Notas
Fic: Hum. Capítulo Sete - o Penúltimo, sem contar o Epílogo. Ah, reta final. (Não que ninguém saiba a história...) De qualquer modo, espero que gostem e reviews, por favor. O já voltou ao normal E o próximo capítulo dia 14.
Autora: Eu acho esse capítulo um tanto complicado. Ou estranho. A opinião fica por conta de vocês -.- O final dele é uma idéia louquinha que passou pela minha cabeça, do nada, espero que não pareça estranho. De qualquer modo, a Lily é inocente só para avisar () E, claro, muito obrigada a Yasmine Lupin, cuja resposta está aí embaixo, a Jamelia Millan, a quem eu agradeço pelo elogio -.-, a Mayara, a Ayame Chan, pedindo desculpas por ter demorado tanto e não postado antes (-.-), Dani Potter, que decididamente acha a fic bem mais fofa do que eu acho, a Drica Black, cuja respostas estão no capítulo também. Agradeço a todas! E, antes que eu me esqueça, esse capítulo é dedicado a Patty - E, de certo modo, a Jully - que fez - fizeram - Aniversário ontem Até a próxima.
Capítulo 7 - Apesar de Tudo
Lily Evans
Estava meio confusa, para ser sincera. Toda minha vida eu procurei e fugi da paixão, do amor, de um namoro, e o garoto que também me parecia fugir dessas coisas dizia que me amava. E isso não era pior. Pior era eu procurar desculpas para as batidas do meu coração, pior era fugir de quem eu mais queria perto de mim, pior era não conseguir dizer "eu te amo" porque tinha medo.
Eu não merecia estar na Grifinória, porque Grifinórios não tem medo. Mas eu tinha, muito mesmo; medo dele me beijar com paixão e dois segundos depois me colocar na lista de "quem ele já ficara"; medo de me perder naqueles olhos castanhos e nunca mais conseguir voltar a razão e me machucar muito; e, mais que tudo, medo de amá-lo. Medo de algum dia perder ele. Medo de nunca falar o que ia no meu coração porque eu tinha medo. Medo de ser eu.
Tudo parecia tão perfeito... Jantamos, conversamos, nos beijamos... E algo estava estranho. Tiago não entendeu quando mencionei "rapidez". Porque acho que ninguém entendeia. Não conhecia ninguém que se apaixonou em três dias como acontecia comigo. Não, eu estava doente, ou louca, mas apaixonada não! Pessoas sem juízo se apaixonam e eu tive juízo demais, para dizer a verdade.
Nossas mãos estavam entrelaçadas; a mão dele era quente, macia, necessitada, adorável. Prendia na minha e fazia um calor inteiro percorrer meu corpo, e eu apenas me perguntava porque nenhum daqueles livros românticos que Alice gostava de ler e me obrigava, por sua vez, a eu ler também, descrevia essas sensações. Não, nem de longe eu imaginava como meu coração podia bater tão rápido, tão calmo, tão simples...
Beijei-lhe a face, desejando no íntimo beijar-lhe os lábios - daquele jeito que só ele sabe -, mas o medo me dominou. Medo, talvez, de acordar.
"Boa noite..." - falei, querendo ir para a cama, me lamentando que talvez não houvesse encontro essa noite, mas eu precisava pensar. E talvez tomar um banho quente e demorado, me afogar quem sabe... Mas Sirius, Pettigrew e Remo estavam lá. Meu olhar se encontrou com o de Lupin e ele me pediu desculpas silenciosamente. Me senti magoada, mas senti que não era sua culpa; agora só bastava encará-los. Ambos, eu e Tiago, sabíamos que uma hora todos teriam que saber da nossa amizade e do nosso recente "namoro", embora não fosse totalmente oficial assim.
"... teremos uma longa noite de conversa" - ouvi Sirius dizer e bufei, irritada. Cansada, me joguei numa poltrona qualquer, no que fui seguida por Taigo.
"Sobre o quê?" - perguntei, insolente, observando-o com um sorriso no rosto.
