não deixava Gina ver quem estava ali dentro e isso a intrigava muito. O homem olhou para ela, Gina percebeu que era um homem, e andou. Ela o seguiu

- Olha, eu preciso da minha varinha... E... Onde está Tom? - e o homem parou. Provavelmente nunca ouvira ninguém o chamar assim.

- Ele mandou que eu viesse buscá-la em segurança - disse uma voz e Gina se matou para tentar saber quem era. Não era totalmente desconhecida. A pessoa falara com pouca emoção e com um desdenho que conhecia. Mas não ligava à pessoa.

- Tom? Bem... Bom saber que ele é um mentiroso...

- Mentiroso, o Lord?

- Lord?

- Sim - respondeu o homem, continuando sua caminhada, que Gina tentava acompanhar. - Você está falando do Lord das Trevas garota.

- Provavelmente - ela disse, pensativa. - Bem, onde ele está?

- A levarei até ele se calar a boca - disse, ríspido. Gina então deduziu que o homem não deveria ser muito velho, pois mantinha um tom engraçado na voz.

- Só calarei a boca se você disser algo que me ajude!

- Já estou te ajudando mais do que eu queria. Por onde você veio?

- Por aquele lado - disse, apontando para uma ruazinha estreita, de onde se via o carro do táxi ao longe.

- Não acredito que você matou esse cara... Foi como fez com a auror?

- Ora, cala a boca! - ela disse, correndo para ver o taxista. - Não sou como você, apenas o estuporei.

- Bem útil você...

- Olha aqui, o que estamos fazendo? Por que não me leva logo ao seu Lord?

- Nossa... Nem eu mesmo quis ir com tanta pressa ao encontro dele... E agora o que vejo? Uma protetora de Potter e companhia pedindo para ser levada o mais rápido possível! - ele riu. Gina ficou olhando o cara, achando-o extremamente patético.

- Harry que se dane - ela disse, revirando o carro à procura de sua varinha. - Céus, onde enfiei aquela varinha?

- Quer que eu responda?

- Não, obrigada.

- Ora, já procurou pela rua? É mais óbvio - ele riu friamente. Olhou atrás de uma caixa de papelão e pegou algo do chão. - Como você é burra, como pode ter deixado a varinha cair assim?

- Não sei e pare de me chamar de burra, você nem me conhece! - disse, pegando a varinha da mão dele. - Obrigada.

- Ora, nunca agradeça se quer se encontrar com o Lord.

- O que o Lord tem a ver com educação? - estava ficando furiosa.

- Educação? - pareceu pensar um pouco. - Não, nada. Respeito.

- Dane-se o respeito. Vamos?


N/A: Continuo agradecendo às reviews!!! E à Pichi, claro, que tem sido um amor comigo!