Capítulo 9 - Comensal da Morte
Ao deitar-se ocorreu que ainda havia uma chance. Sim, por mais que fosse algo que nunca conseguiria fazer, tinha algum sentido. Mas teria que vangloriar Harry Potter e seus amigos para isso e não parecia ser uma idéia muito boa. Ao dormir e sonhar teve certeza que era algo que não queria fazer.
"Ela estava descendo as escadas, decidida a falar a Harry Potter o que sentia. Era impossível esconder pelo resto de sua vida, ainda mais porque teria que agüentar a dor de ficar longe dele, agora que havia se formado. Isso, claro, ultrapassava e socava todo seu orgulho. Mas a ela já não interessava mais. Harry estava namorando uma antiga Corvinal que saíra da escola há um ano. E nesse um ano longe dela ele tinha se tornado um pouco amargo. Talvez por causa da guerra mas Gina acreditava piamente que era por causa daquela garota. Nunca havia conversado com Cho Chang e nem queria, sabia que tinha tudo o que sempre sonhara em ter. O amor de Harry Potter.
Ao se deparar com seu irmão saindo do Salão com Hermione Gina viu uma ótima hora para se aproximar de Harry.
- Hey... - ela disse, tocando levemente seu braço, e ele olhou para trás. Não sorriu, não teve expressão nenhuma, mas Gina tinha se acostumado com isso. Ele estava em depressão por causa da tal garota. Não a via há muito tempo.
- Olá Gina - ele disse, tentando sorrir um pouco. Ela sorriu de volta.
- Eu preciso falar uma coisa a você... Mas céus, nunca pensei que seria tão difícil...
- O que é? - ele perguntou, pouco interessado, e isso a incomodou. Estava sendo tão simpática!
- Bem, desde que te conheci... Você sabe... Alimentei algo muito forte que... Eu não consigo mais esconder...
- O que seria? - ele perguntou em tom gozador, que sinceramente Gina nunca havia visto nele. Ela se mexeu um pouco.
- Eu gosto muito de você, Harry. Na verdade tenho quase certeza que te amo mais do que a mim mesma... Não sei o que fazer mais!
- Mas... - ela interrompeu.
- Não quero nada. Sei que você tem namorada. Quero apenas alguma dedicação ao que sinto... Pois sei que não é recíproco... - queria apenas uma palavra de conforto. Algo que a fizesse ter certeza que ele era o rapaz que amava e que queria ver bem. Um sorriso e um abraço, quem sabe?
- Eu... Céus... - ele disse, pensativo, estando visivelmente incomodado. Alguém na porta do Salão o chamou.
- Harry! - gritou a voz de uma garota. Gina teve a infelicidade de ver que era Cho Chang. Harry logo sorriu e ela sentiu uma pontada de nervoso ao ver a reação dele. Ele corou e seus olhos saltitaram ao encontro da outra.
- Depois a gente se fala! - disse, abanando a mão na direção de Gina sem sequer olhar para ela. Lágrimas queriam cair mas as conteve. Ele não havia nem ouvido direito, com sequer amizade, às suas palavras!
Virou de costas e antes de subir as escadas para não ser vista com lágrimas quase caindo parou para ouvir do que os dois falavam. Eles estava de costas para ela.
- Harry, aquela era a irmão do Rony, não era? - perguntou Cho num tom que indicava ciúmes.
- Quem? Ah... Era a Gina... Irmã do Rony - ele disse, enfatizando o "irmã do Rony" para transparecer que era apenas uma conhecida.
- O que ela queria... Vocês estavam tão... Perto.
- Ora... Nem sei... Sabe como é, não? Tenho muitas garotas que gostam de mim porque eu sou famoso!
- Ora Harry! Coitada da garota! - disse Cho em gozação e Gina arregalou os olhos, assustada.
- Coitada? Eu não posso fazer nada Cho... - ele disse com pena. - Deixe-a pra lá, como você está?
Isso foi a morte para Gina. Todo desespero surgiu em seu peito e um ódio mortal do garoto que amava. Sentia-se burra, ingênua. Tudo não passava de besteira, tudo! Lamentou-se por ter nascido, por ter conhecido Harry. Por um instante ela correu."
- Eu... - ela acordou dizendo em voz alta. Um elfo estava postado na ponta de sua cama e a examinava com interesse. Percebeu que estava corada e sentia mais raiva que nunca por ter sonhado com a pior hora de sua vida. Sentou-se displicente e esfregou os olhos, sequer sorrindo pro elfo. Quando levantou ele fez menção de ajudá-la. - Oh, não se importe eu estou bem. Por que está aqui?
- O Sr. Malfoy mandou que eu viesse buscá-la para a reunião - disse o elfo rapidamente e de súbito Gina lembrou-se da maldita reunião. Era convidada de honra de Voldemort e não havia coisa que mais a enojava. Sorriu e se dirigiu ao banheiro.
Depois de colocar a veste negra que lhe fora solicitada Gina desceu alguns lances de escadas, seguindo um elfo doméstico muito animado. Ele saltitava a cada degrau e Gina começava a rir disso.