"Sobre vocês dois" - ele disse, um sorriso também brincando nos seus lábios.
"Ah, Black, já é tarde... Vamos deixar para amanhã?" - falei, bocejando, ao que Tiago me olhou curioso.
"Não" - o próprio Potter respondeu. - Vamos falar disso agora!
"Além, Evans, você não estava muito interessado no horário quando estava com Tiago, não?" - Sirius perguntou, numa alfinetada grave. Respirei fundo.
"Você quer mesmo saber, Sirius? Eu estava sim com o Tiago! E daí?"
Mas Sirius já não me encarava mais. Olhava para Tiago sem surpresa.
"Eu apenas esperava que você me dissesse" - murmurou, seco. Tiago piscou os olhos.
"Lily, Remo, Rabicho... posso conversar com Sirius um momento?"
Ninguém disse nada. Eu e os outros dois Marotos fomos cada um para seu dormitório... Quero dizer, eu subi as escadas, mas fiquei num lugar que não dava para me ver nem vice-versa. Entretanto, eu os ouviria completamente. Por dois segundos, hesitei. Então...
"Pensei que 14 anos de amizade valessem mais que uma garota" - ouvi Sirius falar, magoado.
"Você não entende!" - Tiago replicou, frio. - Eu amo ela! Se você é frio demais para sentir algo por alguém, não é minha culpa.
"Eu tenho pena dela! Em uma semana você já terá esquecido que Lily Evans existe; Mas, afinal, conseguiu conquistá-la! Palmas para Tiago Potter! O que fez? Juras de amor?"
"Você está louco, Sirius, louco! E com ciúmes, ainda!"
"Ah, ciúmes de você, claro. O Todo-Poderoso Tiago tem sempre alguém a seus pés... Ah, mas agora é a Lily, não?"
"Cale a boca, Black. Quando você voltar a razão nós conversamos."
"Eu estou no meu juízo perfeito! Eu só achei..." - a voz dele estava lenta. - ...que quando conseguisse algo com a Evans você me contaria.
"Eu jurei para ela" - Tiago começou, mas se calou.
"E você jurou para os Marotos que não haveria segredos entre nós. Obrigado por esquecer disso, Pontas."
Abaixei a cabeça, queita, tão calada quanto o silêncio que invadiu a Sala Comunal da Grifinória. Então, respirei fundo. Lentamente retirei aquela corrente linda que o Tiago me dera e desci as escadas. Eu não estava fugindo. Eu não sentia medo.
"Você tem razão, Black" - falei, numa voz rouca e baixa, contendo uma lágrima que ameaçava cair. Tiago e Sirius me olharam, o primeiro com receio, como se compreendesse o que eu faria. - Não se preocupe - coloquei a corrente sobre uma mesa e uma lágrima caiu. Junto dela vieram outras tantas. - Acabou... - fechei os olhos, tentando me controlar, não desistir... - Aliás, nunca começou.
"Lily..." - dei as costas, para não encarar Tiago. Doía em mim de verdade. Eu nunca imaginara sentir aquilo.
"Foi ótimo, Tiago, esse foi o melhor natal que eu podia ter, mas foi só. Adeus..."
"Lily" - ele tornou e descobri que também continha suas lágrimas. Tiago, chorando?
"Evans" - Sirius me chamou, mas não me voltei. Eu já tomara minha decisão...
"A culpa não foi sua, Sirius. Não brigue com ele, ok, Potter?" - falei, mordendo meus lábios, avançando lentamente.
Tiago não respondeu. Em vez disso, caminhou a passos longos até mim e, sem dizer nada, me beijou, numa tentativa de me trazer de volta a razão. Por um instante correspondi, desejando passar a eternidade assim, então o afastei, negando com a cabeça. Uma lágrima escorreu de seus olhos.
"Eu te amo" - ele falou claramente, só para eu ouvir. Fechei os olhos e, sem dizer nada, me virei, abri os olhos e segui para o meu dormitório. Trêmula, abri a porta e me joguei na cama, agora as lágrimas correndo livremente. Tentei relaxar, tentei não pensar em nada, tentei, mais que tudo esquecê-lo...
"Você me fez perdê-la" - Tiago Potter gritou enfurecido e apertei os ouvidos.
Ouvi uma música tocando em algum lugar, penetrando as minhas mãos que tentavam bloquear o som de Potter gritando com Sirius, e, quando procurei, descobri aquela caixinha de música que ele me dera. Como abrira e tocava eu não sabia, porque tinha a consciência de que a guardara bem fechada. Sorri tristemente ao ver o casal dançando e percebi que ele era uma nítida caricatura de nós dois dançando. E, no momento, a moça de olhos verdes chorava desconsolada e o homem a acalentava.
"É mais um sonho..." - murmurei, sem pestanejar. - Nunca vai dar certo...
Só não vai dar certo se você não quiser... E eu queria? Mais que tudo, porém... Medo? Medo do quê?
Fechei os olhos, imagens dançando na minha frente... nós dois se beijando em frente a lareira, após o "feliz Natal"... o jantar daquele dia... Ele falando que me amava... Eu lhe beijando a testa depois de arrumar-lhe um cobertor... Aquele lugar sinistro do castelo...Os presentes de natal... A corrente de esmeraldas que eu lhe devolvera...
Outro universo. Ele era de um Universo totalmente diferente do meu. Nunca iria dar certo, não tinha porque dar. Eu queria. Mas não podia. Eu sonhava; mas tinha que acordar. Por mais que doesse. Por mais que eu não quisesse. Por mais... Por mais.
Passei de cabeça abaixada na Sala Comunal. Somente Remo estava lá e ele ergueu a cabeça quando eu passei, pronto para falar qualquer coisa, mas não parei. Caminhei desalentada por todo o caminho, vazia, sem pensar em nada, mal acreditando que eu conseguira sair da cama, embora no estado que eu apresentava poderia ser sonambulismo. Perto do Salão Principal dei uma trombada com alguém.
"Desculpe, Evans" - ouvi Pettigrew dizer, quando ele se levantou esfregando a cabeça.
"Ah, desculpe eu" - falei, olhando-o. - Hum, Pedro, Ti... Potter está aí?
"Ainda estava quando eu saí. Não sei bem."
"Nada. Bom, então acho melhor eu voltar a Sala Comunal..."
"Se for por minha causa, Evans, não se importe" - a voz deleatravessouqualquer ruído.- Já estou de saída - frio. Nem furioso, nem magoado, nem quente. A voz era fria. Ele parecia não se importar mais.
Encarei-o, mas Tiago não olhou nos meus olhos. Em vez disso ele simplesmente deu as costas e subiu as escadas que levavam a ala Sul.
"Pontas está magoado" - Pettigrew disse, num murmúrio. - Passou a noite inteira acordado no...
"Magoado?" - perguntei, antes de me refrear.
Pedro me olhou, como se avaliasse o que eu disse, então deu de ombros e caminhou para longe, sem responder.
"E isso te interessa?" - virei para a esquerda e fitei Sirius Black apoiado na parede, certamente numa posição perfeita de se ver, mas não para mim no momento. Quem se importava se Sirius era sexy ou não?
"Se não me interessasse eu não perguntaria."
"Se te interessasse você não teria dado o fora nele" - Sirius replicou calmamente.
"Não fale do que não sabe."
"E o que eu não sei?"
"Muita coisa..."
"Só sei que você é uma grande tola."
"Jura? Devo falar também o que acho de você?" - perguntei, num tom levemente irônico. Sirius franziu a testa, sério.
"Ele realmente gosta de você."
"Não faz diferença."
"Claro que faz. Ele nunca gostou de ninguém antes."
"Há sempre uma segunda vez" - retruquei, espantada de minha própria frieza.
"Olhe, Lily, Evans, a única razão por eu estar aqui falando com uma egoísta infantil como você é que o que ele sente é verdadeiro. Se você abrisse os olhos e enxergasse além do que seus olhos podem ver perceberia que ele gosta de verdade de você! E tenho certeza que sabe disso. Somente um bobo apaixonado passa a madrugada inteira a espera de alguém! Não falo isso porque somos - fomos - amigos. Falo porque é verdade!"