Chegando ao imenso salão da noite anterior Gina reparou que estava mais luxuoso, com algumas cadeiras e uma lareira acesa. Avistou Draco ao longe conversando não muito animado com outro Comensal. Ele a olhou e acenou com a cabeça, gesto que retribuiu da mesma maneira.
Caminhou pelo salão sem perceber alguns olhares estranhos que lhe lançavam. Reparou que, embora a maioria ali fossem homens, havia um pequeno grupo de mulheres conversando. Entre elas, Gina viu, Pansy Parkinson. A menina sorriu maliciosamente ao vê-la.
- Olha quem está aqui... - disse Pansy, um pouco desconcertada. "Que diabos a Weasley está fazendo aqui?"
- Pansy, nunca a imaginei num lugar como esse! - disse Gina, de súbito, observando o contraste da roupa negra com as feições rubras da sonserina.
- Essa seria a minha frase, Virginia Weasley - ela disse com um sorriso falso. Logo se calaram ao ver que a porta abria com um estrondo. Voldemort vinha acompanhado de mais dois Comensais, os rostos tampados mas visivelmente felizes. Ele andou até o centro da sala, vendo todos se alinharem à sua volta. Apenas Gina continuou onde estivera. Ele olhou para ela.
- Que bom que compareceu, querida Virginia - disse, chamando-a com um aceno. - Por favor, fique ao lado do Sr. Malfoy - Gina relutou por uns instantes mas estar cercada por Comensais da Morte não era algo que queria enfrentar. Viu que Malfoy também relutava a deixar um espaço para se acomodar.
- Lord? - perguntou um homem à direita de Gina. Era bem maior que ela.
- Fale-me algo inteligente, Lestrange!
- O que essa Weasley faz aqui? - logo se calou. Um silêncio mórbido tomou o lugar. Gina viu Draco revirando os olhos. Todos olhavam para ela.
- Virginia Weasley não é a garotinha que muitos aqui conheceram - disse Voldemort e Gina se permitiu lisonjear com aquelas palavras; - Ela está aqui porque quer - "Ou porque preciso", pensou. - Logo a iniciaremos para que seja uma de nós. Alguma pergunta sobre isso?
- Ela deve saber muito sobre a Ordem da Fênix, não? - perguntou uma mulher ao lado de Pansy Parkinson.
- Não conversamos sobre isso mas ela fará de tudo para me ajudar, estou mentindo? - ele perguntou, olhando para Gina, que acenou, concordando . Sua cabeça estava em jogo e teria que se manter firme até as últimas conseqüências.
- O que faremos primeiro? - perguntou um homem corpulento ao lado de um velho muito baixinho e sorridente.
- Macnair meu caro... - disse Voldemort, andando. - Os bobalhões seguidores de Dumbledore atacarão a Fortaleza Mortal amanhã cedo... Foi descoberto por um informante. Creio que devemos comparecer à festa! - e ficou claro que de algum lugar dentro do capuz havia sorrido. Alguns fizeram o mesmo. - Mas nem todos terão esse prazer. Muitos Comensais foram mortos na última tentativa. Somente os mais experientes irão.
""timo - pensou Gina - Não terei que ir." Todos se entreolhavam, estufando o peito, querendo, visivelmente, ser escolhidos como experientes por Voldemort. Gina percebeu que Draco fazia pouco caso ao que ele dizia e se mantinha no mesmo estado desde que a reunião começara.
- Srta. Weasley, queira se aproximar - disse à menina, que vacilou os passos ao chegar perto. Prendeu a respiração e tentou se manter de pé, embora suas pernas não estivessem ajudando muito. Viu Voldemort empunhar a varinha e apontar para ela. Minutos depois estava sentindo uma dor terrível, que nunca sentira na vida. Seus ossos pareciam quebrar e sua pele estar queimando.
Draco olhou a cena da ruiva se contorcendo no chão, quase aos sorrisos dos outros Comensais. E lembrou que ele mesmo passara por isso. Sentiu nojo de Voldemort por fazer aquilo com uma garotinha inocente como ela, embora não sentisse nenhuma pena. Os Weasley tinham que sofrer mesmo, era karma da vida.
- Mantenha-se de pé, Virginia! - gritou Voldemort e Gina custou a ouvir. A dor não havia passado e agora algo rasgava sua barriga. - Em pé! - ele gritou e ela apoiou com dificuldade os cotovelos no chão. Ainda mantendo os olhos fechados, seu corpo parecia querer levá-la para o chão novamente. Mas não podia se dar ao luxo de vacilar. Não na situação que estava.
Ouviu alguns sussurros de aprovação e alguns gritinhos assustados. "Como ela conseguiu tão rápido?", Gina pôde ter certeza que ouviu uma voz de uma mulher dizendo isso. Aos poucos colocou as mãos no chão e se impulsionou para cima. Não reparou que ao levantar e quase cair de novo alguém sorria atrás dela.