Encarei Sirius sem falar nada então abaixei minha cabeça, derrotada. Ajeitei uma mecha do meu cabelo e abri a boca para admitir o meu singelo engano quando percebi que Sirius estava a um passo de mim.
"Não precisa falar nada para mim" - ele falou, gentil, baixinho no meu ouvido. - Quem precisa ouvir algo está em algum lugar desse castelo, apenas esperando...
"Eu... Obrigada, Sirius - Almofadinhas."
Sirius sorriu e, como um irmão, me abraçou. Fechei os olhos, mergulhada naquele abraço quente, que renovava minhas forças...
"Já trocou de par, Evans?" - ouvi a voz debochada do Snape, e me separei de Sirius. Severo Snape nos olhava quase sorrindo. - O Black pelo Potter... Namoro entre amigos?
A varinha de Sirius estava já apontada para Snape quando eu me coloquei entre eles.
"Não vale a pena, Sirius, não vale, sério"- falei, meneando a cabeça.
"Se escondendo atrás da namoradinha nova, Black?"
"O que ele faz ou não faz, Ranhoso, não te interessa. Cai fora" - disse, impaciente, mas meu olhar se desviou para a escada. Tiago Potter estava lá, sentado em algum degrau, olhando para a cena com descaso. Ou talvez interesse.
"Estou morrendo de medo..." - ele disse, na hora que as portas do Salão se abriram e a Prof. McGonagall apareceu, estancando diante da cena.
"Eu espero que eu esteja enganada. Outra briga?" - seus olhos foram de Snape, cuja varinha estava apontada para mim, para Sirius, a varinha também em posição e então para Tiago, quieto, na escada.
"Eu sou inocente" - ele declarou sorrindo.
"Srta. Evans?"
"Tiago não está envolvido."
"Nem Evans" - retrucou Sirius. - Isso era uma questão simples entre eu e Snape e gostaríamos muito de resolver isso, se a senhora permitir...
"Certamente que está brincando, Sr. Black. Quero o senhor e o senhor Snape na minha sala agora mesmo" - e, imponente, subiu as escadas, ao que Snape seguiu-a, relutante.
"Não faz diferença, mesmo" - Sirius declarou, dando de ombros. Ergueu as sobrancelhas ao passar por Tiago, mas nenhum deles disse qualquer coisa.
Caminhei até ele, mas Tiago limitou-se a levantar e caminhar na direção contrária.
"Eu queria conversar..." - falei, me sentindo culpada. Era como se eu o usasse. Quando eu queria ficava tudo bem, mas se por acaso me desse um ataque eu o explusava da minha vida.
"Sério? Ontem você não queria conversar... Mudou de idéia tão rápida?"
"Eu sei que você tem todas as razões do mundo para... para me odiar, mas, por favor, Tia..."
"Tiago? Ainda ontem eu era o Potter..."
Aquilo contrariava toda a minha personalidade. Eu não devia estar pedindo para ele conversar comigo. Isso era algo que eu não estava acostumada. Desde que eu saiba, Potter sempre me convidava, me paparicava, sempre... E agora...
"Desculpa" - murmurei, sem olhar em seus olhos.
"Eu cansei, Evans" - ele falou enquanto andávamos pelo corredor de feitiços. - Não era isso que você sempre quis?
Abaixei a cabeça, calada, mil coisas rodeando a minha cabeça, entre o que responder e o que fazer. Engraçado. Dessas mil coisas não fiz nenhuma.
"Você ainda vai continuar bravo com Sirius?"
"Não era 'Black', Evans?" - ele indagou, irônico.
"Você ainda não me respondeu..."
"Ah, não, Evans, não vou brigar com o teu amiguinho. Eu finalmente percebi que há certas amizades que valem muito mais que uma garota" - Tiago retrucou frio.
Senti meu coração disparar: aquilo era algo extremamente contra meus princípios. Nunca, em toda minha vida, eu correra atrás dele. Porque nunca, "em toda minha vida", eu admitira que me importava com ele.