- Muito bem, a senhorita tem uma força de vontade absurda! - disse Voldemort e alguns Comensais lamentaram. O Lord nunca havia elogiado tanto uma pessoa como estava fazendo com aquela garota. Gina também não entendia mas não fazia questão de entender. Sua respiração estava falha e sentia ainda muita dor. Após alguns instantes ouviu o homem à sua frente proferir algo e em segundos uma névoa verde a envolvia. Como espíritos agourentos, ouvia gritos de horror, risadas de sarcasmo e alguns feitiços sendo proferidos. Tentava não respirar profundamente e não cair no sono, já que aquela névoa a deixava sonolenta. Quando tudo acabou caiu no chão novamente, segurando seu braço esquerdo com a maior dor que já sentira. Deixou escapar um grito que ecoou pelo salão. Todos mantinham suas bocas fechadas e a respiração presa. Apenas Draco se sentia aliviado que a garota não tivesse feito tudo errado.
Não que se importasse com ela, longe disso. Mas sentia que precisava de muita ajuda. Ele se via espelhado na ingenuidade daquela garota quando entrou para o grupo de Comensais. Viu-a levantar novamente e se espantou com a força e resistência que uma garotinha frágil daquela pudesse ter.
- Leve-a à sala ao lado, Malfoy - disse Voldemort, virando-se. - O restante me siga.
Draco sentiu algum desprezo pela garota ao colocar seu braço em torno de seus ombros. Ela estava fria e mantinha os olhos desfocados. A respiração vacilava e Malfoy se perguntou se ainda era a Weasley sonhadora que havia tido o desprazer de conhecer.
Gina porém, estava muito grata por tê-la ajudado. Não conseguiria definitivamente ir andando sozinha até os aposentos da sala ao lado. Sentia seu braço pesar e arder, assim como sua cabeça, suas pernas. Enfim, tudo nela estava dolorido. Nunca pensou que ser uma Comensal fosse algo bom mas definitivamente era pior que o pior dos pesadelos.
- Está um pouco melhor? - perguntou Draco, não mantendo sentimento nenhum na voz. Entregou um copo com água que a menina bebeu com gosto.
- Não - ela disse, esfregando o braço na altura do pulso. Soltou um gemido ao ver a pequena tatuagem verde que brilhava, rasgando o que restava da sua pele. - Isso dói sempre?
- Não - respondeu, fitando a sua, que estava escura e fria. - Nem sempre.
- Lembro-me que... - ela tomou mais um gole de água, enquanto observava o rapaz à sua frente, sem o capuz e sem expressão no rosto - você me disse certa vez que eu não precisava te agradecer. Mas eu dispenso suas palavras... - ela disse, respirando ainda com dificuldade. - Obrigada.
- Por nada - ele respondeu involuntariamente e ela se deixou sorrir pelo canto da boca, o que o deixou frustrado.
- O que ele vai fazer comigo? - perguntou, entregando o copo nas mãos dele, que o desmaterializou.
- Não sei, como saberia?
- O que ele fez com você após isso tudo? - ela vacilou. - Quero dizer, você passou por isso, não?
- Infelizmente - ele deixou escapar. Droga! Por que estava conversando com ela? E ainda por cima deixando transparecer algo que nunca dissera a ninguém! - Mas não lembro o que ele fez depois.
- Ora, se não lembra é porque ele te desacordou?
- Não! Você faz muitas perguntas.
- E você já me disse isso.
- Então você deveria ter aprendido a não me perguntar mais nada - "Isso sim seria bom", ele pensou.
- Se você quiser... - ela disse, abaixando a cabeça e colocando-se a examinar a tatuagem. Era uma caveira e uma cobra. Era horrível, pensou antes de abrir um sorrisinho.
- Por que você sorri numa hora dessas? - ele perguntou com enojamento na voz.
- Por que você me odeia? - logo se sentiu estúpida. Também o odiava. Na verdade odiava sua família e, obviamente, ele.
- Nunca nem havia falado com você - disse pensativo. Claro que odiava qualquer Weasley na face da terra. - Culpa do seu irmão idiota.
- Qual deles? - ela perguntou, permitindo-se rir. Ele levantou uma sobrancelha.
- O seguidor amante do Potter perfeito - Gina gargalhou. Ele ficou furioso com isso. - Por que está rindo? - Ora, eu durante anos gostei do Harry e nunca o achei perfeito, como você acha - ela disse e logo se calou. "Merda!", pensou. Por que tinha que falar no Harry e por que dissera que gostava dele? E ainda gostava. Mas era diferente. A raiva e a angústia tinham atropelado o amor. Mas Draco Malfoy não precisava ficar sabendo disso!
- Eu não o acho perfeito! - gritou, incomodado. - Longe de mim. A sociedade pobre e ignorante que acha.
- Mas afinal de contas ele já derrotou Voldemort algumas vezes... - ela falou, tentando se calar.
- Isso não justifica nada - e logo a porta se abriu. Voldemort vinha andando imponente, seguido pelos Comensais. Gina agradeceu por não ter entrado segundo antes e não a ter ouvido falar de Harry Potter.
- Vocês dois ficarão no castelo - disse, apontando Gina e Draco - com mais alguns Comensais - e saiu sem mais explicações.
N/A: Mais um capítulo "consertado" pela mia amiga foufa, Pichi!
Obrigada moça! o
E obrigada às reviews!!