"E está certo... Há amizades que mesmo que comecem durante a noite, em frente a uma lareira, e que sejam secretas deveriam durar" - falei, como que para mim mesmo. Por um instante, Tiago parou e colocou a mão na testa, mordendo os lábios. Então meneou a cabeça e andou mais rápido, murmurando coisas ininteligíveis.
Paramos em frente à Mulher Gorda e, desanimada, reparei que há poucas horas atrás no dia anterior estávamos de mãos dadas.
"Você vai entrar?" - ouvi ele perguntar rispidamente.
"Não sei, por quê?"
Tiago se virou para mim e nossos olhares se encontraram. Os olhos castanhos dele estavam tristemente furiosos.
"Porque se você entrar eu fico aqui fora e se você ficar aqui fora, eu entro" - falou num tom de voz que usaria para explicar algo bem simples a uma criança de 4 anos.
Teria sido melhor ele lançar um feitiço ou dizer "Eu te odeio", porque nenhuma outra coisa teria doído mais. Umedeci os lábios, sem responder a ele.
"Azevinhos Dançantes" - murmurei, desviando o olhar.
"Certamente que sim!" - o quadro girou e eu entrei, sem me virar para ver o que ele faria. Mas o quadro se fechou logo em seguida e, trêmula, me dirigi a frente da lareira e me sentei contemplando o fogo.
"Dê tempo a ele, Lily "- a voz de Remo entrou com um fio de esperança no meu coração.
"Acabou..." - sussurrei, sem sentido, me virando para encará-lo. - Eu falei isso ontem, não sei porque estou... não sei porque me importo...
"Ah, sim, você sabe..." - E, olhando diretamente em seus olhos, ele deu de ombros. - Não sou perito em coisas do coração... - e soltou uma risada melancólica. -... mas até você já entendeu que sente alguma coisa por ele.
Não respondi. Falar o quê? Que ele tinha razão e que a única coisa que explicava eu ter fugido dele era que eu sentia medo. Todo aquele receio de quebrar minhas muralhas que eu conseguira suplantar na noite de natal voltara com força e eu não queria admitir. Até a minha Voz Interior se calara, talvez com pena de mim, talvez querendo que eu me danasse afinal por ser tão idiota.
"Eu sou uma idiota" - falei, afinal. - O que estou fazendo?
Remo ergueu as sobrancelhas, sem responder; ele parecia estar acostumado a essas minhas frases loucas, soltas sem sentido, e apenas me olhou penalizado.
"É tarde, Remo, é muito tarde."
Ele soltou uma risada curta.
"Não, Lily, tarde era quando vocês dois ficavam conversando aqui e eu ficava lá em cima me perguntando porque não tinham explodido a escola ainda. Era espantoso nenhuma briga..."
"Você sabia que nós..."
"Ah, não, eu sabia que Tiago descia, mas vocês dois davam dicas de que algo acontecia... E, naquele dia do Natal, quando acordei porque ele entrou no quarto cantando "Jingle Bells"... Ah, nunca o vi mais feliz."
Sorri um pouco.
"Não se preocupe, sério, essa não é a primeira vez que ele desiste de você e provavelmente não será a última."
Ficamos em silêncio por muito tempo, enquanto ele voltava a fazer um dever de Transfiguração.
O quadro se abriu e me virei esperançosa, mas era apenas Pettigrew e Sirius - este último com o canto da boca cortada e o olho meio roxo, mas muito satisfeito consigo mesmo.
"O que aconteceu?" - Remo perguntou, franzindo a testa.
"Tiago teve um ataque..." - Sirius respondeu, secando o sangue que escorria da boca. - Ouvi umas coisas que não queria e, bem, explodiu. Voltamos a ser amigos, para variar.
"Ele te deu um soco e voltaram a ser amigos?" - perguntei, incrédula.
"Não tenha tanta pena de mim, Evans, o nariz dele está pior. Ele está na Ala Hospitalar e tenho certeza de que pelo menos meio litro de sangue já escorreu... Eu iria sugerir que fosse até lá, mas Silvester não me parece o tipo de pessoa que aturará uma discussão em pleno hospital..."
"Então ele continua... bravo?" - perguntei, num tom que esperava ser displicente.
"Claro, furioso. Mas agora ele parece ter finalmente admitido que não consegue te esquecer e está mais furioso ainda..."
Franzi a testa.
"E isso é bom?"
"Não sei..." - Sirius sorriu, porém. - Conversei com Silvester, sabe, ela é uma senhora muito doce e romântica...
"E daí?"
"E daí que lhe garanti que se o liberasse somente à noite, faria um bem enorme ao seu coração..."
Lentamente sorri.
"Então..."
"Então acho que vocês terão uma linda noite juntos... "- terminou, satisfeito.
Desviei o olhar e vi a mesa onde deixara a corrente. Ela continuava lá, intacta.
"Não tenho muita certeza, Sirius, não tenho."
Não sabia o que esperar, não sabia o que fazer, não sabia de nada. E eu, que sempre era a primeira a ter resposta para tudo numa aula, eu que me enfiava nos livros com dedicação, era completamente ignorante quando o assunto era amor. Ops... não que eu estivesse amando, claro. Talvez gostando um pouco mais do que deveria, o que era muito diferente de "amor"ou "paixão". E me perguntava por que gostava dele...
O quadro se abriu e continuei deitada, encarando o teto circular. Tiago, ao que parecia, iria passar por mim sem sequer me notar, mas nessa hora a minha gata desceu as escadas e me sentei para pegá-la no colo e acariciá-la.
"Boa noite..." - falei, sem olhá-lo.
"Noite" - ele disse, ríspido, porém senti seu olhar cravado em mim.
"Melhorou? Soube da briga..."
"Obviamente que sim ou teria continuado lá na enfermaria" - Tiago disse, mas agora falava calmo, sem ironia ou infantilidade. - O que faz aqui? - perguntou, sentando-se a minha frente. Meu coração acelerou.
"Uma resposta direta ou indireta?" - falei em resposta, soltando minha gata e me deitando no sofá, sem pressa.
"Respostas diretas para perguntas diretas" - e, por um instante, notei uma ponta de malícia.
"Eu estava te esperando" - retruquei, calma.
Ele encarou o fogo.
"Está atrasada, então. Eu estava te esperando há muito tempo."
"'Estava'"?
"Até a Noite passada... É muito chato ficar aqui na Sala sem ninguém, sabe" - e parecia decidido a mandar nossa conversa por outro caminho.
"Sentiu minha falta?"
"Senti falta de alguém para conversar."
E olhou para mim.
"Nós não podemos 'conversar'?"
"Evans, não me tente, ok? Não quero sequer falar com você."
"Imagine. O que está fazendo aqui então?" - perguntei, umedecendo os lábios, e vendo que ele seguia esse meu gesto com o olhar.
"Eu? Estou 'dialogando'."
"O que, por acaso, é sinônimo de "conversar"."
Tiago levou a mão até o cabelo, bagunçando-o ainda mais. Não fiz gesto nenhum, ainda que isso me irritasse.
"Você não vai ir dormir?" - ele perguntou, parecendo chateado por eu não criticá-lo. Sorri.
"Não é "vai ir dormir", mas sim "vai dormir". É errado usar dois verbos iguais desse modo."
Ele se calou por dois segundos. Houve um trovão lá fora e no instante seguinte a chuva despencou, o que era particulamente estranho para o inverno.
"Isso significa que você vai pra cama ou não?"
"Não posso, desculpe" - e fiz minha cara mais angelical.
"Por que não?" - perguntou, e um relâmpago iluminou sua face.
"Há um feitiço que o seu amigo Black fez. Não posso ir para meu dormitório antes da meia-noite."
"Cinderela, hein?" - Tiago debochou. - Que feitiço?
"Não sei" - falei, sincera.
"Como não sabe?"
"Ele não me contou. Apenas me recomendou que eu não subisse antes desse horário."
"E você acreditou?" - ele perguntou, rindo, mas não parecia tão confiante sim. Desviei meu olhar para minhas mãos.
"Pode verificar se quiser. E se algo acontecer não é minha culpa..."
"Nunca é sua culpa, não é mesmo?" - perguntou ele, e franzi a testa, sem entender. - Você grita comigo, diz que acabou, eu te digo claramente que te amo e tenho que continuar correndo atrás de você. Simples, não acha?
Fechei os olhos.
"Eu errei" - e pronunciei isso do mesmo modo claro com que ele dissera na noite anterior "Eu te amo". - Eu tive medo.
"Medo?" - e abri os olhos. Tiago estava ajoelhado ao lado do sofá onde eu estava, me fitando sem expressão.
Estremeci. Fale agora, minha voz Interior mandou. E, pela primeira vez na vida, obedeci-a sem pestanejar.
"Medo de admitir que gosto de você" - sussurrei, virando a cabeça para não olhá-lo.
"Evans..." - ele murmurou e senti aquela corrente de frio e calor quando ele tocou minha face. - Fala de novo?
E, gentilmente, fez com que eu virasse a face para fitá-lo nos olhos. Olhos castanhos versus Olhos Verdes. Uma combinação exótica.
"Eu tinha medo de admitir que..." - e nunca cheguei a completar essa frase. Tiago já se aproximara demais de mim e foi inevitável o nosso beijo. Não tive medo em enchê-lo de toda aquela paixão que despertava em mim e soltei um longo suspiro quando ele se separou e beijou de leve minha face.
"Ah, Lily..."
"Eu senti falta de ouvir isso" - murmurei, sorrindo.
"Eu senti falta de você."
Sorri, de ponta a ponta da orelha.
"Nós somos mesmo rápidos. Em 24 horas namoramos, brigamos e nos beijamos de novo."
"Isso é porque ninguém resiste a mim" - ele falou com falsa modéstia.
"Eu resisto" - argumentei. Em resposta ele se abaixou e me deu um breve beijo.
"Eu acabei de perceber..."
Meneei a cabeça, vitoriosa.
"Quem beijou foi você, não eu" - declarei, séria.
"E você gostou?" - ele perguntou, novamente ao pé do meu ouvido e, virando meu corpo, segurei seu queixo e fiz ele olhar para mim.
"Aquilo não foi um beijo apropriado ao momento."
Tiago me olhou, confuso.
"E o que é um 'beijo apropriado'?" - perguntou, parecendo maliciosamente curioso.
Levantei-me e lhe dei a mão para ele também se levantar. De algum modo, nem eu sabia o que faria. Tiago se pôs de pé na minha frente, a cabeça ligeiramente para baixo para poder me ver. Sorri calmamente - e de modo algum angelical - e coloquei minhas mãos em torno de seu pescoço, parecendo pensativa.
"Isso é um beijo apropriado."
Aproximei-me dele o suficiente para sentir seu calor e sua respiração; Tiago fechou os olhos e por um segundo o fitei, imaginando quão diferente ele era quando fazia alguma brincadeira. Então, como não podia deixar de ser, o beijei. Ah, sem detalhes, mas... aquilo foi um beijo apropriado.
Encarei o céu, mordendo os lábios. A chuva não parara e tampouco os relâmpagos e trovões. Olhei para as minhas unhas e, sem pensar direito, comecei a roê-las. Nervosismo. Odeiava isso; sinônimo de fraqueza e agora que já não sentia mais medo me desanimava sentir qualquer coisa negativa. Respirei fundo e, desviando meu olhar, olhei para a caixa de música. Eu me sentia realmente sozinha. Eu precisava de alguém... e ri de mim mesmo. Não, qualquer um não adiantaria. Eu queria ele. Mas Tiago estava em seu dormitório, provavelmente dormindo agora... E se ele não podia vir até mim...
Sorrindo nervosa, peguei um casaco e coloquei sobre meu pijama. E desci até a Sala Comunal. E subi para o outro Dormitório.
Eu estou louca! Sugiro consulta com Psiquiatra urgentemente.
